Volume 1

Capítulo 9: Meus Motivos, Seus Motivos, Nossos Motivos – parte 2

Mesmo que eu deva me preocupar em não tornar as aventureiras minhas inimigas, Samy é aquela cujas habilidades são as que eu preciso adquirir.

Sistema: [Samy – Habilidades]

  • [Conhecimento: Culinária] • [Conhecimento: Geografia] • [Conhecimento: Álgebra] • [Conhecimento: Negociação] • [Conhecimento: Herbologia] • [Conhecimento: Logística] • [Artesanato] • [Memória Fotográfica] • [Mente Expandida] e muitas outras...

Além do conhecimento em várias áreas, [Memória Fotográfica] e [Mente Expandida] são habilidades extremamente fortes.

Sistema: • [Memória Fotográfica – permite ao usuário lembrar com perfeição de coisas que já tenha visto, ouvido, tocado ou sentido de alguma forma igual a (10xNível da Habilidade)].

  • [Mente Expandida – dá ao usuário capacidade de chegar a novas conclusões e raciocínios a partir de outros sentidos adquiridos por terceiros, igual a (10xNível da Habilidade)].

Se eu entendi o que li, isso significa ser capaz de lembrar quase que perfeitamente – ou melhor, perfeitamente – de tudo que vi ou senti nesse mundo. E, pelo jeito, a segunda habilidade ainda é mais roubada já que teria a capacidade de chegar a resoluções além do meu conhecimento básico.

Isso, preciso fazer com que Samy me ajude.

Samy tinha características físicas igual a Sheyla, pois era uma mulher loira de olhos azuis e cabelos longos, mas trançados. Apesar da idade, sendo a mais velha dessa caverna, tinha uma aparência diferenciada... como posso dizer... infantil? E infantil apenas no que diz respeito ao seu rosto e altura.

Claramente, tem algo errado aqui, ?

Sistema: [...].

De novo isso? Se não vai dizer nada, pare de fazer com que uma janela vazia apareça na minha visão.

— Yami, qual o problema? — perguntou Sheyla.

— Vou libertar as outras garotas agora — afirmei.

Ela apenas sinalizou com a cabeça e ficou olhando para o lado de fora.

Ao me aproximar da Samy, ela me encarou com aquele olhar vazio e sem expressões. Ainda que seu status [Terminal] tivesse sido removido, era como se estivesse morta. O que aconteceu?

— Você consegue se levantar? — perguntei. E fui até sua corrente, também as quebrando. — Não precisa se preocupar.

— Pelo que vi, então foi você que me curou. Correto? — Samy perguntou, me encarando daquele jeito estranho.

— Sim. Estás melhor?

— Por que você me curou? — perguntou Samy de maneira ríspida.

— Como? — O que há com essa garota?

Ela se levantou e pude ver toda sua “coragem”. Ela veio até mim e sem esperar, ela me empurrou.

— Eu não precisava da sua ajuda! — gritou ao me empurrar. Sério, essa garota!

Por ser surpreendido, não pude fazer muito a não ser cair de bunda no chão depois do seu empurrão... Pressionei minhas mãos com força... isso... ela acha que pode fazer isso comigo? Eu...

— Yami? — Sheyla ameaçou correr em minha direção, porém a impedi.

— O que você quer dizer com isso? — perguntei para Samy, ainda sentado.

— Você diz que quer nos ajudar? — Ela caiu de joelhos, chorando. — Mas..., mas... — ela apontou para o Yaga que estava voltando — Eles fizeram o que queriam comigo enquanto não pude fazer nada!

Ela estava chorando sem parar.

Enquanto isso, me levantei.

— Você apareceu do nada e diz que eles não tiveram culpa? Então... de quem é a culpa? Foi minha culpa? Eu sou a culpada aqui? — Samy continuou se lamentando.

As outras duas, Meril e Ninx, apesar de estarem ativamente contra mim antes, aguardaram para ver o que eu faria. Pelo jeito, consegui fazer com que elas não me vissem como uma inimiga. No entanto, essa Samy... que garotinha. E o pior que não posso bater nela ou qualquer outra coisa, se não, isso só iria ficar mal para o meu lado.

Se não fosse por essas habilidades... Ah, por que eu não tenho alguma habilidade onde possa simplesmente roubar as outras habilidades? Seria tudo mais fácil.

— Eu não disse isso... — tentei me aproximar dela.

— Você não disse! Mas é isso que eu entendi... E eu nunca vou perdoá-los. — Ela continuou a chorar, agora se encolhendo ainda mais. — Seria muito melhor se eu apenas morresse, e pensei que esse dia finalmente estava chegando... aí, eu acordo e ainda continuo presa aqui... Sua culpa!

Todas estavam escutando aquilo em silêncio. Samy, apesar de pequena, conseguiu elevar sua voz a uma incrível altura. E, considerando seu estado e as outras duas, é bem provável que as outras tivessem o mesmo tipo de pensamento.

Quando Meril comentou sobre: a diferença entre ajudar ou apenas não deixar morrer, talvez fosse por isso. E quando Sheyla falou da sua “salvação”, provavelmente elas, assim que chegaram até aqui, deveriam ter pensado nessa solução várias e várias vezes. Porém, o que é isso? Eu não me importo.

Como ela continuava encolhida, me aproximei e a abracei.

— Não estou pedindo que os perdoe.

— ME LARGA! — gritou Samy, tentando me afastar.

Quando o fiz, as duas ameaçaram fazer alguma coisa, só que, me vendo tentando acalmá-la, deixaram que a cena continuasse. Mesmo assim, elas não tiravam os olhares de mim, então é impossível fazer qualquer coisa drástica aqui.

Minha vontade era de dar um tapa nessa garota para ela parar de ser um fardo para mim, só que isso não posso fazer, né?

— ME LARGA, JÁ DISSE! — Samy continuou me forçando a soltá-la. Porém, com minha “Força”, isso era impossível.

Só preciso ter cuidado para não exagerar aqui... e, como devo solucionar esse problema?

— Acalme-se, Samy.

Ao falar seu nome, ela parou de gritar e tentou me afastar, mas, continuou chorando.

Sistema: [Você deseja utilizar Teste Intimidar?][Sim][Não].

Quê? Espera, por que esse...

Sistema: [Você jogou 1d20 e obteve 20+99, resultado: Sucesso Crítico].

Mas, que caralho foi isso? Eu não pedi esse teste, sequer... e de nada adiantou reclamar, pois meu corpo começou a se movimentar sozinho.

— Ok... Ok. Não precisa ser assim, Samy. — Coloquei meu queixo sobre seu ombro para que pudesse falar diretamente no seu ouvido: — Se você continuar assim, eu vou apenas sair daquela sala e fingir que você não existe. Sabe, isso não vai pesar nem um pouquinho na minha consciência.

Samy que estava chorando, depois de ser ameaçada daquele jeito, também começou a conter seu choro. Eu, por outro lado – e sobre o controle do Sistema –, ainda abraçado nela, continuei:

— E você? Acha que conseguiria não se importar? Se o que passou foi tão ruim, imagine agora que eu posso te curar a ponto de você nunca conseguir morrer? O que acha disso, um futuro incrível, não? — Que palavras são essas? Tudo bem que eu queria fazê-la me ajudar e parar com esse choro todo, mas não desse jeito.

— Eu... eu... — ela começou a soluçar.

— Por que não só pare com essa infantilidade e aceita minha ajuda? Estou te oferecendo uma segunda chance para recomeçar. Fique mais forte, procure sua vingança e depois viva sua vida do jeito que quiser... Não vê que apenas uma das alternativas aqui, você sai ganhando?

— Então essa é você de verdade? — perguntou baixinho.

Para as outras, provavelmente só estávamos abraçadas como alguém compartilhando o pesar do outro, no entanto, nunca esperariam que tudo aquilo acontecesse embaixo de seus narizes.

— Quem sabe? Eu posso ser desde o herói até o vilão — sussurrei e depois de uma pausa, completei: — Esse é meu jeito de ganhar poder.

Senti que ela me abraçou novamente, colocando seu rosto contra o meu.

— Você... você... — Não sei o que deu no Sistema para fazer tudo isso, mas, depois de tudo que aconteceu, eu ainda vou me dar mal nessa porra? Ela gaguejou por um momento até inspirar profundamente e completar sua frase: — Você poderia me ensinar a ser assim?

— Oh, então vai aceitar minha ajuda?

— Sim, Yami... eu gostaria que você me ensinasse como ficar tão forte quanto você...

— Não se preocupe. Vou te ajudar na decisão que escolher, e até lá, também gostaria da sua ajuda — mudei totalmente a forma de falar, e falei essas últimas palavras para que todas pudessem escutar.

Neste caso, minha máscara de garota fraca e humilde não tinha caído, então, eu deveria continuar do jeito que estava. Olhei para Samy que, por ter chorado muito, estava tentando se recompor aos poucos – isso sem contar essa intimidação absurda, né?

— Yami — chamou Meril.

— Sim?

— Eu posso ter uma contraproposta? — perguntou.

Sheyla e Ninx foram surpreendidas. Que merda é essa, ela ainda quer arrumar briga? Pior que ainda tenho que escutá-la.

— O que seria? Não quer me ajudar?

— Não é isso. Eu... como posso dizer... — Ela deu alguns passos até minha direção. Por ser uma mulher adulta, tive que olhar para cima para fitar seus olhos. — Não acho que as outras deveriam participar disso, se elas podem ser tratadas e retiradas daqui, então acho melhor que elas voltem para suas famílias.

— Eu quero ficar com a Yami — respondeu Samy, que estava ali do lado.

— Você tem certeza disso? — Meril perguntou para ela, encarando-a com um olhar feio. — Pois não pareceu depois daquele show todo.

— Talvez eu tenha me exaltado um pouco, porém Yami me explicou o que ela quer. Ela tem poder, mas não quer usar ele para o mal e por isso deseja conhecimento.

Interessante, Samy. Boa!

— É, eu entendi isso, mas não significa que deveríamos por algo tão pesado nos ombros de garotinhas.

— Como é? Quantos anos você tem? — perguntou Samy.

— Olhe menina, não é porque você tem peitões, que você...

— Eu já perguntei, quantos anos você tem?

Meril, sentindo-se novamente contrariada, suspirou.

— Tenho 21 anos, e como estava dizendo...

— Eu tenho 24, então, parece que você é a garotinha aqui, ?

— Quê?

— Espere garotas... vocês não podem arranjar briga uma com as outras por motivos tão infantis — disse Sheyla.

— Me desculpe, Yami. — comentou Samy.

, por que ela está pedindo desculpas para mim?

— O que foi isso? — perguntou Meril, olhando para Samy e para mim.

— Eu entendi que você está sentindo-se inconformada como as coisas terminaram, porém, o que sugere? — perguntei para ela.

— Oh, certo. Eu quero um duelo.

— Está maluca, Meril? — indagou Ninx. — Depois de tudo que aconteceu, ainda deseja lutar contra ela?

— Não entendi, por que achas que eu aceitaria lutar contigo? — suspirei. Depois de todo esse tempo perdido e toda essa ladainha, ainda assim, ela quer um duelo? — Por quê?

— Eu sou uma estudiosa de magia negra.

Hmmm, e?

— E reconheço quando uma criatura ou outra pessoa esconde seus verdadeiros poderes.

Todos olharam para mim, me encarando como se quisessem comprovar por si mesmo o que Meril estava falando.

— Ainda não entendi o que você quer ou onde quer chegar.

— Ok, vou tentar ser mais direta. Eu quero um duelo contigo. Você e eu, usando nossos poderes.

— Mas não quero lutar contigo, eu só quero...

— Nos ajudar, certo? Eu sei. Se eu ganhar, eu quero que você libere todas as outras garotas e eu te ajudarei com as informações que eu tenho.

— Espere, Meril... — disse Sheyla, se aproximando. — Eu...

— Você é a comandante dos Cavaleiros de Lóthus, já se esqueceu disso? Não sei como você parou aqui, nesta caverna, porém, já pensou o que aconteceria se você apenas desaparecesse ou mesmo descobrissem que se aliou com um demônio?

— Mas...

— Eu estou levando em consideração o que é melhor para todas aqui, inclusive para a Cidade da Fronteira.

Cidade da Fronteira? Interessante, então há alguma cidade humana próxima daqui.

— Eu... entendi o que você quer dizer.

—  Mesmo que você tenha surtado ali atrás, foi uma ação bem heroica da sua parte. Porém, também foi burrice. Sabe o quanto os outros confiam em você e nas suas habilidades? Estando viva e não presa aqui você ajudaria muito mais os outros.

— Oh, então você não é apenas uma garota orgulhosa — disse Ninx.

— Como é? — perguntou Meril furiosa.

— Apenas ignore ela, e então, se eu ganhar? — perguntei, querendo continuar a entender o tal plano.

— Então me tornarei sua escrava...

— Isso? — olhei para as outras “civis” ali do lado.

— Não esse tipo de escrava, farei um pacto de sangue contigo. Então você teria todas minhas habilidades e meus conhecimentos. Eu só peço que, mesmo se ganhar, não faça mal às outras por causa disso.

— Vocês... — encarei Sheyla e depois Meril. — São bem extremas nas suas decisões. Sabe, não tem por que ser assim...

E agora, o que devo fazer? Aceitar?

O pior seria lutar contra as três ao mesmo tempo. Por isso tive que escolher com cuidado minhas palavras e ações até aqui, no entanto, se eu lutasse com cada uma, individualmente, eu conseguiria vencer?

Yaga fez questão de se aproximar, para também participar da conversa:

— Se me permitem. Há uma área mais ao fundo da caverna que se assemelha a uma arena.

— Você não é contra ela lutar? — perguntou Sheyla olhando para o Yaga.

— Se ela aceitar, não tem por que eu me preocupar. — disse Yaga bem convicto nas palavras.

Ele acha que eu posso vencê-la facilmente? Não tenho nada, nem armas, nem habilidades de combate, além disso, eu estaria lutando contra uma verdadeira maga. Minha força mostrou-se bem aterradora, porém, isso seria o suficiente para vencer a batalha?

— E o que você me diz sobre o duelo, Sheyla? — perguntei para Sheyla.

— Como assim?

— Aceita essa condição? Você seria obrigada a voltar para cidade.

— Eu prometi que iria te ajudar, não?

— Sim, eu sei. Mas concordo com a Meril, se você possui uma responsabilidade tão grande, você não deveria largá-la sem uma boa razão.

Olhe eu dizendo isso, quão hipócrita eu sou.

De qualquer forma, mesmo que eu a perdesse como um peão, isso também significaria que eu teria um problema a menos para resolver. Meril e Samy são as que eu mais deveria priorizar. Ninx, apesar de ter algumas de suas habilidades também consideradas fortes, não são do meu estilo.

— Ok. Se você diz, eu não vou ficar contra a isso.

— E você, Samy?

— Eu sou contra... mesmo que Meril ganhe, eu quero continuar com você.

— Ok, garota... eu não me importo contigo, afinal se você é adulta, então o problema é seu — argumentou “maduramente” Meril.

— E você Ninx? — perguntei para Ninx.

— Bom, pelo que vi, seja lá quem ganhar, eu estaria ganhando de qualquer forma, ? — disse de maneira debochada.

— Pelo jeito, sim.

A conversa estava fluindo até que bem, mesmo se o final estivesse levando para esse “duelo”, porém, enquanto estávamos discutindo, uma das garotas soltou um grito de dor.

Aiii! — gritou.

Essa era Luane.

Luane era uma jovem de 18 anos, tinha a pele escura e cabelos negros volumosos. Por um momento, isso me fez questionar sobre a estética do mundo, pois até então, parecia muito seguir para o conceito clássico de fantasia medieval onde o povo era basicamente brancos no estilo europeu. Mesmo assim, ali estava Luane, uma negra. Como todas as outras garotas, era tão bonita quanto as modelos de capa de revista.

— Você está bem? — perguntou Sheyla e Meril.

— Vocês ficaram gritando e gritando... por isso não consegui dormir... essa dor... como eu gostaria que ela parasse.

— Algum ferimento? — perguntei.

Eu tinha curado todas aqui, então, o que seria essa dor?

— Creio que não, apenas o pestinha dentro da minha barriga, me chutando.

Assim que me aproximei, ficando entre ela e as outras garotas, o Sistema novamente me avisou, só que agora com uma mensagem bem diferenciada:

Sistema: [A gestação de Luane possui 144h30m20s restantes].

Oh!? Parece que ela vai dar à luz a qualquer momento em 6 dias, Yaga! Como é o procedimento?

Yaga que estava afastado, caminhou em nossa direção. Porém, todas as garotas fizeram questão de “ameaçá-lo” com seus olhares e estados defensivos. Por causa disso, ele parou e dali mesmo continuou:

— Gigi é nossa parteira. Eu irei avisar a Togo que ela se prepare.

— Como você sabe disso, Yami? — perguntou Samy.

— Como?

— Sim, até mesmo eu que já participei de alguns partos antes, não saberia algo tão preciso.

Oh, meu segredo?

— Entendo. — Samy apenas acenava com a cabeça e dava um sorriso.

Não sei dizer se ela está me testando ou apenas curiosa acerca das minhas habilidades. Porém, se considerar o que eu a fiz passar, com aquela intimidação maluca, isso fica um pouco mais frágil.

— E pensar que é minha segunda criança...

— E como você está tão tranquila?

— Olhe, eu já tinha perdido toda minha esperança de que conseguiria sair desse lugar, então... bem, acabei me acostumando, né? Quero dizer — ela acariciou sua própria barriga — Ainda tem essa dor infernal que me faz... Ai... desejar acabar com tudo.

— Você está brincando ou falando sério? — perguntou Meril, se aproximando e verificando sua temperatura.

— Talvez... as duas coisas?

— Não brinca com isso! — comentou Meril e depois de encostar em sua testa, continuou: — Você está começando a ficar quente. — Olhou para Samy — Talvez febre?

— Depois que a baixinha aí me curou... posso dizer que não senti nada... hehe — riu, mesmo com dor, e continuou: — Será que ela não pode simplesmente me curar novamente?

— Me desculpe, porém, o que você está sentindo não é bem por causa de um ferimento, é provavelmente seu corpo apenas te alertando sobre algo — comentou Samy.

— Será isso? — ela deu leves tapinhas na própria barriga.

Samy fez um sinal negativo e respondeu:

— Podem ser vários motivos, mas a gravidez mesmo, não.

— Não é porque seja uma criatura no ventre dela? — questionou Ninx lá de trás.

— Se não vai ajudar, não atrapalhe — argumentou Meril.

— Ok, ok. Quem disse isso não está mais aqui! — Ela começou a caminhar pela caverna, olhando as coisas ao redor.

— Por causa da magia da Yami, você deve ter tido uma melhora significativa, porém — ela olhou para mim —, não dá para confirmar se isso removeria algum tipo de infecção. Por favor, abra suas pernas. — disse Samy.

Opa, o que estou acompanhando, acho melhor apenas ver como está a outra garota enquanto a “doutora” Samy verifica o estado da Luane.

— Você sabe cuidar disso? — perguntou Sheyla.

— Eu já participei de alguns partos antes.

— Entendi. Eu não sei nada sobre, então, por favor, ajude-a — afirmou Sheyla.

— E você, já teve algum tipo de experiência? — perguntou Samy olhando para Meril.

— Somente o que ensinaram nas academias, de qualquer forma, se eu puder ajudar, só me falar.

Enquanto me afastava, as três continuavam comentando sobre a situação. Incrível como um tempo antes estavam lutando entre si, e agora, aparecendo uma grávida, decidiram abandonar os problemas para se ajudar.

A outra garota, e última dessa sala, é Ashley.

Ashley é a mais nova daqui, e, prefiro nem dizer sua idade.

Ela também está grávida, apesar de seu contador de gestação ainda avisar que faltam muitos dias. Seus cabelos loiros estão cortados de uma maneira bem rudimentar, então, provavelmente foi à força.

Seria correto afirmar que não sinto nada por elas, nesse estado? Ao mesmo tempo, foi apenas a Sheyla dar aquele surto que fiquei aos prantos. Ou seja, uma verdadeira loucura, né?

— E você, Ashley, como estás? — perguntei, me aproximando dela já que estava com a cabeça baixa até agora — Chegou a escutar tudo que aconteceu? Estou aqui para te ajudar.

— Aquela outra garota... ela também estava esperando morrer, ? — perguntou baixinho e depois virou o rosto, olhando para mim. Diferente de Samy ou Sheyla, seus olhos eram verdes que lembravam esmeraldas.

Essa foi a única, até agora, a não ficar surpresa por eu tê-la chamado pelo nome.

— Sim... — afirmei.

— E se eu pedir, você me mataria? — Sério que ela me fez essa pergunta?

— Porém, é isso que você quer? — Me agachei, ficando de frente a ela.

— Já não sei mais... estava aqui pensando... Se eu conseguisse sair, para onde iria? — Ela se conteve antes de começar a chorar.

— Não tem algum lugar para voltar? — perguntei, sentando-me ao seu lado.

— Acho que não... Não, não tenho para onde voltar.

— Eu sei que pode ser indelicado da minha parte, ainda mais que tudo isso tenha acontecido contigo, porém, se você quiser, eu posso escutar sua história.

— Obrigada... é tão estranho voltar a conversar com alguém assim...

— Vocês não conversavam entre si? — Depois que percebi que já estaria entrando em uma zona extremamente perigosa, fiz um sinal negativo e continuei: — Esquece isso, não precisa me responder.

— Tudo bem... — Ela deu uma longa pausa, porém continuou: — No início até conversávamos sobre nossas vidas, medos e sonhos... ou quem poderia nos salvar. No entanto, para cada próximo dia, já nem sabíamos mais se deveríamos estar acordadas ou dormindo, se era dia ou noite... se valeria a pena gastar energia falando...

— Me desculpe por fazê-la entrar nesse assunto.

— De qualquer forma, sabe, quando não se tem nada para ver — olhou para o [Globo de Luz] — É como se não tivesse ninguém para conversar, ? No final, eu e aquela garota só estávamos aguardando o dia que seríamos levadas para o céu... se existir.

— Não queria ser tão...

— Já disse para não se preocupar. — Ela olhou para mim, sorrindo. — Mesmo tão nova, parece que carregas muito mais experiência. E eu... bem, terminei assim.

— Você disse que não tem para onde voltar...

— Sim, apesar de não lembrar quanto tempo estive presa aqui, pode-se dizer que ainda me lembro quando... Fugi de casa.

— E isso foi por escolha?

Ela concordava com a cabeça, e voltava a encarar o [Globo de Luz] por um momento antes de continuar:

— Engraçado, eu fugi de casa com meu namorado pois não queria ser controlada pelos meus pais... e, na primeira noite que passamos fora da cidade, ele foi atacado e morto por um lobo-negro... — Ela começou a iniciar seu choro.

— Ok, não precisa continuar — a abracei.

— E sabe o pior? — E ainda tem mais?

— Quando eu saí de casa, eles gritaram para que todos os vizinhos escutassem: “que morra na floresta bem longe, para não termos que encontrar seu corpo algum dia”. Parece que, até no final de tudo, eu estive seguindo suas ordens, ?

Não é como se eu quisesse ouvir sua historinha triste, e para piorar, essa garota é a que tem menos habilidades, então, por que estou aqui, confortando-a?

— Olhe, eu não sei se posso curar essas feridas emocionais. Porém, se aceitar, eu posso te ajudar depois que essa criança nascer, assim você poderia arranjar seu próprio motivo para continuar a viver — falei apenas por educação.

— Eu... agradeceria, Yami. — Ela me abraçou forte, e logo começou a falar: — pedi tantas vezes para que deus me levasse, isso porque já não tinha mais motivos para viver, nem esperanças de que alguém viria me buscar ou me salvar, porém, você está me oferecendo uma segunda-chance, certo? Obrigada!

— Tudo bem, tudo vai ficar bem.

Meril, que estava ajudando Samy com o caso da Luane, se aproximou de mim. Por isso, parei de abraçar a Ashley e aguardei ela com o que queria dizer.

— Ainda não acredito que um demônio esteja demonstrando tamanha compaixão, ou de fato tentando confortar os corações destruídos dessas garotas. — Vendo que eu não a respondi, ela continuou: — Yami, e então, o que me diz, vai aceitar o duelo?

— Ok. Todas estão de acordo, porém, Samy e Ashley decidiram ficar comigo, mesmo que você ganhe. Algum problema com a decisão delas?

— Não. Se elas quiserem ficar, então isso seriam seus próprios problemas.

— Então só preciso perguntar para Luane e pronto, podemos iniciá-lo.

— Não se preocupe, aproveitei e perguntei para ela, e pelo jeito ela também prefere ficar aqui.

— Sério?

— Sim.

— Ou seja, mesmo que você ganhe, apenas Sheyla e Ninx estariam livres.

— Não é bem como eu esperava, porém, se todas decidiram assim, não há o que fazer.

— E mesmo assim deseja continuar com esse duelo?

— Sim.

— Qual seria sua razão por trás disso?

— Não que eu estivesse fazendo isso apenas como altruísmo, porém, você é um demônio, ou seja, uma criatura.

— Sim.

— E nunca encontrei uma criatura capaz de falar ou agir tão bem quanto você, quase como um humano. E tem mais, aquele outro goblin, o Yaga, ele está em um nível que nunca vi antes.

— O que há com isso agora?

— Bem, vocês dois são algo que vale a pena estudar.

— Como é? — Que papo estranho é esse de estudar? Não é porque aparentemente sou considerado um monstro que sou um animal de testes.

Oh, não quero te ofender, apenas... — Apesar de ela tentar continuar, logo a cortei:

— Você me parece muito como uma acadêmica para mim.

— Então você sabe sobre a Academia?

— Isso? Não.

Academia? Tipo universidades e faculdades? De qualquer forma, antes que pudéssemos conversar, Yaga se aproximou e me avisou sobre as outras goblins, pois elas já tinham chegado naquela parte da caverna. E por isso, perguntava como prosseguir.

— Vamos deixar isso para depois, afinal, ganhando ou perdendo, você passaria a ser minha professora, né?

— Sim..., porém, não fique tão confiante. Mesmo tendo essa aparência de criança, eu não pegarei leve contigo.

— Tudo bem. — Virei-me para o Yaga que se uniu a nós na conversa e continuei: — Você disse que tinha uma arena, certo? Nos leve até lá. E chame todos outros goblins.

— Algum motivo especial para isso, Yami? —  Perguntou Yaga.

— Sim, vou seguir seu aviso sobre minha aparência frágil, só que, independentemente do resultado desse duelo, eu poderia continuar escondido ou ser capaz de mostrar para todos de uma única vez o quão forte eu sou.

Oh, entendi. Boa ideia, Yami — afirmou Yaga.

Meril que não estava entendendo nada o que estávamos falando, “tossiu” para que lembrássemos dela ali.

— O que vocês estão falando? — perguntou Meril.

— Estou pedindo que todos os goblins se reúnam na arena.

— O quê? Por quê?

— Seja lá quem for o vencedor, se todos virem isso com seus próprios olhos, não teríamos que nos preocupar com a situação das garotas. Afinal, depois do duelo, deixaremos claro como prosseguir ali mesmo.

— Nossa... você é mesmo uma criança, ?

— Sim, 12 anos.

— É, Sheyla não ficaria daquele jeito se não fosse... — disse Meil, encarando Sheyla de longe. Depois disso, vendo o Yaga, ela puxou assunto: — Você é o Yaga, certo? É o líder dos goblins?

— Sim. — Yaga fez uma reverência bem “humana” por sinal.

Tina e Saga se aproximavam, trazendo as roupas que eu pedi. Já com elas, outros goblins trouxeram os equipamentos das aventureiras, deixando-as no centro da caverna e depois saindo.

— O que há com esses goblins? — perguntou Meril.

— O que foi? — perguntei para ela.

— Não só estão agindo de maneira organizada, como... não... esquece. — Afirmou Meril.

— Bem, pergunte ao Yaga, afinal ele é o líder daqui.

Oh, se lhe interessar, eu não me importo em explicar... — Ele olhou para mim e depois completou: — Claro, se a Yami permitir.

— Quando você terminar de se equipar, nós partiremos para a Arena — disse para Meril enquanto apontava para o lugar de seus equipamentos.

Depois disso, indicava para Tina e Saga quem elas deveriam “medir” agora.

— Tudo bem — confirmou Meril.

— E, antes disso, o que seria este duelo? Um confronto de espadas? — perguntei, tentando entender mais o que iria acontecer quando chegar a hora.

— Se você souber usá-las, não me importo. O duelo é simples, ganha aquele que derrotar seu adversário primeiro ou forçá-lo a desistir. É claro, tentaremos não nos matar, afinal, queremos continuar ambas vivas.

— Ok, tudo bem.

— E caso você não tenha percebido, eu sou uma maga, então usarei magias.

— Ok.

— Não está preocupada em acabar sendo derrotada sem nem conseguir se movimentar? — Meril brincou.

— Não.

— Tudo bem... depois não reclame.

— “Quem avisa amigo é”? — questionei, tentando ver se ela entendia o significado dessa frase.

— Amigo? Não sei se chegamos a tanto. — Ela foi até suas roupas — Ainda assim, espero que dê o seu melhor. Afinal, é impossível criar qualquer tipo de aliança se um dos lados está ativamente tentando esconder algo do outro...

Realmente, essa mulher tem um sentido bem aguçado no que diz respeito às possibilidades. Ela provavelmente compreendeu que eu não sou simplesmente uma garotinha com traços demoníacos. Claro que, deixei claro que era um demônio-real e mesmo dizendo isso, ela quer lutar comigo de qualquer forma. Bem, o que me resta agora?

Ainda que ela tenha cuspido xingamentos gratuitos no início de toda essa confusão, parece estar interessada em mim ou no Yaga. Por isso, provavelmente não iria me matar mesmo se pudesse.

E, apesar de ser uma mulher orgulhosa que não gosta de ser contrariada, criou todo esse “duelo” como uma desculpa para ajudar as outras garotas, então, junto com a Sheyla, eu poderia dizer que ambas têm bom coração?

De qualquer forma, isso significa que é melhor eu ganhar ou perder?

Que escolha difícil, mas, vamos lá. Se for para jogar, tem que jogar para obter os melhores resultados, e eu, sou o melhor!



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