Volume 1

Capítulo 16: O Comerciante Afreim

— Capitão! — chamou o pirata que estava acompanhado de outras três pessoas.

No grupo estavam mais dois piratas e um homem baixinho e careca que suava e possuía uma expressão de medo no rosto. Ele sairia correndo dali o mais rápido possível se fosse capaz.

Amon acordou e se levantou, demonstrando sofrer de uma dor aguda. Ele encarou o rosto dos seus homens e concentrou-se no baixinho.

— É ele? — perguntou com uma expressão terrível no rosto.

— Sim, capitão. É o melhor médico da ilha...

— Ótimo... — Mesmo com dor, Amon abriu um enorme sorriso. — Temos negócios a tratar, doutor. Sorria, o dia está lindo.

A expressão no rosto do baixinho era terrível. Ele estava pálido e suando cascatas. O médico perguntava-se apenas o que havia feito para ter que sofrer com isso.

Enquanto pressionava o médico, Amon também escutou outra notícia do seu subordinado:

— Encontramos uma pessoa que tem informações da menina...

O sorriso falso de Amon tornou-se um verdadeiro, assustador e cruel sorriso.

— Tragam-no até aqui...

 

 ✵

 

Olhando ao redor, Sienna avistou uma pequena loja de tecidos. Ela poderia ser menor que as demais, mas era bem cuidada e organizada, com belos tecidos estampados do lado de fora. Caminhou até a entrada rapidamente.

Assim que entrou, Sienna tomou um susto. O dono da loja era um homem engraçado. Ele era um pouco gordo e possuía um longo bigode, mas também tinha um largo sorriso gentil no rosto. No entanto, a sua expressão parecia um pouco desgastada. O que a havia assustado, era a semelhança do homem com o capitão do navio em que estava; os dois eram idênticos.

— Olá, minha jovem. O que deseja? — perguntou o comerciante com gentileza.

— Quero só dá uma olhada nos tecidos, eu posso?... — Sienna temia ser expulsa por conta da sua aparência. A menina parecia quase uma criança de rua, pois tinha roupas rasgadas e estava toda suja.

Com um sorriso largo, o homem estendeu a mão e fez um leve movimento estendendo o braço em direção aos produtos.

— Fique a vontade!

Sienna sorriu um pouco e agradeceu, partindo para olhar os tecidos.

“Ele parece uma pessoa legal... Ou é apenas ingênuo”, pensou ela.

Sienna veio a loja com objetivos em mente. Ela precisava esconder o seu cabelo, portanto procurou alguns tecidos finos para não sofrer com o calor e que poderiam cobrir os seus delicados fios brancos.

Ela escolheu um tecido de cor marrom não muito fino, para não rasgar, e bem leve.  O problema de Sienna era o seu cabelo. Os cabelos dela eram capazes de tocar o chão, apesar dela não ser muito alta, mas eles ainda eram longos.

— O que eu vou fazer com isso? — Ela segurou os fios na mão.

Suspirando, ela pegou o pano marrom e levou para o comerciante.

— Eu quero apenas um pedaço desse tecido... — De súbito, a sua boca foi tampada e ela foi puxado para trás do balcão pelo comerciante.

“O que está acontecendo?! Tiraram o dia para me sequestrar!?”

Ela tentou fugir, batendo de um lado para o outro e se contorcendo, mas não resultou em muita coisa. Ao olhar para cima, ela viu que o homem tinha uma expressão nervosa no rosto. Ele colocou o dedo próximo dos lábios, sinalizando para que ela ficasse em silêncio.

Claro, Sienna não ficaria quieta e continuou tentando fugir, até que escutou alguns passos vindo do lado de fora.

— Faça silêncio... eles estão vindo. — O comerciante abriu um sorriso e Sienna só conseguia ver duas sombras na parede e o sorriso falso do homem que lhe segurava.

— Ei, comerciante! — exclamou um dos homens enquanto o outro caminhava investigando todo o lugar.

“Droga! Me encontraram.” Sienna parou de lutar e permaneceu quieta.

— Boa tarde. O que os senhores desejam?

Sienna só conseguia ver duas sombras, então não sabia quantos homens haviam de verdade.

— Estamos procurando por uma menina.

— Uma menina? Desculpa, mas só vendo tecido. — O comerciante soltou um riso falso e uma piada ruim. — Eu não vi nada.

O invasor não achou graça e puxou o gordo pela blusa.

 — A menina tem cabelos brancos e um par de olhos vermelhos, tem certeza de que não viu nada?

— Sim, senhor... Apenas senhoras de idade se aproximam da minha loja.

Hum... Está bem.— Ele cuspiu no chão e chamou pelo seu companheiro: —  Vamos embora!

O outro invasor estava mexendo em tudo e, assim que escutou, saiu da loja chutando tudo que via pelo caminho. Logo, os dois partiram e o dono da loja soltou Sienna.

Ah! Ainda bem... Eles foram embora! — exclamou ela com alegria.

— Você se meteu em uma situação complicada, garotinha. Ainda bem que conseguiu entrar na minha loja, pois qualquer outro lugar não teria pensado duas vezes em te entregar para eles. O que você fez para deixar eles tão irritados?

— Eu não fiz nada, os piratas são loucos... — Sienna se aproximou do balcão, jogou algumas moedas em cima e pegou o pano marrom. — Obrigada pela ajuda, estou indo.

— Espere! — O homem agarrou o braço machucado de Sienna. Ela gritou de dor e ele a soltou rapidamente. — Perdão... Mas espere. Aquele homem que veio aqui não era um pirata, era o meu vizinho. A cidade inteira está atrás de você, não há lugar onde você possa escapar. Então me responda, o que você fez?

— Eu já disse! Eu não fiz nada...  — Ela tocou a área ferida sentido a dor.

— Uma recompensa alta está circulando por aí e o Capitão Amon retornou ferido do mar, algo nunca antes visto... E outra dúzia de piratas desapareceu.

— Ferido?! Capitão?! — exclamou surpresa.

O comerciante soltou um suspiro.

— Você realmente não sabe o que está acontecendo, não é?

— Não...

— Bem... me deixe me apresentar, meu nome é Afreim Rein. Qual é o seu?

— Sienna — disse com cautela.

— Hoje de manhã, Amon e seus homens partiram para o mar e, algumas horas depois, eles voltaram. Uma dúzia de piratas não voltou e o capitão estava ferido. Nessa mesma hora, uma notícia começou a circular pela cidade; Amon colocou recompensas pela cabeça de duas pessoas, um jovem marujo e uma garotinha de cabelos brancos e olhos vermelhos, você.

— Alguma outra notícia? Algo sobre um ogro?

— Ogro? Não, apenas isso. — Afreim se aproximou com cautela da garota. — Ir para qualquer lugar é perigoso, por isso quero oferecer uma coisa para você.

— Estou escutando... — Sienna ainda era cautelosa.

— Tem alguém naquele navio capaz de matar Amon. Eu te dou abrigo e poderemos ir aonde você quiser à noite, mas em troca... eu quero Amon morto. — Um olhar sério surgiu no rosto do comerciante.

Sienna sabia que não tinha mais opções, então decidiu escutar o homem. Anteriormente, ela havia dito para Truman que os piratas comandavam tudo desde o início dos Reinos Médios e nesta ilha não era diferente. Os piratas mantinham controle total da ilha, tendo um comandante geral que poucos conheciam e um comandante de ação, Amon.

Antes de Amon, a cidade era controlada por um outro pirata, mas; com a chegada da Enguia, as coisas mudaram. Construíram um enorme Coliseu, proibiram as pessoas de visitar a estátua do seu antigo Rei e construíram um Cassino enorme no centro da cidade.

No Coliseu prendiam todos que iam contra Amon, obrigando-os a lutar incessantemente por suas vidas em batalhas brutais até a morte.

— A cidade sempre foi controlada por piratas, não é? Matar Amon mudaria alguma coisa?  — interrogou Sienna.

— Mudaria tudo. Amon é financiado pelo Cassino e ele é financiado por uma força de fora. — Os olhos do comerciante brilhavam com ódio. — Uma força de fora dos Reinos Médios que está se impregnando profundamente por toda a nossa nação... Seth, o verdadeiro líder dos piratas ainda não está sendo controlado por essa força, mas Amon... ele já foi corrompido a muito tempo.

Sienna entendeu o que ele desejava, livrando-se de Amon outro assumiria, mas essa força recuaria um pouco.

— Eu vou vê o que posso fazer por você — disse apertando a mão do homem.

— Eu agradeço. — O homem retribuiu o aperto. — Você é muito estranha, menina.

— Já me falaram isso antes.



Comentários