A Lenda do Destruidor Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 17: O Prelúdio de algo incrível

No centro da batalha, Alvaro olhava para Sigma com raiva e tristeza. Ao redor de si, runas brilhavam num amarelo opaco.

Estava preso.

— Bem, o que acha do meu Esquema Rúnico, Rei dos Ladrões? — Conforme o brilho aumentava, o sorriso se alargava numa clara demonstração de arrogância e ódio.

O governante arfava, exausto só por estar de pé. Aquilo era esperado, mas surpreendente. Se fosse alguém comum, já teria virado pó instantaneamente.

Era uma prova do poder do monarca. — Impressionante… uma armadilha que devora a energia e a usa para esmagar a presa… Runas sempre foram sua matéria favorita, Maximillian.

Estalou a língua com certa irritação. — Não fale meu nome como se fossemos amigos. Nunca fomos! — Sorriu com a expressão de espanto do rei. — Por favor, acha mesmo que um Fauxster poderia ser amigo de um Heliosville? Depois do que sua família fez?

— Meu avô sufocou uma rebelião violenta! Que destruiria Locust e traria Gália junto!

— Mentiras! — A máscara de ódio assustou o monarca, que ficou calado. — Você diz que a rebelião foi violenta, mas nunca se perguntou o porquê dela acontecer? Qual o motivo de meu avô odiar a coroa?

A expressão confusa de Alvaro foi a única resposta que recebeu. — Pois bem. É hora de te contar uma história, uma bem antiga, que começou com o começo da Guilda e que perdura até hoje…

Naquele tempo, havia quatro assassinos, poderosos o suficiente para amedrontar os Reis e Imperadores que guerreavam por mais terra. Numa época onde não havia o Regime da OPML, os senhores lutavam por migalhas.

Com a ameaça de seres sombrios, governados por um Imperador que reinava sob um Branco falso, dez nobres viram a necessidade de se unir, unificar o mundo, mas haviam vários obstáculos para isso.

Enquanto os quatro assassinos se aliaram aos Nobres, o Imperador do Falso Branco, assim como o Destruidor de Mundos tinham seus próprios interesses.

Logo, uma guerra eclodiu entre o Destruidor de Mundos e as forças dos seres sombrios. Aquela maldita batalha acabou com a vitória do Destruidor. Porém, os nobres ficaram sabendo do evento, e antes que perdessem a chance, deram a missão de matar o sobrevivente daquele conflito aos quatro melhores assassinos.

Na hora mais escura que o mundo enfrentara, em muito tempo, a falsa luz caiu junto ao profeta blasfemo. O Destruidor venceu e, mesmo cansado e ferido, teve de enfrentar os quatro assassinos.

A vitória foi dos Assassinos.

Contudo, diferente do que os nobres achavam, os assassinos recusaram o pagamento. Invés de riquezas, pediram a permissão de criar uma guilda de assassinos.

Por mil anos, a Guilda prosperou. Nesse meio-tempo, os assassinos deixaram seus descendentes pelo mundo.

Cinquenta anos atrás, Rajah Heliosville e Macmillian Fauxster se tornaram assassinos… mas, foi apenas quando seu filho estava para começar a servir o Rei dos Ladrões da época que a verdade apareceu.

Furioso, o avô de Maximillian confrontou o seu tio, bisavô de Alvaro. O velho já estava no final de sua vida, mas queria manter o poder que tinha, por isso, confiou aquele segredo ao filho, que também era ambicioso.

Vendo a ameaça que o clã Fauxster era, aquele homem criou a dinastia de Heliosville e tomou um trono que não lhe pertencia para si.

— E? O que era esse segredo?

— Sabe, o quarto assassino, Strada… ele queria que houvessem 4 tronos, cada um para um dos descendentes diretos dos fundadores, uma ideia que todos rejeitaram… — Apertou fundo as mãos, olhou nos olhos de Alvaro e relaxou.

Levou a mão até a base do pescoço, onde havia uma pequena verruga. Aquela era uma conhecida marca de nascença dos Fauxster.

A verdade, porém, era bem mais interessante.

— A marca que temos em nossos pescoços não é apenas isso. Sabe, é incrível o que Strada conseguiu fazer naquele tempo no que tangia a esquemas rúnicos… letras tão pequenas que mal dá para notar.

Pressionou fundo a verruga e deixou a energia interna fluir nos dedos. Naquele momento, a aparência do humano começou a mudar.

A pele assumiu um tom roxo, os dentes se tornaram mais afiados, as unhas viraram garras. Além disso, havia o cheiro de enxofre e os olhos vermelhos. — O quê?

— Meu nome é Maximillian Fauxster, da casa Fauxster… uma orgulhosa família que concebeu vários assassinos, inclusive o mais poderoso de todos… Strada, o Infernal de coração puro.

 

Jack olhou para a situação no centro da praça com certa surpresa. Tudo fazia sentido agora. Desde o perigo que sentia de Sigma até as motivações dele, todas as peças se encaixaram.

Mas, ainda havia algo o incomodando. Algo que ainda não fora explicado, e que poderia mudar por completo o destino dessa guerra. “Por que o Rei não sabe sobre isso? Quer dizer, os pais não deviam ao menos contar para ele?”

Cortou outro inimigo ao meio, defletiu um golpe e separou a cabeça do inimigo do corpo. Normalmente, não pararia para olhar os olhos daqueles que corta, contudo, sentiu um arrepio na base do pescoço.

Viu o reflexo de duas facas indo contra si e, imediatamente, girou o corpo e pôs o braço como escudo, a armadura defletiu o ataque do Ladino.

— Merda! — Afastou-se da enorme espada, que quase o decapitou.

— Olha só, é o amigo do Ethan. — Sorriu com a raiva clara no rosto de Hector, que avançou contra si em uma grande velocidade. — Me diz… — Defendeu-se dos cortes e contra-atacou com um soco no estômago. — Como foi o enterro?

— Maldito! — Avançou, as lâminas chocaram com a imensa espada. Já havia ativado o primeiro Ciel antes mesmo de tentar o ataque, mas aquela… coisa conseguia defletir os ataques sem o menor dos problemas.

Aquilo era frustrante. Nenhum ataque conectava, por mais que a velocidade em que atacava era muito maior do que a do adversário, era clara a facilidade que Jack tinha para defletir cada ataque.

Foi lançado para longe, onde teve que desviar de uma espadada de um soldado inimigo. Chutou o chão e usou toda a força que conseguiu juntar num único ataque.

Assim que viu o que Hector tentava fazer, avançou e pulou, de forma a desviar do golpe. Num show impressionante de atletismo, virou-se e deu um forte soco no rosto do oponente, que saiu voando.

O assassino impactou contra uma parede, sentiu o gosto de sangue tocar na língua. “Merda… não… consigo me… levantar…” Naquele momento, a consciência do ladino começava a fugir.

Foi naquele momento que se lembrou de Ethan, de como estava disposto a se sacrificar pelos outros.

Aquele gesto nobre, vindo de alguém que já o cativara, forçou a lembrar-se do que fizera até ali, de como agiu apenas por interesses particulares, sempre pela própria satisfação.

Levantou-se.

— Então ainda consegue lutar? Não achei que fosse tão resistente…

Naquela situação, não pôde evitar o riso. O Guerreiro notou isso, mas não importava. Aquilo era engraçado demais para Hector.

Não conseguia respirar direito, mal podia ficar de pé e sentia que, assim que fechasse os olhos, perderia a consciência… mas aquele homem ainda assim o achava resistente.

Era absurdo.

Levantou as adagas e deixou a Aura fluir nelas. Não podia fraquejar agora, não nesse momento em que o futuro do povo de Locust dependia de gente como ele. Correu em direção à Jack, que levantou a espada imensa sobre a cabeça.

Assim que levou a arma para baixo, Hector pulou para a direita e mudou a trajetória do ataque, que o lançou longe.

— Ficou mais rápido… — A expressão no rosto se tornou excitada. Não esperava que houvesse alguém que conseguisse fugir do seu olhar, ainda mais quando a pessoa em questão repetia o mesmo feito.

Levantou a imensa espada para cima, a velocidade do assassino ainda o surpreendia, mas agora conseguia o acompanhar mais facilmente.

Assim que viu o ataque ser defendido, pôs os dois pés na imensa espada e pulou para cima. — Mire em meus inimigos e acerte-os!

— Apareça e seja meu escudo!

As flechas mágicas impactaram contra o orbe protetor, que se manteve firme até Hector estar a alguns pés do chão. Foi nesse momento que a magia se dissipou e o conjurador correu em direção ao assassino.

Quase não teve tempo de aterrizar antes de pôr as adagas à frente do peito. Faíscas voaram da estocada, mas conseguiu estabelecer o equilíbrio e forçar o avanço. O Metal Fae se chocou com o imenso Bloco de Aço Temperado, ambos mostravam grande domínio sobre os próprios estilos.

Os movimentos atraíram a atenção dos combatentes vizinhos, que olhavam impressionados para as acrobacias de Hector, assim como os reflexos de Jack.

Enquanto as manobras do assassino forçavam o oponente a manter a defensiva, contudo, a forma como o Guerreiro usava dos pulsos e punhos para girar a imensa espada fazia com que forçasse o outro em posições específicas.

Apenas um deslize e a morte viria.

“Merda… esse cara não cansa nunca!” Já começara a arfar. Todos os ataques que lançava eram defletidos, além de sua posição ser controlada pelo adversário.

— Qual o problema? Parece cansado?

Suprimiu um grunhido de irritação. Aquele monstro nem ao menos derramava suor, algo que só serviu de incomodação e incentivo na luta. Correu em direção ao guerreiro, que avançou contra si.

— Morra! — Um grito desesperado chamou a atenção de Hector, que foi forçado a defletir uma estocada dum soldado inimigo.

O desespero cresceu ao notar a sombra de Jack sobre si. Não estava em posição de defender… não podia sequer desviar! Aquele último golpe lhe tirou o equilíbrio.

Só podia aguardar a morte.

Fechou os olhos com clara frustração. Tinha tantas coisas que queria fazer, mas tudo foi estragado por conta de um descuido. Mesmo assim, sorriu.

Tinha feito algo de bom com essa vida.

 

— Merda… Merda!

A situação de Ethan era precária. Os oponentes não diminuíam de número, estavam com uma moral elevada e começaram a coordenar os ataques.

Estava cansado e machucado. Não teve a oportunidade de atacar sem sofrer uma retalhação, algo que o irritou profundamente. Contudo, o mais frustrante para si era o fato de que o Trol perdeu por completo o interesse em si.

Era humilhante.

Cortou um dos oponentes e desviou para longe da lança, que marcou outro ferimento em si. Nisso, pulou e cravou a espada no ombro do adversário. A força foi tamanha que acabou deslocando o osso de lugar.

Puxou a lâmina para cima e bloqueou a foice com corrente. Em seguida, pulou em direção de outro adversário, que redirecionou o ataque com um escudo. Desviou para longe do Gancho que vinha em sua direção, o que o pôs na direção de algumas flechas.

Guh! — Ethan sentiu as costas serem perfuradas, mas não parou. Desviou de outra foice, defletiu uma estocada e desviou de um corte.

Estagnar era morrer.

Continuou a lutar. A frustração e dor cresciam com os ferimentos que se acumulavam. A cada segundo, sentia-se mais tonto. Não conseguia pensar direito, visto que não tinha tempo para tal, mas…

Sempre que cortava alguém, o ritmo dos batimentos aumentava. Cortou mais um, o jato de sangue mascarou o sorriso selvagem. Não sabia o porquê, mas nunca se sentira tão vivo assim!

Era estase puro.

Cortou outro e outro. Deixou-se levar pela emoção, algo que enfim chamara a atenção do Trol, que pareceu notar a expressão que adornava a face.

— Por que sorri?

O jovem soltou uma risada, algo que confundiu os bandidos. — Estou fazendo o que eu amo… e me divirto enquanto isso… — Olhou para o Trol, que começou a andar até si com o porrete pronto. — Por que não sorriria?

Avançou contra o monstro, que balançou a arma contra si.

Com um salto, desviou do golpe e correu sobre a superfície de madeira até estar cara a cara com o imenso ser. Estava para cortar os olhos do Trol, porém sentiu o Porrete levantar. Foi lançado para longe, mas conseguiu tirar um olho do monstro.

Gahh! — Pôs a mão sobre o buraco esquerdo, que jorrava sangue.

O jovem usou da oportunidade no ar para dar uma olhada no campo de batalha. Mais Bandidos estavam vindo.

Usou de sua posição para aterrizar no meio dos que estavam vindo, nenhum deles ativou o primeiro Ciel, algo que se arrependeram imediatamente. — Patada Leonina!

Vários saíram voando, outros foram cortados, e alguns conseguiram contra-atacar. As lanças cravaram na carne, mas não se importou.

Podia cortar a madeira facilmente.

Com um balanço da espada, viu-se livre da prisão e se moveu para longe, mas não sem antes pegar uma das lanças do chão e a usar para manter os Bandidos longe.

Mesmo só usando uma mão, mostrava maestria sobre a arma. Agradeceu mentalmente a Ittai e a forma como o fizera praticar um estilo que lutava com um arsenal.

Improvisar com uma lança era fácil para um praticante da Foice da Doninha.

Cravou a arma no peito de um e cortou o pescoço de outro. Abandonou a lança para roubar a espada do que acabara de matar.

Ficou irritado ao notar que não conseguiria usar duas espadas com facilidade, visto que não era ambidestro, mas podia facilmente usar de sua força para passar por esse obstáculo.

Bloqueou a Corrente com foice e usou da lâmina que roubou para prender as duas no chão. Pulou sobre a corrente e avançou em direção ao grupo mais antigo. — Pêndulo Inverso! — O oponente desviou e tirou uma Faca da cintura.

Não teve tempo de analisar a arma, visto que precisou desviar de mais golpes. A cada ataque, mais sangue se acumulava no chão.

Avançou para fora do círculo que se formava e voltou para a posição inicial. “Por que ele não cai?” O usuário da Foice se perguntou, não conseguia entender como alguém podia ignorar todos aqueles ferimentos.

O garoto desviou de mais flechas e então de um golpe do Trol. Imediatamente, desviou de uma faca, que quase lhe arrancara um dos olhos. — Merda! — O Porrete impactou no seu peito e o lançou contra uma das casas, que desmoronou com o impacto.

“Merda… merda!” O peso dos destroços sobre si o impedia de respirar direito. Sentia o gosto do sangue na boca e a consciência estava cada vez mais distante. Não podia ser derrotado ali.

Não queria isso!

Queria vencer, queria tornar-se um Mármore, queria ser livre… Mas como faria isso se mal podia se levantar? Mal conseguia pensar direito, tanto mais se mover.

A morte estava cada vez mais perto. Ouvia a voz de seu mestre, ordenava que se levantasse, que seguisse em frente.

Uma voz apagada.

Imaginou os seus compatriotas, a forma como o olhavam, não com ódio, mas sim com decepção. Aquilo era horrível! Sentia o coração ser dilacerado ao olhar para aqueles rostos.

Os irmãos que perdeu, os pais e vizinhos… seu avô… todos mostravam decepção.

Os rostos nublados.

Enfim, quando estava para morrer… sentiu aquilo de novo. Estava mais forte, maior e mais feroz. Não sabia o porquê, mas sentiu a familiaridade daquele sentimento o envolver. Sentiu o poder que aquilo lhe dava o preencher.

O vazio era sua força.

Sou aquele que… anuncia o prelúdio do fim!”



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