Volume 1
Capítulo 24: Promessas e verdades
"Promessas não são meras palavras ao vento, mas vestígios de verdades ocultas no silêncio do tempo. É ao confrontarmos nossos segredos que forjamos um destino além dos juramentos."
(Véus do Amanhecer, Haruka Matsumoto)
8ª Lua Cheia do ano 1647
Lua da Luz, dia 26
A capital imperial certamente fora deslumbrante em outros tempos. Cercada por montanhas em uma região vulcânica, a cidade, mesmo em ruínas, ainda preservava a grandiosidade de suas construções magníficas. Akemi conseguia visualizar com clareza sua era de ouro: ruas movimentadas, lanternas coloridas iluminando a noite e grandes festivais ao redor do palácio. Seria errado desejar ver tudo isso com os próprios olhos um dia?
Perto dali, o Monte Iki se erguia imponente, como um lembrete silencioso de quem aquela terra um dia pertencera — e a quem, inevitavelmente, retornaria. Um arrepio percorreu a espinha de Akemi. Shin realmente seria capaz de reconquistar o trono? Ela queria acreditar que sim. E faria o que fosse preciso para ajudá-lo.
Agora que o pior havia passado, até mesmo o calor parecia ter amainado. Com a ajuda de Haruka, Yuri improvisou uma tala para o braço de Ryota, usando um pedaço de galho. Agora ele estava acomodado à sombra, a cabeça enfaixada e imóvel, enquanto os olhos atentos acompanhavam o restante do grupo montando o acampamento. Hikari trabalhava em silêncio, mas seu olhar inquieto sempre buscava Ryota, como se precisasse se certificar de que ele ainda estava ali.
As tendas foram erguidas com agilidade. A noite logo cairia, e todos concordaram que o melhor seria descansar antes de iniciar a busca pela manhã. Estavam exaustos pela longa jornada e pelo confronto com o dragão, mas, quando a lua surgiu no céu, reuniram-se ao redor da fogueira, compartilhando comida e bebida como velhos amigos. Como aqueles que haviam lutado juntos e saído vitoriosos, sem nenhuma perda.
— Não exagere na bebida, Ryota — alertou Shin com um sorriso, erguendo seu próprio copo. — Não quer ver Hikari chorar de novo, quer?
— Não cometeria esse erro duas vezes no mesmo século, muito menos no mesmo dia — retrucou Ryota, lançando um olhar divertido para ela.
— Não me provoque! — Hikari resmungou, mas seu olhar brilhava com animação.
O grupo se aqueceu com as risadas. Akemi, no entanto, encontrou seu olhar preso a Yuri. Sentado do outro lado da fogueira, as chamas iluminavam sua pele bronzeada pelo calor dos últimos dias, realçando ainda mais sua beleza. Os cabelos jogados para trás davam-lhe um ar de maturidade e descontração. Com um dos cotovelos apoiados no joelho, parecia mais calmo do que antes, diferente do Yuri inquieto de dias atrás. Quando ele sorriu, o coração de Akemi disparou. E quando seus olhos encontraram os dela, tudo dentro dela se revirou.
Ela ansiava por aquilo. Por sua atenção. Por mais do que um olhar fugaz — queria que ele falasse com ela.
O calor subiu até seu rosto, e Akemi desviou o olhar. Sabia que estava corada, então deixou que seus instintos a guiassem, levantando-se e se afastando da fogueira. Caminhou pela noite escura, perguntando-se como podia ser tão tola. Se desejava aquilo, então por que estava fugindo?
Desde que confessara seus medos a Yuri, vinha evitando-o. Passara a acompanhar Hikari durante a viagem, mantendo distância enquanto ele se perdia em pensamentos sobre o que acontecera nas montanhas. Aproveitara-se de seu silêncio para se afastar. Agora, ao perceber isso, sentiu uma pontada de vergonha. Parou abruptamente e bufou, irritada consigo mesma.
— Fiz algo que a chateou?
A voz atrás dela a congelou.
Akemi não tinha para onde fugir.
— Não… — murmurou, apenas para perceber que lágrimas haviam se acumulado em seus olhos. Virou-se de cabeça baixa, evitando seu olhar.
Sentia-se confusa. Sentia-se... com medo.
Yuri se aproximou devagar, como se temesse assustá-la, como se soubesse que ela poderia escapar a qualquer momento. Agora, tão perto, seu perfume a envolveu, e o calor de sua presença a fez prender a respiração
Hesitante, ele ergueu a mão e, com as pontas dos dedos, tocou o rosto dela.
O calor do toque percorreu todo o corpo de Akemi.
— Então, o que está te incomodando? — sussurrou ele suavemente.
Ela quase desabou ali mesmo, derrotada. Mas ergueu o olhar para as estrelas, respirou fundo e tentou organizar seus pensamentos. O que poderia dizer? Como traduzir seus sentimentos em palavras? Seria demais confessá-los agora?
— Eu... o que você diria se eu dissesse que estou apaixonada por alguém?
Yuri arregalou os olhos, surpreso com a pergunta repentina, mas logo um sorriso tênue curvou seus lábios.
— Eu diria que essa pessoa tem muita sorte.
— Não brinque comigo.
— Não estou brincando. Akemi, você não consegue se ver? Você me inspira a querer ser melhor, mesmo quando o mundo está um caos.
O mundo de Akemi virou de cabeça para baixo. Será que ele sabia que ela estava falando dele? Claro que não. Ele apenas estava sendo gentil.
Ela já enfrentara ferimentos de batalha, mas nada se comparava à dor que envolveu seu coração naquele instante.
Então, ele a abraçou.
O tempo pareceu suspenso. Akemi sentiu como se aquele momento fosse frágil, como um fio prestes a se romper. Era como estar em uma das peças que assistira anos atrás, onde as pessoas fariam qualquer coisa pelo amor, onde um destino poderia mudar com uma única escolha.
Tudo ao redor se tornou distante, e ela desejou que ele nunca mais a soltasse. Seus braços ao redor dela eram a única realidade palpável.
E, enquanto suas mãos apertavam a pele dele, ela desejou que ele a beijasse.
Queria tocá-lo além da superfície, alcançar aquele fogo invisível que fazia seu próprio coração acelerar.
— Quando essa guerra acabar, você terá uma vida feliz, Akemi — murmurou ele contra seus cabelos. — Eu vou garantir isso... É uma promessa.
Ali, no meio da noite silenciosa, Akemi apertou os olhos e fez uma prece ao universo. À Aurora Primordial que um dia lhe concedera a vida.
Ela pediu, com toda a força de seu coração, que esse futuro prometido por Yuri realmente pudesse existir.
***
Quando o sol finalmente nasceu, Akemi despertou com o coração ainda marcado pelas emoções intensas da noite. Enquanto se despia dos resquícios dos sonhos e dos sussurros que se perderam na escuridão, as lembranças do toque suave de Yuri, das palavras que prometiam um futuro melhor surgiam teimosamente em sua mente. Mas o cansaço e a urgência do novo dia a chamavam de volta à missão. Com um suspiro profundo, ela prendeu as espadas na cintura e saiu da tenda para se reunir com os outros, abandonando qualquer fragmento de esperança que tivesse ousado sentir.
Shin estava determinado a revirar cada ruína até encontrar a espada que procurava.
— O lugar mais óbvio para começar é o Santuário do Dragão — sugeriu Ryota. Seu braço ainda estava imobilizado, mas ele parecia bem mais recuperado.
— Não seria mais lógico o palácio? Afinal, a espada pertenceu ao antigo imperador. — Kenji levantou a hipótese.
— Se fosse fácil assim, já teriam encontrado. O que acha, Yuri? — Shin perguntou, voltando-se para ele.
Yuri, que parecia distante até então, passou a mão no queixo, pensativo.
— O santuário faz sentido, já que está ligado a Kaenjin. Concorda, Akemi?
O som do próprio nome a fez se arrepiar.
— De acordo.
Shin olhou ao redor.
— Certo. Vamos começar pelo templo. Haruka? Hikari?
— Eu começaria pelo Monte Iki — murmurou Hikari, contemplando a grandiosidade da montanha à frente —, mas parece que já decidiram.
— Haruka?
— De acordo, Shin. Mas antes, preciso dizer uma coisa. Senti a presença de outras pessoas por perto.
— Também percebi. — O semblante de Shin se fechou. — E, pelo número, diria que há um acampamento nas proximidades.
— Um acampamento? Aqui? — Kenji franziu o cenho.
— Se vieram por mar, é possível que tenham tomado o Porto Yosei... — Yuri refletiu.
— Não há como ter certeza, mas é provável. O imperador controla as rotas marítimas. — Shin lançou um olhar para Ryota, que pareceu desconfortável. Ele discordara quando Shin sugeriu atravessar o desfiladeiro em vez de seguir pelo mar, argumentando que era a melhor opção. Mas, em tempos de guerra, não se tratava apenas de escolher o caminho mais fácil — era preciso antecipar os movimentos do inimigo. Shin não dissera nada na época, mas sua previsão se mostrava correta mais uma vez.
Yuri balançou a cabeça, concordando. Como novo ministro, certamente tivera participação na escolha da rota.
— Só há um jeito de saber — disse Hikari, impaciente. Ou talvez estivesse apenas defendendo Ryota. Eles pareciam bem próximos desde o incidente... Akemi não conseguiu evitar um sorriso. Ficava feliz por eles.
— A caminho, então! — anunciou Shin com um tom descontraído.
Nas ruínas, separaram-se para verificar os arredores. Se houvesse inimigos por perto, precisariam redobrar a cautela.
Akemi sacou as espadas enquanto caminhava silenciosamente entre as ruas destruídas. Estranhamente, aquilo lhe trouxe memórias da infância. Caminhar furtivamente pelas sombras, fazer o necessário para sobreviver...
Mas não estava sozinha.
Ela só percebeu a presença quando já era tarde demais.
Num instante, a lâmina inimiga cortou o ar e parou a poucos centímetros de seu rosto, estalando contra sua própria espada. Mas o que a assustou não foi o golpe — foi o olhar que encontrou o dela.
Ela conhecia aqueles olhos.
Conhecia bem demais.
Ao avistar a silhueta familiar, um instante de incredulidade atravessou sua mente. Por um breve momento, Akemi recusou-se a aceitar a realidade: aquela figura não pertencia mais ao seu presente, era uma lembrança indesejada do passado.
— Olá, filha — ele cuspiu as palavras com deboche, forçando a negação que ela tentava desesperadamente sustentar.
— Você... o que está fazendo aqui? — gaguejou, dando um passo para trás.
Akemi sentiu o sangue gelar, e sua mente travava uma batalha interna: negar, recusar, fugir.
Piscou, como se aquilo fosse uma ilusão que pudesse dissipar com um simples gesto. Mas não era. Seu pai estava ali, diante dela, depois de tantos anos. Depois de tanto tempo...
Ela sentiu vontade de vomitar.
Quando ele próprio a rebaixou a serva e Akemi fugiu de Amateru, pensou que nunca mais o veria. O clã Himura era um dos grandes aliados do império, mas ela havia feito um acordo com o imperador. Durante todos aqueles anos, nunca pisara em sua cidade natal. Nunca contatara ninguém da família.
Em um misto de horror e relutância, Akemi mal teve tempo de reagir antes que o instinto de combate se sobrepusesse à incredulidade.
— Ora, ora... apenas cumprindo meu dever — ele sorriu, grande demais para a situação. — E acabei esbarrando com uma traidora. O imperador ficará muito feliz se eu levar sua cabeça, não acha?
Akemi instintivamente assumiu posição de combate. Ele estava sozinho, mas possuía magia. Era um samurai Himura de sangue puro, treinado desde a infância na técnica do clã.
Mas ela não podia hesitar.
No intervalo de um suspiro, lançou-se contra ele com a confiança de anos como general.
Mas, num simples estalar de dedos, ele invocou uma luz tão intensa que a cegou.
Tudo se dissolveu em branco.
Então, escuridão.
Ela girava, golpeando no vazio, mas não encontrava nada. Apenas vento.
Até que, num instante, ele a desarmou. Uma espada. Depois a outra.
Ainda assim, ela continuou lutando.
Até sentir a mão grande prender seus braços com força. Outra pousou em sua cabeça, num gesto suave, contrastando com a brutalidade do aperto.
Como um pai de verdade faria.
— Quem diria... que esses olhos escondem a verdadeira face de um demônio.
A respiração dela estava descontrolada.
— Akemi! — A voz de Yuri foi a última coisa que ouviu antes de ser atingida na cabeça.
Quando acordou, já estava no acampamento.
Abriu os olhos, temendo ver apenas escuridão, mas, para sua surpresa, viu Yuri parado na entrada da tenda. Como se guardasse um tesouro.
— Yuri...
— Graças aos céus, você está bem! — Ele se aproximou, preocupado.
— Você... ele...
— Está vivo. — A firmeza na voz dele dizia que essa não era a verdade que desejava.
— Ah.
— Ele é da sua família, não é? Quando descobrimos que o acampamento pertencia ao clã Himura, voltei para te procurar.
Akemi sentiu um nó se formar na garganta. Yuri havia salvo sua vida. Mais uma vez.
— Obrigada... — murmurou, com os olhos marejados.
— Não se preocupe com isso agora.
Ele se aproximou, apoiando-se na parede atrás dela. Seu olhar a avaliava, intenso, percorrendo cada detalhe seu. Akemi sentiu o rosto queimar.
Ele estava tão perto que podia sentir sua respiração.
— Yuri, o que está...
— Demônio Escarlate. — A rispidez dele a atingiu como um golpe. — É você, não é?
O momento que tanto temera finalmente chegara.
Seu passado exposto.
Sem saída, falou a verdade.
— Sim. Eu sou a assassina que aterrorizou as ruas de Inazuma. O Demônio Escarlate.
Yuri a encarou por mais alguns instantes antes de se levantar abruptamente e sair da tenda.
Sem dizer nada.
Akemi instintivamente se ergueu, como se fosse atrás dele. Mas... o que poderia fazer?
Sozinha, deslizou as costas pela parede até se sentar no chão, exausta.
Seu coração doía, como se tivesse conquistado o mundo e perdido tudo no mesmo instante.
Por que tinha que ser assim? Por que justo agora, quando o amor finalmente a encontrava, parecia que ele também a destruía?
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