Volume 1 – Arco 5

Capítulo 40: Apenas Dance, Di!

Diego estava sendo arrastado por Margô, que ia em direção a Galadriel a passos rápidos. O rapaz estava um pouco confuso com tudo que estava acontecendo. Tentou protestar, porém em pouco tempo já tinha chegado próximo do rapaz.

Mini e Bruno não estavam ali, apenas Galadriel e seu amigo Leo, que sempre mantinha um sorriso debochado no rosto e achava graça em tudo, até mesmo nas vezes em que seu próprio amigo estava na pior. O Balthazar começou.

— Olha se não é o cachorro. Aprendendo a como obedecer uma dama?! — disse com uma gargalhada forçada. Galadriel se virou para a menina a sua frente e fez uma reverência. — Desculpe, você deve ser a senhorita Rosa, não é?

Sua voz agora era aveludada, querendo mostrar como eram os seus bons modos. De fato, era um galante quando queria ser. Era bem aparentado, como o irmão. Porém não importava muito a sua aparência quando era um completo…

— Idiota… — começou Margô, sem lhe estender a mão. — Assim, eu nunca vi um Balthazar tão decepcionante quanto você. — Diego recuou ao ouvir aquilo. — Sinceramente adorei falar com o Faramir, mas depois de saber o que você fez… Hum… Só sinto nojinho agora. Ou pena, depende.

Galadriel pareceu ter tomado um soco na cara. Seu rosto se enfureceu e se voltou para Diego.

— O que foi que esse cachorro falou para você?

— Que você é bem idiota — repetiu ela. — Não ouviu? Idiota. E também fiquei sabendo das besteiras que mandou ele falar para mim. Você não tem vergonha, não?

— Eu não mandei fazer nada!

— Mandou sim — disse Leo, que estava logo atrás dele, comendo bolinho e rindo do próprio amigo. — Eu disse que ia dar problema, mas ele não escuta. 

— Quer calar a boca, Leo?

O garoto debochado apenas deu um sorriso e se divertiu sozinho.

E para seu divertimento, tanto para ele quanto para Diego, quando Galadriel tentou se explicar para a menina ela lhe deu um tapa no rosto e disse para todos ouvirem:

— Nunca mais fale comigo! — E se distanciou, parecendo irritada, arrastando Diego pela mão. Leo ria abertamente, literalmente rolando no chão.

Os dois foram se distanciando até chegar na pista de dança. Diego estava catatônico, não estava entendo direito o que aconteceu. Primeiro ele falou uma besteira para Margô, depois ela deu um tapa no rosto de Galadriel. O dia estava cheio de altos e baixos, muito rápidos.

Margô se virou para ele e perguntou:

— E então? Estamos quites?

— Quê? Como assim?

Ela apenas riu e depois mudou de assunto, estendendo a mão enquanto se distanciava dois passos dele.

— Mas então, senhor Murdock, qual é mesmo o seu nome?

O rapaz segurou sua mão e fez uma reverência. Aquilo era um convite para dançar.

— Diego. 

— Encantada. 

Ela também fez uma reverência, embora Selena tivesse ensinado que as mulheres não deveriam fazer, a menos que estivessem realmente encantadas. Ela se aproximou do rapaz e ele dela. Uma mão na cintura e a outra segurando sua mão. Um passo para o lado, um passo para o outro. Ele tinha de manter isso em mente. 

— E então, posso te chamar de Dieguinho? Ou quem sabe Didi. Ou Digo?

Ele fez uma cara feia.

— Todo mundo me chama por um apelido! Qual o problema de usar meu nome?

Ela fez um L com as mãos na testa e revirou os olhos.

— É um apelido de amigo, lesado. — Então riu. — Aliás, Di é um bom apelido. Prefere esse ou que eu te chame de idiota? — Ela deu enfase no “di”, de idiota.

— Chama do que quiser. — Ele bufou, aborrecido. Então voltou a se concentrar no ritmo, pois sua coordenação motora estava começando a falhar. 

— Você sabe mesmo dançar? — perguntou ela, com ar de riso.

Ele se irritou.

— Se não gostou então porque está dançando comigo? Tinha vários outros ai querendo dançar com você.

— Ah, eles eram todos uns idiotas. Mas você é um idiota diferente. 

— Para de me chamar assim! — murmurou entre dentes, pisando propositalmente no pé da moça.

Ela riu enquanto fazia uma careta de dor. Depois descontou o pisão e quase que ele caia, porém ela o segurou. 

— Tá! Mas é sério — começou ela mais uma vez, o guiando nas batidas lentas da música. — Você até que é legal, para variar. Conseguiu irritar um professor ao ponto de ser suspenso, ganhou um monte de apelidos e ainda tem a coragem de vir para um baile quando deveria estar suspenso. Você é bem diferente dos outros idiotas. É tipo um super-idiota.

Ele ficou confuso.

— Como você sabe disso?

Ela deu uma risadinha sutil.

— Meu pai é um Rosa, sabia? E ele sabe de muita coisa. Mas eu tenho um segredo para saber de muita coisa. Quer saber? — Ela se aproximou e sussurrou em seu ouvido: — Eu não sou idiota.

Antes que o rapaz pudesse responder alguma coisa, o Prof. Gutierrez, atual DJ, falou no microfone pela milésima vez, dessa vez tendo Diego como alvo.

— E OLHEM SÓ QUEM TÁ NA PISTA DE DANÇA! A PRINCESA ROSA E O VENCEDOR MURDOCK!

E por fim todos estavam o encarando. Polegares para cima de longe, acenos de cabeça e alguns assobios. Galadriel parecia querer soltar raios pelos olhos, e Diego achava que talvez fosse realmente capaz disso. 

Começou a tentar não prestar atenção muito nos olhares das pessoas, afinal de contas a moça não parecia se importar nem um pouco. 

— Vencedor? — Ela riu, totalmente desligada dos olhares. — Essa eu não sabia. 

Então ele explicou para ela sobre sua vitória, sobre suas suspensões e as confusões que causou ao longo do tempo. Ele falava como se fosse um tipo de mérito para ela, e ela parecia ficar cada vez mais impressionada. 

Ele nem notou mais a multidão de olhares. De qualquer maneira, com o tempo as pessoas voltaram a conversar entre elas. Porém, uma hora, Diego começou a errar muitos passos e então Margô o parou.

— Espera só um segundo.

Ela saiu de seus braços e foi até uma mesa próxima. 

— E ELA DEIXOU O GAROTO MURDOCK PLANTADO, SOZINHO! — disse Gutierrez, soltarando risadinhas. Não era malicia, era apenas divertimento. Algumas outras pessoas também começaram a sorrir da situação do rapaz e isso estava lhe incomodando. — QUE MENINA DESTRUIDORA DE CORAÇÕES… MAS LÁ VEM ELA!!

E de fato ela voltou, agora mais baixa. 

— Fui tirar aquele salto idiota — disse ela. Então ela se virou para o palco, colocou às duas mãos sobre a boca e soltou um grito: — Coloca uma música mais brega aí!

A voz dela reverberou por todo o lugar. Gutierrez ficou paralisado por um tempo, até que ele soltou um sorriso e disse de forma eletrizante:

— É PRA JÁ!

 

T

   U

      T

         S

T

   U

      T

         S

 

E com o apertar de um botão, o som aumentou e uma música com uma batida agitada começou a tocar. O som era tão alto que Diego podia sentir o seu peito vibrar.

— Quero ver você dançar agora! — gritou Margô, com passos de dança completamente esquisitos. Ela pulava, girava e ia para um lado e para outro, sempre perto de Diego. 

O rapaz ficou parado por um tempo, tentando estabelecer padrões na movimentação da menina, porém não conseguiu. A batida era muito rápida para dançarem em conjunto, fora que não tinha nada a ver com a música de um baile.

Ela fez um sinal para que ele não ficasse parado, apenas deveria seguir o ritmo da batida. E aos poucos ele o fez. Começou tímido, de um lado para o outro. Depois começou a mexer os quadris e mais na frente o torço. 

Talvez estivesse um pouco travado, mas ainda conseguia tirar alguma risadas de Margô, e aquilo era realmente muito divertido. Estar perto dela era divertido.

Aos pouco o rapaz foi pegando o jeito e fazendo movimentos cada vez mais arriscados, como saltos, pulos e movimentos rápidos com os pés, que mais parecia uma espécie de sapateado meio sem jeito. E gradualmente mais pessoas foram tomando a pista de dança.

Quando Diego percebeu, praticamente todo mundo estava li, dançando. Até Nemo e Borstmann já não estavam tão tímidos. Nemo dançava tão ruim quanto Diego e a professora era tão desajeitada quanto, tropeçando nos próprios pés e tudo. 

Quem estava dando aula era a pequena Prof. Domingues. Os seus membros pareciam ter vida própria de tão bem que ela dançava. Gutierrez desceu do palco para dançar com ela e curtir a música com seu grande chapéu de vaqueiro. 

Diego também viu Dani e Lauro em cima do palco. Dani se mexia como um robô, e Lauro ficava balançando a cabeça para cima e para baixo enquanto fingia tocar algum instrumento invisível.

Uma hora Tiago apareceu. Ele deu um tchauzinho com a mão e por mais que Diego o tenha convidado a se juntar, o loiro fez que não e apontou para o lado. Ao lado do loiro estava Bruno Bjorn, batendo palmas e balançando o corpanzil de um lado para o outro de forma abobada. O rapaz da cicatriz soltou uma risada.

Enquanto Diego ficava cada vez melhor em seus passos de dança, imitando alguns da Prof. Domingues, ele viu Galadriel e Mini dançando. O Balthazar não parecia tão feliz. Estava com o olhar carrancudo para cima de Diego e Margô.

E Mini estava bonita com seu um vestido preto. “Coitada da Mini”, pensou o rapaz. “Vive atrás desse… idiota que não presta atenção nela.” Então ele riu de si mesmo, pois já estava sendo afetado por Margô. 

Enquanto ele olhava de um lado para o outro, reparou em Lorena, sentada em uma cadeira, com seu vestido azul, realmente bonito. Ela também lhe observava de longe e aquilo aumentou a sua vontade de se mexer. De alguma forma, ele se sentia mais motivado a dançar quando ela o olhava.

Pelo visto ela desistiu de empurrar Faramir para, dado as circunstâncias de todo mundo estar animado, irem dançar. O Balthazar, por sua vez, achava mais interessante continuar sua conversa com outros alunos mais velhos, jovens de sua idade. No meio deles estava Rafaela.

Então ele se lembrou do que Rafaela tinha lhe dito, para ir falar com Margô aquela besteira da qual ele não fazia ideia de qual era o significado, pois, segundo a ruiva, daria certo. E não é que tinha realmente dado? Como ela podia saber de tanta coisa? Principalmente, como que ela iria saber a reação que Margô teria?

Depois de um tempo no meio da pista e de observar outras pessoas, até o próprio DJ começou a ficar cansado. Margô também resolveu sair para recuperar o fôlego. 

Gutierrez aproveitou para colocar uma música um pouco mais tranquila, embora mais agitada que a música “brega” anterior; não que isso fosse difícil. Qualquer música seria mais agitada que aquela.

Diego se aproximou de Margô, que estava esparramada em uma cadeira, próximo a uma mesa que não havia mais tantos doces assim.

— Já cansou? — perguntou ele, calmamente. Não estava nem mesmo suado, embora sua roupa estivesse um pouco amassada. Já Margô era outra história. Sua testa pingava de suor e sua boca estava seca. Ela ofegava, embora não estivesse passando mal.

— Só pegando um ar — disse ela, ofegante, enquanto assoprava o decote do vestido. — Vem cá, você é mesmo filho de um frio?

Seu pai era um azul e ele só soube disso recentemente. Como ela saberia disso?

— Como..?

— Eu não sou idiota, garoto — ela riu, agora se abanando com as mãos. — Todo o mundo conhece os Murdock. E mais ainda o Dragão Negro. Então é óbvio que eu já sabia sobre você antes mesmo de te conhecer. Mas eu achava que você só era um valentão que gostava de brigar, ou sei lá.

— E aí, o que eu sou? — Ele perguntou em tom de desafio.

— É só um idiota. — Ela riu. — Não fica com raiva, Di. Relaxa. 

O rapaz bufou e se recostou ao seu lado. Tiago sumiu do seu campo de visão, mas ainda via Lorena, plantada no mesmo lugar. Sentada e com cara de tédio. O horário de todos irem para seus dormitórios já estava chegando e nada dele ir dançar com ela.

— Ei, Di — chamou Margô. — Por que tu não via falar com ela? — O rapaz deu um salto. 

— Eu? Quem?

— Faz um tempão que você não para de olhar para ela. 

— É só que… — Ele tentou procurar um motivo para justificar. — Ela brilha demais. — Margô riu. — É sério. Uma vez ela me atrapalhou em uma luta por causa disso. Fora que ela veio brigar comigo uma vez também, só por causa de um mal-entendido. 

— Ah, para. Você não engana ninguém. — As mechas louras começaram a ficar douradas.

— Eu não estou enganando ninguém. Estou falando sério. — Ele cruzou os braços. — Ela é uma… prometida do Faramir ou coisa assim.

Margô soltou uma risada. Foi alta o suficiente para ecoar por todo o salão, mas por sorte dessa vez ninguém deu muita atenção.

— Desculpa — disse ela, abafando a risada. — Mas é que eu já entendi seu jeito. Você é do tipo que bate na porta até ela abri, não é?

Então foi a vez de Diego rir, pois aquilo lembrou o apelido que Rafaela tinha lhe dado, o tal Amante-De-Portas. De fato, o rapaz não podia ver um obstaculo que ele queria quebrar.

— Vai logo, vai logo — disse ela, se levantando. Ela o pegou pelo braço e foi lhe levando em direção a ela.

— O que você tá fazendo? — perguntou ele, tentando impedi-la, embora seu corpo estivesse lhe desobedecendo.

— Relaxa, eu te dou cobertura. — Ela começou a ajeitar a sua Grava Ascot enquanto lhe dava instruções. — Coloca a camisa para dentro. Passa a mão atrás, tá sujo. Abotoa o terno. Vem cá, deixa eu arrumar esse cabelo. A gravata é por dentro da camisa, Di! — Após passar mais uma vez as mãos em seu cabelo, os penteando de forma rebelde, ela ficou parada e o empurrou em direção a moça dizendo: — Agora pronto. Vai lá. Só não esquece de chamar ela para dançar logo!

Diego ficou assutado. Mas mesmo assim, respirou fundo e foi em direção a menina. Ao menos ele estava um pouco mais apresentável, embora o seu coração batesse muito, muito forte.



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