Volume 1

Capítulo 24: A Elegância de Leon

Leon surgiu no topo do palco, vestia o seu conjunto incomum de roupas e os cabelos dourados chamavam a atenção de todos os presentes. A maior parte das pessoas nos Reinos Médios possuíam pele e cabelo castanho, então um homem caucasiano de cabelos dourados era como uma atração de circo.

 E Leon sabia muito bem disso...

Ele se aproximou do centro do palco, onde um estranho microfone, que possuía Cristal de Mana azul no centro. Ao alcançar o microfone, começou a discursar com eloquência:

— Boa tarde, senhores e senhoras. Espero que todos estejam aproveitando muito bem a gloriosa estadia... — Ele continuou o seu discurso repleto de elogios ao Cassino e aos repugnantes ricos do salão.

Afreim continuou olhando para a cena entretido, o que deixou Sienna um pouco surpresa, pois não enxergava graça no maluco. 

Huuh. Que homem mais interessante, não é?

De repente, Afreim iniciou uma conversa com um dos homens ao lado. Sienna então começou a prestar atenção nisso, pois não era normal.

Ah! O mestre Leon é fantástico; um verdadeiro artista de alta classe. Um dia torço para poder conversar com eles sobre negócios.

— É verdade? Ele realmente parece alguém incrível...

Momentos antes, as pessoas no salão não falavam nem meia dúzia de palavras a eles, mas agora os dois conversavam amigavelmente.

— Tem algo de errado com aquele homem... — Ela tocou a parte que doía em sua cabeça. — Afreim, vamos para o outro lado do salão. Precisamos nos afastar da multidão.

Tentou tirar o gordo comerciante, porém o homem não movia nem um membro. Tendo a sua atenção total no intrépido do palco, nem notou a jovem.

A apresentação continuou por mais alguns segundos, até que Leon puxou um assunto que interessou Sienna.

— Senhores... Não! Amigos. Hoje, lhes trago uma notícia não tão agradável. O espetáculo que promoveria esta noite acabou sendo levado para outro lugar. Peço desculpas àqueles que desejavam assistir a ele.

Um som entristecido vazou por muitas bocas do salão. 

Um espetáculo cancelado de última hora que acabou sendo levado para outro lugar...

Sienna não precisava juntar muitas peças para saber que se tratava de Ângela.

Tendo noticiado aquilo, Leon retornou aos seus elogios e a sua fala atrativa, mas aquilo não colava mais para ela.

Alguns minutos após a apresentação sem sentido, Sienna puxou o comerciante rechonchudo para o outro lado do salão.

— Eu quero falar com aquele homem. — O rosto da menina era resoluto.

— Você enlouqueceu. Aquele homem é o chefe do Cassino, o gerente, por assim dizer. Aquelas mulheres loucas o protegem dia e noite. Como iríamos chegar nele?

— Eu tenho uma ideia.

— Qual é?

— Você não vai gostar...

O comerciante parou por um momento, até que o seu rosto ficou branco.

Ah, não! De novo não!

 

 

Dentro da área Vip, o número de jogos de azar em grupo era bem maior. Os ricos se reuniam em grupos enormes para desfrutar de suas riquezas com facilidade.

Possuíam tanto dinheiro que gastar fortunas que poderiam alimentar famílias por um vida inteira, não era nada mais do que um divertimento cotidiano.

Por conta disso, os homens naquele salão quase não eram competitivos. Pouco importava para eles se ganhavam ou perdiam; só queriam aproveitar do luxo proporcionado pelo dinheiro.

Contudo, por causa dessa comodidade, também tornaram-se mais suscetíveis a se impressionar com grandes apostadores. 

O salão inteiro engoliu em seco e os olhos estavam vidrados nas cartas entregues pelo Dealer. 

— Meu deus! Já é a décima vitória consecutiva... — exclamou um velho.

— A aposta já chegou ao que eu recebo em um ano de lucro. Ainda bem que não estou sentado naquela mesa... — respondeu outro.

Até aqueles homens ricos se surpreendiam com a quantidade de ouro sendo movimentada por aquela mesa. Os homens sentados na mesa suavam frio.

Sendo ricos e cheios de arrogância, eles se recusavam a sair dali como perdedores. Como! Como era possível para eles perder para um garotinho magrelo?

— S-senhores... — O Dealer gaguejava ao entregar as cartas. Ele era bem mais jovem que aquele do outro salão e nunca virá uma quantia tão alta em mesa. — Vocês querem cobrir a aposta?

Os ricos na mesa, cheios de ódio cego, continuaram a apostar enlouquecidamente. Contudo, Sienna queria acabar com aquilo logo.

— Eu aposto tudo — disse com frieza sem nem piscar os olhos.

Afreim ao seu lado estava branco como um fantasma que acabou de morrer e mal conseguia se apoiar para não desmaiar no meio do salão.

“Essa garota é louca”, pensou ele.

Os espectadores ficaram boquiabertos, pois, mesmo para os padrões deles, o valor em mesa era altíssimo.  Talvez apenas um Sultão de uma grande cidade pudesse gastar uma quantia daquelas livremente.

— Vocês... querem continuar...? — interrogou o Dealer com as mãos trêmulas.

Sem dois tempos, os ricos, já vermelhos de raiva, prosseguiram com a aposta e, sem surpresas, Sienna virou a sua carta.

— B-black...Jack! — O grito do Dealer repercutiu por todo o salão. 

Sienna levantou da cadeira, puxou o comerciante gordo pelo braço e se retirou da mesa de apostas. Os homens ricos batiam e gritavam enfurecidos maldições contra a menina, mas não se atreviam a agir com força, pois estavam cercados daquelas monstruosas beldades.

A menina chegou perto do Dealer que ainda estava um pouco pasmo.

— Como eu retiro o meu prêmio? Acredito que não seja por meios normais, já que a quantia é muito grande.

O Dealer parou por um instante, pois realmente não sabia como proceder. A aposta era tão grande que ele não sabia como fazer para retirar.

— P-por favor... Espere um minuto, jovem mestre. Vou falar com os meus superiores.

Ele saiu correndo do salão. Sienna e Afreim aguardaram por um momento, até que uma das beldades apareceu junto do Dealer.

— Se não for muito incômodo, o senhor Leon deseja conhecê-los — disse a mulher com um sorriso gentil. — Após a conversa, toda a aposta será entregue. Me acompanham?

— Mas é claro. — Sienna voltou a puxar o pálido Afreim pelo braço e o grupo foi levado a uma escadaria.

No salão de apostas, as coisas voltaram ao normal alguns minutos após o grande eventos.

 

 

Sienna acompanhou a mulher. Andando por um caminho rápido, eles passaram por alguns corredores, subiram algumas escadas e, afinal, alcançaram o quarto de Leon.

— O mestre Leon está à espera. — A beldade abaixou a cabeça e os disse para entrar.

Afreim abriu a porta e os dois entraram. 

Logo a visão de Sienna foi coberta por um salão organizado com estranhas relíquias de todo o lugar, com uma mesa no centro que possuía alguns documentos em cima, e, no canto da sala, bebendo um pouco de chá, estava o homem que os havia chamado.

Oh... — exclamou ele com surpresa ao ver a dupla que entrou. — Que coisa mais agradável, não? Sejam bem-vindos aos meus aposentos. Creio que já saibam meu nome, mas ainda devo me apresentar, com um cavaleiro faria. O meu nome é Leon Arty. Qual o dos senhores?

Sempre agindo com elegância, os cumprimentou. 

Afreim se pós a frente e aceitou o cumprimento, dizendo:

— Me chamo Afreim. Eu adorei a sua apresentação de mais cedo. Foi algo incrível! 

— Eu agradeço a gentileza. Bem, e você? — Apontou para Sienna.

— Miguel. Eu me chamo Miguel.

Hmm. É um nome incomum para a região, mas devo dizer que você também não parece ser daqui. Ainda mais com essa cor de olhos... não é?

O comerciante não pareceu notar, mas desde que entraram no salão, Sienna e Leon estavam presos em um combate de informações.

Leon havia focado a sua atenção totalmente nela, buscando por indícios de alguma trapaça, mas os olhos da menina foram o que lhe chamaram a atenção.

Olhos vermelhos demoníacos.

Uma informação desconhecida ao público comum, mas normalizada por aqueles que estudaram história ou aqueles que lutaram na guerra.

As pessoas com olhos vermelhos eram a encarnação do próprio diabo. Na história, todos os conquistadores, ditadores e monstros humanos possuíam aquele mesmo par de olhos.

Criou-se então o senso de que pessoas com aqueles olhos eram perigosas de muitas formas. Até porque, o próprio Senhor da Guerra os possuía.

— O senhor também não parece.

— Bem, é verdade. Então o que lhes trazem ao meu amado estabelecimento?

— Eu gosto de apostar. 

— Sendo tão jovem? Nossa, um verdadeiro talento, não é?

— É o que dizem.

Afreim não estava entendendo a conversa. Os dois pareciam amigáveis, mas ele não conseguia se incluir naquela conversa leve de jeito maneira.

Leon puxou cadeiras e o par se sentou. Ele então foi para o outro lado da mesa e também sentou.

— Direto ao assunto. — Leon percebeu que não poderia arrancar nada seguindo daquela forma, então decidiu ser direto. — Pode me contar o seu segredo para ganhar tanto? Não se preocupe, desde que você não tenha trapaceado, poderá receber a sua aposta.

Sienna também agiu com conformidade e disse algo que surpreendeu a todos no salão e, outra vez, empalideceu Afreim:

— Eu trapaceei.

Um silêncio pesado abateu a sala, até que Leon começou a rir euforicamente. Ele só parou de rir quando os olhos estavam lacrimejando.

— Me diga então como o fez? Minhas servas não sentiram oscilação de mana, você não tem onde esconder mecanismos e outras coisas. Como você trapaceou, meu jovem?

— Digamos que não é bem uma trapaça. Eu somente contei as cartas.

Outra vez o silêncio abateu o salão. Leon parou por um instante pensativo e realmente percebeu que trapacear daquela forma era possível. 

Contudo, a pessoa teria que decorar todas as cartas do baralho e ainda precisava adivinhar as cartas que estavam por vir. Trapacear daquela forma era tão difícil quanto jogar normalmente.

— Jovem, você alegrou o meu dia. Bem, você não usou nenhum meio sujo, então não posso fazer nada. — Ele ria alegre. — Ao menos poderia me ajudar a resolver isso?

— É só fazer o Dealer usar mais de um baralho. Quanto mais baralhos, mais difícil é adivinhar a carta seguinte.

— Eu vejo... — Ele levantou e foi até a porta, chamando por uma das beldades. — Levem-nos ao caixa e entregue o valor da aposta.

A mulher logo entrou na sala.

— Sim, senhor. Podem me acompanhar por aqui.

Antes de sair com a mulher, Sienna foi resolver o que veio fazer.

— Soubemos que ocorreria um evento aqui hoje, não é?

Hã? Ah, sim. Mas, para evitar problemas, mudamos o local para a Cidade Roen. Vamos realizar um leilão bem interessante lá, você está mais do que convidado a participar.

Leon puxou um cartão do bolso da camisa e entregou para Sienna. No cartão dizia um endereço, o nome dele e alguns números aleatórios.

A menina guardou o cartão rapidamente e se despediu do homem. Contudo, antes de sair, escutou:

— Teremos algo incrível no leilão. Sabe, trouxeram para a cidade uma ogra. Você acredita? Após mais de 30 anos um ogro nessa região? E sabe a parte mais engraçada? Uma menina da sua idade diz ser filha daquele monstro. Há há há!

Sienna fechou o punho com força, sentido a fúria percorrer o seu corpo, mas ela sabia que não poderia retaliar.

— É mesmo cômico. — Ela abriu um falso sorriso e tentou sair, porém uma voz chamou a sua atenção.

Uma beldade caminhou em direção a sala. Sienna reconheceu rapidamente ela como a mulher que tentou sequestrá-la e, na mão dela, carregava um jovem.

Assim que a mulher chegou no salão, os olhos dos dois se encontraram.

— Truman?

— Sienna!?



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