Volume 3

Capítulo 143: Diplomacia do Outro Mundo (2)

Sem dar tempo para que André se protegesse com a névoa de Rancor, Long-Hua o atacou com mais violência ainda. Mas seu soco foi bloqueado por uma espada de folha larga.

A espada estava incompleta, mas foi o suficiente para evitar que André fosse atingido. Enquanto o Rei do Sul recuava o braço, a espada terminou de se completar, assim como uma armadura de corpo inteiro ao redor de André.

Em uma brusca mudança de atitude, André passou de defensor a atacante, arremessando meia dúzia de lanças em Long-Hua simultaneamente. Mas o Rei do Sul foi rápido em desviar da maioria delas, e bloquear duas com a metade de uma rocha que ele mesmo havia destruído momentos antes.

Mirando as pernas expostas de Long-Hua, André criou uma foice curta presa a uma corrente e arremessou, mas o seu oponente pareceu prever a sua ação e soltou a rocha a tempo de bloquear o ataque. A foice ricocheteou na rocha e desapareceu em uma cortina de névoa escura.

A metade de rocha foi arremessada em direção a André com um chute de Long-Hua. Mas o que ela encontrou foi uma armadura resistente, que a destruiu sem sofrer um arranhão sequer, sobrando um amontoado de pedras que soterrou parcialmente André.

Da pilha de pedras onde André estava soterrado, dois martelos escuros voaram em direção a Long-Hua. Mas ele apenas desviou do primeiro, e segurando o cabo deste, acertou no segundo.

Os dois martelos de guerra desapareceram como no ar, se transformando em fumaça. Sem perder tempo, Long-Hua se arremessou sobre André com todo o corpo, uma técnica que buscava esmagar o alvo com o próprio peso em queda livre.

André criou uma sequência de escudos que, mesmo sendo destruídos, mudaram a trajetória do Rei do Sul, protegendo o jovem de sofrer um impacto fulminante.

O solo pedregoso cedeu sob o forte impacto dos pés de Long-Hua, tirando o seu equilíbrio por meros segundos. Mas o suficiente para André recuperar a postura e ganhar distância.

Enquanto se arremessava para trás em busca de se proteger, André criou e jogou uma diversidade de lanças de tamanhos e formatos diferentes em direção a Long-Hua. Mas o efeito não foi como desejado.

O Rei do Sul nem sequer tentou desviar, seu corpo que foi capaz de parar as balas dos soldados de Getúlio também se mostrou capaz de defletir o ataque sem nenhuma dificuldade e ainda sair ileso.

Ele apenas limpou a poeira e olhou os buracos em sua roupa. Depois sorriu e caminhou lentamente na direção de André.

Enquanto a maioria das pessoas achava que Long-Hua era incapaz de usar magia e possuía uma resistência física absurda, André sabia que o Rei do Sul havia utilizado uma magia contínua para fortalecer seu corpo de dentro para fora.

Essa magia era um tabu, ela consumia o corpo da pessoa se fosse utilizada além do limite, e por isso poucas pessoas sabiam. André havia usado algo assim, mesmo que inconsciente, quando achou Brogo presa em um porão, anos antes.

Com o poder limitado e mobilidade reduzida contra um oponente forte e invulnerável, restava a André se manter firme na defesa. Enquanto Long-Hua desferia socos e chutes, André esquivava como conseguia, mesmo alguns golpes o acertando e não conseguindo devolver as agressões.

A armadura lhe dava resistência, mas reduzia seus movimentos. Sem contar que a quantidade de poder que havia guardado no cristal era limitada. Isso acabou por deixar André na defensiva, e Long-Hua rapidamente reduziu a distância.

Dizer que ele estava atacando cada vez mais de perto, era eufemismo. André mal conseguia desviar do socos e chutes, e se não fosse pela armadura resistente, teria sofrido ao menos uma dúzia de fraturas pelo corpo.

Uma mão agarrou o pescoço do jovem, impedindo que ele se esquivasse outra vez. Ao mesmo tempo um punho fechado acertou o peitoral da armadura, deixando uma rachadura e tirando o fôlego de André.

Aproveitando o momento de descuido, Long-Hua rasgou a frente da armadura de Rancor com as mãos nuas. André desfez a parte de trás e fugiu da pegada de Long-Hua, deixando o rei apenas com a proteção do pescoço entre os dedos.

Ele ainda tentou criar uma segunda armadura, mas não havia névoa suficiente. Um soco direto veio em sua direção e tudo que ele pôde fazer foi fechar os olhos e esperar pelo impacto.

O punho de Long-Hua parou a poucos centímetros do rosto de André no exato momento de um baque forte. Era mesa de chá que finalmente havia caído. A luta tinha acabado, finalmente.

— Acho que chutei muito forte dessa vez. — Long-Hua disse, enquanto se afastava de André.

— Continua um oponente assustador… — André comentou, abrindo os olhos lentamente.

— E você continua evoluindo. — O rei do Sul sorriu — Uma pena que teve que abrir mãos de seu poder para chegar ao seu objetivo.

— Eu não me arrependo. — André desviou o olhar para as mãos — Aquilo me fez muito mal. E ainda faz…

— Mas também te tirou de muita enrascada. — Long-Hua comentou — Colocando em uma balança, eu diria que você não estaria vivo se não tivesse ganhado aquele poder bizarro.

André não disse nada, apenas levantou o olhar, encarando o rei do Sul.

— Por que não disse à sua mãe o que aconteceu com o Haroldo? — Long-Hua perguntou — Até me assustei quando ela perguntou.

— Ainda não é a hora…

— Ela precisa saber!

— Belo truque… — André suspirou e olhou para os lados — Se queria uma conversa civilizada e reservada, era só ter dito. Não precisava vir todo agressivo e me chamar para uma audiência de poder.

— Você fala como se não estivesse se divertindo.

— Apesar de ser um amante de uma violência desnecessária, não curto muito uma surra unilateral.

— O que aconteceu? — Long-Hua percebeu a mudança repentina em André — Normalmente você não escolhe tão bem as palavras.

— Estou preocupado…

— Você? Preocupado? — O rei do Sul fez uma careta — Não sabia que tinha essa capacidade.

— O plano dele está dando incrivelmente certo…

— E isso é ruim?

— É estranho… — André coçou o queixo — Sempre que faço um plano, tem muito mais chances de dar errado do que certo. Até o Felipe, os planos dele sempre têm variações para todas as possibilidades…

— Mas o que o seu pai previu está acontecendo exatamente como ele queria?

— Isso me parece errado. Você não acha que tem algo estranho?

— Não. Fico feliz de saber que ele foi capaz de entender o ser humano perfeitamente.

— Não apenas os humanos.

Long-Hua olhou para o céu e suspirou.

— Queria ter conseguido aprender mais com aquele homem…

— Eu também. — André concordou.

— Então, por que você fez aquilo?

— Aquilo?

— Você sabe do que eu estou falando.

— É parte do plano, não posso dizer os motivos dele. Nem eu sei quais são… — André deu de ombros.

— Um homem cheio de segredos.

— Queria que ele tivesse me revelado alguns antes de morrer.

— Então, permita que eu te conte um. — Long-Hua levantou o dedo indicador — O nome de um inimigo nosso, para ser mais exato.

— O quê?

— Jafah.

— E quem deveria ser esse?

— Pergunte ao Jonas, ele deve conhecer.

Long-Hua deu as costas e voltou para onde Lu-Ji e Zhu-Li estavam, deixando André com uma nova dúvida.



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