Neo Fhai Brasileira

Autor(a): Hikami


Volume 1

Capítulo 1: Descoberta

— Irmã? Cadê você?

Perdido caminhava pela grande floresta de Tharta a procura de Aira.

Apenas os sons das folhas mexendo enquanto os ventos serenos sopravam.

Continuava a caminhar sem rumo, chamando por minha irmã. Sem resposta.

Hã? Um canto?

Um canto ecoava através de assobios vindo bem a  frente onde ia. Corri. Continuei correndo atrás daquela voz que parecia familiar.

Quanto mais corria mais o canto se distanciava. O assobio logo cessou.

Passos largos surgiam. Não parecia ser humano.

Grrrr!!!

Um grunhido estridente tomou conta do ar. Saindo do arbusto um javali com pelugem avermelhada com enormes presas negras aparece correndo descontroladamente para cima de mim.

Irmã, me salva!

— SE ABAIXE, NEKU!

Obedeci cegamente o que a voz pedia. Uma mão forte pressionava minha cabeça ao passo que minha cabeça abaixava próximo ao chão, um corpo ia aparecendo diante de mim cortando o javali ao meio.

— Neku, você está bem? Uff…

— Irmã… snif, snif… snif…

Lágrimas escorriam pelos olhos à medida que abraçava firmemente Aira com o sangue do javali cobrindo suas roupas.

— Que bom que você não se machucou. Vamos pra casa.

Vivíamos em Rena, um pequeno vilarejo que se tornou domínio do reino de Qliw após a guerra humano x demônio ter tido um fim.

Na colina do vilarejo, morava com minha irmã.

Aira trabalhava como caçadora indo até a floresta de Tharta para caçar animais sozinha, mas com o financiamento do líder do vilarejo conseguia dinheiro para comprar comida.

Sendo a única a se aventurar na floresta, ela ganhou o respeito de todos, assim como pretendentes que iam fazer declarações. Todos recusados.

Minha irmã é a melhor do mundo. Óbvio que iriam se apaixonar por ela.

Pela madrugada enquanto dormia, Aira partia para caçar e voltava pela tarde, seguindo essa rotina dia após dia.

— Parabéns, Neku!

Um bolo estava sobre a mesa coberto de calda chocolate e frutas vermelhas sobre a calda.

— E-esse bolo é para mim?

— Claro que sim! É seu aniversário.

Meu primeiro aniversário em que iria comer um bolo. Felicidade cobria meu corpo no mesmo instante. Mais do que eu, Aira também mostrava-se contente.

— Irmã, você parece mais feliz que eu?

— Óbvio. Queria muito que tivesse seu primeiro bolo de aniversário, mesmo que não tenha ficado tão bom.

O sorriso estampado no rosto de Aira ficou tão visível quanto o bolo em minha frente.

Corri em sua direção a abraçando, ela retribuiu da mesma forma.

— Obrigado, irmã!

— N-não foi nada, agora vamos comer — Aira falou desgrudando de mim indo em até cadeira próxima ao bolo.

— Tá!

Acompanhei-a sentando ao seu lado.

Ela partiu o primeiro pedaço. Colocou em um prato e me entregou. Dei a primeira mordida, olhando ao lado estava minha irmã observando curiosa a minha reação.

O sabor rapidamente se espalhou pela minha boca, o gosto das frutas doces e azedas misturavam com o delicioso gosto do chocolate. Comi tão rápido que nem percebi e logo pedi outro pedaço.

— Quero mais um, irmã — ergui meu prato em sua direção.

— Tá, mas coma devagar, o bolo não vai correr — falou Aira dando uma leve risada enquanto pegava o meu prato.

Esperava ansioso pelo pedaço sendo cortado. Comi alguns pedaços, mas Aira não comia nem por um momento, apenas observava.

— Não vai comer, irmã? — perguntei oferecendo um pedaço

— Irei comer depois, pode aproveitar, afinal é um dia especial. — Aira diz recusando

Insisti oferecendo um pedaço de bolo que após tanta insistência, aceitou. Passamos a comer juntos todo o bolo.

— Neku, por que você foi até a floresta de Tharta? Você sabe que é muito perigoso.

— Fui ajudar você escondido, mas acabei me perdendo.

— Não precisava fazer isso. Eu sou caçadora pra você não se arriscar, então não faça isso novamente, tá?!

— Desculpa, irmã…

— Não precisa ficar triste, fico muito feliz que você queira me ajudar. Mas você ainda não está pronto pra caçar na floresta ainda.

— Então quando for mais fort- uaaaaah…

Estava ficando com sono.

Aira me pôs em seus braços me carregando até a cama.

— Boa noite, Neku.

— Irmã, conta uma história?

— Hum… Qual história irei contar dessa vez… hm… Num reino bem distante daqui, um lorde demônio que matava qualquer um que ele quisesse, mas isso logo iria mudar com a visita de uma cavaleira muito forte. Mais forte que os próprios cavaleiros de seu reino. Mesmo com toda sua força ela não conseguiu vencer o demônio.

— Mesmo ela sendo tão forte?

— Sim. O poder dos lordes demônios superam em muito o poder de outros seres vivos. No entanto aquele mesmo demônio fez algo que não era de seu feitio, foi benevolente, poupando a vida da cavaleira.

— Mas todo demônio não é mau? Por quê então ele não matou a cavaleira, irmã?

— É o que deveria ser, mas talvez tenha sentido compaixão pela cavaleira. A cavaleira voltou ao seu reino afogada em lágrimas e ferimentos por todo o corpo, era até um milagre ela ter conseguido voltar ao seu reino sem que morresse no caminho. Ela mesmo entristecida não ficou parada e começou a treinar arduamente para vencer o demônio. Mesmo em dias chuvosos, dias de sol escaldante, e ainda com seus ferimentos abrindo após forçar o corpo. Tudo em prol de fazer o Lorde Demônio ter se arrependido de tê-la poupado…

No dia seguinte quando acordei, Aira ainda em casa preparava o café da manhã. Era cedo, o que significava que não iria caçar.

— Neku, hoje irei até a capital, quer ir junto?

— Sim!

Estava feliz por poder ficar mais tempo ao lado de Aira.

Depois de comer, ela se preparou para sair. Tudo pronto, descemos a colina. Depois de anos, finalmente iria conhecer o vilarejo que ficava abaixo da nossa casa. Estava muito ansioso.

— Não se afaste de mim!

Assim como Aira falou, fiquei próximo sem me distanciar.

No vilarejo muitos comprimentavam Aira, “Boa tarde”, “Como vai?” E falas semelhantes, definitivamente Aira era alguém importante, não apenas como caçadora, mas também sendo uma habitante do vilarejo.

Continuamos seguindo até chegar em uma casa um pouco maior que a que morávamos. Uma carroça e um cavalo alocados ao lado.

— Ah, já chegou, — um homem falou quando nos aproximamos — quem é esse?

— Oi, senhor Seny. Ele é meu irmãozinho, Neku.

Calado observava as pessoas que passavam olhando de volta para mim sorrindo.

— Então esse menino que é seu irmão, ele vai junto?

O homem focava os olhos na direção dos meus, me analisando.

— Sim, tem algum problema?

— Ah, sem problemas, só esperem o Pocca terminar de comer.

Pocca, o cavalo que comia aos montes os volumes grandes de feno não parecia se saciar em pouco tempo.

Minutos passavam com Aira e Seny conversando enquanto o Pocca comia. Tendo finalmente terminado, partimos para a capital.

A viagem demorou duas horas sem qualquer imprevisto.

Estando na capital, nos separamos. Seny tinha compromissos para resolver no castelo. Aira e eu passeamos pelas ruas do mercado.

Vários tipos de mercadorias eram comercializadas, desde frutas, legumes e carne até artesanais e partes de monstros.

— Vamos pra onde, irmã? — segurando sua mão, perguntei

— Vamos numa livraria aqui perto. — falou Aira olhando para os lados

Pessoas ofertando suas mercadorias, outros caminhando com várias bolsas com utensílios e ingredientes para comida. Como Aira disse, não demorou até chegarmos em uma livraria.

A livraria nada chamativa, muito chata de se ver. Paredes pintadas com uma cor vermelho escuro. Porta de madeira, com três janelas de vidro. Chato.

Entramos após Aira empurrar a porta abrindo-a.

Dentro, pessoas passavam pelas estantes de livros. Diversos livros.

— Então, Neku… procure um livro que goste e depois volte aqui — Aira falou largando minha mão.

— Certo.

Estava animado por tantos livros que podia ver. As fileiras eram organizadas por letras de A à Z. Cada fileira continha conteúdos diferentes. Passei pela primeira fileira, A. Falava sobre os idiomas continentais e sua cultura.

O restante não deu qualquer animação para ir ver. Marquei o lugar de cada um e segui à próxima fileira.

Na segunda fileira, ficavam livros relacionados à magia. Continuei procurando os livros na fileira B.

Tinham livros interessantes como: "Conceito da magia elemental", "Rituais de Invocação", "Espadachim contra Mago".

Passei horas nas outras fileiras em busca de algo mais interessante. Mas minha busca terminou quando Aira apareceu.

— Você ainda não decidiu? — ela perguntou olhando os livros da fileira C — Já está ficando tarde, vamos indo. Outro dia voltamos para olhar outros livros com mais calma.

Caminhei até a fileira B, procurando o livro de "Rituais de Invocação". Um livro visivelmente velho com capa marrom porém sem qualquer dano na capa. Mostrei para Aira que pegou e levou até o balconista.

Terminando de comprarmos o livro, saímos para encontrar Seny que esperava na entrada da capital.

A viagem de volta para casa foi tranquilamente calma.

— Irmã, por que me levou para comprar um livro?

— Fazia muito tempo que não saíamos juntos, por isso achei uma boa ideia ficarmos juntos hoje e também para lhe dar um presente de aniversário, — ela falou retirando o livro da bolsa — você tem interesse em magia de invocação? Isso é bom, mas precisa saber os fundamentos e não tentar invocar algo sem conhecer bem como funciona.

— Você sabe usar magia, irmã?

Aira parecia ter conhecimento sobre magia o que me deixava cada vez mais curioso.

— Sei o suficiente para te proteger.

Minha irmã é tão legal.

Chegando no vilarejo nos despedimos de Seny e Pocca, antes de irmos para casa.

Aira me entregou o livro, peguei rapidamente abrindo para ler. Ansiedade para ver como usar magia tomou minha mente.

Segui o que Aira falou. Entender os fundamentos.

O início do velho livro explicava o que era a magia da invocação; Um tipo de magia que conectava o conjurador ao mundo de espíritos e sua contra parte, o mundo dos demônios.

Continuei a ler.

As invocações eram classificadas por sua força e importância, os espíritos eram: Luminous, espíritos sem vontade própria, geralmente eram obedientes ao conjurador. O segundo tipo eram os Sanctum, espíritos superiores com consciência e vontade própria podendo contrariar, em alguns casos até podia escravizar o seu mestre.

Os demônios eram classificados em três tipos: Inferiores, demônios com baixo poder de combate, mas cumpriam deveres como servos em tarefas. Maiores, esses tinham mais força que Inferiores, e também poderiam contrariar seu mestre, mas dependendo do selo imposto na invocação, podia impedir a desobediência. Contudo caso o selo fosse fraco demais os Maiores poderiam até matar o conjurador.

Essa última parte é um tanto preocupante. Não queria morrer para um demônio, então nem irei cogitar invocar um.

O último tipo era o mais forte dentre as três classes, a Calamidade. Eles escolhiam a quem iriam servir, por isso era extremamente raro que qualquer pessoa conseguisse invocar uma classe Calamidade.

As duas classes mais fortes de cada invocação eram complicadas, precisava ser bem habilidoso para que não ocorresse nada de errado.

Os Rituais ao todo tinha que ter um cântico, fazer um círculo de sangue, em seguida oferecer um tributo. Iria variar de cada caso. No cântico enunciava: "Venha até mim como meu servo" e acrescentar o tributo desejado.

Folheei o restante do livro.

Já na metade, além das duas invocações convencionais tinha a invocação de humanos, apesar de extremamente difícil era possível, ao contrário da invocação de espíritos e demônios, a invocação de humanos não custava oferecer tributo e sim ter o reservatório de mana suficiente para conseguir invocá-los. O último registro de invocação de humanos foi há cerca de 400 anos.

Depois de ler tanto sobre os tipos de invocações, começaram a aparecer textos sobre deuses e heróis.

Estava curioso sobre os heróis, assim continuei a ler.

O início não tinha nada demais, explicando que os deuses eram seres divinos que observavam todo e qualquer tipo de vida e o andamento dos fenômenos e através de seus fiéis transmitia sua doutrina. Criando a religião que o cultuava.

Esses deuses não podiam interferir diretamente sobre a vida e suas casualidades, por isso usava seus fiéis e também os heróis. Pessoas que receberam a benção de Deus para agir em nome das divindades.

Uah… Que sono…Vou dormir e termino amanhã.

Não esperava que fosse ficar lendo por quase quatro horas seguidas. Procurei Aira, mas não a encontrei.

Talvez lá fora?

A porta aberta, saí.

O céu estava escuro, estrelas espalhadas por toda a escuridão, era noite.

Barulhos de algo batendo na árvore eram facilmente escutados. Caminhei mais um pouco, a fonte do barulho era o manejar de espada que Aira portava colidindo contra a árvore. Eu só observava sentado. Não queria atrapalhar.

— O que foi, Neku, algum problema? — Aira falou abaixando sua espada, aproximando-se.

— Uaaah. Não, apenas queria ver seu treino, — falei bocejando — a propósito irmã, você pode me treinar também? 

Ela ficou em silêncio, colocou a mão no queixo pensativa. Eu esperei sua resposta. Finalmente tendo uma resposta, ela retirou a mão do queixo.

— Eu tenho que caçar, preparar comida e cuidar de você. No momento não vou poder treinar você…

— …

Abaixei a cabeça triste escutando a recusa.

— Mas não precisa ficar triste, irei caçar um mooonte de Bestas e vender na capital ou em alguma guilda, assim terei bastante tempo para você.

A tristeza sumiu no mesmo momento.

— Agora, vamos dormir. Já está ficando tarde e parece que você está com bastante sono.

Assim o dia sobre estudo da magia de invocação encerrou.

No outro dia, Aira não estava em casa. Provavelmente tinha saído para caçar. A casa estava um trapo. Os pratos sujos, chão empoeirado e roupas fora do lugar.

Aira caçava pela manhã, quando voltava estava exausta, motivos para que demorasse para que cuidasse da casa.

Eu vou cuidar da casa!

Com isso em mente, empilhei os pratos, copos e talheres. Lavei todos. Varri todos os cantos da casa. Terminando fui pegar o livro de magia de invocação.

Quando chegou, ela não carregava nenhum Javali, muito menos tinha se sujado de sangue.

— Não conseguiu caçar nada hoje, irmã? – perguntei

— Não é isso, — ela respondeu cabisbaixa — talvez não tenha mais tanto tempo para ficar em casa. Eu fui requisitada pelo rei para ingressar no exército.

No reino de Qliw, todos aqueles que completavam 17 anos de idade tinham que comparecer à capital para ingressar na ordem de cavaleiros. Servindo por três anos. Tinha a opção de recusar, no entanto neste caso teria que pagar uma taxa de incisão. Nós não tínhamos o dinheiro que seria necessário. Um total de 500 moedas de ouro. Preço que apenas a nobreza conseguiria pagar.

Contudo existiam também alguns privilégios que o príncipe implementou para aqueles que eram cavaleiros, um salário de 7 moedas de ouro, a cada alguns meses poderia visitar familiares, tudo dependeria do desempenho servido.

— Irmã, não tem problema. Deve ser super legal ser cavaleira. 

Aira caminhou lentamente até mim. Colocando os braços ao meu redor, me dando um abraço.

— Neku… você é um irmãozinho incrível… Obrigada.

Passamos minutos abraçados, seu calor trazia uma tristeza que não sairia tão facilmente, mas precisava mostrar ser forte e não preocupar Aira.

Minutos depois Aira foi fazer a janta.

Hoje não iria estudar, nem fazer qualquer outra coisa, apenas ficar ao lado de minha irmã todo o tempo que ainda podia.



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