A Mansão de Alamut Brasileira

Autor(a): Safe_Project


Volume 2 – Arco 5: Laboratório

Capítulo 44: Somente um Ex-Pecador

A figura loira de Alex surgiu diante de seus olhos e repentinamente, cegando-o com aquela placa dourada na cabeça que gerava uma reflexão total da luz das lâmpadas.

— Não saia por aí dessa forma, Jonas!! — Agarrou o braço do referido e arrastou-o para fora da sala. — Vamos! Temos que continuar a exploração, mesmo que só tenha um lugar pra gente ir.

Hector não teve tempo nem de se defender, Alex fez o trabalho sozinho. Não houve quaisquer questionamentos por parte do líder acerca da razão de estar naquela sala, muito menos como havia chegado ali.

Na verdade, como ELE descobriu sua localização!? 17° Sessão, um lugar nas profundezas do inferno!! Tudo que bem que a sala de segurança deveria ter… bem, segurança! Mas ainda assim, a dúvida implantada na cabeça do detetive não deixaria de existir tão cedo.

“Essa… será que é outro efeito da minha habilidade nova?!”, ponderou, sequer vendo para onde estava sendo levado.

Quando menos percebeu, estava novamente no elevador e, sem tempo para reagir, deixou Alex apertar o botão que os levaria para a 9° Sessão.

A musiquinha de elevador invadiu seus ouvidos novamente, e entre os saltos a cada ponto que era conectado dentro de sua cabeça, a voz de Alex penetrava seus ouvidos forçadamente.

— Cara~, as pesquisas estavam indo meio mal sabe, espero que as coisas melhorem dentro dos próximos meses, acho que eu não aguentaria ficar vigiando toda essa galera por mais do que um ano. É, acho que devo pensar na minha aposentadoria…

Hector colocou tampões invisíveis, mas fora incapaz de ignorar as várias palavras que o líder jogava ao ar.

“Do que esse maluco tá falando? Foda-se sua aposentadoria, fale algo mais interessante!”

Uma exigência bem alta, era como se o sequestrador quisesse que a vítima lhe entretesse enquanto os policiais não chegavam na cena do crime. Se quisesse algo direto, deveria buscar com suas próprias mãos, no caso, argumentos!

— O que exatamente está na 9° Sessão? — perguntou, fitando o líder com curiosidade.

Quem fosse capaz de ler a mente do cartola provavelmente ficaria impressionado com o qual opostas eram suas personalidades física e mental (Não, com certeza ficaria chocada!!). Felizmente, Alex não era uma dessas pessoas.

O Líder fez uma rápida explicação. Tratava-se do andar onde ficavam os relatórios gerais da enorme instalação, além de ser onde ocorriam testes com algumas substâncias cujo índice de periculosidade era reduzido, apesar de que era difícil considerar o que seria “reduzido” para alguém com um Fator B.

E aquela palavra lembrou o detetive. A habilidade! — Ale…! Senhor… Alex!

Apenas Alex! Ele respondeu, sorridente.

— A-Alex… Sobre o Fator B, você possui um?

? O loiro ergueu a cabeça, levemente atordoado. Mas, com um sorriso rapidamente instalado no rosto, respondeu: — Sim, não apenas eu, como a maioria daqueles que trabalham aqui.

A maioria?!?! Lutou para que o pensamento não escapasse pela boca na forma de um grito desesperado. Quantas pessoas estavam trabalhando ali mesmo?? Se naquela área enorme devia ter pelo menos algumas centenas, então seria como se houvesse uma cidade inteira de Melissas naquele laboratório!!

Notando o medo instaurado sobre o rapaz, Alex advertiu: — Mas bem, devemos lembrar que um Fator B poderoso é algo bem relativo. Mesmo uma habilidade aparentemente fútil, se usada pela pessoa certa, pode gerar resultados inimagináveis. Temos vários exemplos disso na própria História.

Exemplos, né? Sua incapacidade de lembrar de algum trouxe um curto incômodo, esse que foi quebrado novamente pelo loiro.

— A 9° Sessão, no entanto, possui alguns testes que tentam tornar essa coisa de Fator B em algo como uma “tecnologia antiga”. Acredito que você saiba o que são os Amuletos do Poder, não é mesmo?

— Ah!! Se-sei mais ou menos. Se importa de falar mais sobre eles?

Um sorriso brotou no rosto de Alex e seus olhos brilharam mais intensamente.

— Sabe, a descoberta sobre a existência desses objetos foi revolucionária. Atualmente estamos investigando uma área com alto índice de radioatividade em Santa Cruz. Além disso, em 50 Estrelas, relatos dizem que uma criança tem invadido o quarto das pessoas de sua cidade através da porta de seus closets. Falando assim parece até um bicho papão, né? Kahaha!

— E isso seria por causa dos Amuletos? Quais seriam, exatamente? Seria tudo por causa do Amuleto das Formas?…!!

A última pergunta arrombou as paredes de sua boca, inevitavelmente atraindo o olhar surpreso do líder. Seu conhecimento sobre os Amuletos não era baixo, afinal de contas.

Ele logo questionou Hector (no caso, Jonas) sobre essa informação. Como havia adquirido-a? Reafirmando que tal coisa só deveria ser sabida após a devida apresentação e iniciação dentro da FESOL.

Hesitante, o detetive fez algumas emendas em sua oração seguinte.

— Eu descobri com a ajuda de alguns colegas. Sabe como é, né? Estava ansioso para pesquisar sobre esses itens.

O suor frio escorreu por seu rosto, mas Alex não pareceu notá-lo. A troca de olhares durou alguns segundos, e talvez persistisse se o elevador não tivesse encerrado seu movimento.

— Ata, pô! Tá de boa, então. Eu até te entendo, não tem como segurar sua curiosidade com coisas tão interessantes pra pesquisar.

“Como esse cara se tornou líder?” Uma dúvida justa, mas que deveria permanecer apenas em sua mente.

A porta então se abriu, e mais do mesmo tipo de cenário preencheu todo o alcance do olhar do detetive. A diferença para o resto das sessões era simples, este andar se consistia numa linha reta.

À direita e à esquerda, portas de metal se colocavam presentes, cada uma com uma placa logo acima indicando o conteúdo que poderia ser encontrado ao abri-la. No entanto, entre todas elas, Alex apontou para aquela no final do longo corredor. Nisso, a caminhada até lá começou.

Seus passos ecoavam livres por todo o lugar, e nenhum outro som poderia impedir seus caminhos. Um olhar, entretanto, era capaz de selar a vontade de Hector de sair correndo e abrir as outras portas.

— Está com medo? — perguntou Alex. — Não se preocupe, esse é um dos poucos andares onde não guardamos espécimes vivos, digo, não os perigosos.

Hector engoliu seco, vislumbrando uma das placas que passavam ao lado. Relatório Externo; Interno. Conjuração. Área de Máscaras. Uma mistura curiosa entre termos científicos, tecnológicos, administrativos e místicos. O corredor inteiro se resumia nisso.

Alex adicionou: — Não sei se notou, mas aqui não existem aquelas fissuras nas paredes. Isso é por causa do conflito que aconteceu entre a energia que passava por elas com a que nós temos aqui.

Energia? A pergunta foi rápida, e a resposta equivalente.

— Nós utilizamos um sistema que utiliza uma substância chamada EPC para imbuir todo o laboratório numa densa atmosfera. Ela serve para afastar coisas indesejadas e conter aquelas que já estão aqui. Claro, tem várias outras utilidades.

EPC! Não lembrava exatamente o significado da sigla, mas ainda sabia o que era. Óbvio, não tardou para perguntar sobre aquela substância laboratorial. E, também esperado, Alex pareceu feliz em responder.

— É uma energia bastante útil, pois é renovável. Recentemente descobrimos que pessoas com um Fator B estão constantemente “exalando” EPC em forma gasosa. Não é prejudicial aos civis, e ainda pode ser coletada com as técnicas certas. Tudo que você precisa é ter um ponto de coleta perto desses indivíduos e pronto, começará a acumular EPC instantaneamente.

— Hum~… E-entendi.

Não era a explicação que esperava, na verdade, foi bem menos que almejava. Porém, agora que havia tocado naquele assunto, não o deixaria escapar tão cedo.

— Mas então, qual era mesmo o motivo de aqui não ter as fissuras? Você disse que entrou em conflito com outra energia?

Pela primeira vez, Alex hesitou. Sua atenção passeou não pelas portas, mas por todo e qualquer canto que estivesse em seu campo de visão. Analítico e preciso, sua procura demorou tanto que, quando menos percebeu, já estava abrindo aquela porta que apontara anteriormente.

O empurrar do metal revelou algo que inicialmente parecia uma curta extensão do corredor, mas que logo pôde ser reconhecida como uma pequena sala. A parede à direita se estreitou, agora rente com a porta. Por outro lado, a esquerda se afastou um pouco mais, tendo uma parte sua destacada por ser de vidro.

— O EPC, por algum motivo, foi “anulado” pela energia que exalava da coisa que temos aqui.

Hector procurou, e não havia uma placa indicando o que exatamente estava ali. Com isso, o único jeito de descobrir era caminhando até o painel de vidro e olhando por si mesmo. Enquanto o fazia, Alex continuou falando.

— Pode parecer estranho, mas nós temos algumas teorias. Para que o EPC fosse anulado, teria de existir uma fonte que exalasse uma quantidade inimaginável dessa mesma energia. Quando as fissuras existiam aqui, era bem comum os relatos de funcionários que passavam por um evento que chamamos de Clonagem Ilusória.

Depois do vidro havia uma sala tão branca que a noção de profundidade se perdia quase que completamente. Fora difícil encarar nos primeiros segundos, mas logo que o olhar de Hector se acostumou, pôde finalmente enxergar a única coisa destoante naquele ambiente vazio.

— Outros efeitos também foram reportados, e depois de uma investigação, descobrimos que aqueles eram os mesmo efeitos enfrentados pelas pessoas que sobreviveram ao encontro com essa figura que você está vendo.

Uma pessoa? Não, de humano aquilo só tinha sua própria silhueta. A sensação que transmitia era mais que poderosa, não havia exatamente perigo como no EPC que passava pelas fissuras, e era essa falta que mostrava seu verdadeiro potencial. Uma calamidade capaz de se disfarçar de monstro em meio aos predadores de uma selva.

Seu corpo inteiro estava repleto de rachaduras, revelando o trabalho minucioso e exaustivo daqueles que ousaram tocar nas lascas para uni-las novamente. Encarar sua pele secou a garganta do detetive, que sentiu gosto metálico ao engolir saliva. Uma dor hemorrágica atingiu pontos cruciais de seu corpo ao fitar a mão direita, que se fechava num punho pendendo um pouco abaixo da cintura. A mão esquerda se erguia na altura da cabeça, segurando o completo vazio. A face, por fim, mirava aquele depois do vidro.

— Nós a chamados de Anjo Caído, nada menos que um nome novo para aquilo que sobrou da criatura que residia na…

— Mansão de Alamut — completou, sem tirar os olhos da estátua. — Eu tive contato o suficiente com o caso pra saber o que é essa coisa. Mas me diga, por que uma coisa dessas está aqui?

Era uma pergunta que obviamente seria feita. Alex já aguardava, mas seu semblante pensativo demorou a desaparecer do rosto, havia ali uma mescla de confusão e ansiedade, logo dissipada pela compreensão.

— Devo dizer, Jonas, que acabei descobrindo algumas coisas sobre o tão famigerado Caso Alamut. — Aproximou-se e sussurrou para o rapaz. — Você consegue manter segredo?

Oficialmente, não, mas na frente do líder, a resposta não poderia ser outra senão um grandioso e confiante “Sim!”.

Por sua vez, Alex não mais hesitou em falar. Afastou-se de Hector e se colocou logo ao lado, encarando a estátua enquanto os olhos esmeraldas eram mirados em si.

— Não sei ao certo o motivo, eu nem era nascido naquela época, mas sinto que alguma coisa ficou errada quando aqueles detetives, Jessie e James, saíram da mansão. Você já teve a sensação de fazer alguma coisa e sentir que algo muito ruim vai vir daquilo?

Hector concordou na mesma hora, era algo normal do ser humano. Porém, logo entendeu o que Alex estava querendo dizer com tudo aquilo. Se havia algo ou alguém capaz de superar em poder o próprio EPC, esse algo não poderia ser outro senão Ele.

Atrás do loiro, do meio das sombras que se projetavam em um dos cantos daquela sala escurecida, uma figura humanoide emergiu do mar negro, subjugando a escuridão com sua simples presença. Os passos leves eram equivalentes à corrida de um elefante, o sorriso afiado e o olhar repleto de sentidos diferentes.

“Alex… Ele não o enxerga ou está apenas fingindo? Não, é impossível pra qualquer um ignorar essa presença!!”

Yellow ficou a apenas alguns centímetros do líder. Só agora que Hector notara o quão alto a entidade era, encarando de cima tanto ele quanto o loiro.

— A Mansão de Alamut — continuou Alex —, alguns chamavam-na de Lar do Pecador. A estátua, em específico, eu chamo ela de Ex-Pecador, pois agora que essa “casca” ficou de fato vazia, algo maior foi liberto em nosso pequeno e limitado mundo, uma existência que não pode ser controlada.

Qual seria a reação dele se soubesse que essa existência estava praticamente apoiando-se em seu ombro? Como encararia aquele olho dourado que zombava da vida alheia? Surpreendentemente, Yellow não parecia disposto a interromper Alex, muito pelo contrário, parecia ter surgido apenas para complementar a fala do cientista, querendo pagar de Entidade incrível.

Em meio à narração de Alex, o olho dourado vagou até a estátua. Singelo, um fitar tão humano que quase distorceu a realidade de tão incomum.

Ao deixar de ser um Pecador, aquela figura se tornou algo mais.

Nostalgia? Era difícil ler aquela face imutável, onde o sorriso demoníaco nunca se desfazia.

Ele se tornou o próprio Pecado.

— Eu gosto de chamá-lo de Encarnação do Poder, no entanto, ele tem um nome classificado como Oficial, que foi dado por meio de uma votação.

Alex se virou para Hector, encarando-o firmemente. O detetive, por sua vez, teve um trabalho mais difícil, dividindo a atenção entre o Líder Humano e o Líder Demônio. Ele previu as palavras que sairiam da boca de ambos que o fitavam e, franzindo o cenho num semblante desafiador, acompanhou-os.

Ele é…                                                                                                                                                  Eu sou...

DR. YELLOW!!



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