Volume 2

Capítulo 78: Destino, Outro Mundo (2)

Enquanto os soldados entravam lentamente pelo portal, André pediu licença e foi ao banheiro. Dois guardas o seguiram, como forma de garantir que ele não aprontaria nada para atrapalhar o importante momento.

Lídia ficou um pouco surpresa, ela não havia levado a sério as últimas palavras de André, mesmo que Zita lhe garantisse que ele tinha experiência no assunto.

— Você vai ao banheiro? — A secretária de Felipe perguntou a Zita.

— Minha experiência e a do André são um pouco diferentes. — Respondeu a ruiva.

As duas permaneceram no mesmo lugar, próximas da porta, Lídia sabia que, em parte, ficar ali era um motivo de segurança, fugir poderia ser necessário, mas ela queria chegar perto do equipamento que abria o portal. Sua curiosidade fazia aquela geringonça gigante e brilhante parecer um ímã que tentava atrair sua atenção.

Cedendo aos seus impulsos, Lídia deu um passo em direção ao equipamento, mas antes do segundo ela sentiu uma mão em seu ombro. Acordando de seu breve devaneio, Lídia olhou para trás e viu Zita séria, encarando o brilho azul.

Ao mesmo tempo um corpo voltou pelo portal, dando passos para trás, todo perfurado, sangue descendo pelo uniforme militar, arma em punho. Os soldados que aguardavam para atravessar ficaram apavorados, sem entender o que podeira ter acontecido do outro lado.

Lídia ficou apavorada, ela olhava pera os heróis e os guardas, esperando um movimento deles para decidir se fugia ou sacava a sua arma. Mas a mão de Zita desceu do ombro, segurando agora o seu braço, perto do pulso.

— Não se preocupe ainda, nem saque a arma, ela pode ser o nosso trunfo…

— Ainda..? — Lídia soltou um olhar angustiado.

— Sim, veja bem como os demais reagiram.

— Sim, eu reparei. — Lídia respondeu — Parte dos guardas reagiu como se já esperasse por isso, então eu devo presumir que foi fogo amigo, ou melhor, um ato de traição.

— E quanto aos heróis? — Zita instigou — O que podemos concluir?

— A maioria deles está acoada. A sala toda é bem iluminada, não há sombras para Gledson, nem mesmo fragmentos para Arlene criar um golem, e aposto que tudo aqui é extremamente sólido, mesmo que Bruno ative sua habilidade, não formariam um bom combo. Augusto poderia usar seu som, mas em uma sala fechada ele seria afetado também, e não há nada em vidro, o que deixa Amanda incapacitada. Sem contar que você e Wagner perderam os poderes…

— E é exatamente por isso que, assim como nós, eles estão esperando pelos próximos movimentos.

Lídia não disse mais nada, apenas continuou observando.

Para a surpresa geral, Getúlio caminhou até o centro do salão, enquanto seus gurdas rapidamente o cercavam, apontando suas armas de cano longo para os demais. Os heróis se puseram em guarda, mesmo sabendo que estavam e desvantagem. Lídia deu um passo para trás, voltando à sua posição inicial.

— É o momento! — Anunciou Getúlio — Depois de tanto aguardar, poderemos enfim ir ao “Outro Mundo” e acabar de vez com toda essa blasfêmia.

Um burburinho se formou, os heróis comentavam baixinho entre si, os soldados tinham se dividido em três grupos e apontavam suas armas uns para os outros, Sônia e Alice lentamente se afastaram em direções aos seus respectivos guardas.

— Deuses? Heróis? Magia? — Continuou Getúlio — Isso é coisa do demônio! Tudo não passa de uma mentira, de ilusão para cegar a todos e levá-los ao caminho da perdição. Cabe a mim mostrar a cada um o caminho certo…

Lídia olhou para Zita e percebeu que a garota tinha uma expressão concentrada com uma pitada de ódio, estampada em sua face.

— Não pode haver um “outro mundo”! — Getúlio gritou — Há apenas um, criado pelo único e verdadeiro deus, todos os chamados deuses do outro mundo e seus seguidores são criações do diabo!

Seus soldados pareciam empolgados com o discurso, ao passo que os demais, assim como Lídia e os heróis, estavam sem entender.

—E quem ficar no meu caminho morrerá. — Getúlio concluiu — E agora, onde estão André e a oitava chave?

— O que você acha disso? — Zita perguntou.

— Sei lá… — Lídia deu de ombros — Odeio fanatismo… E sou ateia.

— Então vamos aproveitar que estamos mais perto da porta e fugir primeiro.

— E o André?

— Ele se vira…

Sem perder tempo as duas correram para a porta, aproveitando a distração dos guardas e a confusão e correria que se formou. Mas não foram as únicas a pensarem em fugir e se protegerem.

Os outros heróis também buscaram a segurança do corredor, assim como alguns guardas que não estavam diretamente ligados ao ataque.

O som de tiros ecoou pelos corredores, diversos buracos de balas se formavam nas paredes, estilhaços voava em todas as direções, e conforme as lâmpadas eram acertadas, a escuridão ia tomando conta do ambiente.

Sônia alcançou as duas com ajuda de seus guardas, mas sua força de proteção estava se reduzindo, pouco mais de dez ainda restavam. Ela ordenou que eles também protegessem Lídia e Zita, o que foi aliviante para as duas.

— Como ela consegue correr com um salto tão alto? — Lídia pensou.

— Me sigam! — Sônia ordenou enquanto corria pelo corredor.

— Espero que ela saiba aonde está nos levando. — Lídia disse quase chorando.

— Também espero… — Zita pensou.

Os tiros permaneciam em um ritmo acelerado, a quase no mesmo ritmo os guardas de Sônia caíam pelo corredor. As três subiram um lance de escadas em uma velocidade que Lídia jamais sonhou ser capaz, e isso deu uma certa vantagem a elas.

Ao mesmo tempo veio a desvantagem de terem perdido totalmente a proteção dos soldados quando o último deles tombou nas escadas. Entrando na primeira porta que viram, as três se esconderam atrás dos móveis do que parecia ser um escritório.

Não demorou mais do que 10 segundos até que passos fossem ouvidos no corredor e a porta abrisse abruptamente. E Lídia, em um ato de desespero, sacou a arma que carregava consigo e, saindo por um instante do seu esconderijo, disparou duas vezes no invasor, que caiu morto.

Mesmo que fossem apenas dois tiros, foi bem eficiente, mas o som de tiros vindo de fora pareceram abafar o ato de coragem de Lídia. Ela sentiu algo estranho, como se sua visão tremesse e seu coração fosse sair pela boca.

Lídia deu dois passos para trás e parou, segurando o lado do abdômen. Falando entredentes:

— Eliz… beth… levei um… tiro…



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