Volume 2

Capítulo 78: Névoa

Os raios solares batendo no rosto na manhã seguinte eram implacáveis após uma noite agitada. Foi esse brilho insistente que fez os olhos de Alaric se moverem ainda fechados, anunciando o despertar forçado.

Ao subir as pálpebras e enxergar o mundo embaçado por breves instantes, o jovem se viu confuso sobre onde estava. Foi então, ao coçar os olhos, que a nitidez da visão lhe deu as respostas.

Tsc… esse péssimo gosto…” Ao olhar para cima, no teto, viu um grande dragão desenhado. Assim, Alaric teve a confirmação de que se tratava de sua casa.

Já pouco desperto e ciente de sua localização, ele se espreguiçou com vontade, abrindo os braços ao máximo naquela cama confortável. Em seguida, levou a mão ao rosto, se questionando:

— Como vim parar em casa...? — As memórias da noite passada estavam nubladas; ele só lembrava de…

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— Posso beber essa bebida dos deuses com você…? Alaric… — sussurrou a jovem, inclinando-se graciosamente em direção a ele.

Alaric virou-se para encará-la, seus olhos encontraram os dela em um instante. Uma bela mulher de cabelos negros, elegantemente presos em um coque, seu rosto delicado exibia traços orientais, uma característica comum entre os habitantes daquela região. O corpo esguio, adornado por um hanfu vermelho, tão leve que poderia ser confundido com o traje de um mestre espadachim, cingido na cintura por um cinto negro.

Alaric permaneceu cativado por alguns preciosos segundos diante daquela beleza exótica, parecendo um panaca estático diante dela. Seus olhos a encaravam, quase incapazes de desviar, e por um breve instante, ele quase perdeu toda compostura. No entanto, ao perceber sua própria reação idiota, recobrou a consciência e indicou o assento ao lado dela.

— C-claro, sinta-se à vontade... — Ele mesmo mal compreendia a razão de seu próprio e repentino nervosismo. — Chen, traga mais duas canecas!

Ela brindou Alaric com um sorriso gentil, tão encantador que quase o fez perder o fôlego novamente. Entretanto, desta vez ele estava mais firme, mantendo sua compostura. Observou enquanto ela seguia em direção ao assento indicado, sentando-se com uma elegância que parecia digna de nobreza.

— Você é um frequentador assíduo deste lugar? — perguntou ela, apoiando delicadamente a mão no balcão, com seu rosto voltado para Alaric.

— De vez em quando... — respondeu, ainda um tanto envergonhado, ainda preso à beleza dela. — E você, senhorita...

Oh, peço desculpas, esqueci-me de me apresentar. — Ela afastou ligeiramente o rosto, corando um pouco por sua própria falta de etiqueta. Recuperou-se em instantes e estendeu a mão em direção a Alaric. — Meu nome é Xin Wei, mas pode me chamar apenas de Wei…

Nessa região, por razões desconhecidas para Alaric, era comum as pessoas se apresentarem com o sobrenome primeiro, seguido pelo nome próprio. Além disso, usar o nome próprio de alguém sem intimidade ou permissão era considerado desrespeitoso ou informal. Como ela havia consentido que o jovem a chamasse pelo primeiro nome, não haveria problemas.

— Xin Wei… belo nome… — Alaric parecia reconhecer esse nome de algum lugar. — Bem, me chamo é… Você já sabe. Espera! Como você sabe!?

— Hm? É… — Ela adotou uma expressão sem graça, coçando a cabeça. — Ouvi da mesa ao fundo… desculpe…

Alaric arqueou uma sobrancelha, não totalmente convencido com essa explicação. Parecia-lhe um tanto quanto suspeita, mas ainda não havia razão suficiente para desconfiar seriamente dela. No entanto, sua postura relaxada adotou uma leve tensão, como se estivesse preparado para qualquer eventualidade.

"Estava distraído pela sua beleza... droga!" Ele ficou irritado consigo mesmo por ter se deixado levar por algo tão superficial. Sabia que isso poderia custar-lhe caro, especialmente se ela fosse uma pessoa perigosa.

— Você parece estar bem pensativo ... —  comentou Wei, observando as expressões reflexivas de Alaric.

— Hm?... Ah! Não é nada…

Por sorte do rapaz, a saída dessa situação foi rápida e precisa: Chen chegou com duas canecas de cerveja e as entregou.

— Duas cervejas para o casal. — Chen piscou para Alaric, sorrindo sugestivamente. — Se precisarem de algo mais, estarei por perto.

Alaric o encarou descontente com o termo "casal", sabendo que não era o caso, mas no fundo, o velho homem apenas queria que o rapaz se distraísse com algo além do álcool.

— Realmente, uma cerveja divina! — exclamou Wei, tomando um grande gole que surpreendeu até mesmo Alaric, conhecido por ser um bebedor experiente. — É… não vai beber?

Alaric ficou momentaneamente atônito ao testemunhar a voracidade com que Wei tomou quase metade da caneca de cerveja em um só gole. No entanto, ao ouvir a indagação, dita por uma voz tão suave e bela, despertou de seu estupor. 

Encarou o reflexo ondulante na superfície do líquido âmbar antes de trazê-lo aos lábios, permitindo que o amargor da cerveja invadisse seu paladar, enquanto os pensamentos turbulentos da noite dançavam em sua mente.

A partir daquele momento, quando o álcool começou a fazer efeito, tudo desandou. Os dois beberam sem parar, esvaziando mais de dez canecas. A embriaguez criou uma falsa sensação de proximidade, levando-os a se abrir. Bem, isso podia ser uma verdade para Wei, que não parava de falar, enquanto Alaric, por outro lado, apenas escutava, dando respostas curtas.

Em certo momento, já sem qualquer dignidade devido ao álcool, eles se levantaram e começaram a dançar ao som dos bardos, que tocavam as mais animadas sinfonias.

Dançavam eufóricos; Alaric à girava entre as mesas, enquanto as pessoas observavam os dois se divertirem como nunca, integrando os aplausos na sinfonia. O sorriso de Wei transbordava de êxtase, como se estivesse experimentando algo assim pela primeira vez na vida.

E Alaric parecia finalmente ter abandonado sua expressão rancorosa, substituindo-a por uma feição de felicidade genuína. Quando as músicas mais lentas começaram, seus corpos se aproximaram em uma dança romântica que durou até tarde da madrugada.

Após uma noite agitada, Alaric a levou para casa e, bem, passaram acordados até altas horas.

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"A noite foi intensa... Mas caramba!" Ele levou a mão à testa, onde uma dor latejante parecia castigá-lo, uma consequência inevitável de ter exagerado na bebida. No entanto, no fundo, ele sabia que cada gole valera a pena.

“Wei…” Tateando com a outra mão ao seu lado na cama, onde esperava encontrar o corpo escultural de sua companheira da noite, ele se viu envolto pelo vazio, sem o calor reconfortante da pele macia dela.

— Wei? — Tentou com insistência alcançar cada centímetro ao seu lado, mas não encontrou nada. Levantou o torso nu, fazendo o cobertor escorregar para o colo. — Ah, sério...?

Ao direcionar o olhar para o lado, deparou-se com um espaço vazio, apenas os lençóis amarrotados testemunhando a ausência dela, indicando que já havia partido há algum tempo.

Desanimado com sua partida, mas resignado, deixou-se cair novamente na cama. Ainda atordoado pelo sono e pela ressaca leve que persistia, após uma noite tão intensa.

“Já saí com tantas mulheres, então por que ela...” Alaric não conseguia tirá-la da cabeça: as curvas, o cheiro, a voz, aquele sorriso encantador... e melhor nem mencionar o que ele pensou...

De repente, a porta do quarto se abriu, trazendo consigo um sopro do ar matinal. No entanto, não havia ninguém à vista. Mas pelos sons de patas, ele já sabia quem era.

Surpreendido pelo focinho em sua cara, Alaric foi feito refém pela língua voraz que lambia seu rosto.

— Você não me abandona, né? Hahaha! Para! — Ele tentava de todas as formas tirar o cachorro de cima dele, mas o animal era insistente. — Anthon! Hahaha! Tá bom! Tá bom! Vou levantar!

Com muito esforço, ele conseguiu tirar o cachorro de cima dele. Agora, completamente desperto, sentou-se na beira da cama, observando seu cachorro, Anthon, com sua pelagem branca e preta cobrindo aquele grande corpo. Podia chamá-lo de Pitbull, mas ele não tinha uma raça definida; era um vira-lata, uma mistura de algumas raças.

— Você viu ela sair? — Alaric olhou para Anthon, que estava agora no chão, com uma expressão de completa perplexidade. — Você não vai responder, né? Às vezes esqueço que você é só um cachorro...

Nesse momento, as lembranças não de um cachorro, mas de um grande lobo falante, invadiram sua mente. Uma onda de nostalgia o inundou, fazendo-o exibir um belo sorriso, algo raro em seu rosto.

— Está com fome? — O cachorro se levantou, abanando a cauda com entusiasmo. — Eu também. Vamos para a cozinha então...

Após uma noite em que apenas líquido âmbar preencheu seu estômago, Alaric despertou com um desejo voraz por alimentos sólidos para saciar sua fome. Ao colocar os pés descalços no assoalho frio de madeira, um arrepio percorreu-lhe a espinha.

Sem hesitar, se ergueu, notando a ausência de qualquer vestimenta. Na noite anterior, as roupas não haviam sido necessárias, mas agora, com o frio da manhã, elas eram essenciais.

"Será que já estamos no inverno?" pensou consigo mesmo. Nesta época do ano, essa região do continente experimentava um clima mais frio, embora nada comparado ao norte. A mudança era significativa para uma área normalmente temperada.

Alaric dirigiu-se ao guarda-roupa e selecionou seu conjunto habitual: uma camisa de manga comprida branca e uma calça de moletom folgada. Nos pés, calçou um chinelo de dedo, uma invenção relativamente nova, por ser feito de borracha.

Assim, ele se encaminhou para a porta, com Anthon seguindo-o de perto. Ao sair do quarto e olhar para trás para fechar a porta, deparou-se com a bagunça deixada para trás: Cama toda bagunçada, roupas espalhadas por todos os lados, seus instrumentos musicais jogados no chão…

— Ninguém vai ver mesmo, né Anthon? — O cachorro abanou o rabo, e Alaric sorriu. — Exatamente...

Assim, ele puxou a maçaneta, fechando aquele antro de desorganização que ele chamava de quarto. 

Navegando pelo corredor espaçoso, ladeado por portas e paredes amarelas, Alaric finalmente alcançou seu destino: a cozinha da casa. Uma enorme janela dominava a parede frontal, oferecendo uma vista panorâmica da floresta além, embora à noite essa visão pudesse ser um tanto sinistra.

Diante dessa janela, um amplo balcão servia como pia, equipado com água corrente, enquanto ao lado repousavam as bocas de um fogão a carvão, cuidadosamente projetado para direcionar a fumaça para fora da casa.

No centro da cozinha, uma generosa mesa convidava os ocupantes a se reunirem para refeições. O número de cadeiras sugeriam que esta era uma casa frequentemente visitada por um grande grupo de pessoas. Num canto, uma despensa abrigava provisões, embora o aroma indicasse que alguns alimentos já estavam além do prazo de validade.

— Que cheiro... — Alaric franzia o nariz, observando os indícios de deterioração na despensa. — Bem, isso pode esperar para ser resolvido depois...

Alaric nunca foi o tipo de pessoa, que se preocupava com o cuidado de uma casa. Assim, caminhou até a dispensa e retirou uma peça de carne que ainda parecia comestível, levando-a até o balcão.

Ao abrir uma porta do compartimento inferior do balcão, retirou uma tábua de corte, afinal, ele não queria estragar aquele belo balcão de mármore negro.

Colocou a carne sobre a tábua e pegou uma faca no suporte ao lado, começando a cortar a peça em pequenos pedaços. O som da faca cortando a carne e batendo na tábua era reconfortante para os famintos. A primeira rodada de carnes estava pronta.

— Agora, panela… — Abaixou-se para novamente mexer no compartimento e pegar a penela, a frigideira para ser mais específico. — Hmmmm, tô esquecendo de algo? Ah! O óleo!

Colocou a frigideira no fogão e foi até a dispensa buscar o óleo vegetal, feito de gergelim. Levou-o até o fogão e despejou na frigideira.

— Será que ainda há carvão? — Ele esperava sinceramente que sim, e ao abrir a porta do fogão, suspirou aliviado ao ver que havia.

Então, pegou um pequeno fósforo do depósito ao lado do fogão, acendeu-o e o jogou no pequeno braseiro que continha materiais inflamáveis, fazendo o fogo surgir.

"Agora é só esperar o óleo esquentar..." Após alguns minutos, o óleo parecia estar na temperatura ideal, e ele começou a colocar a carne com cuidado na frigideira. Ainda assim, não conseguiu evitar o inevitável...

Ai! Aí! — Passava a mão no outro antebraço que sofreu com o óleo quente espirrado. — Lidar com óleo é complicado…

"Agora é só esperar." Após alguns minutos, o aroma delicioso indicava que a refeição estava pronta para ser apreciada. O jovem pegou os pedaços de carne da frigideira e os colocou em um prato, reservando os mais frios em uma vasilha que deixou no chão para o cachorro, que parecia tão faminto quanto o ele.

— Finalmente vou satisfazer essa fome insaciável... — Sem conseguir esperar mais, e salivando como nunca, ele atacou a suculenta carne sem reservas. Em poucos minutos, o prato estava vazio, mas seu estômago, cheio. — Ufa...

De barriga cheia, passou algum tempo perdido em seus pensamentos, ponderando sobre a garota, até perceber que estava se deixando levar demais por eles. Balançou a cabeça vigorosamente para tentar se libertar dessas reflexões e focar no presente, o que deu certo.

"Vou descartar o que estragou..." Dirigiu-se à dispensa, recolheu os alimentos deteriorados em um saco de pano e chamou Anthon para saírem.

Ao sair pela porta lateral da cozinha, alcançaram a varanda, que oferecia uma vista para um vasto gramado verde, com um cercado ao fundo.

— Os porcos vão gostar disso, não é mesmo, Anthon? — O cachorro latiu e correu na frente, deixando Alaric para trás. — Espere! Anthon! Este cachorro...

Ao ver o cachorro partir, ele se pôs a segui-lo, caminhando pelo gramado sob o confortável sol da manhã.

"Sol..." Enquanto caminhava, sentindo o calor na pele, lembrava-se de Apolo com certa melancolia; acontece que o deus havia sumido há tempos, desde que ele fugiu de Aldemere, até um pouco antes disso.

— Nem isso posso mais... — Observando a própria palma, tentou invocar a mana divina, mas sem sucesso; ele havia perdido o acesso a ela. — Em vez de ficar mais forte, fiquei mais fraco…

Chegando ao cercado de porcos, jogou os alimentos estragados para os animais, que logo correram para se deliciar. Parou então para admirá-los, encostado na cerca.

— Fui obrigado a cuidar de vocês, mas estou começando a gostar dessa pacificidade... — Deixou seus braços relaxarem, encostados na cerca, diante desse sentimento tão agradável, tão pacífico... — O que...

De repente, os porcos que antes comiam com tanta vivacidade estavam caídos no chão, mortos. Não apenas isso, mas o clima ameno parecia ter desaparecido.

— O que está acontecendo...? — Assustado, desencostou da cerca e deu alguns passos para trás. — Que frio...

O sol já não se via no céu, substituído por uma névoa escura e gélida que parecia consumir todo o local, fazendo Alaric tremer de frio, enquanto seu coração começava a acelerar.

Tentando controlar os batimentos, Alaric começou a inspirar e expirar lentamente na esperança de se acalmar. No entanto, isso apenas o assustou ainda mais, já que além de seu coração continuar batendo forte, ao abrir os lábios, viu uma fumaça branca ser expelida, algo que só acontecia na região nórdica.

Esfregando as mãos, começou a navegar com o olhar em busca de respostas. Mas tudo o que conseguia enxergar era aquela névoa escura que limitava sua visão, deixando-o cego e alheio ao que ocorria a alguns palmos de distância.

Sem a visão, teve que confiar nos outros sentidos, mas estes pareciam amortecidos, sem cheiro, mesmo ao lado de um chiqueiro de porcos, e sem som, o que era estranho considerando a floresta próxima, onde pequenos e grandes animais geravam ruídos.

Do nada, a névoa se deslocou como se alguém tivesse passado, mas ele não viu nada. Entretanto, após isso, Alaric podia jurar que estava sendo observado por alguém ou algo.

— Estou cansado disso! — Ao erguer a mão, tentou invocar a lança, mas sem sucesso; ele estava indefeso. — Droga!

O sentimento de fraqueza e impotência pairou em sua mente, como se a névoa escura que permeava os arredores começasse a nublar e dominar seus pensamentos. 

Os pelos dos braços dele se arrepiaram, junto ao turbilhão de negatividade, mas em um momento de lucidez, respirou fundo, aspirando o ar que já se mostrava rarefeito, dissipando a névoa da mente, junto aos pensamentos ruins.

Mais centrado e, sem nada a perder, se pôs a caminhar entre a névoa, dando dois passos hesitantes e notando algo estranho. Para confirmar, deu um pequeno salto. Realmente, nem mesmo seus próprios passos produziam som; era um silêncio absoluto.

— Anthon! — De repente, Alaric pôde ouvir, como em um coro…

Anthon! Anthon! Anthon! Anthon!

De baixo, acima, do lado, do outro: o nome Anthon ecoou de todas as direções como se dezenas de pessoas estivessem gritando ao mesmo tempo. Perante tal bizarrice, o coração de Alaric, que já batia forte, acelerou ainda mais e sua respiração se tornou irregular, mas nem mesmo os sons dos batimentos ecoavam de seu peito, e a respiração continuava sair condensada.

Sem audição, olfato e visão... sem norte, nem sul, Alaric estava sem nada, perdido na névoa. Nem Anthon parecia estar ali.

— É um domínio inerte? Outra realidade? — O jovem tentava encontrar desesperadamente uma explicação plausível para aquela situação que beirava, senão ultrapassava, o surreal. — Isso é...

Ao desviar o olhar para o chão, pôde notar o vermelho. Ao abaixar-se e passar o dedo, sentiu a viscosidade. "Sangue..."

E não eram apenas gotas ou uma poça de sangue, mas sim um rastro que se estendia à frente do jovem, adentrando a névoa escura, como se alguém ou algo tivesse sido ferido e arrastado para lá.

Alaric estava ainda analisando aquele sangue, aquela situação macabra, enquanto sentia a respiração cada vez mais difícil, densa. Os pulmões doíam como se respirassem facas... Perdido em reflexões sobre o que poderia ser aquilo, ficou parado até que...

Um toque. Alaric arregalou os olhos e caiu para frente, tentando escapar do que quer que fosse. Sem nem pensar duas vezes, virou-se, mas nada estava lá. No entanto, ele havia sentido um toque gélido de um dedo, na nuca, tão frio que apenas um morto poderia ter feito.

— Tem alguém aí!? — De repente, outra vez o coro maldito...

Tem alguém aí!? Tem alguém aí!? Tem alguém aí!? Tem alguém aí!? Tem alguém aí!? Tem alguém aí!?

Vários ecos infernais, que pereciam penetrar a mente do rapaz, fazendo-o gemer de dor e perder o equilíbrio, caindo sentado enquanto cobria os ouvidos, buscando um momento de alívio em meio aos ecos medonhos.

— Alaric... — Uma voz doce cortou os ecos do inferno, alcançando os ouvidos do rapaz.

O jovem pareceu aliviado, como se o aconchego acompanhasse aquela voz; seu olhar se suavizou e a mente encontrou paz. Então, lentamente, ele ergueu o rosto até que diante dele, o inimaginável se apresentou…

— Gideon...



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