Volume 2

Capítulo 51: O Rei do Sul

Reino do Sul.

Em um lugar distante, além da floresta e do deserto, onde a areia e o mar se encontram existe um castelo. Nesse castelo existe um salão gigantesco que nos tempos passados era responsável por abrigar todas as pessoas da região deserta no período de inverno.

Muitos se perguntavam:

— Como pode fazer tanto frio em um deserto?

E a resposta era simples: O deserto estava localizado em uma região do extremo Sul, e os ventos secos e gélidos vindos do oceano encontravam com o calor do continente formando uma região de baixa temperatura. Porém pouco propícia à vida.

— Mas o que fazia essas pessoas habitarem tal lugar?

Justamente o mar! Depois de cruzar todo o deserto encontra-se um mar de águas geladas repleto de peixes e outras criaturas marinhas comestíveis, desejados pelos outros reinos.

Os habitantes da costa do Reino do Sul eram exímios pescadores, profissionais na arte de capturar os melhores seres aquáticos. O povo do deserto era famoso por serem bravos e destemidos mercadores, capazes de atravessar a imensidão de areia para levar os produtos da costa ao continente, e trazer do centro terrestre as mais cobiçadas mercadorias até as costas geladas.

Tarefa que poucos tinham coragem de realizar.

Formado por sete clãs, os povo do deserto era liderado pelo clã da areia, que ficou conhecido como clã do deserto após liderar todo os outros clãs durante os tempos antigos, se tornando conhecido em todo o continente e impondo respeito por seu nome onde passassem.

Ainda no Reino do Sul, havia uma floresta. Destoando totalmente do deserto, a floresta era quente e úmida, além de ser cheia de vida. Isso era graças à formação gelada do deserto, que impedia que a umidade do centro do continente chegasse ao deserto, e gerando muita chuva em único local.

Os habitantes da floresta eram um povo alegre, festivo, e acolhedor. Repudiavam a guerra acima de tudo, exceto se alguém ousasse invadir os domínios sagrados do clã principal.

Famosos pela culinária rica em especiarias, o povo da floresta era composto por apenas um clã, dividido em várias famílias que se organizavam em pequenas vilas onde os habitantes viviam em harmonia com a natureza circundante.

Ninguém sabe quando exatamente os três clãs se uniram para formar o reino, mas a lenda diz que o povo do deserto selecionou os melhores grãos de areia, o povo do mar escolheu o melhor óleo de peixe e o povo da floresta doou a melhor madeira para construir uma fortaleza que pudesse abrigar os três clãs em caso de crise.

No centro do salão haviam construído um trono de madeira ornamentado com entalhes manuais simbolizando as culturas dos três povos, uma verdadeira obra de arte digna de um rei.

Em torno do trono estavam distribuídas 21 colunas formando figuras geométricas, cada coluna era entalhada com padrões únicos representando a história de cada um dos três povos. No teto haviam três escudos desenhados simbolizando os fundadores do reino, e no piso havia o mapa de todo o reino do sul cuidadosamente criado com minúsculos grãos de areia coloridos.

No trono de madeira escura da floresta sagrada estava sentado um homem magro, porém forte, barba bem feita e postura dominadora. A pele ressecada e cabelos pretos eram indícios da sua origem no clã do deserto. Aquele era Long-Hua, o atual soberano do Sul.

Mantendo uma expressão séria, quase como se estivesse insatisfeito com algo, Long-Hua batia os dedos no braço do trono em ritmo cadenciado, demonstrando tédio e inquietação. Ele era um homem de ação, um soldado forjado no campo de batalha, não um magistrado versado em diplomacia.

Desde a morte de seu irmão de guerra, Zhang-Nee, o patriarca do clã da floresta, que perdeu sua vida em batalha, o povo do mar havia jurado fidelidade a Long-Hua. Afinal eles eram pessoas acostumadas com a liberdade e não se atinham à políticas, não fazendo diferença quem fosse o governante do Sul desde que não os impedisse de serem livres no mar.

O povo da floresta também não tinha motivos para recusar a ascensão de Long-Hua ao trono, ele sempre havia sido um dos maiores estrategistas militares do reino, e sua atitude calma e compassiva era importante para uma posição de liderança. Assim a indicação de Long-Hua para o posto de soberano do Sul veio sem nenhuma objeção, e como alguém que dedicara a sua vida a servir seu povo, ele não recusou a posição.

Enquanto descansava a cabeça apoiando o queixo sobre o braço direito, Long-Hua viu um dos guardas dos portão, responsável por anunciar os recém-chegados que viam falar com o rei do Sul, entrar apressado.

— Meu soberano, um batedor do deserto deseja entregar-lhe uma mensagem.

— Mande-o entrar e falar — O rei do Sul respondeu mantendo uma atitude ríspida.

Imediatamente um jovem de boa aparência desgastada pelo sol e a aridez do deserto adentrou o grande salão do rei, ajoelhando-se perante o rei do sul.

— Fale! — Ordenou Long-Hua.

— Vossa Majestade! Jonas, o herói guardião retornou e declarou guerra contra o Sul, junto com a antiga força militar das Pessoas Livres do Leste, ele massacrou toda a minha unidade de patrulha e deixou apenas a mim vivo, com a condição que eu lhe entregasse a declaração de guerra.

— Uma declaração de guerra? De Jonas, o herói? Mas pensei que ele tinha retornado ao seu mundo original… — Long-Hua parecia confuso.

— Não há dúvidas, meu senhor, com toda certeza é ele! O poder único de criar barreiras, conforme as lendas… Por mais que eu nunca o tivesse encontrado antes, não há como não o reconhecer.

Long-Hua percebendo que faltou com a postura séria de um rei mediante a notícia aterradora do retorno de um dos heróis, respirou fundo e voltou a ficara firme com a expressão séria.

— Fez um bom trabalho em trazer essa mensagem! Em nome de todo o reino do Sul, eu agradeço à sua coragem, digna do povo do deserto — Long-Hua achou que seria importante mostrar gentileza perante seus seguidores, assim conquistaria suas lealdades.

— Eu que agradeço as suas palavras, meu rei.

— Qual seu nome, jovem — Perguntou o rei.

— Meu nome é Lu-Ji! Da família do vento, servos fieis do clã do deserto!

— Se me lembro corretamente, a família do vento é composta por exímios arqueiros-feiticeiros… Você por acaso é um desses?

— Um arqueiro sem mãos não é mais um arqueiro, é apenas um mensageiro, meu senhor.

— Não diga esse tipo de coisa! Eu aprecio a sua coragem em cruzar o mar de areia para trazer essas informações sem sucumbir à dor do fracasso. Fracassar não significa derrota, a única derrota é a morte. Sua família deve se orgulhar de ter alguém tão corajoso carregando o seu nome por esse mundo afora.

— Agradeço suas palavras de conforto, majestade! Mas infelizmente, esse pobre servo já não lhe é mais útil…

— Bobagem! — Long-Hua gesticulou desdenhando do pessimismo de Lu-Ji — Me responda, criança: Se eu garantisse que você tivesse as suas mãos de volta, o que faria?

— Eu dedicaria a minha vida ao senhor, até meu último suspiro este servo faria chover flechas sobre os seus inimigos!

— Muito bom saber… Espero que cumpra com a sua palavra! Em breve você terá a chance da sua vingança!

Lu-Ji levantou a cabeça, encarando Long-Hua com expressão de espanto enquanto tentava compreender as palavras de seu soberano. Long-Hua sabia que não deveria demonstrar gentileza em excesso perante seus súditos, então apenas sinalizou para um dos guardas mais próximos dizendo:

— Leve-o até a nossa nova aquisição e peça que restaure as suas mãos.



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