Volume 1

Capítulo 11: As Sombras do Norte

— Eu disse que não viemos para o seu apartamento. — Garta respondeu uma segunda vez e deu poucos passos para alcançar a porta simples de acesso ao primeiro piso do prédio. A placa de madeira com os dizeres “Alfaiataria da Runa” dava o indício óbvio do que encontrariam ali.

A guardiã bateu na porta e esperou se escorando na parede exterior do comércio.

— Não me diga que você vai comprar um vestido. — Colth caminhou para perto da mulher. Suas palavras foram um pouco irônicas, mas ele não conseguia imaginar outras coisas vindas de uma visita a uma alfaiataria.

— Não — respondeu ela revirando os olhos. — Só fica quieto e deixa que eu falo.

A porta de madeira envelhecida da alfaiataria se abriu. Quem os recebiam era uma senhora de cabelos grisalhos em uma roupa colorida e chamativa.

— Ah, Garta. Eu estava te esperando... Quem é esse? — Assim que a mulher percebeu a presença de Colth, interrompeu as boas-vindas e ajeitou a postura relaxada de antes.

— É um morador momentâneo — a guardiã respondeu enquanto fechava os olhos ao prever o que viria a seguir.

— Garta, me apresente. — A mulher mais velha respondeu cutucando o cotovelo da entediada, sem tirar os olhos de Colth.

—... — Garta respirou fundo engolindo o seu nítido aborrecimento antes de realizar o pedido da comerciante. Conhecia aquela figura exótica e sabia que seria mais fácil, e mais rápido, apenas conceder o desejo dela. — Senhora...

— Senhorita. Viúva também é solteira — corrigiu a mulher.

Garta olhou para o céu em busca de paciência.

— Senhorita Runa, esse é Colth Lasvin. Colth, essa é a senhorita Runa Ruthord.

— Muito prazer. — A mulher que beirava a casa dos sessenta anos de idade sorria e cantarolava as suas palavras como uma garota recém formada em um colégio feminino.

— O prazer é meu. — Colth foi cortês, mas não deixou de olhar para Garta com estranhamento.

— Você é novo aqui? — Runa avançou dois passos em direção ao rapaz. — Tá gostando dessa parte da cidade? Se quiser eu posso apresentar para você o...

— Senhorita Runa — Garta interrompeu as palavras da mulher bajuladora. — Estamos com um pouco de pressa. Você poderia...

— A caixa do lado do balcão — respondeu à pergunta a desprezando, ela não tirava os seus olhos do rapaz desconfortado. — Escuta, Colth...

Crash! O barulho de vidro quebrando ecoava pela praça. Imediatamente, todos olharam para a origem do característico som. O pequeno Jorge estava diante da janela quebrada de um dos vários prédios da vizinhança, ele tinha consigo algumas pequenas pedras em suas mãos e um olhar muito suspeito.

— Menino! O que é isso!? Ficou maluco? — Runa gritou esbravejando o início de uma bronca.

O garoto olhou para a mulher grisalha e imediatamente, ao perceber que tinha feito algo de que já se arrependia, largou as pedras e começou a correr em direção oposta ao da alfaiataria.

— Volta aqui! Eu vou te dar uma surra, menino! — A mulher saiu em perseguição ao garoto sem qualquer compromisso com o resto. Seu vestido colorido tremulava ao vento da sua corrida de modo a se destacar no cinzento Norte.

— Tanto faz. — murmurou Garta e respirou fundo. Não pensou por mais do que dois segundos enquanto assistia Runa correndo para longe atrás da criança levada. Entrou pela porta da alfaiataria sem receio. — Vem, Colth.

O rapaz hesitou por um segundo ao entrar sem permissão em um local desconhecido, mas o fez. Seguiu de perto a mulher decidida.

Se deparavam com um corredor escuro, iluminado apenas pela luz natural que adentrava pelas estreitas janelas empoeiradas, alguns metros de um caminho apertado e silencioso. Aos fundos, um balcão de madeira e, encostado nas paredes das laterais, grandes rolos de diversos tipos e cores de tecidos. Além disso, algumas peças de roupas incompletas penduradas em cabides por todo o estabelecimento davam cores ao ambiente.

Garta continuou caminhando pelo corredor enquanto Colth a seguia com olhares curiosos.

— O que estamos fazendo aqui?

— Temos uma missão — respondeu ela.

— Aquela mulher não vai ficar brava?

— A Runa? Não, ela não se importaria com isso. — Garta parou nas proximidades do balcão e, em seguida se agachou frente a uma grande caixa de papelão no canto da parede. — A Runa só é um pouco maluca.

— Maluca? — Colth ergueu as sobrancelhas.

— Acho que está tudo aqui. — A mulher fechou a caixa após conferir seu conteúdo. Em seguida, colocou o pacote sobre os seus braços com algum esforço e, só então, as entregou a Colth. — Toma. Segura.

— Nossa. — O impacto do peso da caixa nas mãos do rapaz o desequilibrava por um momento. — Isso é pesado.

— É, um pouco. Vem, vamos entregar isso. — Garta não perdia tempo, atravessava de volta o corredor enquanto era acompanhada pelo carregador da caixa.

— Isso são armas? Ou talvez, munição? — Colth ainda mantinha a sua curiosidade.

— O quê? Não. Claro que não. Por qual motivo a senhora Runa teria armas na casa dela?

— Foi você quem disse que ela era maluca.

— Hi! — Garta deixou escapar o início do que seria uma risada. Com uma das mãos ela se forçou a conter o seu impulso cômico, seu rosto ficou corado por uma fração de segundo. Disfarçou, mas continuou com o bom humor. — Não era esse tipo de maluca de que eu falava, mas talvez você tenha razão, eu deveria ficar de olho aberto com ela.

Colth não respondeu, apenas apreciou a sua própria surpresa ao ver a seriedade perder lugar para um breve sorriso desajeitado no rosto da fria guardiã, mesmo que isso fosse visivelmente rechaçado por ela própria. Para ele, era impossível não se encantar com aquela quebra da sua própria concepção estabelecida sobre Garta.

— Nem pense em falar isso para o Jorge. — Garta mostrou uma mínima preocupação já do lado de fora do pequeno comércio enquanto esperava Colth com a caixa em mãos.

Assim que o rapaz saiu, Garta fechou a porta e ambos começaram uma nova caminhada em direção à rua estreita que cortava os prédios residenciais do Norte.

— Falar o quê? — Colth perguntou acompanhando a mulher.

— Você não quer sair insultando os familiares dos outros assim, não é?

O Sol discreto entre nuvens começava a se erguer no céu enquanto as ruas continuavam pouco movimentadas, alguns poucos pedestres e, nenhum carro, nem mesmo carroças, os incomodavam pela viela apertada.

— Familiar? — A curiosidade de Colth despertou. — Qual é a relação do Jorge com aquela mulher?

— A Runa é a avó dele.

— Ah, isso explica ela ter ficado tão brava com ele.

— Isso. Mas o Jorge não é de fato neto dela, não de sangue. — Garta respondeu enquanto os barulhos dos passos de ambos ecoavam sobre as pedras do pavimento da rua em meio a uma rajada de vento frio que os acertava. — O Jorge é... Como um órfão de guerra. Ele perdeu os seus pais em meio as guerras de anexação de Nyasan, quando menor. A Runa o encontrou, acho que eles eram vizinhos, ou algo assim. Pode não parecer, mas ela é uma boa pessoa. Enfim, Runa e Jorge foram os únicos de duas famílias que conseguiram escapar daquela tormenta.

— Os únicos de duas famílias? — O coração do rapaz pesou. — Eu nem imaginava. Não sabia que a guerra de Nyasan havia sido tão mortal assim.

— Se foi mortal? Se você encontrar com alguém de Nyasan por aqui, pode ter certeza que essa pessoa perdeu algum familiar para o maldito exército da Capital. — Garta balançou a cabeça negativamente sem perceber. Mostrava a sua desaprovação quanto aquilo também em seu tom de voz.

Colth estava chocado com as informações. Ficou imaginando como que coisas tão importantes passavam despercebidos durante a sua educação escolar. “O filho de um dos chefes da cidade de Toesane não recebia os melhores estudos? Com os melhores professores disponíveis na cidade?” Se perguntou revendo as lembranças das aulas que tivera, a conclusão eram apenas mais perguntas.

— Eu não fazia ideia. Mas o que aconteceu com Nyasan? — expôs superficialmente os seus pensamentos e continuou com a sua curiosidade.

— Agora é só uma grande mina de ferro e uma fonte quase infinita de madeira — respondeu Garta sem tirar os olhos do caminho que percorriam. — Além disso, boa parte da água consumida na capital, é vinda de lá. Então, basicamente, virou uma terra de extração. Típico do império.

—... — O rapaz pensou bem antes de fazer a pergunta que estava por vir, tomou coragem. — Escuta, se você odeia tanto o império, por que se inscreveu para a seleção da Defesa? Quer dizer, eu sei que o seu objetivo era de se aproximar da Celina, mas por que não fez isso de outro jeito?

— Acredite, não foi ideia minha.

— Foi desse tal Gerente que você tanto fala?

— Exatamente. — respondeu Garta e se virou para visualizar uma construção as margens da rua apertada. — Aqui. Chegamos.

— Chegamos? — Colth questionou com estranheza.

Ambos estavam parados frente a uma parede de tijolos no meio da rua que, de tão estreita, talvez fosse mais prudente chama-la de viela ou até de beco.

— Sim. Chegamos — respondeu Garta, certa de si. Em seguida, ela deu um passo à frente, e então, três leves batidas na parede com o punho fechado. — Às vezes, as coisas não são como nós as vemos.

A mulher suspirou levemente em aguardo. Colth não escondia sua feição confusa enquanto ainda segurava a grande caixa de papelão que não fazia ideia de seu conteúdo.

O silêncio, que competia apenas com os barulhos de corvos que se empoleiravam sobre o telhado de uma das casas do outro lado do beco, foi abruptamente interrompido por um ruído vindo do outro lado da parede.

Parte da parede se movia. Alguns tijolos se afastavam uns dos outros para revelar uma passagem. Era como uma porta estreita para um local escuro e misterioso. De dentro da passagem, um homem velho, calvo, mal vestido, com o rosto esperançoso, os recebia.

— Senhorita Garta. Que bom ver você. — O velho sorriu calorosamente para a mulher em espera.

— É bom ver o senhor também, Oskar. — respondeu ela com um leve sorriso que beirava a simpatia.

— O que eu posso fazer por você? — perguntou o homem atencioso e bem humorado após cumprimentá-los com olhares.

— Essa noite deve esfriar bastante, então trouxe algumas coisas para vocês — respondeu Garta ao apontar para caixa sobre os braços do rapaz carregador.

— Eu não acredito. Vocês são tão bons com a gente, que eu nem acredito. — O velho se emocionava ao receber a caixa de papelão das mãos de Colth. — Eu não sei como agradecer. Eu realmente...

— Não se preocupe com isso, Oskar. Mas eu preciso lhe falar uma coisa. — Garta se desviou dos elogios e mostrou seriedade para continuar a conversa. — Acho que o Gerente está começando a desconfiar de que eu estou ajudando você, então...

— Garta! — Um grito de alegria surgiu atrás do homem. Uma garota que estava prestes a entrar na adolescência sorria e cumprimentava a mulher que devolvia o gesto em mesmo tom.

— Iara. Como você está? Continua ensinando a sua mãe a ler e escrever?

— Sim. Ela já consegue até soletrar sem precisar ler... Ah? — A garota percebeu a presença do rapaz desconhecido e imediatamente mudou sua expressão para uma mais tímida e curiosa. — Garta! Esse é... o seu...

— Eu não sei o que você está pensando, mas não — cortou ela pela raiz. — Ele só está me ajudando a entregar uma caixa para o Oskar aqui. Ele é só o rapaz da caixa. — Garta desviou o olhar ao ser acertado por um olhar confuso de Colth. — Isso aí. É só o rapaz da caixa.

— Ah. Entendi... — A resposta da garota foi interrompida por um chamado de dentro do esconderijo. Uma voz feminina mais madura. — É a mamãe. Eu preciso ir. Até mais Garta, e... rapaz da caixa...

A garota se virou sem ouvir as respostas, adentrou de volta ao esconderijo e deixou o silêncio reinar do lado de fora.

— “Rapaz da caixa”? Sério? — perguntou Colth.

Garta não deu ouvidos.

— Como eu ia dizendo, Oskar. O Gerente está bem atento e...

— Não precisa dizer mais nada. — O velho interrompeu as palavras penosas dela encurtando a conversa. — Você deveria esquecer a gente, pelo menos por um tempo. Vai ser mais seguro assim.

— Mas vocês...

— Vamos ficar bem. Quer dizer, ficamos bem até agora, não precisa se preocupar. Daremos um jeito. — O homem evitava parecer frágil.

— Tá. Tem razão. — assentiu ela relutante.

— Já que você está aqui, Garta... — Oskar deu alguns passos para trás para colocar a caixa recebida e a conversa áspera de lado, em seguida, voltar com um pequeno objeto metálico. — Por favor, pode levar isso para a Bertha?

— Isso é o que eu estou pensando que é? — A pergunta de Garta foi respondida com um simples gesto positivo do velho. — Obrigada, Oskar. Isso vai ser muito útil.

— Bom, eu vou levar a sua doação para o restante do pessoal. — O velho voltava para dentro da passagem enquanto se despedia. — Muito Obrigado, senhorita Garta.

— Eu que agradeço — respondeu ela com o rascunho de um sorriso no rosto.

A parede começava a se mexer sobre o que parecia um trilho de metal no chão.

Os tijolos se encontrarão novamente e a passagem foi escondida. Imediatamente, Garta se virou e começou a caminhar de volta pelo caminho que a levará até ali.

— Só isso? — Colth pareceu um pouco decepcionado, mas não achou ruim. Ficou até aliviado em não ser algo perigoso ou contra as leis da Capital.

— Sim. O que você esperava?

— Eu não sei... O que nós entregamos para ele? O que tinha na caixa? — perguntava ao caminhar com os ombros alinhados aos de Garta, ele não tinha mais que se preocupar com o peso de uma caixa a tira colo.

— Você é tonto assim o tempo todo? — Garta encheu sua boca para cuspir o sacarmos.

— Você é engraçada assim o tempo todo? — Colth aceitou a provocação como uma criança contrariada, em seguida voltou a seriedade. — Você não falou, como é que eu vou saber?

— São roupas. — respondeu ela desinteressada. — O que mais uma alfaiataria poderia fornecer? Enfim, hoje deve fazer frio a noite, então eu apenas levei algumas roupas para as pessoas que estão irregulares por aqui.

— Então aquele homem é um “irregular”? — Colth expôs a primeira pergunta que veio em sua mente.

— O Oskar? Não. O Oskar é nascido na Capital. Mas ele está ajudando uma família de fora que acabou perdendo o trabalho e não tem pra onde ir. Não são muito diferentes de você.

— Eu?

— Sim. Pessoas que vieram para a Capital procurando uma vida melhor, mas obviamente não encontraram. Ouvi falar que tem bastante pessoas de Toesane assim também recentemente.

— O quê? Por quê? — Colth se surpreendeu.

— Ninguém quer ser feito de escravo para trabalhar em fazendas para o resto da vida — ela respondeu sem escusas. — Mesmo tendo que viver escondidos e com medo, alguns acham que aqui é melhor do que os grandes campos de Toesane.

— Escravos? Em Toesane? — perguntou o rapaz como se rebatesse uma piada.

— É. Depois que o império anexou Toesane e começou a controlar os campos, os pagamentos aos trabalhadores passaram a ser simbólicos. — Garta percebeu que Colth não havia entendido o sentido daquilo e tratou de explicar. — Com menos dinheiro circulando, a cidade começa a definhar até que a população morra de trabalhar por um simples pedaço de pão. Isso acontece a cada dia por lá, principalmente em regiões mais afastadas, mas não deve demorar até chegar no centro de Toesane.

— No centro de Toesane? Não, isso... Não é verdade. — Colth negou efusivamente, mas os seus pensamentos diziam ao contrário enquanto ele se lembrava do que sua irmã falava ao reclamar das finanças.

— Você saiu da sua casa, ou do seu jardim, durante esses últimos dois anos? — perguntou Garta em um tom ríspido.

Em seguida, parou os seus passos em meio a estreita rua para se fazer ter a atenção, percebeu que havia sido um pouco áspera quando percebeu o rapaz com olhares sem direção.

— ...

— O que quero dizer é que...

— Não, eu entendi. — Colth interrompeu como se não se importasse, mas falhou ao deixar-se parecer abatido com as palavras de Garta. — Primeiro as guerras de Rasuey e Nyasan, e agora até Toesane. Parece que tudo o que estava fora da minha visão é completamente diferente do que eu imaginava.

— A culpa não é só sua, Colth. O império sempre tenta encobrir ou mudar os fatos o tempo todo. A guerra de Rasuey, por exemplo, poucos sabem que ela foi muito sangrenta, alguns não sabem nem que ela existiu.

— Eu entendo. Mesmo assim, isso que você falou sobre Toesane. Quer dizer... É na minha cidade, eu deveria saber. — Colth baixava a cabeça com o peso de seus pensamentos.

— Isso não importa. Você não poderia fazer nada, não é? — Garta tentava contornar a melancolia do rapaz.

— Sim, mas quem assinou o tratado de paz com a Capital foi o meu pai. — respondeu sem esconder a sua decepção. — Eu sempre achei que ele havia tomado a decisão certa, mas agora... Eu não sei mais.

 —... — Garta pensou, mas não conseguiu chegar a nada que pudesse falar para minimizar aquela situação.

— Tanto faz, nada disso mais importa. — Colth respondeu aos seus próprios sentimentos.

— Vamos para o restaurante, tenho que levar isso. — Garta disfarçou mostrando o pequeno objeto metálico que levava em suas mãos, mudou de assunto completamente.

—... Claro. — concordou ele ainda pensativo. Em seguida, balançou a cabeça se recompondo e seguiu com a iniciativa de Garta para mudar de assunto. — O que é isso na sua mão, mesmo?

— Para ser sincera, nem eu sei o que é isso. — retornou com seus passos em direção já conhecida.

Quanto ao objeto, tinha o formato de um pequeno bloco retangular, algo do tamanho de uma agenda de bolso, mas era notório que aquilo era um dispositivo que possuía uma única abertura, uma entrada por onde parecia ser possível encaixar algo, talvez um cabo ou outro dispositivo.

— Ela falou que isso vai nos ajudar, então deve ser importante — concluiu Garta.

— “Ela”? A Bertha?

— Isso.

— Primeiro aquela lâmpada esquisita que você comprou do comerciante, e agora essa caixinha de metal. Se ela é como diz, então está planejando algo.

— Isso não te interessa. — Garta respondeu diretamente em tom seco.

— Você ainda não confia em mim, não é? — Era o que Colth imaginava. — Você não é nenhum pouco justa.

— A vida não é justa. — Garta deliberadamente evitava o combate.

— É, parece que não — Colth percebeu que a mulher não mudaria de ideia. — Você ameaçou o Aldren e a Celina também?

— Eu não ameacei ninguém. — respondeu ela sem pensar.

— ...Sério? — demonstrou com os olhos cerrados o seu descontentamento com a resposta.

— Ninguém, além de você — ela se corrigiu.

— Obrigado pela exclusividade.

— Cala a boca — respondeu com bom humor. A mulher ignorou o comentário de Colth e apressou os seus passos sobre o calçamento da praça das duas velhas árvores para desviar da tenda que continuava em meio ao espaço comercial. — Vamos, já estamos chegando.

Após adentrarem ao prédio do restaurante, Garta e Colth seguiram até a sala de Bertha.

— Isso aí é o.... — Os olhos da garota baixinha brilharam ao ver o objeto nas mãos da guardiã, suas palavras eram acompanhadas por um sorriso eufórico e empolgado. — O velho Oskar conseguiu!

A garota agarrou o objeto antes mesmo de Garta oferece-lo. Em seguida, ela se virou e caminhou saltitante de volta para a bancada com o caixa de metal em mãos.

— Isso! Isso! Isso! — A voz aguda da garota reverberava pela sala.

Bertha já manipulava empolgada as ferramentas sobre a bancada enquanto os outros dois haviam sido esquecidos. Colth ficou impressionado com o modo energético e repentino de agir da garota. Ela ria alto enquanto abria o dispositivo com uma chave de fenda de forma nada convencional.

— Aí Bertha, Cadê aqueles dois? — perguntou Garta ao se sentar de forma despojada no sofá do centro do cômodo.

— Eles vão jantar com o Gerente — respondeu Bertha sem dar atenção as próprias palavras.

— O quê! — Garta praticamente pulou do sofá.

De imediato, a única porta da sala se abriu e revelou três pessoas, a primeira delas era um homem muito bem vestido, com poucos cabelos grisalhos e uma expressão confiante, ele encarou Garta e se pronunciou calmamente:

— Sim. Eu vou jantar aqui hoje. E esses, são os meus convidados. — O homem do terno escuro abria espaço para as duas pessoas logo atrás.

— E aí, pessoal. Vocês também vão jantar aqui? — Aldren perguntou alegremente. Ao lado dele, Celina demonstrava o seu rosto inerte de sempre.

— Merda... — sussurrou Garta de forma inaudível.



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