Volume 1

Capítulo 25: A Destruição do Cassino

Quando a beldade chegou próxima da porta e escutou o que os dois disseram, ficou por um instante confusa, e isto foi o suficiente para que Truman fugisse do seu aperto, correndo na direção de Sienna.

Ao contrário da alegria do jovem, Sienna estava com o rosto totalmente branco.

“Droga! Logo agora ele aparece...” pensou raivosa.

Leon, dentro do salão, observou a cena também e, assim que Truman agarrou a garota com um abraço e lágrimas nos olhos, ele acabou percebendo do que se tratava.

Um ar frio surgiu no pequeno corredor. O tempo pareceu parar e um clima que poderia ser cortado com uma faca pairou entre aquelas quatro paredes. Afreim estava confuso, a beldade estava com raiva, Leon ligava tudo em sua mente, Sienna suava frio e Truman, não percebendo a situação, sorria alegre.

De repente, Leon desistiu de tentar entender todas as peças e apenas proclamou:

— Aisha, capture-os!

Aisha, a beldade, transformou as suas mãos em longas garras afiadas. Ela as usou para cortar as paredes de ambos os lados, deixando uma marca profunda nelas. Sienna empurrou Truman para longe e pensou em uma saída, mas nada lhe vinha à mente.

— Truman! Seu idiota! — gritou na direção do seu amigo marinheiro.

Apesar de tudo, ela ainda estava aliviada, pois o idiota ainda estava vivo.

A mulher não tardou em capturar os três e, outra vez, foram jogados dentro do salão, onde o rosto de Leon se contorcia-se de uma forma psicótica.

O homem elegante agia como se tivesse insetos caminhando por debaixo da sua pele.

Sienna, Truman e Afreim foram jogados em cadeiras e obrigados a se sentar por Aisha, enquanto Leon andava de um lado ao outro um pouco enlouquecido.

— Não aguento mais... — Após alguns segundos disse isso e continuou: — É aleatório demais; não há um padrão. Um caos sem fim e sem controle.

Ele devaneava, entregando traços de uma personalidade controladora e obsessiva.

— O que você quer de nós? — interrogou Afreim. — Deixe-nos ir!

— Calado! — Leon perdeu toda a compostura. — Amon me alertou e eu não acreditei. Na verdade, fingi não acreditar. Quem são vocês e o que querem aqui? E por que estão andando com aquele monstro?!

Leon havia notado a tempestade negra que ocorreu no dia anterior, portanto concluiu que os eventos de hoje estavam ligados diretamente àquilo.

Sienna, por outro lado, pensou que ele estivesse falando da sua mãe.

— Não fale assim dela, louco!

— Louco...? Há! — De repente, notou o motivo para eles virem até ali. — É você, não é? A garota que está atrás daquela ogra?

Um sorriso cruel surgiu no rosto antes resoluto do homem. Sienna olhou-lhe com raiva e ele prosseguiu:

— Então é você que andou me causando tantos problemas. Para que? Por um monstro!?

— Ela não é um monstro! Me solte daqui e me devolva minha mãe!

— Mãe? Você chama aquilo de mãe?! — Leon se perdeu no meio da sua loucura desenfreada, esquecendo que o tempo era curto, pois o verdadeiro monstro se aproximava. — Você sabia que mesmo desmaiada ela continuou segurando aquelas duas coisas?

Sienna franziu as sobrancelhas, pois sabia que a sua mãe ainda carregava o estranho item embrulhado, mas não sabia de uma segunda coisa.

Contudo notou rapidamente do que se tratava.

— Ela ainda está com ele... — murmurou baixinho.

— Aquele monstro está segurando um livro. É ridículo uma criatura como aquela ter em mãos com tanto apego um simples livro.

As palavras cruéis alcançaram os ouvidos da garota que desejava nunca tê-las escutado. A fúria da jovem alcançou um ápice e os seus olhos brilharam como uma chama vermelha.

— Cale a boca! — Ela gritou.

— O quê você disse? — Leon a olhou nos olhos e instantaneamente deu um passo para trás. — Então você... você também é um monstro...

A aura fria circulou o salão. Leon puxou o seu relógio de bolso e deu uma ordem para Aisha.

— Livrem-se deles... — Antes que Sienna pudesse explodir de raiva, antes que Leon terminasse a sua ordem, e antes que Aisha pudesse reagir... o teto se quebrou!

O homem de preto atravessou pelos destroços, fazendo com que Sienna esquecesse a sua fúria por um segundo e gritasse:

— Senhor Morpheus!

Morpheus ficou de pé no meio da sala, encarando o rosto de todos. Ele olhou para Aisha e então para Leon. O seu olhar frio causou medo no coração do eloquente homem que deu um passo atrás temeroso.

— Sienna, o que está acontecendo aqui? — Ele pareceu perguntar com calma, mas, na verdade, a sua aura de sangue já percorria toda a sala.

A menina de olhos vermelhos encarou o rosto de Leon, levantou uma das mãos e disse furiosa:

— E-ele... ele chamou ela de “monstro” e quer vendê-la como escrava.

— Então é isso. — Ele entendeu a situação rapidamente e a confortou: — Deixe tudo comigo.

Puxou um par de lâminas curtas, uma para cada mão, e encarou o rosto assustado de Leon.

Droga! Droga! Droga! — exclamou o homem enlouquecendo. — Eles prometeram que isso nunca ocorreria. Eles disseram que tinham um acordo!

— No momento em que você tocou minha companheira, você quebrou o acordo.

— Não! Todos me amam aqui. Eu sou o centro deste lugar e nem mesmo os piratas se atrevem a me atacar. Não deixarei que um fantasma do passado estrague meus planos! Marionetes, ataquem!

De repente, Aisha, que ainda estava em transe atrás do trio, deu um salto e o seu corpo começou a se modificar. Os braços dela se estenderam até possuíram um aspecto de lâminas, as garras na mão tornaram-se ainda maiores, e até às pernas e pés da mulher seguiram por esse caminho.

A mulher se transformou em um monstro de aparência aracnídea, com garras e longos membros. Além disso, a sua velocidade era surreal.

Em um instante, apareceu ao lado de Morpheus, cortando-o com suas garras. Claramente, o homem de preto protegeu-se, mas ainda foi enviado voando para o outro lado do salão.

A parede que possuía vários livros se quebrou, tendo todos espalhados pelo chão. Ele levantou e encarou o inimigo sem surpresas.

Notava-se que Morpheus tinha conhecimento prévio do que se tratava a criatura à frente. Qualquer outro fugiria pensando ser um demônio feroz, mas ele não.

Nesse meio tempo, Leon passou pela porta do quarto, fugindo para os andares de baixo. Enquanto Morpheus e a criatura voltaram a se confrontar em combate.

— Sienna, o que faremos? — perguntou Afreim.

— Ah! Não sei. Tudo que eu quero é socar a cara daquele homem. Vamos atrás dele! é ele que controla essas coisas.

Assim, o trio saiu correndo da sala, mas a criatura notou seus movimentos. Todavia Morpheus ainda a impedia de sair. Com a decisão da menina, assentiu com a cabeça e voltou ao combate.

Sienna passou pelo largo corredor e começou a escutar gritos vindo dos andares abaixo. Correndo rapidamente, passaram pelas escadas e chegaram na área vip.

Não se podia ver Leon em lugar algum, mas todas as beldades tornaram-se criaturas como a do salão e atacavam os ricos sem piedade.

Um caos sem fim alastrou-se pelo salão de ouro.

De repente, um baque pesado ressoou quando o corpo destroçado de uma das criaturas bateu contra uma mesa. Logo depois, Morpheus abriu outro buraco pelo teto, caindo por cima do corpo, terminando de destruí-lo.

Sienna ficou boquiaberta com a força demonstrada pelo homem. Apesar de não se comparar aos poderes destrutivos da sua mãe, aquele poder era avassalador.

Percebeu que as demais criaturas focaram-se em atacar o sujeito que surgiu, portanto decidiu buscar pelo mestre de cerimônias, Leon.

— Truman, você que esteve aqui há mais tempo, onde Leon poderia estar?

— Hã? — Ele pensou por um momento, chegando rapidamente a uma ideia. — No subsolo. Ele possui alguma coisa lá.

— Como chegamos até lá?

— Me sigam!

Truman guiou-os até o caminho subterrâneo, mas ainda precisavam sair da batalha que estava ocorrendo. Morpheus estava enfrentando outra das mulheres.

Os movimentos rápidos da aranha não poderiam se comparar em questão de velocidade ao homem. Cada ataque com as suas adagas era preciso. Contudo, um problema surgiu; as, não mais, beldades possuíam corpos incomuns.

Por dentro, eles eram vazios, possuíam apenas um pequeno Núcleo de Mana azul perto da área da cabeça que, notavelmente, era muito bem protegido.

Para “matá-las”, era necessário destruir aquilo. Morpheus estava tendo problemas por conta disso. Ainda possuía uma força fenomenal, mas a velocidade era seu ponto forte, e não a força bruta.

Gritos ressoaram pelo salão quando avistou mais um dúzia dessas mulheres se aproximando.

“Se continuar desse jeito, isto vai durar o dia Inteiro”, pensou confiante da sua vitória, mas ainda queria acabar com tudo rápido.

O vermelho percorre tudo, pois ele controla a vida e a morte. O sangue é uma lâmina afiada. Em meio ao carmesim, eu me ajoelho. Magia de sangue de nível médio: Lâmina de Sangue!

Após proclamar a magia, cortou um pouco os próprios pulsos e deixou o sangue vazar para o par de adagas que possuía, mas o líquido vermelho não caiu no chão. Ele foi se revestindo pela lâmina, criando um par de espadas carmesins que se ligavam ao par de adagas.

Em seguida, o ferimento dele se fechou, restando apenas para trás aquele par de espadas finíssimas feitas de puro sangue. A lâmina era mais fina que uma folha de papel e cortava até o ar ao redor.

Neste momento, lembrou-se de uma conversa que teve há muitos anos com uma pessoa muito querida para ele. A princípio, não gostava dela, mas aprendeu a conviver.

“— Você pode até ser até um mago poderoso, garoto, mas com um corpo horrível desses, como vai fazer caso um inimigo chegue perto, hein? Bobalhão?”

No dia que escutou aquilo, ficou profundamente ofendido, até porque ele era muito mais velho que a pessoa que disse aquilo, porém ela tinha razão.

A mana dentro do corpo de Morpheus moveu-se de maneira irregular. Ele ainda mantinha o par de lâminas estável, mas dedicava o seu poder, também, em outro ponto; dentro do seu corpo.

De repente, uma Aura negra surgiu e a verdadeira face de Morpheus se mostrou. Não era um Mago, como também não era um Guerreiro.

As marionetes encararam-lhe com fúria e vieram correndo, algumas presas até ao teto. Movendo-se de maneira peçonhenta, como se fossem verdadeiros aracnídeos.

Todavia o inimigo à frente se envolveu em trevas profundas e, de repente, desapareceu em pleno ar.

O Assassino surgiu.

Elas ficaram pasmas por um instante, encararam todas as direções, mas quando perceberam a sua presença era tarde demais. Uma lâmina estranhamente quente atravessava o pescoço delas de cima para baixo.

Havia exatas treze aranhas naquele ímpeto inicial. Em menos de três segundos, todas estavam caídas no chão, mortas.

Meio segundo depois, o homem de preto voltou a surgir no salão respirando pesado.

Conjuração Dupla ainda é muito penoso, mas ainda te agradeço... Ângela.

Reafirmando os seus objetivos, Morpheus atravessou o pelo Cassino, atacando outros inimigos e abrindo caminho para o grupo de Sienna.

Os três passaram livres e seguiram por outras partes do Cassino até que, no chão, dentro de um dos depósitos, um alçapão entrou na visão deles.

Afreim foi na frente, abriu a porta do alçapão e os dois seguiram logo atrás.

— Está escuro aqui embaixo. Cuidado.

Sienna assentiu com a cabeça e eles desceram por um par de escadas de madeira velha.

— Truman, onde você estava esse tempo todo? — perguntou enquanto desciam lentamente.

— Bem, depois que nos perdemos aconteceu muita coisa...

— Muita coisa? Ele só sequestram crianças pequenas, como você foi levado?

Truman deu uma risada seca e tentou se explicar:

— Escutei gritos de um beco e pensei que fosse você, então fui te salvar, mas acabei sendo levado.

Quando Afreim deu mais um passo, um ranger de madeira foi a única coisa que escutaram, pois Sienna interrompeu os passos.

— Você realmente tentou me salvar e eu estava só preocupada...

De repente, a madeira sobre os pés de Truman rangeu e tremeu. Um pouco de poeira subiu junto do susto, mas tudo parecia bem.

— Ufa. Pensei que a madeira ia quebrar comigo em...

A madeira rachou ao meio e Truman caiu escada abaixo. Os outros dois correram para ajudá-lo e alcançaram o fundo daquela sala.

Afreim achou uma vela em um canto da sala, mas não havia nada que pudesse acender, portanto continuaram atrás de Truman e Leon.

— Estou aqui! — exclamou o jovem por detrás de uma parede da pequena sala.

O comerciante tocou a parede e percebeu que era oca, chutando-a com força, um outro quarto surgiu. Do lado de dentro, eles viram o vulto de Truman de pé, paralisado.

Truman era um marinheiro e navegador nato, por isso tinha o costume de analisar mapas, mas aquilo na frente dos seus olhos era fantasioso demais.

— O que foi, Truman? — interrogou Sienna aflita.

— É... O mapa para Gardenheim, a terra dos elfos!

O mapa estava pregado na parede do depósito. Na mesa, Afreim notou uma pederneira e rapidamente acendeu a vela. A luz assaltou o salão e o brilho de ouro e prata reluziu, junto do mapa estampado na parede.

Outra coisa que notaram no salão, era um pequeno relógio de bolso em cima de uma mesa, realizando o som de um tic-tac frequente.

— Sienna, olhe aqui — chamou o comerciante, apontando para um buraco na parede. — Aparentemente, ele escapou por aqui. Vamos atrás dele?

— Não. — Ela puxou o papel com a localização do leilão. — Eu já sei aonde minha mãe está.

— Então? O que faremos agora?

Sienna olhou por um momento para o relógio e inconscientemente o pegou em mãos. Ajeitando-o na palma da mão, ela viu o brasão atrás. Notou também três botões.

— Ponteiro das horas e dos minutos, mas esse relógio não possui os segundos... — Sienna apertou o botão dos segundos e nada ocorreu no salão.

Contudo, acima deles, de um segundo para o outro, Morpheus que enfrentava as aranhas, percebeu que elas pararam de lutar. Elas ficaram estáticas no ar.

Testou a reação delas a estímulos, porém em nada resultou. Ele ficou confuso, mas seguiu em frente, buscando por Sienna.

Logo, avistou a menina saindo de um dos depósitos. Ele havia escutado a conversa inteira de Leon. Em muitos momentos, segurou-se para não quebrar o teto antecipadamente, e valera a pena.

— Conseguiu a localização? — O olhar dele era severo.

— Consegui. — Ela abaixou a cabeça ainda com raiva.

— Está ótimo então. Você fez um bom trabalho. — Morpheus consolou-a.

Sienna contou o que ocorreu no andar debaixo e Morpheus falou sobre a aranhas. Eles então ligaram os pontos, descobrindo que o relógio era o causador.

— Ele aparentemente consegue controlar elas como Marionetes. O dono do relógio tem total domínio — disse Sienna usando o relógio para transformar todas as mulheres para as suas antigas aparências humanas.

Antes, havia cerca de uma centena delas, mas restaram apenas uma dúzia após o conflito de Morpheus.

— O que fará com o relógio? — perguntou o comerciante com um olhar ganancioso.

Poderiam até não saber do se tratavam aquelas beldades, mas sabiam que quem possuísse o relógio teria uma força considerável em mãos.

Sienna não poderia levar aquelas mulheres com ela e também não tinha tempo para isso. A cada segundo que se passava, as chances de Ângela ser vendida como escrava eram maiores.

— Eu quero que você fique com ele. — Ela entregou-o para Truman. — Vocês dois. Agradeço por tudo que fizeram por mim, prometo compensar um dia!

Sienna ainda tinha muitas dúvidas. A relação de Leon com Ângela e Morpheus, sobre o mapa que encontrou no porão e sobre os seus olhos vermelhos, mas encontrar a sua mãe era mais importante.

Ela estava com pressa; as autoridades logo chegariam na área, por isso deu um olhar para Morpheus que concordou com a cabeça.

— Daqui, partiremos sozinhos — falou o homem de preto.

Afreim e Truman ficaram paralisados por um momento sem entender nada. Morpheus agarrou a garota pela cintura e os dois saíram pelo teto quebrado do Cassino.

Sienna não conseguiu se desculpar com Truman e a sua despedida foi breve. Ainda se arrependia de certas ações suas, mas precisava partir.

Todavia antes de fugir, escutou uma voz:

— Sienna, um dia, me prometa que vamos para Gardenheim juntos! Diga que vamos nos reencontrar!

Um curto silêncio ecoou, mas logo uma resposta foi dada:

— Eu prometo!

Truman abriu um sorriso grandioso, olhou para o relógio em uma mão e o mapa na outra, e olhou para o gordo comerciante, percebendo que esta era a primeira vez que se encontravam. Também notou a semelhança dele com o seu antigo Capitão, Willy.

— O que faremos? — perguntou ele olhando para as beldades.

— Eu não sei você, mas eu vou pegar tudo o que posso e vazar daqui.

— Boa ideia.

Antes de começar o saque, Truman se perguntou:

— Onde será que está o meu capitão?

 

 

Dentro do pequeno veleiro, Willy fazia um discurso para os seus homens.

— Homens, sabemos que os últimos dias foram difíceis, mas vamos voltar aos serviços. Perdemos o Truman, mas isto não vai nos impedir.

O Capitão Willy retornou ao seu navio, prometendo nunca mais aceitar trabalho de nobres desconhecidos, mas, de repente, sentiu uma estranha pressão atrás dele.

Olhando para trás, viu o homem de terno pegando fogo e a menina vestida como um menino e com os cabelos curtos. Um único pensamento passou por sua mente:

“Eu odeio a minha vida.”



Comentários