Volume 1

Capítulo 49: Cruel Dissuasão

O olho de Garta foi preenchido pela luz azul constante que vinha de dentro daquela sala após a porta aberta. Boquiaberta, não conteve seu fascínio:

— Puta merda...

— Isso é o que vai acabar com o ciclo de destruição entre os mundos — Lashir mantinha o seu tom poderoso e dominante. — Essa é a deusa de Tera.

Em meio a sala grande sob o palácio na região central da capital, a pedra escovada das paredes absorvia qualquer calor e refletia a iluminação amena vinda de uma única fonte ao centro, uma esfera grande que alcançava o teto alto e emitia um brilho provocativo aos olhos de qualquer um que adentrasse àquele ambiente.

O objeto enorme parecia ser feito de um vidro límpido e cristalino, dando uma impressão de não haver nada ali, nada além do desviar das luzes em sua superfície invisível. Luzes essas que partiam do interior da esfera e hipnotizavam Garta que deu apenas um passo na sua direção e parou boquiaberta.

Não era só o objeto misterioso ou a sensação bizarra de todo aquele ambiente, muito menos a luz sedutora é que provocava toda aquela sensação de maravilhar sentida por Garta, mas sim algo ainda mais magnífico e único.

No interior da esfera imaterial uma pessoa se fazia presente. Uma mulher com um vestido azulado adornado em detalhes turquesa, o rosto sublime perfeitamente acompanhado pelos cabelos caramelos enfeitados por acessórios compostos por pequenas pedras de esmeralda claras eram contrapostos a expressão dela. Seus olhos mel demonstrava uma gana, talvez um ódio, que não combinavam em nada com seu feitio.

Uma presença aterrorizante e ao mesmo tempo encantadora que fez Garta esquecer de respirar, apenas ficou ali impressionada enquanto seu coração parecia bater mais forte a ponto de explodir. A mulher de dentro da esfera mantinha seus olhos irados sobre Lashir que se aproximou pedante:

— Como está se sentindo hoje, Tera? Está com tempo para uma conversa?

— Eu não tenho assuntos com você — respondeu ela com a voz aveludada cheia de rancor.

—  Fazem o quê? Dez? Vinte? Talvez trinta anos? — cantarolou Lashir frente a esfera.

Garta finalmente interrompeu seu fascínio, se deu conta de que a bela mulher era uma prisioneira, e pela fala da guardiã de Rubrum com seu tom superior envenenado, não restavam dúvidas da inimizade ali.

— Não importa, minha resposta continua sendo a mesma, pelo resto da eternidade — respondeu a prisioneira.

— Continua sendo injusta, não é? É claro, você é uma deusa — presumida, Lashir continuou: — Eu não vou viver para toda a eternidade, diferente de você, então essa é uma competição bem desbalanceada, não acha? — Sorriu com o canto da boca delineado pelo seu batom vermelho. —  Como você disse, não importa. Não vamos precisar esperar pela eternidade. Você está prestes a perder o seu posto.

— Eu não vou cair em um truque barato desses — retrucou Tera ao ouvir o que achava se tratar apenas de mais uma provocação. — Petrica jamais vai sucumbir aos seus desejos.

— Petrica? — Sussurrou Garta. Aquele nome tinha tanto significado que seu pensamento se fez em palavras que saíram sem ressoar som algum: — Mãe?

— Haha — gargalhou comedida Lashir. — Petrica já sucumbiu.

Tera sentiu que aquilo não era uma simples mentira jogada ao vento, por mais que a guardiã de Rubrum não fosse um exemplo de sinceridade, não fazia sentido ela estar mentindo sobre algo tão etéreo. Deu um passo para frente e encontrou a barreira invisível da esfera, rangeu os dentes e grunhiu com toda a sua raiva:

— O que você...

— Isso já foi há algum tempo. Hueh foi o responsável pela sua morte e, pelo o que fiquei sabendo, ele nem precisou estar presente.

— Hueh? — A prisioneira se surpreendeu.

— Ah, não se faça essa carinha decepcionada agora — esbravejou com a crueldade tomando conta de seu tom. — Você sabe que Hueh nunca foi de fato confiável.

Tera arregalou os olhos ao ser atingida pela preocupação, aquele sentimento quase nunca se fez presente em seus pensamentos, mas agora, talvez fosse algo que ela teria de se acostumar.

— Venha cá, garota — Lashir chamou para perto a guardiã que até então só observava, ela se aproximou tentando entender toda a situação. A mulher de vermelho voltou ao assunto: — Essa aqui é a herdeira da benção de Finn, Garta.

— Garta. — A deusa repetiu o nome de forma soturna observando o rosto confuso da guardiã de Finn.

O silêncio curto foi interrompido pelo barulho das pegadas de Lashir sobre o chão de pedra, ela caminhou dando uma volta completa na garota e então finalmente continuou:

— Garta, você sabe quem ergueu essa barreira mágica que protege o mundo de Tera da deusa Tera ali?

— Não escute ela! — exclamou a prisioneira em um desespero que nunca antes prevaleceu consigo.

— Aquela que foi portadora da benção de Finn, aquela que deu sua vida protegendo esse mundo, a última guardiã de Finn antes de você. — Lashir tinha toda a atenção de Garta para si enquanto Tera mantinha os seus gritos suplicando para que a garota não desse ouvidos à mulher de vermelho, não foi efetivo, ela continuou com suas palavras como se as mesmas envolvessem por completo a atual guardiã de Finn: — Petrica, foi quem aprisionou essa deusa. Foi sua mãe, Garta, que se sacrificou para manter Tera longe da liberdade e longe de fazer qualquer mal.

— É mentira! — Vociferou Tera. — Guardiã de Finn, não escute essa mulher! Ela está...

Garta manteve-se calada, levou suas mãos a cabeça para tentar estancar a dor que repentinamente se deslocou por todo seu cérebro. Escutava seu próprio sangue latejando em seus ouvidos, efeito provável do receber de tantas informações em tão pouco tempo.

— Sua mãe morreu protegendo esse mundo, protegendo você, Garta — Lashir não descansava.

— Mamãe...

— Sim, sua mãe. Ela foi forte e aprisionou Tera aqui, mas não conseguiu terminar o trabalho...

— Cala a boca! — aos berros, a prisioneira esbravejava não se importando com mais nada. — Sua megera, eu vou acabar com você!

— Não conseguiu terminar? — perguntou Garta tentando manter o mínimo de sua atenção em meio a tantos pensamentos. Ainda não tinha o entendimento completo, mas já odiava tudo aquilo como nunca antes.

— Bom, enquanto Tera estiver aprisionada, sempre haverá alguém disposto a perturbar a paz para tentar trazer o caos de volta a liberdade. As guerras desse império, por exemplo, tudo devido àquela mulher — disse Lashir apontando com os olhos para a esfera de energia do centro da sala. Observando Garta tomando cada vez mais o caminho da raiva, disfarçou o sorriso e continuou: — Só tem um jeito de acabar com isso. Encerrar o ciclo e colocar um ponto final nessa história de sofrimento. Matar a deusa.

— Matar? — perguntou a fagulha de consciência restante de Garta frente a ira concentrada dentro de si.

— Sim. Ela destruiu seu mundo, destruiu sua família, tirou tudo de você. A única coisa que te resta é vingar sua mãe.

— Não precisa dizer mais nada. O que eu tenho de fazer?

Garta levou seus olhos irados para a prisioneira que continuava a clamar. Quando a deusa recebeu o fitar rancoroso, calou-se perdendo a esperança, ainda suplicou com um olhar sincero, mas foi interrompido pelo corpo de Lashir que se colocou frente a garota guardiã de Finn.

— O que você vai precisar fazer será revogar a barreira. Não se preocupe, quando chegar a hora, estaremos prontas para atacar a deusa Tera.

— Quando chegar a hora?

— Sim, venha, quero conversar com você sobre isso — Lashir cantarolou suas palavras e, antes de concluir, olhou uma última vez a desesperança de Tera no interior da esfera.

— Espera... — suplicou a deusa, foi ignorada. Rangeu os dentes e não pôde fazer mais nada além disso, viu as duas guardiãs darem as costas e saírem da sala, a porta se fechou lhe trazendo de volta a solidão.

Garta acompanhou Lashir pelos corredores daquela masmorra, não demorou muito, após três lances de escadas e um sonoro silêncio entre elas, já estavam de volta ao majestoso palácio da figura maior do reino de Albores. A guardiã de Finn manteve-se calada durante o caminhar, mas não deixou de demonstrar a raiva em seus passos pesados e sua cabeça baixa.

— Calma, você terá a sua vingança — Lashir rompeu o ar estático do luxuoso corredor com sua voz provocante.

— Não se trata de vingança. Farei isso para continuar com o que minha mãe tanto quis proteger. O que eu posso fazer agora é impedir que mais pessoas passem pelo mesmo que passei.

A mulher de vermelho desdenhou as palavras em seus pensamentos, se segurou para não contestar o que entendia como uma grande asneira.

— Chame como quiser — respondeu ela quase revirando os olhos. — A partir de agora posso contar com você para isso?

— Claro — respondeu ela mantendo o tom pesado. — Pode tirar essa coleira de mim?

Lashir não escondeu seus olhos desconfiados sobre Garta enquanto caminhavam pelo corredor principal do luxuoso palácio. Respondeu sem a certeza:

— Em breve.

Parou frente a uma adornada porta dupla de madeira em meio ao corredor que se destacava pelas flâmulas penduradas por toda a parede com detalhes em dourado entre os enfeites de mármore e as lanternas de prata que emergiam delicadamente da superfície esbranquiçada.

— Não poderei fazer nada com isso pressionando o meu pescoço e impedindo a minha magia — protestou Garta.

— Em breve, eu disse. Não seja apressada. Venha, Índigo está esperando.

A guardiã abriu a porta com um sorriso satisfeito no rosto para revelar o escritório do imperador de Albores, agora escritório da imperatriz. O lugar era decorado por esculturas e pinturas nas paredes, ao fundo uma grande janela trazia a luz do dia que banhava uma poltrona luxuosa e uma mesa longa de cedro ao centro. Em ambos os lados da janela dois soldados com armaduras leves de placa prateadas faziam a guarda do local imóveis.

Lashir desfilou o seu vestido vermelho entre os dois sofás de couro branco que se contrapunham no centro da grande sala e rumou para a poltrona ao fundo evocando reverência do guardião encapuzado que a aguardava.

— Senhora — Índigo se levantou apressado do sofá e cumprimentou com a cabeça baixa respeitosamente sua líder. Esperou até que a imperatriz se ajeitasse em sua poltrona suntuosa para novamente levantar os olhos.

Garta parou em meio a sala, foi conduzida até então pela líder e, a partir dali, não sabia mais como se portar em uma situação tão glamurosa e requintada. Na verdade, até sabia, mas entendia como uma completa perda de tempo esses tipos de protocolos a ponto de se sentir enjoada com pessoas desse feitio. Se perguntou o que estava fazendo ali, mas logo teve sua atenção voltada às palavras de Lashir:

— O que você conseguiu? — perguntou a imperatriz cruzando as pernas de modo vaidoso frente ao brilho da janela que lhe intensificava a beleza.

—  Descobri que a guardiã de Tera não está mais em Tekai — respondeu o guardião de Véu com toda a estima possível.

— Me diga, índigo. Você acha que eu sou alguma idiota?

— Não, senhora, de modo algum...

— Acha que seu mundo está em boas mãos com Lux no seu comandando?

— Não, senhora.

— Acha que sua família já está satisfeita?

— N...

— Então porque está me fazendo de idiota?! — Lashir se levantou em uma explosão de raiva. Bateu ambas as palmas das mãos na superfície da mesa e disparou suas palavras furiosas fazendo-as ecoar pela sala. — Eu disse para encontrar a garota. Descobrir o seu paradeiro, e não descobrir onde ela não está.

— S-sim — respondeu o homem encapuzado após tremer suas pernas involuntariamente. — Mas entenda, eu lhe disse que preciso de um raio de atuação onde os corvos possam sentir a presença da magia e...

— Então a culpa é minha?! — esbravejou ela com os olhos fervendo.

— Não, eu não disse isso. Por favor, eu vou acha-la, só preciso de mais...

— Mais tempo!? Não ouse pedir mais tempo para mim!

A imperatriz levantou um dos punhos e o apertou com força para descontar sua raiva enquanto Índigo engolia seco sua falta de resposta.

—Tá bom, sabe de uma coisa? — Lashir balançou sua cabeça como se desistisse da conclusão fácil. — Vamos acelerar isso, se não, nunca vamos chegar em lugar algum — concluiu mais serena e em seguida apontou seus olhos para um dos soldados que faziam a guarda ao fundo da sala lhe dando uma ordem sútil.

O guarda acatou a ordem de imediato, começou a caminhar em direção à entrada da sala. Passou por Índigo, lhe trazendo receios inevitáveis e, em seguida, cruzou frente a Garta para então sair pela porta dupla gloriosa.

— Hã? — murmurou o guardião de Véu sem entender.

— Sabe, Garta — pronunciou-se Lashir novamente, dessa vez mais paciente. —, antes de acabarmos com a vida de Tera, precisamos encontrar a guardiã de Tera. Só ela poderá evitar que Tera use sua magia poderosa e fuja após você colocar abaixo aquela barreira. Mas você não pode nem imaginar como é difícil conseguir isso com incompetentes como esse mero guardião aqui. — Apontou para índigo que mais uma vez engoliu seco.

Garta manteve-se calada, uma sensação ruim, quase como um mal pressentimento, a envolveu se destacando em seus pensamentos.

— Primeiro, deixaram a garota fugir em Caiwa, numa tal mansão Buregar. — Lashir caminhou a passos lentos para dar a volta na mesa suntuosa. — Depois, deixaram-na escapar durante os tais exames para o ministério da Defesa. Todo aquele exame foi quase que exclusivamente para isso e, mesmo assim, falharam miseravelmente. — Mais passos morosos e a guardiã de Rubrum estava rondando a presença de Índigo. — E então, finalmente ela usou sua magia após tanto tempo e, mais uma vez, se foi, escapou.

As palavras eram para Garta, mas era óbvio a intenção meticulosa de afetar o caráter de Índigo. O homem se sentiu incomodado com as palavras serenas e, ao mesmo tempo, carregadas de veneno, tentou intervir educadamente:

— Senhora eu...

— Shh. — Lashir colocou a ponta de seu dedo sobre os lábios do guardião contrafeito mantendo-se serena: — Fica quietinho. — Como eu ia dizendo, Garta. Eu conto com você para conseguirmos realizar nossos objetivos juntas, mas se você me decepcionar, se falhar comigo, quero que saiba o que acontecerá.

A porta dupla foi aberta novamente e o guarda da armadura leve retornou, dessa vez acompanhado por uma garota que não passava dos doze anos de idade, possuía cabelos enrolados e seus olhos eram vendados por um pano preto grosso amarrado envolta de sua cabeça. Garta reconheceu de imediato, perdeu o chão ao perceber isso, sussurrou seus pensamentos com os olhos arregalados:

— O quê?...

Lashir continuou com as suas palavras ressoantes enquanto Garta e Índigo temiam o que viria:

— Conhecíamos o rosto, tínhamos os rastros e, mesmo assim, depois de uma semana, ainda não encontraram a guardiã de Tera. Você não me dá escolhas Índigo.

Lashir concluiu suas palavras ao tempo que o guarda e a garota vendada pararam frente a ela.

— Índigo, você está aí? — perguntou doce a garota ao ouvir o nome do homem, seu tom era nitidamente desconfortável e receoso.

— Sim, garotinha, não precisa ficar com medo eu estou aqui — respondeu o guardião acalentador para a pequena. — Você vai ficar bem, Iara.

Iara. O nome trouxe a certeza que Garta não queria. A pequena garota era, de fato, a filha dos Figos. “Merda” a palavra ressoou em sua cabeça.

Índigo se virou para a líder e sussurrou suplicante:

— Senhora, o que você está planejando?

— Vou mostrar para nossa mais nova companheira, que não estamos aqui de brincadeira. Falhar tem consequências.

— O que está acontecendo? — perguntou a criança confusa.

— Não é nada Iara, é só uma brincadeira — disse Índigo hesitando de forma a não perder a sutileza. Virou-se para a mulher de vermelho novamente e finalmente levantou seu tom: — Lashir, o que você está pensando...

— Veja, guardiã de Finn. — A imperatriz fez questão de cortar as palavras afoitas de Índigo e mirou seus olhos para Garta que se manteve calada sem saber como reagir a surpresa. Lashir continuou: — Veja essa pobre garota, ela foi salva por Índigo em meio à confusão da região Norte. Seus pais morreram, mas o bom coração desse solitário trouxe ela em segurança para cá. É claro que eu não me contrapus a isso, afinal, sou uma líder benevolente. Mas como eu disse, falhas geram consequências.

A mulher colocou sua mão direita no ombro esquerdo da pequena garota vendada que se manteve obediente o tempo todo. Índigo refutou, segurou o pulso da guardiã e a fez parar, anunciou sério:

— Eu não sei o que você está pensando, mas não vou deixar.

— Agora você parece mais animado, guardião de Véu. Queria ver essa animação para achar a guardiã de Tera.

— Não me venha com essa. Eu disse que não vou permitir que mais nenhuma criança sofra e...

— E o que vai fazer, paizão? Não basta ter visto todos os seus seis filhos serem queimados vivos, agora vai ver essa garota ter todo o seu sangue expelido pela boca.

— Lashir — fez-se ainda mais sério apertando o pulso da mulher —, não.

Garta não conseguia pensar em uma solução plena, não poderia fazer nada em uma situação daquelas. Não possuía sua magia devido ao colar de Sathsai ainda estar em seu pescoço e, depois de sentir o poder de Lashir revirar suas artérias, havia assimilado a sua posição fraca ali. Mas agora, tinha uma vida em jogo, a vida da garotinha que conhecia tão bem a ponto de já terem brincado juntas. Brincadeiras que faltaram na sua infância, mas que ficou feliz de tê-las junto com uma garota tão amável como Iara. Não sentia qualquer constrangimento, na verdade, se sentia orgulhosa de passar algum tempo com ela sempre que ia na casa abrigo levar roupas e ajudar os Figos com o básico.

Enquanto a guardiã de Finn não se decidia, a tensão entre os outros dois guardiões aumentava. Garta manteve-se calada vendo a discussão avançar ao ponto que percebeu a mão esquerda de Lashir em suas costas fazer um movimento incomum.

A mulher de vestido raspou sua unha afiada sobre palma da própria mão para lhe fazer um pequeno corte que se avermelhou de imediato. As gotas de sangue logo se acumularam para então escorrer pela pele macia. Em segundos, o sangue se misturou com a magia de Rubrum, o que era líquido se tornou sólido e o formato de uma pequena adaga vermelha brilhante na mão da líder insensata tomou vida. Agora armada, estava prestes a cometer algo irreversível.

 

Garta sabia que ela e, até mesmo Índigo, não poderiam parar aquilo. Se a insanidade da guardiã de Rubrum chegasse ao ponto de machucar a garota, o arrependimento de Garta consumiria sua própria vida em lamentos. Lashir se preparou para o movimento sem volta. Não querendo arriscar tudo e tendo sua última chance para isso, só restou uma alternativa para Garta:

— Espera!

Os outros dois guardiões pararam de imediato. Ambos miraram a guardiã de Finn, uma sem expectativas e o outro com o que restava de esperança.

— O que foi, Garta? — perguntou a mulher de vermelho com os olhos inquisitivos.

— Garta? — a criança repetiu o nome ao reconhece-lo. Se encheu de confiança em meio ao temor sem dizer mais.

A guardiã de Finn respirou fundo, desviou o olhar como se tentando explicar, justificar para si mesmo, o que estava prestes a fazer.

— O que foi? Fala de uma vez.

Garta voltou a encarar a líder ameaçadora, lembrou-se do que Colth disse no encontro que tiveram em seu sonho. Naquela ocasião ele estava a caminho da Capital em busca dela própria, se tivesse encontrado um mínimo indício de sua posição, sua localização era certa, e com isso a localização de Celina também seria. Tendo tudo perfeitamente organizado em mente, Garta firmou seu olhar sobre Lashir e disse certa de sua decisão:

— Talvez, eu saiba onde a guardiã de Tera esteja.



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