Volume 1

Capítulo 10: Um Pouco Antes do Grande Duelo

Ainda que fosse incerto iniciar esse duelo, as condições estavam ao meu favor, portanto, que mal tinha? Pelo fato de concordar, tanto Meril quanto Yaga se prepararam. As outras garotas, depois de confirmarem igualmente, apenas esperaram que as goblins tirassem suas medidas.

Ver Meril e Sheyla colocando seus equipamentos de aventureiros me deu outro “golpe” de realidade. Tudo isso, que parecia um sonho desde o início, não é. Mesmo que agora eu esteja nesse mundo de fantasia com janelas flutuantes de jogos eletrônicos, não consigo simplesmente acordar.

Perguntei para as goblins sobre meu vestido, se elas poderiam lavá-lo ou até mesmo confeccionar um segundo para ter como reserva, e apesar de elas confirmarem, certamente não ficaria pronto antes do duelo. Por causa da resposta, também fiquei ciente de uma área na caverna onde há uma espécie de poço subterrâneo.

Disseram que lá poderiam limpar minhas roupas.

Eu precisaria confirmar se a água é boa para consumo antes de qualquer coisa. Desde então não comi ou bebi nada, porém, eu sou considerado um demônio-real. Já as garotas, humanas, precisam se alimentar ou beber, pelo menos, mais do que estavam ganhando até agora.

Ah... inúmeras coisas que preciso pensar apenas porque decidi bancar a amiga do povo. Espero que isso não me faça lamentar e me arrepender futuramente.

Olhando para Samy, se eu colocar as mãos naquelas habilidades, sim! Eu ficarei no lucro mesmo depois de passar por tudo isso.

Observei Meril se arrumar.

Ela estava com um ar de imponência, tão elegante quanto uma professora de faculdade que deseja encantar seus alunos muito mais pela beleza do que pelo conhecimento. Porém, considerando suas habilidades, poderia afirmar que ela conseguiria fazer o mesmo das duas formas.

Tirando as vestes diferenciadas, também carregava consigo o que parecia um cetro. Seu tamanho era bem pequeno para o que eu acreditava ser a arma de um conjurador, ainda assim, pela descrição do sistema, aquilo parecia fazer seu trabalho.

Sistema: [Cajado do Mestre, esse equipamento canaliza os poderes mágicos do usuário para amplificar e acelerar a conjuração de suas magias].

Agora, do meu lado, a única habilidade que tenho do tipo ofensiva é a da lança, e sequer coloquei pontos nela. Não seria prudente eu pedir uma lança para participar do duelo já que isso certamente acabaria com minha imagem.

Não me vejo lutando com uma lança, não no corpo de uma criança. Então, como eu poderia vencer esse duelo? Conseguiria ganhar utilizando a [Aura Demoníaca]?

Esse truque simples e barato pareceu funcionar bem até agora. No entanto, Meril, Ninx e Sheyla claramente estão em um nível diferente dos goblins. Não é garantia que elas sejam paralisadas como os outros.

Ah, merda, não tem por que ser pessimista agora.

Suspirei.

Depois que Meril se arrumou, veio até mim.

— Yami, estou pronta. Assim que decidir, gostaria que iniciássemos o duelo.

— Sim, entendi. Yaga! — gritei, fazendo sinal para que Yaga viesse até a mim.

Ele que estava coordenando os outros goblins a colocar os equipamentos das aventureiras no salão, caminhou em minha direção.

Yaga era “velho” e usava sua bengala para se movimentar, mesmo assim, não era como se ele tivesse barba ou cabelos brancos. Por isso, vê-lo daquela maneira enquanto os outros claramente não compartilhavam dos seus movimentos e expressões, me trazia uma certa curiosidade acerca dele.

— Sim, Yami.

— Meril e eu estamos prontos.

— Certo. Já pedi que os goblins se reúnam na arena — ele olhou para Meril e depois continuou: — Mesmo que vocês tenham concordado com isso, apenas tenham cuidado com o que irão fazer.

— O que quer dizer com isso? — perguntei.

— Ele tem medo de que a gente acabe se soterrando ou coisa do tipo — respondeu Meril.

— Ah, isso? Bem, vamos evitar isso, certo? — Olhei para Meril.

— Não pretendo me matar, Yami.

— Eu também — concordei.

Sheyla também terminou de se equipar. Diferente de Meril e das outras garotas, sua armadura lhe trazia uma aura intimidadora ao mesmo tempo que era reconfortante. As peças de armadura eram de um branco marfim e havia toques dourados entre as dobras e alguns detalhes talhados direto às placas.

A armadura, apesar de não ser aquelas armaduras completas – de placas – estava em outro nível. Apesar de não ter capacete, ao usar as espadas e o escudo, presas a cintura e as costas respectivamente, fazia com que Sheyla se tornasse alguém realmente digna para o título de cavaleira-comandante.

— E pensar que ela apareceu aqui, presa, nessa caverna cheia de goblins — comentou Meril.

— E isso não se aplicaria a você também? — respondi.

— Se olhar por esse lado, sim. É meio incrível que as coisas tenham acontecido dessa forma.

Sheyla se aproximou.

— Então, vocês irão duelar agora? — perguntou Sheyla.

— Sim — respondeu eu e Meril juntos.

— Se me permitem, gostaria de levá-las até lá, no entanto, ainda há as outras garotas — comentou Yaga, apontando para as outras. — A pedido da Yami, elas não serão mais consideradas escravas, e, portanto, não precisam mais ficar aqui. Porém...

— “Porém”? — questionei, encarando-o já que até agora não tinha dito nada que ficasse contra a ideia.

— Elas ainda mantêm bastantes mágoas em relação ao que aconteceu. — Ele suspirou. — E é claro, não podemos culpá-las por isso, afinal foram nossos erros. Mas, Yami, não possuímos lugares ou quartos para que elas fiquem aqui com o mínimo de dignidade. Pelo menos não a dignidade que um humano deveria esperar.

— Você não é um goblin normal, ? — perguntou Meril.

— Normal no que se diz respeito a goblin, mas, único à minha pessoa — respondeu Yaga.

— Isso eu sei, vá ao ponto, Yaga — disse, chamando a atenção para mim.

— A senhora deveria avisá-las como prosseguir a partir de agora.

— Sim, é o que eu farei. E sem a “senhora”.

— Me desculpe — lamentou-se, porém, logo continuou: — E tem mais.

— O que seria?

— Seria muito arriscado levar as garotas grávidas para a arena. Você poderia convencê-las a ficar com nossa parteira Gigi?

— Isso? Ok, também vou falar com elas.

Samy parecia terminar de examinar Luane e quando me viu, ela se levantou e veio em minha direção. Luane permanecia naquela posição, apesar de agora estar mais sentada do que deitada igual antes.

— Descobriu o que há com a Luane? — perguntei.

— Ela parece ter adquirido uma infecção. Mesmo que você use uma habilidade para recuperar seus ferimentos, enquanto seu organismo estiver infectado, ela vai continuar sofrendo tais dores.

— E há alguma coisa que possamos fazer?

— Bem, normalmente seria-lhe entregue algum tipo de medicamento feito por algum herbologista ou farmacêutico.

— Você conseguiria fazer algum?

— Eu? Por que pergunta?

Ah, é que achei que você saberia disso já que demonstrou ter bastante conhecimento — apesar de dizer a verdade, não posso deixar na cara que eu usei [Analisar] nela. Quando ela concordou, eu continuei: — Além disso, você já tem experiência com isso... sobre parto, ?

— Sim. Aquele outro goblin, o Yaga, disse que Gigi era a parteira deles. Mas, não confio neles, Yami.

— Mesmo você dizendo isso, ela deve ter algum tipo de experiência. — Olhei para Luane. — Vale lembrar que essa é a segunda vez que ela está grávida. Provavelmente foi a Gigi que a ajudou.

— Sim, mas é um goblin! — Samy disse bem nervosa.

— Sim, eu sei. De qualquer forma, elas não são iguais aos machos.

Samy que olhava para as goblins pareceu entender meu comentário, ao menos foi o que demonstrou. Suspirou e voltou a me dar atenção.

— Me desculpe, Yami. Só é difícil aceitar facilmente o que aconteceu.

— Não se preocupe. Porém, não dá para culpar todos por causa das ações de alguns, certo?

— Sim, eu sei.

Saga veio em minha direção após procurar onde eu estava. Ela ficou um pouco acanhada pela reação negativa da Samy, mas, depois que ela ficou menos agressiva, ela deu alguns passos fechando as mãos como alguém pronto para esperar algum tipo de esporro ou xingamento.

— O que foi Saga?

— Acabamos de tirar as medidas das outras humanas, Yami, mas, só faltou... essa — ela apontou para Samy.

— Por que ela está apontando para mim, Yami? — perguntou Samy.

— Ela disse que só faltou suas medidas. E então, Samy? O que você pretende fazer? Se desejas ficar comigo, é melhor se esforçar e já começar a se acostumar com essa situação. Além disso, pretende ficar nua mesmo se saísse dessa caverna?

Samy fazia um sinal negativo.

— Tudo bem, se tu dizes, eu vou me esforçar — respondeu Samy vendo Saga ficar atrás de mim. — Ok, pode tirar a medida de mim... goblin.

— Essa se chama Saga, aquela é Tina — apontei para Tina que estava próxima de Ashley. — Mesmo que seja difícil se comunicar por causa da barreira linguística, creio que alguns sinais são fáceis de reconhecer. Então, já seria um bom começo.

Fiz um sinal de “tchau” para Tina, que ao me ver, repetiu o mesmo sinal e sorriu.

— Sim. Entendo.

Saga esperou que eu concordasse e ela saiu de trás de mim e foi até Samy. Apesar de Samy ainda ter aquela aparência infantil, ela era maior que eu e todos outros goblins, então, querendo ou não, tinha seu ar intimidador.

Samy ergueu os braços e Saga começou a usar aquelas mesmas ferramentas de antes para tirar suas medidas. Algumas cordas e uma régua.

Agora que tenho [Artesanato], enquanto ela faz as medidas, alguns números e símbolos aparecem no meu campo de visão e, pelo jeito, são as medidas para confecção da roupa ou de acessórios. Se pensar que apenas eu estou vendo essas janelas e informações, então, mesmo que as duas tenham seus próprios [Artesanato], não poderiam se comparar a mim.

— Já ia me esquecendo... — iniciei, mesmo que Samy ainda estivesse sendo analisada por Saga. — Não há acomodações humanas aqui. Ou seja, até que isso se resolva, você e as outras garotas passariam os próximos dias vivendo como goblins.

Houve silêncio antes da resposta.

— Entendo. Não tem problemas... pelo menos para mim Yami. Se assim você desejar.

— Se você tiver algum problema, basta me avisar, ok? — suspirei.

Samy concordou e por isso deu alguns passos até Luane.

— Você escutou? — perguntei para Luane.

— Sim... finalmente vou sair dessa humilde caverna escura? Já faz quanto tempo que vejo uma luz? Acho que desde que os últimos goblins vieram.

Oh, caralho. Poupe-me dos detalhes, por favor.

— Me desculpe fazer-te lembrar sobre isso.

— Precisa se preocupar não, garotinha... ou melhor, garotinha-demônio.

— O que há com esse apelido?

— Nada... é que você é tão fofinha... — ela se fechou pela dor, e depois deu um sorriso. — Será que os goblins também dormem no chão?

— Pelo que vi... acho que não. — Virei-me para Saga que tinha terminado de tirar as medidas de Samy — Vocês costumam dormir diretamente no chão?

— Sim? — questionou-se.

— Vocês, goblins, dormem diretamente no chão — apontei para o chão — ou usam alguma coisa para dormir em cima, como palha ou pele de animais?

— Ah, isso? Usamos folhas de melliepevunkryadtrea.

— De que? — que diabos foi isso, algum tipo de conjuração?

Melliepevunkryadtrea.

— O que há com esse nome gigantesco? E o que é isso?

— O nome é realmente grande, né? Alguns o chamam apenas de mellie.

— Ok, e o que é esse mellie?

— É uma planta rasteira. Suas folhas são grandes o suficiente para criar pequenos rolinhos e usamos isso para dormir em cima. Ah, e elas são ótimas contra insetos e outros tipos de criaturas.

— É? Por quê?

— Elas possuem uma seiva que repele os insetos, por isso a usamos para dormir.

— Interessante. Apesar de não ter visto isso — olhei para Luane e depois para Saga.

Bem provável que o que os goblins usarem, os humanos também seriam capazes de usar. Se os goblins nascem de humanos, então significa que muito da genética deva ser compartilhada. Ou seja, venenos, comidas ou coisas consideradas “efetivas” positivamente ou negativamente devem funcionar para os dois igualmente.

— Por que a pergunta, Yami? Deseja dormir? — perguntou, virando o rosto de lado como um filhotinho de cachorro.

— Não. Eu quero que você prepare algumas camas com esse tal de mellie. Essas camas serão para as garotas, as garotas humanas.

— É bem engraçado que você consiga se comunicar com eles dessa forma, Yami — comentou Samy.

— Por quê?

— Bem, para mim é como se você estivesse brigando com ela.

— É assim que se parece? — fiz um sinal negativo — Não precisa se preocupar, estava apenas pedindo que ela prepare camas para vocês. E, deixando esse assunto de lado, como vocês perceberam, eu e Meril iremos realizar um duelo.

— Sim — respondeu as duas.

— No entanto, Luane e Ashley que estão grávidas, seria muito arriscado levá-las até o lugar onde será este duelo. Sendo assim, Samy, eu posso pedir que você fique com elas? Yaga disse que Gigi também iria cuidar delas.

— Eu já iria sugerir isso antes de qualquer coisa, Yami. — Samy afirmou com a cabeça e depois se aproximou da Luane.

— Até lá, vocês estariam sozinhas — comentei.

— Isso é um pouco aterrorizante… Mas se já resistimos até agora... — disse Samy bem baixinho.

— Nem parece aquela garota chorona de antes — comentou Luane.

— Eu me exaltei um pouco antes, ok? Não vai se repetir.

— Não se preocupe... eu invejo sua capacidade de chorar, eu mesma já desisti de chorar.

— Não diga isso, sua força de vontade é única — respondeu Samy.

Aparentemente elas me ignoraram e começaram a falar uma com a outra sobre seus próprios esforços e problemas. Apenas deixei elas conversando quando me virei para as outras, e, vendo Ninx olhando para as paredes e teto, tentei entender o que ela estava fazendo.

Ninx que estava analisando toda a caverna até agora, se aproximou de nós.

— Yami! — disse enquanto acenou com as mãos.

— Ninx... encontrou algo? — Além disso, ela não pegou seus próprios equipamentos? — E seus equipamentos, nada?

Ah, sobre isso — ela olhava para seu próprio corpo — bem, parece que, diferente das outras, os goblins não trouxeram nada para mim...

— Por quê? — perguntei.

— Bem, o líder dos verdes disse que eu já estava sem equipamentos quando eles me encontraram.

— Estranho isso...

— Bem estranho, ... Mas, não é isso que eu gostaria de falar.

— Então, o que é?

Ela deu alguns passos até ficar bem próxima de mim e apontou para um lugar um tanto afastado da caverna, pelo menos em relação às outras garotas ou goblins. Entendendo que ela queria uma conversa privada, eu apenas afirmei com a cabeça.

Samy, vendo isso, apenas ficou esperando, do lado da Luane.

Nos afastamos um pouco e ela se agachou para ficar da minha altura e me abraçou de lado, fazendo com que eu ficasse grudado a ela.

— O que foi, Ninx? Para que fazer tudo isso?

— Então, Yami... Meril está desconfiada de você e, como eu posso dizer isso... eu também sinto que você é muito mais perigosa do que se apresenta.

Então, essas duas estão vendo através do meu disfarce? De qualquer forma, se elas não me atacaram ou mesmo incitaram algum tipo de “revolução”, isso significa que elas querem algo em troca. Ninx é extremamente sarcástica e irônica, e por isso, não sei o que se passa na sua cabeça até agora.

— E então?

— Estava aqui pensando... apesar de você não querer fazer parte dessa história sobre rei demônio e tal, só pelo fato de ser um demônio-real, ter sua amizade é meio que uma vantagem para mim, né?

— As outras já decidiram me ajudar e... sendo bem honesto contigo, não parece que você conseguiria me ajudar tanto quanto elas... ou seja, o que eu ganho com essa amizade?

— Que cruel vindo isso de uma criança, haha. — Ela inclinou o rosto e me encarou diretamente nos olhos. — Eu sei que não sou tipo uma professora igual a Meril nem tão famosa ou gloriosa quanto a Sheyla..., porém, até eu tenho minhas habilidades.

— E o que seriam?

Apesar de fazer de conta que não sabia, por causa do [Analisar] eu já podia comprovar suas habilidades como um todo. Ninx seria considerada como uma ladra. Habilidades para se esconder, manter-se furtivo, para roubar, abrir fechaduras, rastrear e muitas outras desse tipo.

Para meu plano de ter o mínimo de esforço, essas habilidades me colocariam no cerne de tudo...

— Bem, vamos dizer que você precisa de alguém com quem confiar e possa... Caminhar entre as pessoas “livremente”. Não seria conveniente para você que deseja buscar saber sobre esse mundo?

— Então você seria meus olhos e ouvidos lá fora, é isso que está sugerindo?

— Viu, eu sabia que você não era uma garotinha normal. Isso e muito mais, é claro.

— Supondo que isso aconteça, por que estamos conversando em privado? O que há de errado em deixar claro para as outras que você também gostaria de me ajudar?

— Não é que eu não queira te ajudar, porém, quanto menos atenção direcionada a nós, melhor, certo? Além disso... — Ela olhou por cima dos ombros, vendo Meril e Sheyla do outro lado da caverna, conversando com Yaga. — Eu... meio que gosto da liberdade, sabe... então se eu não precisasse ficar presa nessa caverna, melhor ainda.

— Tudo bem. Se o que você me diz é verdade, não vejo problema em começarmos nossa amizade nestas condições, porém, saiba que eu não sou ingênuo. Se eu perceber que você está me passando para trás, arcará com as consequências.

Oh, não se preocupe, Yami. Mesmo que alguns me considerassem um pouco louca, não iria ousar desafiar uma criatura das lendas.

— Não me chame de criatura tão descaradamente.

— Me desculpe. Então... — ela se levantou e fez menção para um aperto de mãos — tudo certo?

— Ok. — Ergui minhas mãos e concordamos com aquele “acordo” de palavras.

Não que essas palavras sirvam para alguma coisa, no entanto, é ela que veio me procurar, propondo tal parceria em primeiro lugar. Independente do resultado do duelo, ela seria liberada não só da escravidão dos goblins, mas de qualquer obrigação em me ajudar. Por isso, não haveria motivos para ela vir até a mim e mostrar sua forma de pensar a não ser que ela veja vantagens nessa relação.

Assim como a negociação e o fechamento de um contrato, ambas as partes irão querer tirar o máximo de proveitos para seu lado, não só pelas vantagens do acordo, mas também o que ele irá gerar posteriormente. As habilidades da Ninx são extremamente individuais, então, mesmo se eu as pegasse, seria eu tendo que usá-las. Porém, se Ninx se oferecer a ir ao meu lugar...

Mudaria tudo. Isso significa que posso deixar coisas como investigações, explorações ou até mesmo espionagem nas mãos dela.

Ninx é a única dessas garotas que eu tenho dificuldade de prever seus passos ou ação, o que significa que tê-la como aliada, apesar de arriscado, é mais seguro do que tê-la como inimiga.

De qualquer forma, assim que ela terminou de conversar comigo em particular, voltei para Samy.

— Tudo bem, Yami? — perguntou Samy.

— Sim. Bom, irei partir agora. — Olhei para Meril que estava me aguardando e depois voltei para Samy. — Nós teremos nosso duelo e depois dele irei aproveitar que a maioria dos goblins estarão reunidos para avisá-los sobre vocês. Então, quando as goblins vierem para buscá-las, não precisam se preocupar.

— Entendo. Ok, Yami... conto com você. — Samy sorriu.

Luane soltou um pequeno grunhido de dor e nós três viramos para observá-la.

— Estás bem, Luane? — olhei de lado, observando Luane.

— Ah, somente aquela dor de antes, precisa se preocupar não... — Luane fez um gesto com as mãos como se quisesse mostrar que estava bem e sorriu para mim. — Será que eu deveria torcer para você ou para aquela outra mulher?

— Tanto faz..., mas eu ficaria feliz se torcesse por mim — respondi, dando um sorriso “sincero”.

Quanto mais essas garotas se aproximarem de mim, mais fácil será convencê-las a fazer algo no futuro.

Não que eu esteja pensando em algo agora, porém, tenho que me preparar.

— E você, Ashley? Tem algo para dizer? Mesmo que vocês deixem de ser escravos, ainda continuariam aqui, nesta caverna, ao lado daqueles que fizeram isso contigo. Se não gostar desse resultado, agora é a hora para reclamar.

— Não vou reclamar, Yami... se você me der um propósito, eu não me importo com isso — respondeu Ashley.

— Certo. — Fiz um sinal positivo e virei-me para Saga. — Saga.

— Sim! — respondeu Saga.

— Espere o resultado do duelo antes de levá-las até seus novos quartos. Porém, já quero que prepare as camas o quanto antes. E vocês ficarão responsáveis por elas tanto quanto a Gigi.

— Certo, Yami! — disse feliz.

Depois disso, fui até onde estavam Meril e Sheyla. Ninx veio logo atrás.

Meril me olhou seriamente até que parei de frente a ela.

— Vi que demorou um pouco. As garotas aceitaram as condições?

— Sim, elas estão cientes do que irá acontecer. Portanto, podemos ir.

— E o que você e a Ninx discutiram do outro lado da caverna? — perguntou Meril.

Ah, que isso... só estava dando dicas para ela como lutar contra um conjurador — zombou Ninx.

— Como é? De que lado você está? — perguntou com certa indignação.

— Do vencedor? — Ela colocou as mãos na minha cabeça, me afagando. — Ou você está com medo de perder para uma criança?

— Pare com isso. — Tirei as mãos dela do topo da minha cabeça.

— Não é essa a questão aqui — comentou Meril.

— Se não é, então não tem problemas algum — respondeu Ninx.

Desde o início as duas não parecem se dar bem, mesmo assim, por terem experiência contra criaturas como goblins, quase se uniram para “escapar” desta caverna. Sendo desse jeito, eu não posso baixar minha guarda estando ao lado delas.

Sheyla, me observando, deu alguns passos para frente e se ajoelhou, também ficando na minha altura. Por causa da armadura e seus equipamentos, essa Sheyla tinha um ar muito mais poderoso. Ela sorriu e estendeu as mãos, como se quisesse me cumprimentar.

Apesar de não entender muito bem do que se tratava, segurei suas mãos.

— Yami. Independentemente do resultado do duelo, saiba que eu não irei me esquecer da sua promessa. Eu vi de antemão suas habilidades e posso confirmar que elas poderiam até mesmo ser consideradas como um milagre.

— O que isso quer dizer?

— Que, se eu puder convencê-la de alguma forma a ajudar aqueles menos afortunados, por favor, me diga. Seus poderes seriam úteis para muito mais pessoas. Eu não me importaria em ensinar tudo o que eu sei se você pudesse me emprestar sua força.

— Entendi seu ponto. Não se preocupe. Veremos primeiro o que acontecerá depois do duelo.

Meril fazia um sinal positivo e Sheyla se afastou.

Quando vejo Sheyla, me vem memórias do meu antigo mundo. Memórias da minha colega de trabalho. Por que isso agora? Balancei minha cabeça como se quisesse apagar essas imagens.

— Yaga, nos leve até a arena.

— Como desejar, Yami.

Yaga começou andar.

Os goblins tinham levado algumas tochas para dentro da sala para iluminá-la, aparentemente, assim que Yaga se afastasse do [Floco de Luz], ele se apagaria. Por isso, para evitar que aquela sala voltasse a ser engolida pela escuridão, foram necessárias as tochas.

Eu, Meril, Sheyla e Ninx acompanhamos Yaga em direção a arena, enquanto isso, Samy, Luane e Ashley ficaram com Tina na “sala dos troféus”.

Vamos ver como a história vai se desenrolar agora.



Comentários