Volume 1 – Arco 9

Capítulo 69: O Corredor Que Ziguezagueava

No meio do ambiente de névoa amarelada, praticamente dourada, Diego se via completamente perdido e com medo. Embora estivesse em cima do elixir que tanto queria, afinal fora para isso que fez toda aquela aventura, ainda se encontrava em maus lençóis, pois um nocivo estava decididamente lhe perseguindo.

Escondido atrás do grande tronco seco, o rapaz se levantou um pouco para observar os arredores. Não viu nada, embora pudesse sentir que o ar do ambiente pesava cada vez mais. Observou o estranho pó dourado que escorregava por entre seus dedos. Era literalmente isso, uma substância fina como o sal e tão amarela quanto ouro.

Deu mais uma espiada para a direção do nocivo que lhe perseguia e depois voltou sua atenção para o elixir. Pegou a maior quantidade da substância com as mãos e colocou nos bolsos do terno, da calça e da camisa branca. Enquanto o fazia, ouviu um estranho assobio. 

O som agudo e que cortava o ar atraiu a atenção do rapaz. Ele se levantou sem muita cautela e novamente se pôs a procurar pela origem do barulho. O assobio veio da direita. Seguiu, tomando cuidado com os bolsos. 

Passou por mais troncos e galhos enormes que pareciam se estender até o infinito, já que era impossível ver o teto. Tudo era estranhamente amarelado, dourado como ouro e aterrorizantemente nublado. No chão também havia neblina que cobria os joelhos do rapaz. Era como se andasse em um pântano.

Mais outro assobio. Ainda parecia distante. Mas por que seguir esse som? A verdade é que nem ele sabia responder isso. Apenas sentia o desejo de seguir. Algo dentro de si lhe dizendo para fazê-lo. 

Ao ir mais fundo, o garoto achou uma nova porta. Ela estava entreaberta e parecia que levava para cima. Entretanto, o assobio não vinha dali. De onde vinha? 

— Diego! — Era Margô. Vinha de trás. 

Assim que o rapaz se virou, observou dois pares de olhos amarelados lhe observando por detrás da neblina. A criatura se aproximou e uma nova luz, azulada, projetou de seu peito. Era um nocivo, o rapaz sabia disso. Ele se aproximou lentamente, sem fazer movimentos bruscos, apenas ruídos baixos e gemidos assustadores. 

O garoto paralisou. A criatura chegava cada vez mais perto, dando de sentir o seu mau hálito, a sua presença avassaladora. Diego não conseguiu se conter, correu para a porta no mesmo instante. Isso foi um erro. 

A criatura rapidamente o alcançou e lhe deu um golpe, o jogando para o lado como uma bolinha de papel. O garoto aterrissou de cara em um tronco seco. Sangue começou a escorrer de sua boca e um corte na testa ardia muito. 

A fera, no entanto, não o atacou novamente. Começou a uivar. Mas não era de ameaça, era de dor. O rapaz da cicatriz olhou para trás, confuso, e viu o braço esquerdo do nocivo, aquele que tinha lhe atingido, derreter como areia molhada, deixando apenas um cotoco. 

Ficou confuso, porém não iria perder a oportunidade. Se levantou com velocidade e saiu correndo na direção de onde tinha vindo. A criatura ainda uivava de dor. 

— Margô! — gritou ele. — Corre! Sai daqui!

Não viu a menina, porém se era ela, então tinha de avisar para sair dali. Ele correu sem rumo por um tempo, na confiança de que chegaria em algum lugar e por sorte este lugar seria a saída.

E para sua sorte o garoto realmente conseguiu alcançar a saída. Passou pela sala que passara antes sem fechar a porta, pois julgava que não conseguiria a tempo, que a criatura ainda lhe seguia. Foi até a sala a frente e na porta em que Margô havia entrado o garoto forçou a abertura.

Assim que a porta abriu o rapaz recuou no mesmo instante. Naquela sala só havia calor, enxofre e lava. Era um comodo muito pequeno.

— Margô! Cadê você?

Ela não poderia estar ali. Ela estava agora a pouco com ele no lugar com neblina dourada. Não poderia demorar. Sabia disso. Mas demorou demais. Ouviu o rugido furioso da criatura atrás de si. 

Imediatamente o garoto começou a correr para o lugar de onde veio, ou ao menos assim achava. Virou a esquerda, depois a direita em um corredor que subia. Já não fazia ideia de onde estava. Parou em uma sala que só tinha um corredor para frente, continuou até chegar em outra sala, uma familiar.

Era a sala B-1, a única que o garoto viu nomenclatura. Na frente dele havia dois corredores. O da esquerda, por onde veio, e o da direita por onde a criatura viera. Mais ao seu lado, mais a direita, havia uma porta, onde levava para aquele estranho ambiente escuro.

Pensou em voltar por onde veio, porém como fazia para chegar até os dutos do banheiro? E como subiria até chegar no primeiro andar mais uma vez? Não teve tempo de pensar, pois o uivo enraivecido da criatura lhe assustou. Suas pernas se moveram sozinhas, para frente, em direção ao corredor da direita, por onde a criatura tinha vindo de inicio.

Era uma leve subida sem nenhum degrau. Quando olhou para trás, viu a criatura deslizando pelo corredor e perdendo o equilíbrio por conta da falta de um membro, depois recuperando a postura e lhe perseguindo pelo corredor inclinado.

O garoto chegou em uma nova sala, A-2, mas não prestou atenção isso. Só prestou atenção que havia dois caminhos, um direto e um para a esquerda, que subia em uma enorme escada. Não teve opção. A criatura pulou em sua direção, o obrigado a rolar para o lado e seguir a direção das escadas, a esquerda.

Subiu as escadas o mais rápido que pôde. A criatura teve mais uma vez dificuldades para se levantar depois da investida, mas foi fácil para ela pular alguns degraus, quase o alcançando. 

Agora Diego havia chegado em uma sala estranha, A-1. Era menor que as anteriores e só havia dois caminhos. Um para frente e outro a esquerda. Pensou em ir reto, em continuar andando, porém a plaquinha em cima da porta a esquerda lhe chamou a atenção: Saída.

O garoto imediatamente se lançou sobre a porta e tentou forçar sua abertura. Em vão. Tinha de ser aberta pelo lado de dentro. Se virou na intenção de continuar seu caminho em direção a outra sala, porém foi barrado pela criatura que já havia chegado na sala.

Diego se espremeu na porta. Respirava violentamente enquanto observava a criatura. Observou que em seu peito, a luz azul continuava brilhando. Era um colar que segurava um item.

— Socorro! — gritou o rapaz. — Alguém… Me ajuda!

Sentiu uma forte dor na barriga, uma vontade imensa de vomitar, de colocar todos os seus órgãos para fora. Algo dentro de si doía e muito. Sua cara ficou vermelha de tanto esforço que colocava para não vomitar, pois, sentia que se o fizesse algo ruim aconteceria.

Ficou de joelhos no chão, totalmente exposto a mais um golpe da criatura. Entretanto, ela não fez nada. Estava enfurecida, porém, distante, o observando com os olhos arregalados, o cercando de um lado a outro, como se esperasse por algo.

E de fato, algo iria acontecer. Diego estava sentindo… E ouvindo também. Ouviu passos acima dele, bem acima dele. Depois um estranho barulho de vento batendo fortemente em um pano, o mesmo barulho que a Margô fazia ao se teleportar.

Para sua grande sorte, a porta atrás de si abriu, a garota rapidamente o puxou pela gola da camisa.

— Vamos, rápido! Vamos!

A criatura pulou em direção aos dois, porém Diego arranjou força suficiente para se levantar, segurar na porta aberta e a fechar pelo lado de dentro, trancando a criatura, que continuava forçando a porta, enfurecida.

A tontura e o mal-estar do rapaz desapareceram em um piscar de olhos, embora o rosto vermelho e coberto de suor continuasse a denunciar o tremendo esforço que acabara de fazer.

— Vem! Vem rápido! — Ela o pegou pelo braço e juntos começaram a correr escada a cima. — Ainda bem que você me deu aquele Fôlego! 

Era verdade. Essa era a quarta vez que a garota havia usado suas habilidades, coisa que era impossível para ela, que só conseguia no máximo três vezes.

— Como você… Como você me achou? Onde você estava?

Os dois chegaram a uma nova sala. Essa era maior do que todas as outras salas que já viram, cheias de assentos, luzes e bancadas. No centro da sala havia uma gigantesca placa escrito: Recepção. E a placa apontava para dois lados, esquerdo e direito.

— Por aqui, vamos — disse a menina, o empurrando para o corredor da direita.

— Como sabe… Pera aí, como você sabe que é por aqui?

Não precisou de uma resposta, já que antes de passar pelo arco do corredor, viu nitidamente uma placa escrito: Saída.

— Aquela sala que eu entrei tinha lava dentro — falou a menina, ainda arrastando o garoto meio desnorteado pelo braço.

— É, eu cheguei a ver…

— Mas lá também tinha um mapa desse lugar. E foi aí que eu vi que aquele caminho que você foi tinha o elixir. Eu segui você até lá, mas…

— Não me achou. — Agora o rapaz conseguiu se livrar da menina e começou a tomar a liderança. O corredor subia, inclinado, estranhamente inclinado.

— Sim. Você pegou o elixir?

— Um pouco…

— Eu também peguei. — Ela mostrou um saco feito da sua saia cheio de pó dourado. — Mas eu achei que você tinha subido aquele caminho, aquele que continuava reto.

— Tentei, mas o nocivo me impediu… Tá vendo! Eu falei que tinha um nocivo no Craveiro!

— Eu sei, eu sei. Mas eu nunca disse que não tinha. Quem dizia isso era o Tiago. 

O caminho começou a ficar mais esquisito. Começou a fazer curvas para um lado, depois para o outro.

— Tá, mas como conseguiu me achar? — perguntou o garoto, ficando sem folego.

— O mapa… Eu vi o mapa e sabia que o lugar onde eu estava ficava bem em cima da recepção, ou da escada que dá para a entrada… Enfim, eu vi no mapa. Achei que você já ia para lá. 

— Queria eu ver esse mapa… Mas o que tem de errado com esse caminho?

O corredor seguia para cima, cada vez mais inclinado, fazendo curvas sinuosas para todos os lados, cada vez mais compridas. Era de deixar qualquer um enjoado.

— Esse é um Corredor Ziguezagueante. Aqui é a saída.

— Achei… que só tivesse… na lanchonete… para o prédio principal… — disse, ofegante. Não era comum ficar tão cansado, o que significava que o nocivo fizera mais mal a ele do que o próprio Golias.

— Também. Mas todo Corredor Ziguezagueante dá para os prédios.

E finalmente, os garotos chegaram até uma minuscula portinhola. Abriram e passaram, sendo que Diego teve de receber ajuda para passar. E quando os dois observaram melhor onde estavam, ficaram de queixo caído.

Estavam no prédio do dormitório.



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