Volume 3

Capítulo 136: Reencontro

Josiley se jogou no chão. Suas pernas estavam cansadas demais para conseguir ao menos sentar-se. Ele tinha feito o percurso entre o acampamento das Pessoas Livres e a Montanha Solitária muitas vezes em um mesmo dia.

Ele era rápido, não incansável.

Na primeira viagem trouxe Zita, que ficou explicando a situação para o pessoal do acampamento. Depois trouxe Sônia, que não era conhecida de muitos ali. Em seguida Iffy, que tinha sido levada no dia anterior. Depois foi a vez de Anne, que foi libertada com a condição de manter um cristal supressor de poderes, semelhante ao que Victoria tinha.

O último a chegar no acampamento foi André, que tinha levado um tempo resolvendo alguns detalhes de assuntos relativos aos Filhos do Leste. A chegada dele foi um evento único, com direito a comemorações.

A pequena Brogo foi a primeira pessoa a recebê-lo, se lançando sobre André como uma filha que foi separada do pai por muito tempo. Em seguida, Jairo, o cara musculoso com duas cimitarras nas costas se juntou ao abraço.

Adênia estava ocupada com assuntos de liderança, mas largou tudo para ir correndo receber André. Ela acabou derrubando os três no impacto, caindo por cima. Nilo apareceu do nada e se jogou em cima deles.

O que seguiu foi uma sucessão de pessoas se jogando umas por cimas das outras e gritando. Aos olhos dos heróis e dos soldados de cristal, aquilo poderia parecer uma recepção um pouco selvagem, mas as Pessoas Livres do Leste não tinham vergonha de expressar a felicidade com contato físico.

Aos poucos o amontoado de pessoas foi diminuindo, até que restassem apenas André, Brogo, Jairo e Gledson.

— Gledson!? — André se assustou — Quando foi que tu chegou aqui?

— Ih, mano, nem te conto. A bodança tava desguiada, aí eu pensei “vô lá também”! — Gledson respondeu.

— Já é já, ó. — André concordou.

— Que língua é essa que não faz sentido nem com a magia suprema consegue traduzir? — Brogo perguntou.

— Num te bate, pequena. — Gledson respondeu.

— É, Brogo, não tenta entender, só vai na onda. — André concordou.

Após encerrarem a recepção “calorosa”, e Gledson sumir misteriosamente, André se juntou às lideranças para ficar a par dos acontecimentos. Além dele, estavam na tenda de reuniões: Adênia, representando as Pessoas Livres do Leste, e Jairo e Brogo a acompanhando; Rainha Esmeralda, Ametista e Victoria, representando o Reino de Cristal; e Jonas, Leonardo e Lucas, representando os heróis. Sônia, Van-Nee e Andreia também assistiam a reunião, mas não representavam liderança alguma.

— Eu tenho duas perguntas. — André disse — Primeiro: Por que começaram uma guerra do nada? E segundo: O que ela está fazendo aqui?

André apontou para Sônia, que estava sentada próxima à entrada da tenda.

— Se quiserem, eu saio. — Sônia disse.

— Ela fica! — Zita respondeu — Fui eu quem a chamei.

— Ótimo, agora que a segunda pergunta foi respondida, podemos avançar para a primeira!

— As informações de que Long-Hua estava recrutando um exército com grande capacidade de ataques mágicos foi comprovada. — Adênia deu um passo à frente e explicou — Quando Jonas apareceu e pediu ajuda, não tivemos outra opção…

— Sim, ele saiu recrutando todos que poderiam ajudar a parar os planos de Long-Hua, seja á quais forem. — Jairo completou.

— Então, deixa ver se eu entendi… — André respirou fundo e continuou — O Jonas, que a maioria de nós quer morto, apareceu e chamou vocês para começar uma guerra contra o Reino do Sul, meio que sem motivos, e vocês toparam?

— Pode-se dizer que foi exatamente isso… — Adênia desviou o olhar.

— Eu não perderia a oportunidade de matar alguém! — Brogo disse animada.

Jonas sentiu que a situação não estava favorável, ele ficou em silêncio.

— Vossa Majestade tem algo a dizer? — André voltou-se a Esmeralda.

— Você sabe o que sinto por Jonas, não poderia deixar ele sozinho nessa. — Esmeralda respondeu, com sua postura naturalmente digna de uma rainha.

— Faz sentido, mas os outros…

— Jonas é mau! — Andreia comentou.

— Sim, Jonas mau! — André respondeu à garotinha, provocando risos — Ele começou uma guerra sem ter capacidade nenhuma!

— Ele tentou machucar a mamãe! — Andreia disse para todos ouvirem.

Os risos silenciaram. Jonas desviou o olhar e engoliu em seco.

— Filinha, deixa os adultos conversarem… — Leonardo tentou para a garota.

— Ah não! — André subiu o tom — Deixa ela terminar!

— Ele prendeu eu e a mamãe em uma caixa. — Andreia continuou falando — Disse que ia matar nós se a mamãe não ajudasse.

André encarou Leonardo.

— Me lembra aí por que o Jonas ainda está vivo!

— O acordo… — Leonardo disse como se tentasse acalmar uma fera — Você sabe o que acontece se um dos trinta e três morrer!

— Sim, eu sei. — André pareceu rosnar — Mas queria muito testar se é mesmo verdade!

— André, calma… — Van-Nee interveio — Isso são águas passadas, agora todos temos um inimigo comum…

— Long-Hua? — André interrompeu — Acham mesmo que Long-Hua é o vilão dessa história? Nunca se perguntaram o motivo dele estar tentando construir um exército poderoso? Não pensaram que isso poderia ter alguma relação com o fato de eu ter quebrado o segundo selo que prende os deuses e ido atrás dos trinta e dois heróis?

— Não diga que você e ele têm planos em comum… — Lucas comentou.

André revirou os olhos como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

— Você nunca explicou os seus motivos para nós… — Leonardo esbravejou.

— Da última vez que tentei explicar, terminei preso em uma masmorra e sentenciado à morte no Reino de Prata! — André respondeu no mesmo tom — Vocês nunca pararam para me escutar, e se não fosse pelo Felipe, nada teria dado certo até aqui.

— Felipe? — Victoria perguntou — O que ele tem a ver?

— Sim, o Felipe! — André respondeu — Apesar de todas as desavenças do passado, ele foi a segunda pessoa a parar e me ouvir.

— Eu fui a primeira! — Zita esclareceu.

— Então, o lance com Jonas foi um mal-entendido. — Leonardo explicou — Mas em relação a Long-Hua, não podíamos ficar de braços cruzados enquanto alguém perigoso igual a ele prepara um exército.

— Então você também tem a ver com essa palhaçada que está aqui? — André perguntou.

— Eu que pedi ao Jonas que viesse aqui e tentasse resolver as coisas enquanto estava organizando o meu próprio retorno. — Leonardo tentou apaziguar — Mas não sabia que o Felipe já tinha orquestrado tudo, então perdi muito tempo, principalmente porque a Victoria veio com ele, o que aumentou a mobilidade dos dois…

— Do que está falando? — Zita perguntou.

— Desde que recebi a carta de Van-Nee, contando como estava a situação desse mundo, as revoltas e crise econômica, resolvi intervir de alguma forma. Mas o Felipe tinha outros planos, e quando ele me passou, já era tarde demais, eu tentei fazer algo para impedi, mas foi um pouco tarde.

— E por causa disso tivemos todo aquele problema na Divisão de Pesquisa e Desenvolvimento. — Lucas disse.

— Tudo que eu fiz foi abrir o portal. — Jonas falou.

— E eu só levei ele lá pra dentro… — Victoria também se desculpou.

— Mas as atitudes impensadas de vocês, levaram à morte de muitas pessoas inocentes, como os cientistas que trabalhavam na pesquisa dos portais. — Sônia comentou.

— Também fizeram a Zita perder os poderes… — André falou, quase sussurrando.

— Mas não matamos ninguém. — Victoria foi mais rápida em se defender — Não do lado de lá, pelo menos…

— Não mataram, mas deram a oportunidade para Alice e Ritter porem seus planos em andamento! — Sônia disse — E se não fosse pelo André, ela teria me matado e colocado a culpa em vocês.

André ficou calado com o comentário de Sônia.

Então um silêncio constrangedor ameaçou se formar, mas Jaiane atravessou o pano da tenda em sua forma fantasma, e voltando à forma humana, disse:

— Os outros chegaram! E Long-Hua também…



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