A Mansão de Alamut Brasileira

Autor(a): Safe_Project


Volume 2 – Arco 6: Cruzeiro

Capítulo 52: O Abismo da Alma

Antes calmo e silencioso, o salão agora encontrava-se virado de cabeça pra baixo.

Ambos os indivíduos no recinto haviam executado a exata mesma ideia. As mesas mais próximas foram erguidas, de modo que serviriam de escudo para seus corpos.

Hector bufava, quase que horrorizado, tão intensamente que os pulmões destacavam não apenas no peito como na própria roupa.

"Co-como ele me viu!? Isso não era pra acontecer!!!"

Ele considerou que fosse coisa do Instinto Sarmatiano, mas infelizmente o seu conhecimento sobre aquele fenômeno não era suficientemente grande para dar um veredito coeso o bastante.

"Eu tenho que finalizá-lo rapidamente!"

Ouviu-se o destravar da arma.

 

***

 

Enquanto a pressa dominava Hector, uma asfixia era o que tomava Guto.

Sangue escorria da ferida no braço direito, que por sorte fora pego apenas de raspão pelo projétil, então não havia com o que se preocupar quanto à isso.

"De onde esse maluco surgiu!??" Ele pagaria qualquer quantia para receber a resposta. "É como se fosse um fantasma."

Se não fosse pelo instinto inerte em seu ser que lhe fez atacar Hector, provavelmente ele estaria no chão com uma bala de chumbo alojada no interior de seu crânio.

Pensar nesse destino evitado por um triz fez seu corpo estremecer por inteiro.

"Eu… Eu tenho que finalizá-lo!!!"

O brilho do Amuleto das Formas se intensificou.

***

 

O detetive agiu primeiro. Saltou detrás de sua mesa como se não existisse amanhã, mirando no centro do escudo do inimigo e atirando.

Total de dois tiros, e ambos não só acertaram, como atravessaram a mesa. No entanto, de nada pareceram servir.

Guto fez o exato mesmo movimento, mas ao invés de uma arma, arremessou algo pra cima ao passo que o brilho do Amuleto se intensificava.

O par de esmeraldas desviou com dificuldade de Romanov, parando em um par de alfinetes que acabavam de sofrer os efeitos do Amuleto.

“De novo essa porra!!!”

Seu cenho contorceu numa mistura de raiva e pânico, mas não antes que suas pernas já o levassem para longe dali.

Atravessou a porta do salão e bateu com força, se trancando no corredor. Olhou pela janela e viu o inimigo dando a volta, provavelmente para pegá-lo em alguma outra rota.

Seu estalar de língua era o bastante para demonstrar a indignação por não ter eliminado o oponente numa chance tão divina. Infelizmente, quem lhe acompanhava no momento não era um anjo, mas um demônio.

Levantou apressadamente; tanto que estava perdido. Olhava ao redor como uma criança que perdera a mãe de vista, mas encontrou um caminho em sua mente ao escutar um zumbido logo atrás.

MERDA!! Foi tudo que conseguiu exclamar. Pelas frestas da porta, duas pequenas abelhas se contorciam (como dois brinquedos de borracha) naquela abertura, aos poucos alcançando o outro daquela muralha de metal.

Hector reclamou ainda mais — em sua mente — e se pôs a correr. Seus passos ecoavam como tambores de guerra pelo corredor, e era óbvio que deixaria sua posição exposta ao inimigo. Mas que outra opção tinha além dessa!?

Se fosse para a direita, provavelmente toparia de frente com Romanov. Portanto, a melhor opção era virar a esquerda e aguardar a oportunidade de um novo ataque surpresa.

"Eu me escondo nos quartos? Provavelmente é a única opção! Já que ele consegue me ver mesmo que eu use o Fator B, então o melhor é ficar de tocaia!!"

Antes mesmo de virar a esquina a sua mão já se estendia à frente para agarrar a maçaneta da primeira porta que encontrasse. Porém, o que encontrou foi totalmente diferente.

As portas para os quartos existiam, mas sua mão topou com outra coisa ao invés da maçaneta. Tipos de barras de metal se colocavam no caminho das portas, como celas de prisão.

"Ele alterou a estrutura do barco!?! Ele consegue fazer uma merda dessas??"

O tempo era insuficiente para se questionar. Os passos de Guto se aproximavam numa velocidade alarmante, colocando a cabeça do detetive para pensar em qualquer coisa que fosse melhor do que simplesmente apontar a arma para o corredor.

Além disso, àquela altura as abelhas com certeza haviam atravessado a porta. Imaginar o efeito causado ao ser ferido por, basicamente, uma agulha com asas, foi algo que fez seu coração sobressair a parede torácica.

Procurou desesperadamente por uma saída, até que, num lampejo de criatividade (talvez insanidade!) algo iluminou sua mente.

E nos segundos necessários para que executasse seu plano, Romanov alcançou o corredor juntamente com as abelhas que criara.

Seus par de joias prateadas vagou pelo beco vazio, inquestionavelmente inescapável para uma pessoa comum.

"Onde ele foi!? Tenho certeza de que ele veio por aqui!!"

Fitou a porta. Não seria impossível entrar nos quartos, mas a pessoa que tentasse deveria deslocar uma quantidade incrível de juntas, ao ponto de assemelhar com algum invertebrado. Hector não era capaz disso, de jeito nenhum!!

Manteve a guarda alta, procurando qualquer vestígio suspeito no corredor enquanto o casal de abelhas vigiava suas costas.

A adrenalina já ocupava mais espaço do que seu sangue dentro de seu corpo, e os níveis não davam sinais de que iriam abaixar, tanto para Guto quanto para o indivíduo em seu encalço.

Bang!!

Uma bala emergiu como um tubarão da parede, acertando seu braço esquerdo.

SEU...!! Teria xingado caso a língua não travasse ao visualizar aquela cena paranormal.

!?? Confusão estampou-se em seu rosto. Não havia portas naquela direção, muito menos um novo corredor!

Hector espremia o próprio corpo como um polvo no apertado espaço de um duto de ventilação. A arma apontava para Romanov, pronta para o segundo disparo!

Mas o suspeito agiu primeiro. Seu alerta para isso foi o alto ranger de dentes.

O Amuleto das Formas brilhou e, ao mesmo passo que a mão de Guto se estendeu na direção do duto, Hector rastejou para dentro numa velocidade sobrenatural.

As paredes de metal se contorceram ao fechar de punhos de Romanov, capazes de esmagar até o menor dos ratos.

"Merda! Merda! Merda!" Pressionou o braço alvejado. "Ele também tem um Fator B!? Isso não tava em nenhum relatório! Ele não tinha sido dispensado da FESOL exatamente por não ter um???"

A descrença em seu ser não conhecia mais limites. Ele acreditava que Alex lhe daria todas as informações possíveis sobre um alvo, mas não duvidava que outros membros do laboratório — como Xeps e Alpina — manipulassem algumas coisas na tentativa de prejudicar sua missão.

Seu olhar foi direto para a porta que existia às suas costas. Para lá ele correu. Acabou na área externa, onde um lance de escadas pôde lhe guiar para um andar mais elevado.

 

***

 

Hector se arrastou pelos dutos e acabou em outro canto. Não estava tão longe assim, tanto que fora capaz de ouvir seu alvo correndo para o lado de fora.

Sua boca queria expelir um grito contendo a fúria de mil homens, mas o cerrar dos lábios impediram esse sentimento de se aflorar ao exterior. A razão do cérebro dar tal comando era óbvia; instalada em seu braço direito — o mestre.

“Eu me concentrei demais nos tiros… merda!”

O par de esmeraldas que tinha em seu olhos ameaçaram perder o brilho. Seu corpo relaxou, mas não por cansaço, e sim desespero, uma força que sobrepujava até o mais forte humano. A partir da ponta de seu dedo indicador, uma mancha roxa se espalhava perversamente pelo membro.

Os pulmões pesaram sobre o corpo inteiro, levando todo o tronco contra o chão. Era praticamente um verme rastejando sobre seu indubitavelmente fatal ferimento.

A cor púrpura dominava seus dedos, sua mão, seu antebraço, e não pararia por ali. A menos que…

Carai, mas cê é fraco pra porra…

Que bom que você tem à mim.

S
L
A
S
H
!!

GAAAHAA!!! Se antes Hector estava debruçado no chão, agora seu corpo quase se mesclava ao próprio aço que o compunha.

Centímetro da base de seu braço, agora havia um cutelo que separava os dois pedaços de carne. E por mais que seus gritos tivessem durado alguns longos segundos, o ferimento se fechou tão rápido que sequer o sangue — bombeado pelo coração que no momento parecia um motor — conseguiu alcançar aquela breve liberdade.

Muito bem. Agora, um último artifício.

Yellow tinha o que parecia ser um pedaço de borracha em sua mão. De onde ele havia tirado aquilo não importava, nem que fosse peça fundamental para o navio continuar navegando.

Enquanto uma mão segurava a tira, a outra pousou sobre a cabeça do detetive. Uma curta faísca elétrica se desfez, e no instante seguinte a borracha endureceu, ao passo que o corpo do rapaz assumiu forma elástica.

— Qu-Que porra você fez!? Tá me ajudando ou querendo me matar de vez!!??

Relaxa, é só por alguns segundos. A cura funciona melhor assim.

“Cura? Desde quando virou médico?”

Claramente não havia motivos para perguntar a razão da nova profissão de Yellow (como se psicopata já não bastasse). O que importava era a ferida. Se não estava sangrando, então poderia seguir adiante, de certo modo.

 

***

 

Guto subiu as escadas num ritmo admirável para quem acabara de ser baleado. Talvez a adrenalina lhe tivesse proporcionado uma carga nova de energia.

Logo que alcançou o auge daquela subida, deparou-se com uma plataforma. De cara, diria ser um heliporto, mesmo que no chão não houvesse marca para tal.

Tratava-se de uma plataforma para apreciar o oceano. Seria ótimo fazê-lo, se aquele novo tipo de invertebrado não estivesse em seu encalço.

Hector surgiu das escadas, apresentando um corpo ainda… anormal, para dizer o mínimo. Sua estrutura óssea não parecia física, mas algo aproximado ao líquido.

No entanto, logo que se colocou sobre o mesmo piso que Romanov, alguns treks e cruuks de seus ossos foram o bastante para torná-lo um vertebrado novamente.

— Que tipo de monstro é você? — perguntou Guto.

— O tipo que persegue outros monstros.

— Você é maluco.

— Pelo menos eu admito.

Poucas palavras e um ódio descomunal, fora esse o resultado da primeira argumentação entre os dois.

Hector, entretanto, não podia deixar de perder tal oportunidade. Ele apontou com a arma e, encarando o elemento, sequer hesitou antes de começar.

— Eu não pretendo te levar vivo, então eu queria que respondesse algumas das minhas perguntas.

— Oxi, tá tão convencido assim?

Se conseguisse desestabilizar o emocional do detetive (que já era bem fraco, por sinal), as chances de um ataque bem sucedido aumentariam. Porém…

— Não. — A voz apenas revelava calma. — Tem a mínima ideia dos perrengues que eu passei pra chegar aqui? Eu literalmente fiz um acordo com o capeta em pessoa e xinguei ele!! Honestamente, não tô muito esperançoso de chegar vivo em casa depois daqui.

"Capeta?... Então…! Entendi, então era isso."

Não podia ser outro senão o demônio que ouvira falar na FESOL, Dr. Yellow!

Algumas peças se encaixaram em seu próprio quebra-cabeça, mas o de Hector ainda faltava alguns vários pedaços.

— A única coisa que eu sei é o seu nome, Guto Romanov, e que é um nativo de Sarmatia. Considerando que chegamos nessa PORRA de navio, você acha que é pedir demais querer saber a MERDA do motivo de você ter feito tudo que fez?

Sim, era o que Romanov gostaria de responder, mas seria rude demais fazê-lo depois de sentir na pele a raiva emanada da pessoa à sua frente. Não tinha qualquer obrigação, mas, talvez por ambos estarem com um braço inutilizado, a situação parecia equilibrada o bastante para tal ação.

— Eu fiz tudo apenas pra proteger alguém. Algum problema com isso?

Houve um curto silêncio. — Apenas uma pessoa?

Guto arqueou uma das sobrancelhas, acreditando que captara a ideia naquele ênfase.

— Isso aí, uma. Aqueles cadáveres que você provavelmente viu, o caos na Avenida Romantusk, a fuga de pessoas da cidade, a sua quase morte… Eu colaborei com tudo só por causa de uma única pessoa.

Hector não mostrou sinal de resposta após a afirmação. Logo, um senso de continuidade brotou em Romanov, fazendo suas palavras ganharem vida própria.

— Eu saí, ou melhor, fugi do meu país. Abandonei literalmente tudo que eu tinha.

Nem fuga pode ser considerada. É quase como se eu tivesse sido capturado. Me tratavam como um animal à beira da morte.

— O que eu sou pra vocês? Algum tipo de espécie em extinção?

O único que me tratou como uma pessoa foi aquele homem. O único…

— Você acha que eu vim pra cá tentar uma vida nova, fui recusado e caí no mundo do crime? Há! Eu me sentiria melhor se tivesse escolhido por mim mesmo.

Que tipo de mundo é esse!? Como eu posso deixar que ela viva num lugar sujo desses??

— Você que manja das leis, me responde uma coisa… — Uma breve calmaria perdurou, até que um olhar marejado caísse sobre o cartola. — Eu estou errado por querer ser feliz?

Hector pareceu ser atingido por aquelas palavras (fato talvez potencializado pela lesão que acabara de causar em Romanov). A mira da arma caiu, e sua respiração ficou estranhamente pesada. Esse peso, no entanto, foi dispersado junto das palavras que se seguiram.

— Eu sinto muito. Sua vida de uns anos pra cá foi realmente uma merda. — Ergueu apenas seu olhar, e ao contrário do que Guto pensava, o brilho dos olhos permanecia lá. — Até que não somos tão diferentes no fim das contas. Se tivéssemos nos encontrado antes, quem sabe as coisas teriam terminado diferente.

Tanto as palavras quanto a expressão do detetive evidenciavam suas intenções finais. Elas simplesmente não mudaram. Sem emoção? Ele poderia facilmente assumir esse termo para si, visto que qualquer um deveria ter um mínimo de reação ante a revelação do grande vilão final. Mas o cartola não mostrou nada.

Guto baixou a cabeça, ainda fitando o detetive. — Então vamos apenas ver quem sobrevive? Essa é a solução que encontrou?

O cartola pareceu refletir um pouco, como se prestasse atenção em outra coisa. Talvez as ondas do mar.

— He… Gege! Não é sobre quem sobrevive — arremessou a arma para o mar. —, mas sobre quem morre primeiro.

Um sorriso brotou no rosto de Romanov. — Se a morte é tão óbvia, então qual a razão pra continuar assim?

— Meh, eu nunca fui uma pessoa muito coerente, e além disso — imitou o sorriso, fazendo questão de que o seu fosse maior. —, nunca tive o costume de voltar atrás com o que eu achava certo.

Ele assumiu uma postura ofensiva, respondida com o erguer do braço bom de Romanov, na ideia de formar uma última barreira, enquanto seu corpo recuava para trás até ser barrado pela barra de proteção daquele hall.

TUMP!! Hector avançou num salto digno de medalha de ouro, no entanto, fora exatamente por tal força que ele não conseguiu parar mesmo após ver a reação de seu oponente.

Guto ergueu um dos alfinetes para cima, uma cena que seria cômica, se esse pequeno objeto não tivesse se transformado numa longa faca no instante seguinte.

Porém, tal como dito, o detetive não parou. A força em seus pés aumentou dentro daqueles curtos centímetros que o separavam do elemento e, quando na distância correta, arremessou seu corpo junto da força acumulada da própria inércia.

Escutou-se o breve ranger do metal, sobrepujado por gritos de desespero quando ambos os corpos se viram em pleno ar, longe demais das bordas do navio para que qualquer mão tentasse se agarrar.

Acreditando ter entendido a intenção de Hector, a faca desceu desesperadamente contra o corpo magro do rapaz, sem mais noção de mira ou pontos vitais.

Como se afundasse numa grande barra de manteiga, a lâmina perfurou suas costas. Hector não teve tempo de gemer de dor, muito menos Guto de tentar fazer qualquer outra ação, pois, quando menos perceberam, o ar respirável não tinha mais presença.

B

L

U

M

Ambos foram envolvidos num limbo azul, cujo tom se misturava ao preto conforme desciam naquele infinito abismo ensurdecedor.

Seus movimentos estavam mais lentos, o que tornara quase que impossível para Romanov desfazer o aperto que Hector mantinha ao redor de seu tronco. Mesmo a facada não fora o bastante para fazê-lo soltar, na verdade teve o efeito totalmente oposto.

Eles afundavam juntos, num silêncio absoluto, à mercê de uma força maior, arrastados para o fundo por mãos invisíveis e inescapáveis.

No entanto, mesmo que à beira da consciência, Hector ainda tinha tato o suficiente para perceber e processar o que aquela coceira que sentia nas costas significava. Não era culpa da facada, mas uma consequência dela.

Se olhasse para cima, veria, além da superfície cada vez mais distante, a total ausência de sangue se misturando com a água. Tal evento se dava não por algum tipo de solução química ou algo complicado, mas pelo simples fato de que o líquido carmesim de seu corpo era dissolvido por uma força ainda maior que a natureza antes que saísse do corpo.

Mesmo naquela escuridão, ele ainda fora capaz de ver aquela cor tomar o seu corpo por completo. Toda a sua pele assumira um tom púrpuro.

Por breves momentos, seu olhar passeou naquela vastidão subaquática, parando numa paisagem bem além.

O mais comum seria sentir pavor para a imagem que se seguiu, mas não fora tal que se manifestou no semblante do rapaz.

Naquele ambiente escuro azulado, uma figura colossal pôde ser analisada. Dada a falta de ondulação na água, era óbvio tratar-se de uma mera ilusão. Uma forma de Yellow querer se mostrar como poderoso ao surgir de uma imensa imagem de seu rosto, como uma criatura pré-histórica. O olho amarelado brilhava no horizonte, e os dentes pareciam se contorcer num misto de emoções que um mero humano era incapaz de descrever.

Àquela altura, não mais sentia suas pernas, e em sua mente estava implantada a certeza de que em breve essa sensação de ausência alcançaria o resto do corpo.

Porém, nenhum desses fatores o impediu de se mover uma última vez.

O aperto trocou de lugar. A mão restante desvencilhou-se do tronco de Guto e pousou sobre a gola da camisa.

Em relação ao Sarmatiano, Hector estava acima. Seu corpo — já pela metade — pendia no ar como uma figura cujas leis da física não mais se aplicavam. Ainda que estivessem debaixo d’água, era estranho pensar que os olhos brilhavam como dois sóis naquele ambiente onde a escuridão terminava de se fazer dominante.

Não houve uma última troca de palavras, apenas longos (e ao mesmo tempo breves) momentos onde um encarou ao outro. Hector tentou e, por incrível que parecesse, conseguira visualizar a alma do outro. Agora, o que ele viu naquele limbo além dos olhos daquele homem em um momento tão crucial, fora levado junto de seu ser, ao passo em que o resto do tronco se desfez e, por fim, o rosto também, até que aquela determinação nos olhos esmeralda se mesclasse ao infindável breu do oceano.



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