A Lenda do Destruidor Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 16: O que é certo e o que é fácil

O caos generalizado se espalhava nas ruas da cidade. Na praça do castelo, via-se vários ladinos, que lutavam contra bandidos, cujos corpos já se amontoavam. No sul do campo de batalha, alguns dos soldados dos Imperialistas enfrentavam a elite dos Aristocratas, porém o número absurdo começara a superar suas forças.

Ei, seu desgraçado! Não vai ajudar? O olhar de desgosto do bandido fora dirigido para Jack, que sorriu alguns instantes depois. Um dos inimigos tirou a cabeça daquele que gritara consigo. Selvagem como era, sacou a espada e cortou o assassino em dois, sem dar a oportunidade de sequer processar o que houve.

— Não… tô esperando uma presa diferente.

 

Minutos antes, no extremo sul, Ethan e Hector lutavam contra cada vez mais bandidos. O ladino fez uso da especialidade da classe e se escondeu enquanto eliminava as extremidades do campo de batalha.

O Samurai usava a Bento para avançar, cada golpe seguia uma continuação direta. Aqueles ataques eram selvagens e agressivos, mas com técnica quase impecável. — Patada leonina! Pêndulo inverso! Andorinha raivosa!

A cada golpe, dois ou três caiam no chão com cortes profundos. O mais impressionante para o ladino não era a força ou a incrível constituição que o rapaz demonstrava contra centenas de oponentes, mas sim o fato de que gritava o nome dos golpes.

Um Bandido se aproximou de Ethan pelas costas, mas teve a garganta cortada pela sombra que era Hector. Pulou alto e disparou diversas flechas mágicas, cada uma causara uma pequena explosão quando impactaram contra os alvos.

Você é uma criança? Pare de anunciar as técnicas! Em uma velocidade absurda, usou uma parede para tomar impulso e então cortou alguns que cercavam o amigo. Nisso, pulou ao ar e disparou mais projéteis.

Como se pudesse falar algo! — A espada Bento formou um arco horizontal, a força foi tamanha que o corte empurrou 5 dos bandidos, sendo 2 deles anões e um elfo. — Fica exclamando o diacho desse feitiço toda hora!

Avançou com uma estocada, acertou o alvo e, com um giro do punho, usou outra forma composta: Onda frontal. — É diferente! Magias precisam ser recitadas em voz alta e sabe disso! Para provar o que disse, recitou o encanto da Magicae Sagitta, o que limpou os adversários que Ethan não havia cortado com a técnica anterior.

— Sim, e minhas técnicas precisam que eu grite, ou vai sair fraco! — Nisso, outro grito ecoou na avenida, e mais corpos foram lançados longe. Olhou de relance para o Ladino enquanto se defendia de outros golpes. — Viu, falei pra tu!

Céus, agora ele começou a falar que nem um caipira…” Apontou a mão ao finalizar o encantamento, pulou após as flechas serem disparadas. Conforme os segundos se passavam, mais e mais inimigos eram derrotados, o que deixou o ladino confiante que podiam passar por isso.

O problema veio no momento em que atraíram a atenção de alguém perigoso. Ethan seguia avançando, quando teve que desviar de um porrete, cuja força afundou o chão. — Que diacho?! — Antes que pudesse contra-atacar, desviou de um punho enorme, além de ter que se afastar, ou seria acertado pelos bandidos.

Ao olhar para frente, entendeu o que houve. No caminho, um Trol de quase três metros, que olhava para si, enquanto os bandidos que sobreviveram pareciam aliviados. — Desviou. — A voz era lenta, quase como se o dono tivesse que processar o que dizia, o que apontou para o fato de que se tratava de um bárbaro. — Nível?

Não tive a oportunidade de medir ainda. — Avançou contra o bárbaro, que ergueu o porrete e tentou outro golpe, mas mediu mal a distância, o que permitiu que cortasse o peito do ser. Porém, a profundidade do ataque o decepcionou, pois não havia nem arrancado sangue direito.

Desviou de um pisão, enquanto cortava os bandidos ao redor. Viu a sombra acima de si, desviou para o lado. O porrete errou por pouco, o que fez com que o Trol parecesse confuso. Aproveitou disso e desferiu uma Andorinha Raivosa no rim do monstro, contudo a pele era dura ao ponto que não conseguira penetrar fundo o suficiente.

Ethan! Retrocedeu para não ser esmagado pelo porrete, olhou para Hector, que corria para o ajudar. Nisso, teve que tomar uma escolha importante, uma que decidiria o futuro de Lockust, por mais que não tivesse tempo para pensar nisso.

Vá em frente! — Desviou e desferiu outro corte, dessa vez no braço, contudo, assim como os outros, fora superficial. — Eles falaram sobre um ataque! Nessa direção, devem estar indo para o castelo. Vá lá e ajude o rei!

Não era idiota ao ponto de não ver o que estava acontecendo. Claro, o fato de terem que lutar agora era culpa sua e de sua desatenção e inocência, contudo, por alguma razão que não conseguia identificar, a mente limpava sempre que lutava.

Podia pensar melhor, tomar as decisões corretas e analisar com cuidado e exatidão o cenário, era como se pertencesse ao campo de batalha. Por isso, sabia bem que Hector era mais forte, visto que alcançara o Primeiro Céu, logo, seria mais inteligente deixar que fosse adiante.

Não sabia que tipo de adversários enfrentariam mais para frente, mas tinha certeza que não poderia fazer nada se Jack e Maximillian estivessem lá. Por ser alguém que enfrentava tudo de frente, não conseguiria derrotar alguém que despertou os Ciels e que lutava da mesma forma.

Teria de pensar, mas Jack não daria a si esse tempo.

Mas…

Vá logo!

Com o grito, o ladino se decidiu e pulou de telhado em telhado, os bandidos estavam para o perseguir, mas Ethan deu cabo da maioria com a Patada de Leão. O Trol olhava confuso para o rapaz, e ao entender o que acontecia, curvou a cabeça para o oponente.

Respeito…

Arregalara os olhos e sorriu, curvou a cabeça e pôs Bento numa posição de saque. — Agradecido. Bem, vamos começar! — Nisso, ambos foram um contra o outro, e para alcançar o objetivo, estavam preparados para morrer.

Corria em direção a Praça Central, o telhado fornecia um bom ponto de vantagem. Naquele percurso, não ousou olhar para trás, pois sabia que, se o fizesse, voltaria para ajudar aquele rapaz, um que conheceu não fazia nem uma semana, mas que já considerava como um companheiro.

Nisso, mordeu os lábios em clara frustração, mas logo soltou um suspiro. Olhou para a avenida abaixo, onde a luta começara, com emoções conflitantes. “Eu sou… um fraco.” Nisso, voltou a correr em direção do castelo. “Não era aqui que eu queria estar, merda! Eu quero voltar e ajudar Ethan…”

Riu da própria desgraça. Como podia ele, um assassino, apegar-se tão rápido aqueles a sua volta? Soltou um suspiro cansado, visto que não chegara a resposta alguma. “Estou dividido entre Ethan e Alvaro…Parou e voltou os olhos para trás. “Minha irmã… o que eu faço?”

Nisso, uma memória lhe veio a mente. Uma que vinha de dias mais calmos e tranquilos, mas que eram efêmeros. Estava correndo pelo jardim de casa, carregava uma boneca de pano consigo, e então achou ela.

Irmã! — Não tinha mais de seis anos, por isso, quando se jogou para frente, a garota, que devia ter 14, logo o agarrou, um sorriso afetivo nos lábios. Abraçaram-se juntos por alguns segundos, a mais velha largou o mais novo, que então viu o livro que estava lendo. — Que livro é esse?

Isso? É apenas uma história boba. — Estava para entrar em detalhes, mas parou de repente. — Hector? Que boneca é essa?

O garoto sorriu orgulhoso. — Gostou? Eu usei a mesada que papai me deu para comprar para você!

É bela. — Pegou-a, admirou-a por alguns segundos enquanto estudava cada detalhe. — Comprou de quem?

De um camponês… mas, por alguma razão, tinha uma menina bem chata gritando ali, dizendo para não vender… — Olhou para o chão, confuso, a mais velha dos dois arregalou os olhos e se levantou bruscamente. Irmã?

Me leve até ela!

Mas… por quê?

Hector, essa boneca provavelmente foi roubada por um adulto! Não devemos comprar coisas que o dono original não quer vender!

Mas… mas você não gostou?

A garota suspirou e sorriu, com certa tristeza e cansaço. — Não é essa a questão, Hector. — Virou-se e continuou andando, enquanto puxava a mão do irmão. — Nós devemos fazer o que é certo, não o que é fácil.

Nisso, voltou ao presente. Olhou para trás, com culpa clara nos olhos.

O fácil seria voltar e ajudar aquele que se tornou um de seus únicos amigos, mas o certo é ir ao centro da batalha e ajudar as milhares de vidas que estavam lá.

De volta ao lugar em que Ethan e os bandidos lutavam, colocaram o rapaz na defensiva. Com o Trol no combate, para sua raiva, não conseguiu partir para o combate.

Tinha que desviar de golpes, contra-atacar e cuidar para não ser acertado por outros ataques a distância.

Cortou o lado de um bandido e pulou para fora da área de uma corrente, cuja foice quase lhe tirara a cabeça.

Teve que desviar de uma estocada, usou a Bento para mandar a lança para longe e fez um corte no peito do adversário.

Girou os pés para desviar de uma Maça, a lâmina cortou a garganta do bandido. Levantou a lâmina acima da cabeça, o que parou a corrente com foice.

O Trol pareceu cansar de esperar e avançou contra si. Por sorte, o monstro era ridiculamente lento. Preparou-se e desviou com facilidade, saiu do alcance do Trol e foi contra os inimigos a distância.

Patada Leonina!

Para o seu espanto, um dos bandidos parou a Bento com uma espada, semelhante, porém com a Aura dos Ciels ao redor.

“Merda…” Afastou-se e voltou a uma postura defensiva.

Qual o problema? Tá com medinho? — Foi pressionado pelos cortes do bandido, que ficaram muito mais rápidos e perigosos.

A essa altura do campeonato, acho que temos que usar. — Ethan engoliu em seco ao ouvir essas palavras, entendeu o que aconteceria a seguir e temeu pela própria vida.

Todos que ali estavam despertaram o primeiro Céu e não se segurariam mais.

Desviou de mais e mais ataques, que estavam mais rápidos e pesados. Não tinha a oportunidade de cortar o oponente, visto que o trabalho de equipe dos Bandidos aumentou e muito.

A cada golpe do espadachim, tinha que desviar da corrente, das flechas e de lanceiros. Se continuasse assim, não chegaria a praça.

Não conseguiria realizar seus sonhos.

Tentou cortá-lo de novo, e de novo, sem dar a Ethan a chance de contra-atacar. O rapaz viu a foice com corrente vir contra si, girou os pés e foi para trás do espadachim.

A Bento não foi rápida o suficiente no contra-ataque. O oponente conseguiu defender o ataque e seguiu com um próprio.

Por mais que tenha saído do alcance, ainda sentiu a lâmina no peito. “Foi por pouco…” O seu casaco foi rasgado.

Defletiu algumas flechas e desviou da foice, pulou para frente e tentou outro ataque. O oponente foi mais rápido, forçou a Bento para longe e o deixou aberto para um golpe.

A sorte de Ethan foi que não estava firmado no chão.

A força do golpe o fez voar, mas não deu tempo do oponente causar mais ferimentos em si.

Suspirou e correu para frente, não poderia ficar parado.

O oponente estava para defletir o ataque quando foi surpreendido com um excelente trabalho de pés e um giro, antes que entendesse o que aconteceu, a lâmina do rapaz já havia cortado a jugular.

Caira no chão e engasgou no próprio sangue.

Olharam surpresos e se surpreenderam com a intensidade nos seus olhos. — Por que ele não cai? — O usuário das correntes se perguntou enquanto o via desviar das flechas.

O Trol da montanha cansou de aguardar e decidiu entrar na briga. Com seu porrete, ignorou as flechas, que não tiveram impacto na pele, e tentou esmagar o rapaz.

Ethan desviou e tentou cortar o lado, mas não conseguiu nem um risco. O inimigo mais preocupante liberou o primeiro Ciel.

Foi lançado para trás e desviou de uma lança, cortou o estômago do lanceiro e seguiu para o próximo alvo.

Viu um espadachim próximo a si e sorriu. Pegou a lança daquele que acabou de matar e usou o alcance para perfurar o peito.

Ouviu o som da corrente e usou a espada para bloquear o golpe. Pulou para a direita e cortou mais adversários.

“Merda… a pele deles tá mais difícil de cortar!” Notou que os braços já começavam a dar sinais de fatiga. Sabia que tinha que fazer algo, mas a resposta não vinha.

Sentiu-se frustrado.

Várias lanças foram contra si. Bloqueou umas, desviou de outras, mas alguns cortes começaram a aparecer na roupa escura.

Saltou para trás quando um golpe chegou perto de acertar um órgão vital. “Diacho, esse rebosteio não tá indo pra lugar algum!”

Avançou em direção ao Trol.

 

Longe dali, fora dos limites da cidade, o elfo conhecido como “Vento Leve” olhava para o porto de Iron Lake, que se fazia cada vez mais distante.

O barco em que estava era um reservado apenas para os Elfos, algo que apreciava. Há alguns dias, tudo ia bem com a missão que recebera.

“Espione e reporte todos os movimentos da ceita de Faraster.” Uma tarefa simples, que fora arruinada com a adição de apenas um indivíduo.

Alein. — A voz atrás de si era uma que conhecia a tempos.

Meu senhor. — Com rapidez e elegância, prostrou-se em silêncio. — Consegui novas informações…

Ótimo. — Tinha um tom seco, desapontado. — Mas isso não explica o porquê de você voltar. Diga-me, o que te forçou a desistir de sua missão?

O elfo engoliu em seco, levantou-se e se aproximou de seu lorde. — Meu senhor, acho que esse não é o melhor lugar para conversarmos sobre isso…

Arqueou uma sobrancelha com a urgência na voz do subordinado, que começara a andar em direção a uma sala oculta, onde não seriam espionados.

Não discutiu, mas também não nutriu grandes expectativas.

A maioria dos passageiros eram membros da Ceita de Alvelius, sua Ceita. Era claro que conseguiriam guardar segredos, logo, pensou que Alein apenas quisesse se salvar da humilhação.

Entraram numa pequena sala, Alein desenhou várias runas de segurança e sigilo. O nobre arqueou uma sobrancelha com isso. — O que você tem a me contar que precisa de tanta segurança?

O elfo ficou alguns segundos quieto, pensava em como contar aquilo da melhor forma possível, mas não achou nenhuma, então decidiu ir direto ao ponto. — O Destruidor reencarnou.


Bem, sinto muito pela demora. Aconteceram diversas coisas que me forçaram a distribuir minha atenção a outros projetos. 

 

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