Arena Coreana

Tradução: Filipe

Revisão: Luz e Themis


Volume 1

Capítulo 44: Fuga (2)

Um plano difícil. Liderei meus colegas de time no ritmo mais rápido possível.

“Não temos tempo.”

Se eu fosse o líder dos licantropos, exterminaria a rebelião o mais depressa possível. Não tinha necessidade de dar aos moradores da vila tempo para se preparar para a batalha.

Contudo, eu podia garantir que eles não atacariam a vila de forma precipitada. Os infelizes “sabiam” que estávamos ali. Temendo o poder da arma de fogo, eles não agiriam por impulso, mas seriam cuidadosos.

Quanto mais longa a batalha, melhor. Quanto mais tempo ela durasse, mais tempo nós teríamos para fugir.

“A essa altura, os moradores devem ter percebido que nós fugimos...”

O chefe, que era acostumado a pregar truques, já devia ter percebido. Mas era inútil.

A sorte já havia sido lançada, e, mesmo sem nós, eles não tinham escolha senão lutar. Se eles se rendessem agora, não havia garantias de que os licantropos os perdoassem.

Viver, nem sempre envelhecer, e virar comida.

Como se pode viver sob essas circunstâncias? Eu não sei se poderia viver de forma tão miserável, sem futuro. Devia ser assim que os moradores se sentiam.

O que eles precisavam era de alguma coisa que explodisse o “barril de pólvora” que tinham reprimido. E ele explodiu agora. Sendo assim, eles lutariam como se não houvesse amanhã.

O fato de que centenas morreriam graças a mim... É um fardo pesado no meu peito.

“Meus olhos não estavam enganados. Eu não disse? Participante Kim Hyun-ho é uma pessoa capaz.”

As palavras do Anjo Bebê passaram pela minha cabeça.

“Todo momento, cada segundo, suas tomadas de decisão e ações foram decisivas e calculadas. Que humano comum seria capaz de fazer o exame como o participante Kim Hyun-ho fez? Agora você percebe que não é uma pessoa comum, mas, definitivamente, um humano especial?”

— Aquele desgraçado… 

Sem perceber, soltei um xingamento.

— O que foi?

Joon-ho perguntou, surpreso. Hye-su e Kang Chun-seong também estavam olhando para mim.

— Vocês acham que o que fiz foi errado?... — perguntei. — Havia outra opção além sacrificar todos os moradores?

O clima ficou pesado.

— Você fez o certo. — respondeu Kang Chun-seong. — As pessoas daquela vila não eram apenas fracos e inocentes. Se você não tivesse descoberto o plano daquele chefe, está claro qual teria sido o nosso destino.

Fiquei sem palavras, e ele continuou.

— Aquelas pessoas tentaram nos matar para que pudessem viver. Como humanos, em vez de defender princípios morais, eles priorizaram a própria sobrevivência. Nós apenas fizemos a mesma escolha. Se eles tivessem se aproximado de nós com boas intenções, não teríamos tomado esta decisão.

— Você acha isso?...

— Sim, então nem pense sobre isso.

Joon-ho e Hye-su também falaram algumas palavras encorajadoras.

— Eu também acho que você fez certo, hyung.

— Também não acho que você fez errado, oppa. É só que… eu acho que este tipo de situação, em que temos que tomar esse tipo de decisão, é bem dura.

— Eu compreendo… Também não gostei de tomar aquela decisão. Certo, vamos continuar.

Continuei a me mover e meus colegas me seguiram.

Kang Chun-seong falou que se eles tivessem se aproximado com boas intenções, nós não teríamos sido capazes de tomar tal decisão.

“Não teríamos?... Se eles fossem pessoas gentis, eu não teria sido capaz de usar eles? Não tenho certeza disso...

“Que tipo de pessoa eu sou e como esses exames estão transformando meu caráter, não estou certo disso.

“Quanto mais o tempo passa, mais exames vivenciaremos. Pode ser que, com o tempo, eu não sofra mais dessa angústia. Essas emoções podem diminuir ao ponto de eu ansiar por elas.

“Depois de me tornar uma pessoa assim, eu serei capaz de rir com a minha família?

“Não sei...

“Vou parar de pensar nisso. Primeiro, tenho que sobreviver.”

Caminhamos distraídos, sem trocar palavras. Apenas andamos. Por fim, uma exausta Hye-su falou.

— Vamos descansar um pouco, depois continuamos.

Ah, desculpe. Agora que penso sobre isso, nós não descansamos nenhuma vez. Seus pés estão bem?

— Não é grande coisa, mas é que as bolhas estouraram, e tá um pouco desconfortável. Vou tratar um pouco delas.

— Certo.

Descansamos um pouco. Hye-su tirou suas botas e meias. Seu pequenino pé estava uma bagunça, repleto de bolhas novas e outras já estouradas.

Ainda bem que tínhamos uma poção de cura muito boa, dada pelo participante veterano do time de Yoo Ji-soo.

Hye-su abriu a tampa da garrafinha, derramou uma pequena quantidade em uma bolha estourada no seu pé e espalhou como se fosse uma pomada. Então, de forma surpreendente, o machucado se fechou.

Joon-ho e eu olhamos para isso com olhos arregalados.

Uau, o resultado é mesmo rápido!

— Realmente!

Nesse ritmo, acho que até mesmo uma grave lesão seria curada de imediato. Depois de tratar de todas suas feridas, Hye-su vestiu as botas e meias de novo.

Invoquei Sylph.

— Sylph, patrulhe para nós, por favor.

— Miau.

Sylph desapareceu, mas retornou muito mais rápido que o comum, soltando um miado agudo.

— Miau!

Nos surpreendemos e ficamos de pé imediatamente.

— É um inimigo?

Sylph assentiu e desenhou um número com seu corpo. 1.

— Um inimigo?

— Miau. — Sylph assentiu.

— É um licantropo?

Perguntei incerto; porém, Sylph assentiu de novo.

Um licantropo nos seguiu. O que ele estava pensando? Tinha esqueceido que 13 licantropos já morreram por nossa causa?

— Qual a distância?

Sylph desenhou o número 272.

“Certo, um disparo com a arma.”

— Arma.

O Mosin-Nagant apareceu na minha mão. Peguei as balas que estavam guardadas no meu bolso, carreguei, e entreguei para Sylph.

— Vamos terminar isso agora.

— Miau.

Sylph assentiu, assumiu a posição de atirador e puxou o gatilho.

O disparo soou ao longe.

— Você o pegou?

Sylph balançou a cabeça. “Isso é suspeito, Sylph atirou e não conseguiu finalizar com um disparo? Sylph não cometeria um erro...”

— Atire até você pegar ele.

— Miau.

Assim, Sylph atirou 4 vezes consecutivas. Depois de disparar as cinco balas carregadas ela olhou para mim com uma expressão envergonhada.

Dei a ela outros cinco cartuchos com balas.

Sylph continuou atirando.

“Ela atirou todas essas vezes e ainda não acertou ele?”

— Ele está segurando algo como um escudo?

Sylph assentiu.

“Eu sabia.”

Da última vez, um deles usou um cadáver dos seus como escudo e fugiu. Parece que esse infeliz ouviu sobre isso e está usando algo similar para se aproximar.

— Todos! Se preparem! Alguma coisa está errada!

— Certo, hyung.

— Entendido.

Joon-ho e Hye-su pegam suas respectivas armas, mas então.

Miaaaaaaauuuuuu!

Sylph soltou um grito estridente. Ela parecia estar nos avisando de algo. Quando ficamos surpresos pelo barulho dela, alguma coisa voou com um flash.

Impacto. Grito.

Com um terrível som de impacto e um grito mortal. Era a voz de Joon-ho.

AAAAA! JOON-HO! — Hye-su gritou.

“O que diabos aconteceu?” Eu me virei.

“...?”

Fiquei tão chocado que não consigo falar nada. Uma flecha estava fincada no peito de Joon-ho, bem fundo no seu coração.

Os olhos de Joon-ho estavam esbugalhados. Sem brilho. Mortos.

Eles estava assim, morto. Quando apenas alguns instantes atrás, ele, Joon-ho, estava vivo.

— Sylph! Se livre de todas flechas que vieram em nossa direção!

— Miau! — respondeu Sylph.

Contudo, foi uma medida tardia. Joon-ho já estava morto.

“Seria bom saber que isso ia acontecer só um pouco antes...”

Me irritei comigo mesmo. O inimigo estava usando um escudo e possuía inteligência similar a um humano. Sendo esse o caso, eu deveria ter imaginado a possibilidade dele usar armas.

Tive vontade de culpar Sylph, “por que ela não nos avisou disso? Por que ela apenas gritou um alerta e não bloqueou a flecha voando em direção ao Joon-ho?”

Mas os espíritos são limitados, e não podem falar ou agir sem um comando. Não podem ser proativos.

— Miau.

Sylph me alertou com um miado baixo e outra flecha veio voando. Dessa vez, ela usou suas lâminas de vento para despedaçar a seta.

A flecha foi cortada em vários pedaços e caiu no chão. Ela me mirava.

— Então você é o invocador do espírito.

De algum lugar à frente, uma imponente voz masculina pôde ser escutada. Era um licantropo. O desgraçado continuou a falar.

Hm, esse item que o espírito está segurando é a problemática arma...

— … 

— Formato longo, afiado e com um buraco… então o metal é lançado desse buraco? Sendo assim, só preciso esquivar de onde o buraco esteja apontando...

Uma impressionante observação e excelente tomada de decisão.

— Parece que vocês só tem uma dessa arma, sendo assim, isso não faz as coisas muito fáceis?

— … 

— Nosso clã também, licantropos, desprezam demais os humanos. Por isso não usamos muitas coisas feitas pelo homem, porém, se usado de forma adequada, os resultados são muito bons. Como agora mesmo.

O desgraçado é incrível, suspeito, perguntei.

— Você é o líder dos licantropos?

Ele respondeu pronto.

— Sou.

Claro! Para ser tão cuidadoso…”

Uma criatura de mente aberta, que sabe como usar itens feitos pelo homem.

Esse era o líder que introduziu a “criação” e aumentou em cinco vezes os números do Clã Prata.

A conversa parou aí.

O inimigo estava se escondendo em algum lugar e não falou mais nada. Nós não podíamos fazer nada mais a não ser nos preparar para o próximo ataque.

Com um som cortante, outra flecha voou e Sylph usou suas lâminas de vento para eliminá-la.

As ações e comportamento do líder do Clã Prata, não nos atacando, parecia muito estranha. Se o tempo estiver ao seu lado ele não precisaria se apressar… 

“Espera... tempo? Tempo!”

Agora eu percebi o plano do líder do Clã Prata

O desgraçado sabia sobre invocação de espíritos, e sabia muito bem que o tempo para manter um espírito invocado era limitado. Ele estava esperando que o tempo de invocação de Sylph acabasse!

— Sylph, onde ele está?

Sylph apontou com sua pata dianteira.

— Distância?

Dessa vez, usando sua cauda, ela desenhou o número 16 no chão.

16 metros, uma distância curta.

Assim, atacar o desgraçado agora parecia ser o melhor plano para alcançar a vitória. Conforme o tempo passava, nosso time, com tempo limitado de invocação de espírito, estaria em desvantagem. 

Mas então, Sylph desenhou outro número no chão, 32.

Logo apagou e corrigiu para outro número, 59.

Surpreso, perguntei para ela.

— Ele está recuando?

— Miau!

Sylph assentiu e eu senti um arrepio tomar conta do meu corpo.

O inimigo recuou longe o suficiente para não ser atingido pelos ataques do espírito. Ele sabia bem que o tempo de invocação dos espíritos é limitado e que, quanto mais longe, mais fraco o poder dele.

Seu plano era claro. Mantendo uma distância moderada, ele pretendia arrastar o andamento da batalha. Se eu tentasse poupar o tempo de Syph e chamá-la de volta, ele se aproximaria de novo e dispararia mais flechas.

“Tenho que invocar Sylph frequentemente para poupar o tempo de invocação...

“O inimigo é muito inteligente.”

Meu coração estava batendo forte, o medo se instalou em mim.

“Com o quê e como vamos lutar com um monstro que além de poderoso é astuto? Não consigo pensar em nenhuma ideia para superar a situação.”

Mas, primeiro, temos que nos mover.

— Vamos, temos que fugir.

— E o maldito? — perguntou Kang Chun-seong.

— Ele quer uma batalha demorada. Conforme o tempo passa, ficamos em desvantagem. Não temos outra opção senão fugir dessa floresta.

— Entendi.

Oppa… e o Joon-ho… e-ele… — perguntou Hye-su, quase chorando.

Vendo Joon-ho caído morto com uma flecha no seu peito, senti como se meu coração fosse arrancado. Parecia que ele ia se levantar a qualquer momento e me chamar de “hyung”.

— Vamos, temos que ir.

Assumi a liderança. Hye-se me seguiu, segurando as lágrimas. Kang Chun-seong caminhou atrás, vigiando nossa retaguarda.



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