As lágrimas escorriam pelo rosto de Gumer, enquanto ele se lembrava do olhar do irmão, tão pequeno e vulnerável, sempre sorrindo apesar da dor. O peso da culpa e da tristeza o esmagava, como se uma sombra o estivesse consumindo.
— Eu... eu... — ele tentou protestar, mas as palavras se transformaram em um soluço, seu peito se contorcendo com a dor.
— Você não pode, porque é fraco. Você não consegue proteger ninguém. Você deixou sua mãe morrer, deixou seu irmão sofrer. Olhe ao seu redor. Ninguém se importa, Gumer. Eles nunca se importaram. E você sabe disso.
Gumer começou a tremer, sua respiração se tornando rápida e superficial. As palavras da voz pareciam se infiltrar em sua mente, torturando-o. Ele queria gritar, mas as palavras se recusavam a sair. Um nó se formou em sua garganta, e ele se engasgou, a dor crescente em seu peito.
— Não... — ele finalmente conseguiu gritar em pensamento, sua mente fervilhando de desespero.
A batalha interna se intensificava, e Gumer sentiu-se mergulhar em um abismo de solidão e desespero. Ele queria se libertar, queria gritar para o mundo, mas a voz misteriosa continuava a ressoar em sua mente, lembrando-o de suas falhas, de sua fraqueza, enquanto o chão sob seus pés parecia desmoronar.
Logo Firefy saiu do banheiro secando suas mãos e imediatamente percebeu Gumer parado, imóvel. Ela se aproximou devagar, sussurrando seu nome. Bastou olhar em seu rosto para que o coração disparasse. O rosto dele estava coberto de sangue; a mandíbula de Gumer pendia frouxa, deslocada para o lado, como se tivesse sido arrancada do encaixe à força. Os dentes expostos tremiam sob a pele rasgada, e um fio espesso de sangue escorria pelo queixo até pingar no chão. Um som gorgolejante escapava de sua garganta, meio sufocado, como se ele ainda tentasse falar. Mas seus olhos — meu Deus, os olhos — não refletiam dor. Refletiam confusão. Como se ele mesmo não soubesse que estava desfigurado. Ela sentiu o estômago revirar. Não conseguia respirar. O mundo ao redor desapareceu, tragado pela cena impossível à sua frente.
— Gumer?! — ela gritou, a voz tremendo de medo e desespero.
Assustada, Firefy recuou e se agachou à sua frente, suas mãos tampando a boca enquanto tentava gritar. O desespero começou a consumir Firefy enquanto ela olhava para ele, suas mãos tremendo e lágrimas escorrendo pelo rosto. Ele não respondia.
Ela implorou por ajuda, os gritos rasgando o corredor, alto e desesperado, sacudindo o silêncio como um trovão. Glomme, ainda dentro do banheiro, saiu correndo ao ouvir o som, ofegante, o coração batendo no peito como um tambor. Ao dobrar a esquina, parou bruscamente.
Firefy estava ajoelhado no chão, os ombros sacudidos por soluços, tentando conter o sangue que escorria do corpo imóvel de Gumer. As mãos tremiam, manchadas de vermelho, e sua respiração era descompassada, engasgada pelo choro. Glomme se jogou ao lado deles, trêmulo, o rosto tomado pelo horror, sem saber como reagir.
Os dois estavam em pânico. O ar parecia pesado, abafado, como se o tempo tivesse parado ali.
Logo, alunos começaram a se aproximar. Primeiro com passos lentos, depois aos montes. O susto virou confusão. Os olhares se fixaram no sangue.
E os gritos vieram.
Gritos agudos, apavorados, que se espalharam pelo corredor como um incêndio — selando aquela tarde com um som que ninguém esqueceria.
Horas depois, Gumer havia sido levado às pressas para a ala cirúrgica da enfermaria. A tarde já se transformava em noite, e a angústia parecia se acumular no ar como uma nuvem espessa. Do lado de fora da sala, Ártemis, Glomme, Firefy e Trrira aguardavam em silêncio, cada um afundado em pensamentos, com os rostos marcados pela preocupação.
O tempo parecia ter desacelerado. Nenhum deles ousava falar. Apenas o som distante de instrumentos, passos apressados e o leve zumbido das luzes preenchia o corredor.
Então, finalmente, a porta da enfermaria se abriu com um rangido seco. Um dos cirurgiões surgiu, os olhos marcados pelo cansaço, o semblante pesado. Ele comunicou que Gumer estava estável. A mandíbula havia sido fraturada, mas reconstruída com sucesso. Ele permaneceria inconsciente por um tempo.
O alívio foi imediato, mas frágil — como uma respiração contida. Os quatro continuaram ali, parados, cientes de que aquilo não era o fim. Gumer havia sobrevivido... mas as cicatrizes, tanto visíveis quanto invisíveis, ainda estavam apenas começando a se formar.
O tempo já havia avançado. Ártemis, Trrira, Glomme e Firefy estavam dentro da ala médica, parados ao redor da maca onde Gumer repousava, cercado por tubos, faixas e sensores, o rosto parcialmente encoberto por curativos. O peito subia e descia com dificuldade, mas seu corpo permanecia imóvel, inconsciente. O ambiente era silencioso, abafado, iluminado por uma luz branca e constante. O cheiro de antisséptico pairava no ar. Os quatro amigos o encaravam sem dizer nada — um silêncio carregado de angústia, medo e impotência
Foi então que, sem aviso, o monitor apitou de forma irregular. E colchão da maca afundou com um golpe repentino. E Gumer se ergueu com um impulso seco e abrupto. O lençol caiu de seu peito, os olhos se abriram num vermelho intenso e furioso.
O movimento foi tão brusco que todos deram um passo para trás. Num gesto rápido e feroz, Gumer pulou da maca e agarrou duas enfermeiras que se aproximavam para contê-lo. As mãos dele, firmes como ferro, envolveram os pescoços das duas mulheres, erguendo-as no ar com uma facilidade. Elas se debatiam, os pés chutando o vazio, os rostos se contorcendo em pânico e dor, as lágrimas se misturando ao suor do esforço inútil.
O grupo de amigos assistia paralisado, o horror estampado no rosto. Gumer, agora em pé e ofegante, era quase irreconhecível — uma criatura em conflito entre a dor e a fúria que transbordava em movimentos violentos e imprevisíveis.
Sem qualquer aviso, Gumer jogou as enfermeiras contra a parede com uma força brutal, o impacto ecoando pela sala, como um trovão. Elas desabaram no chão, inconscientes. Sem perder tempo, Gumer correu em direção a Ártemis e Trrira. Em um instinto de autopreservação, as duas tentaram correr, mas foi inútil. Ele era rápido demais. Antes que pudessem reagir, ele já as tinha agarrado pelos pescoços, erguendo-as do chão.
Com um movimento poderoso, Gumer bateu-as contra a parede. O som do impacto foi mostruoso, e a parede rachou com o choque. Ártemis e Trrira gemeram, os rostos ficando vermelhos enquanto tentavam desesperadamente puxar ar. Seus pés batiam fracos contra o ar, lutando para se libertar, mas a força de Gumer era esmagadora.
O cirurgião ao lado, com o rosto tomado pelo medo, ordenou com voz firme, quase desesperada, que Glomme e Firefy pegassem o sedativo de sua bolsa enquanto ele corria para chamar o diretor.
Glomme não hesitou. Num movimento rápido, disparou em direção à bolsa, seus olhos fixos no objetivo. Mas Gumer, atento a cada som e gesto com uma precisão assustadora, soltou de repente Ártemis e Trrira.
Com uma velocidade quase sobrenatural, ele virou-se num instante, como se tivesse se teletransportado, e surgiu atrás de Glomme. Suas mãos agarraram a cabeça dele com força brutal. Num movimento violento, girou Glomme e arremessou seu rosto contra a parede.
O impacto foi brutal — o estalo de ossos se quebrando ecoou no ambiente, enquanto a parede rachava sob a força do golpe. O sangue espirrou, manchando a superfície e escorrendo pelo chão. Glomme desabou, inconsciente, o rosto deformado pela violência do ataque.
O grito desesperado de Firefy preencheu o ar, quebrando o silêncio tenso que se seguiu.
Com lágrimas nos olhos e sem saber o que fazer, Firefy ergueu suas asas, levantando voo em direção a bolsa com o sedativo. Mas Gumer, mais rápido que o pensamento, a agarrou pelos pés e, com uma força brutal, bateu o corpo dela contra a parede, fazendo-a gemer de dor. Antes que ela pudesse se recuperar, ele girou-a no ar como uma boneca e a lançou com violência contra o fundo da enfermaria. O impacto foi tão brutal que a parede se quebrou, arremessando-a para o pátio externo da escola. Caindo no chão do lado de fora com um som surdo, ela rolou, seu corpo aparentemente inconsciente, e suas asas rasgadas enquanto destroços, poeira e fumaça cercavam-a.
Ártemis respirava com dificuldade, sentindo o peso da batalha nos ombros e o aperto no pescoço, que ainda ardia pela falta de ar. Ela olhou para Trrira, que estava de joelhos ao seu lado, o rosto coberto de suor e pavor.
Ártemis se levantou, encarando Gumer, que avançava rapidamente em direção a ela, seus passos ecoando na enfermaria.
Ártemis manteve os olhos fixos nele, o rosto sério, concentrada. Erguendo as mãos com firmeza, e então, num movimento rápido e firme, girou os braços para a esquerda, como se desenhasse um arco no ar. Ela direcionou uma rajada de ar que empurrou com força esmagadora as paredes, as macas, os armários e até os remédios e equipamentos espalhados. O barulho foi ensurdecedor: o rangido do metal, o estilhaçar do vidro, e o desmoronar do concreto, tudo impulsionado pela fúria do vento mágico.
Gumer foi atingido de cheio pela avalanche de destroços, lançado para trás com brutalidade, caindo pesado no meio do caos. Alguns pedaços maiores caíram pesados sobre Glomme, ainda inconsciente no chão. Pedaços da parede despedaçada e móveis destruídos deixaram um rastro de destruição por onde passaram, enquanto o ar ainda vibrava, tenso e agitado, como uma tempestade que acabara de passar.
Gumer ainda estava vivo. Com uma força surpreendente, ele se levantou, afastando pedras, pedaços de metal e colchões que o prendiam. Ergueu-se com uma calma inquietante, sem hesitar, como se nada pudesse detê-lo.
Ártemis, sem perder tempo, usou o vento para se impulsionar, saltando com agilidade sobre os destroços. Caiu pesadamente sobre as costas de Gumer, empregando toda a força que conseguiu reunir para segurá-lo.
Mas Gumer se contorceu violentamente, o corpo envolto por uma energia vermelha intensa que parecia queimar por dentro. Seus movimentos eram erráticos e furiosos, cheios de uma força brutal e descontrolada. Ártemis se agarrou com unhas e dentes, tentando mantê-lo sob controle, pressionando seu peso contra ele.
Porém, a força dele era avassaladora. Com um puxão brutal, Gumer agarrou os braços de Ártemis, afastando-os do corpo dela com uma potência quase desumana. O grito de dor de Ártemis ecoou pela sala, agudo e desesperado. Ela sentia seus braços sendo puxados com tamanha força que os ossos pareciam prestes a se deslocar das articulações, uma dor cortante que queimava até a alma.
Seus olhos se encheram de lágrimas enquanto ela lutava, silenciosamente implorando para que ele parasse.
Enquanto isso, Firefy, que ainda se recuperava do impacto, conseguiu se levantar, vendo o terror através do buraco na parede. Desesperada, ela correu em direção à bolsa que estava no chão da enfermaria, seus pés batendo no chão com pressa, enquanto vasculhava freneticamente o interior da bolsa, buscando o sedativo.
— Onde está... onde está?! — Firefy murmurava para si mesma, os dedos trêmulos ao procurar pela pequena seringa.
O cirurgião e o diretor Aelzy apareceram na porta, suas expressões tomadas pelo desespero. Os gritos de Ártemis cortavam o ar, carregados de dor e luta.
Trrira, ainda se recuperando do choque, rapidamente elaborou um plano na mente. Sem hesitar, gritou para Firefy, que segurava a seringa com mãos trêmulas:
Firefy lançou a seringa com toda a força na direção de Trrira, o desespero brilhando em seus olhos.
Gumer, sentindo o movimento no ar, soltou violentamente os braços de Ártemis, tentando alcançar a seringa. Mas Ártemis não perdeu o controle — com firmeza e determinação, ela agarrou sua cabeça, apertando a mandíbula dele com uma pressão firme, virando o rosto de Gumer para o lado, tentando impedir seus ataques e conter sua fúria.
No instante seguinte, Trrira saltou para o ar, estendendo as mãos com precisão. Com habilidade surpreendente, agarrou a seringa no meio do voo. Ao cair no chão, rolou para se levantar rapidamente, girando e mantendo os olhos fixos em Gumer, que continuava a lutar contra o controle imposto por Ártemis.
Sem hesitar, Trrira se impulsionou e deslizou em direção a ele e, em um movimento preciso, enfiou a seringa cheia de sedativo na perna de Gumer. A reação foi quase imediata. A força começou a esvair-se do corpo de Gumer, seus movimentos ficando lentos, até que, em poucos segundos, ele caiu no chão, desmaiado. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.
Ártemis caiu ao lado dele, exausta e com os braços completamente imóveis. Ela mal conseguia respirar.
Trrira, ainda ofegante, deitou-se no chão, seu corpo fraco e trêmulo.
Firefy, ainda atordoada pela intensidade da situação, rastejou-se rapidamente, suas pernas mal conseguiam sustentá-la. Ela olhou para os destroços ao redor — paredes rachadas e quebradas, sangue espalhado pelo chão, e seus amigos inconscientes — e deixou escapar um soluço abafado.
Nos corredores, uma multidão de alunos se aglomerava, todos olhando fixamente pelo enorme buraco aberto na parede da enfermaria. No pátio, outro grande buraco chamava a atenção, atraindo mais estudantes curiosos. O burburinho crescia, vozes cheias de preocupação e espanto ecoando enquanto todos tentavam entender a dimensão do que havia acontecido.
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