Arena Coreana

Tradução: Filipe

Revisão: Yuu e Themis


Volume 1

Capítulo 45: Fuga (3)

Quando se usa a habilidade “invocar espírito” e o tempo de invocação acaba, ele pode ser recuperado enquanto o espírito não estiver invocado. A restauração ocorre em um minuto para cada cinco corridos.

Por causa disso, eu costumava invocar Sylph a cada cinco minutos, e a enviava para patrulhar por um minuto inteiro. Era incômodo invocá-la de tempos em tempos para chamá-la de volta em seguida em um ciclo quase infinito, mas eu era capaz de poupar tempo para o caso de uma batalha surpresa.

Contudo, a situação agora era bem diferente.

Eu nunca imaginaria que o líder do Clã Prata surgiria do nada e começaria a atirar flechas sem que percebêssemos. Não podíamos ficar sem Sylph por cinco minutos inteiros, então, reduzi o tempo de cinco minutos para 25 segundos.

Sempre que a invocava, perguntava: — Onde ele está?

Em seguida, ela desenhava um número, que representava a distância entre ele e nós. Depois, eu retornava Sylph antes que cinco segundos tivessem passado, e voltava a chamá-la em 25 segundos, repetindo o processo.

A distância variava. Às vezes, o líder prateado estava a mais de 100 metros, e, na checagem seguinte, a 60. Isso se repetia, perto e longe, nos deixando nervosos.

1 segundo, 2 segundos, 3 segundos, 4 segundos… 

Essa situação, em que cada segundo era contado, estava me enlouquecendo. Porém, estava nela porque precisava economizar tempo de invocação, se não, estaríamos perdidos.

“Droga… Nesse ritmo, vou ser o primeiro a ficar exausto...”

Ter que contar os segundos enquanto fugia era horrível, mas nosso maior problema era nossa resistência.

“Ele deve estar pensando de um ponto de vista tático, fica só metade de um dia nos caçando.”

A gente poderia correr por meio dia sem descansar? Era possível. Mas o caso era outro com perseguidores em nossa cola.

Sem parar, ele diminuía e aumentava a distância entre nós, nos deixando nervosos. De vez em quando, nos surpreendia disparando flechas em nossa direção. Ele parecia gostar da tensão de caçar suas presas em fuga.

Estávamos mentalmente exaustos.

Eu estava com dificuldade, mas Hye-su estava sofrendo ainda mais. Tendo o físico mais fraco, e sofrido um choque com a morte de Joon-ho, ela ficou exausta ainda mais rápido que o normal.

“Isso não vai dar certo...”

Eu tinha que terminar a batalha de qualquer jeito, e rápido.

Não importa o quão forte ou inteligente o maldito fosse, morreria de qualquer jeito se acertado na cabeça.

Dei uma ordem a Sylph.

— Sylph, pegue a arma, vá por trás dele e atire.

— Miau!

A força dela diminuía conforme se afastava de mim, seu invocador, mas ela não deveria ter problema para puxar o gatilho. Assim, ela pegou o Mosin-Nagant e foi. Alguns momentos depois, pode-se escutar o disparo.

O som de disparo e de metais se chocando anunciou uma falha.

Ele bloqueou o tiro com seu escudo.

Os disparos continuaram a soar, mas o barulho que os seguia era sempre o som do escudo bloqueando. Em pouco tempo, Sylph havia disparado todas as cinco balas e voltou.

“Como ele sabe de que direção o disparo está vindo?”

Era impossível pra ele notar a bala na velocidade dela, isso indicava que ele sentia o disparo antes de ocorrer.

“Ele tem alguma forma de sentir onde o espírito está?”

Eu não conseguia entender. Estava tão exausto mentalmente que minha cabeça parecia estar girando. Mesmo assim, tentei atirar mais algumas vezes, mas todas falharam. Só serviram pra gastar tempo de invocação.

O tempo passou lentamente, mas logo amanheceu.

— Oppa… 

Hye-su me chamou com uma voz cansada e entregou sua mochila para mim.

— Oppa, pega isso...

— Quê?

Para a minha surpresa, Hye-su sorriu conforme falava

— Só para o caso, você sabe…

Em caso…

Hye-se devia estar pensando que, dentre nós três, ela seria a primeira a morrer.

— Não pensa assim…

— Pega logo.

— Hye-su… 

— Meus braços estão doendo!

Por fim, peguei a mochila de suas mãos.

— Vou te devolver isso depois do exame.

— Certo, quando o exame acabar.

Com o item em mãos, disse “desequipar”. Logo que fiz isso, a mochila desapareceu, o que significava que o item agora estava em minha posse.

Hye-su se cansou mais rápido.

Com um nervosismo pesado, não descansamos e continuamos a andar. Para ela, isso era muito difícil. Embora eu também estivesse morrendo de cansaço, sabia que ela estava sofrendo bem mais.

Essa pressão que sufocava o peito… 

Meu senso de dever, que me falava para não deixar Hye-su morrer também, só piorava a minha situação.

Invoquei Sylph mais uma vez.

— Sylph, ataque ele mais uma vez, dessa vez pela direita.

— Miau!

Sylph pegou o rifle e se moveu para a direita.

“Tenha sucesso dessa vez!”

Mesmo orando pelo sucesso, outra falha aconteceu.

Como um som desesperador, o ruído da bala contra metal soou. Os cinco disparos consecutivos foram bloqueados pelo escudo.

Porém, depois disso: — Miauuu!

Sylph voltou às pressas e deu um aviso agudo.

“Sem chance... Não é possível…”

Uma flecha veio voando. O maldito tinha se aproximado e começado o contra-ataque. Ainda bem que a flecha foi bloqueada pelas lâminas de vento de Sylph. Ela havia entendido o comando de antes, para bloquear qualquer flecha que viesse.

As flechas continuaram a voar e, toda vez, as lâminas de vento destroçavam-nas. Contudo, as lâminas usavam bastante poder e, quanto mais poder usado, mais o tempo de invocação diminuiria.

— Sylph, rápido! Recarregue!

Eu gritei e entreguei cinco cartuchos.

Sylph continuou a derrubar as flechas com suas lâminas de vento conforme recarregava a arma. Entretanto, logo quando ela fez isso, como se nunca tivesse ocorrido, o ataque de flechas parou.

“Merda…”

Nenhum de nós foi ferido, mas o dano sofrido foi grande. Só de bloquear a chuva de flechas gastamos muito do tempo de Sylph. O líder do Clã Prata era muito inteligente. Tão inteligente que sua esperteza era assombrosa.

— Ele percebeu que temos que recarregar a cada cinco disparos. Por isso contra-atacou depois de bloquear as cinco balas.

Com as minhas palavras, Kang Chun-seong soltou um leve suspiro.

“Para um licantropo que nunca teve experiência com uma arma ter descoberto isso... é um feito impressionante.”

— Alguém tá ferido?

Kang Chun-seog assentiu para as minhas palavras, porém Hye-su estava em um péssimo estado. Ela não estava machucada, mas segurava bem firme sua espada com as mães trêmulas.

— Eu não aguento mais!

Hye-su derrubou a espada e explodiu em lágrimas, ela estava em um estado de completo pânico e exaustão.

— Hye-su, eu sei que é difícil, mas você tem que aguentar.

Ela sentou no chão enquanto chorava.

— Me desculpe, oppa. Eu… eu acho que nã-não consigo fazer isso, é-é muito difícil continuar ca-caminhando.

— Vamos, só um pouco mais Hye-se.

— Só me deixa pra trás e vai embora! Por favor! Eu não consigo! Tô exausta!

— Para de falar besteiras como essa! — gritei, irritado.

— Me desculpe, oppa… 

Ela caiu em prantos de novo. Kang Chun-seong, que estava nos observando, falou.

— Vamos descansar e depois continuamos, também estou cansado.

— Isso... soa bem.

Todos caímos no chão onde estávamos para descansarmos um pouco. Porém, não descansamos nem por um minuto quando escutamos o maldito falar: — Vocês estão cansados?

A voz dele parecia estar a uma curta distância. Nos assustamos e levantamos.

— Tenho certeza que o poder do espírito já deve estar quase acabado também.

— Por que você não testa isso?

Ele foi bem preciso. Mas, visando esconder isso dele, não recuei e respondi. Contudo, foi possível escutar o maldito rindo à nossa volta.

— Você não pode me enganar. Eu peguei muitas das suas obstinadas tentativas de acabar com a luta.

— Venha nos testar, então.

Hahaha, você é um humano engraçado. De todos os humanos que já vi, você é o mais inteligente e forte psicologicamente.

Fiquei em silêncio, ouvindo ele continuar.

— Você jogou todos os moradores daquela vila como uma isca, na tentativa de escapar... Impressionante! Eu pensei em uma possibilidade e, assim, persegui vocês. Você está sendo parte da primeira caçada divertida que eu tenho em um tempo.

“Caçada…”

Para ele, tudo isso era uma mera caçada.

Cerrei meus dentes.

— De vez em quando, alguns humanos fugiam daquela vila e toooda vez eu ia em uma caçada. Como essa! Eu ia devagar… Atirava flechas para instigar o medo, atormentá-los; você sabe. Até o humano cair amedrontado e exausto. — Ele riu. — Você pode imaginar isso? Quando eu me revelava, eles ficavam aliviados! Me imploravam para matar eles e acabar logo com isso! Ver esse momento, quando o terror supera o desejo de sobreviver… Eu via isso e sentia um senso de dever cumprido!

Ele era tão perverso, maligno e inteligente, gostava de brincar com as mentes humanas como se fossem brinquedos. Ele ser esse tipo de criatura deve ser o motivo de ter a ideia de criar humanos como gado em um rancho.

— Tudo bem estarem orgulhosos. Estive bem entretido até aqui, e de todos os, bem…, “jogos”..., nenhum aguentou tanto quanto vocês. Eu meio que queria estender isso mais um pouco, mas vou acabar logo para vocês. Vamos terminar  isso agora.

Peguei a arma de Sylph. A uma distância pequena, as lâminas de vento são melhores que o rifle.

O mato à nossa frente se mexeu e uma criatura se revelou. Se mostrando para nós pela primeira vez, ele estava em sua forma humana. Era um homem bonito, alto e com um brilhante cabelo prateado.

Com uma mão em um escudo e outra em uma besta, ele falou, se curvando com um sorriso debochado: — Apresentações primeiro. Sou o líder do Clã Prata, Leon Silver.

A aparência dele começou a mudar. Pêlo começou a crescer por seu corpo e seu físico ficou maior. Suas garras alongaram. O que ele virou não era humano, nem animal. Ele estava coberto de pêlo prateado.

Era um licantropo maior que qualquer outro.

Fui tomado por um momento de pânico, porém voltei aos meus sentidos e gritei para Sylph.

— Ataque!

— Miau!

Sylph lançou suas lâminas de vento e, ao mesmo tempo, Leon Silver também se moveu.

O maldito foi para a esquerda e para a direita em um zig-zag relâmpago, se esquivando de todas as lâminas.

Kang Chun-seong avançou com um chute. Mas Leon agachou e se esquivou. Nas quatro patas, ele se aproximou de mim bem rápido.

Carreguei o Mosin-Nagant, mirei e puxei o gatilho.

Uma árvore foi atingida pela bala.

Então, ele veio com suas garras.

Rugido!

Surpreso, caí de costas, e suas garras roçaram o topo da minha cabeça.

— Miau!

Sylph gritou, enquanto lançava suas lâminas de vento. Como um fantasma, o inimigo pulou e se esquivou de todas.

Ele pousou de forma tranquila e, dessa vez, foi atrás de Hye-su.

— Hye-su!

Eu logo puxei o gatilho, mas minha mira imprecisa não podia acertar o maldito que se movia com agilidade.

Hye-su estava cerrando os dentes e empunhando com força sua espada. Leon Silver riu de forma leviana, como se tudo isso fosse ridículo.

— Vou fazer isso de forma agradável, senhorita.

— Ahhhh!

Hye-su gritou e balançou sua espada, em uma resistência inútil.

Corte!

Naquele segundo, era como se o mundo tivesse parado. Nesse tempo “congelado”, observei inexpressivo a cena que se passava em frente aos meus olhos.

Era um sonho.

Não.

Era um vil pesadelo.

Quatro longas garras atravessadas no corpo de Hye-su.

Gemido!

Ela soltou um gemido e desabou sem vida. Seu corpo caiu sem forças no chão. Em seus últimos momentos ela estava olhando para mim. Me olhava com olhos lacrimejados. Olhos tristes.

“Me desculpe, oppa… Ao menos, Hye-su pôde descansar em paz…”

— Hye… Hye-su!

Gritei, quase chorando.

Leon Silver me encarou. Vendo meu estado, seus olhos estavam sorrindo. Como se estivesse esperando para ver o desespero em meu rosto.

— Ugh, AHH!

Mirei nele e puxei o gatilho.

Disparo!

Assim que o som do disparo soou, o maldito se moveu para o lado e desviou sem problemas. Ele estava se movendo para fora do alcance do rifle, com base na direção do cano.

Puxei o gatilho, me livrei do cartucho e atirei de novo, mas não houve disparo. Eu tinha usado todas as cinco balas.

Peguei a reserva do meu bolso e recarreguei. Minhas mãos não me obedeciam. Estavam trêmulas. Eu não conseguia segurar direito as balas, nem mesmo colocá-las na câmara.

O maldito estava me observando tentar. Enquanto ria.



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