Arena Coreana

Tradução: Filipe

Revisão: Luz


Volume 2

Capítulo 63: Elfo (1)

O vilarejo que os elfos viviam parecia ter saído de um conto de fadas. 

Com tecidos pesados esticados cobrindo uma grande árvore, com as casas espalhadas por todo o lugar. Todos os tipos de espíritos voando em volta, Sylph e Kasa é claro, além dos espíritos da água, Undine, e da terra, Noam, nos mais variados tamanhos e constituições. Havia espíritos como pequenas garotinhas, espíritos que se pareciam com a “Sininho”. 

Hm?

— É um humano!

— Um humano!

— O senhor Jake deve ter trazido ele.

Os jovens elfos que estavam brincando por perto com os espíritos interromperam o que estavam fazendo e ficaram me olhando. Olhos brilhantes com curiosidade e medo.

“Bonitinhos!”

Os jovens elfos eram tão bonitinhos que do nada me veio o pensamento e desejo de ter filhos adoráveis como eles. Para tentarem sequestrar essas crianças, aqueles desgraçados.

“Brutamontes, foi uma coisa boa eles terem virado fertilizante.”

Talvez devido à recente tentativa de sequestro, os pequenos elfos pareciam um pouco amedrontados.

“Devo mostrar Sylph e Kasa para eles? Isso poderia causar uma boa impressão.”

Pensava isso quando o elfo chamado Jake sinalizou para mim.

— O que você está fazendo? Me siga!

Ah, certo.

Eu segui Jake, não sabia se era porque ele era alto ou se todos elfos eram assim, mas ele andava rápido, era difícil de acompanhar.

Os adultos do vilarejo começaram a me notar também. Diferente dos pequenos que ficaram nervosos, os adultos tinham vigilantes olhos cheios de frieza.

“Todos são lindos.”

Todas as mulheres eram como modelos, com os cabelos soltos ao vento, cintura fina e graciosas pernas. A beleza delas era ainda mais visível devido às roupas curtas que mostravam um pouco do corpo delas.

Contudo, eu não senti atração sexual por elas, tinha consciência de que elas não eram humanas, então não uma atração sexual, eu apenas achei todos muito bonitos.

Penso que os bastardos que tentaram escravizar eles, iriam usá-los mais como exibição do que como escravos sexuais. Contudo, claro que, com uma luxúria excessiva voltada para o apetite sexual, alguns humanos encontrariam atração sexual pelos elfos.

— Jake!

Uma elfo se aproximou de nós, ela caminhava de forma macia, como uma rena.

— Ella.

— Jake, o que é isso? Como você pôde trazer um humano aqui?

Ella falou e me olhou fixamente. Jake respondeu. 

— Esse humano é um amigo.

— Amigo? Jake, você está louco? Você já se esqueceu o que aconteceu da última vez?

— Como eu poderia.

— Como você pode fazer uma coisa tão descuidada? VOCÊ SABE O QUÃO ATERRORIZADA A ELLIS FICOU, QUANDO OUVIU QUE HAVIA UM HUMANO NO VILAREJO?

— Eu também sou alguém que cuida da minha irmãzinha. Não se esqueça que aquele que libertou Ellis fui eu.

Na Arena, os elfos também se expressavam fazendo uso da terceira pessoa. E de novo, diferente da Terra, inteligência superior não era exclusividade dos humanos.

— E ainda assim, você trouxe um humano aqui? O que você vai fazer pela Ellis que está tremendo de medo?

Jake e Ella estavam falando sobre uma elfo e eu peguei a ideia da situação. Humanos desavergonhados haviam sequestrado a irmãzinha deles, Ellis.

Quando eu apareci no vilarejo, Ellis relembrou do trauma de ser sequestrada e estava tremendo de nervosa, e devido a isso sua irmã estava furiosa.

— É pela Ellis também. — Jake falou.

— Como assim?

Na acanhada pergunta de Ella, Jake apontou para mim.

— Quando ela vir esse humano, a ansiedade dela vai se acalmar. Ela vai perceber que nem todos os humanos são personificações de terror.

— Por que você está confiando neste humano?

— Logo você vai ver.

A fofura da Sylph e do Kasa eram minhas provas de simpatia… 

— O que está acontecendo aqui? Não era você quem estava mais irritado com os humanos? 

— Sem dúvida, Ellis também é minha irmãzinha.

— Jake… 

No rosto de Ella, podia ver que ela estava comovida e Jake se aproximou dela e deu um beijinho na bochecha dela, com isso o rosto de Ella corou.

Ah, eles se amam.”

Por isso, a conversa deles soava tanto como uma briguinha de casal.

Ella me encarou.

— Eu vou vigiar você de perto, humano.

— Tudo bem. — Respondo tranquilamente.

O olhar de Ella subiu a outro nível de tensão, talvez minha resposta tivesse soado como uma ameaça?

E mais uma vez, segui atrás do Jake, seguimos para o centro do vilarejo.

O local não tinha casas, era um espaço vazio. Estava repleto com todos os tipos de árvores, mais que qualquer coisa… 

Oh, meu Deus!”

O que havia me chocado era o tamanho de uma árvore.

“Isso é uma árvore ou um prédio?”

Era uma árvore tão grande, que estava além do imaginável. Com base nas folhas, parecia ser uma espécie com folhas largas, além de que a altura era como se alcançasse os céus.

Isso me fez pensar se a Torre de Babel da bíblia era grande assim, mas, diferente do senso de culpa da história bíblica, dessa árvore eu podia sentir uma vivacidade incrível.

Como se fosse um aconchego de mãe. Olhando essa nobre árvore eu fiquei comovido e Jake falou.

— Espere aqui. Sem a permissão das mães, um humano não pode se aproximar da árvore da vida.

— Entendido.

Jake caminhou em direção a grandiosa árvore chamada de árvore da vida.

Eu fiquei sozinho apreciando a árvore e pensando.

“É uma sociedade matriarcal.”

As decisões importantes dos elfos eram tomadas por mulheres. As “mães” que o Jake havia mencionado, eram quem governavam o vilarejo.

“Governantes? Acho que líderes seria mais apropriado.”

A atmosfera livre do vilarejo fazia difícil acreditar que alguém fosse governado. A especialidade humana que era o caos não estava presente ali, sem preocupações. Com isso… 

— Aquele humano é nosso amigo?

— Jake disse que sim.

— O humano não é confiável. Qual será a decisão das mães?

— Difícil de falar, mas elas sempre tomam a decisão certa.

Elfos de todas as idades se juntaram à minha volta. Contudo, não havia nenhum elfo que se aproximasse de mim para falar, apenas se reuniram em volta como se estivessem em um zoológico observando um macaco e conversando entre si.

— Nós devemos ir ver o que as mães e o Jake estão falando?

— Não, as mães podem não gostar disso.

Não havia ordenação entre os elfos, prova disso era que qualquer um podia se aproximar das líderes que eram as mães.

— Na última vez, quando Ellis foi sequestrada e as mães estavam discutindo contramedidas, aquelas crianças se juntaram chorando e fizeram uma bagunça.

— Jake estava tão furioso, ao menos ele foi atrás deles.

— Mas, mais que culpar as crianças, vocês não acham que as discussões das mães são bastante longas?

Hmm, não ter um ranking de poder tem esse ponto negativo também.”

Elfos não tinham governantes e súditos, então devido a isso, o processo de tomada de decisão era demorado.

Me perguntava quanto tempo teria passado, devia ser por volta de uma hora, contudo, ainda sem notícias do Jake.

“O que eles estão falando? Eles podiam ter levado o ‘humano’ para a reunião, o que eles podem estar discutindo por tanto tempo?”

Fiquei cansado e me sentei no lugar que estava.

— Ele se sentou.

— O humano sentou.

— Ele deve estar entediado.

Os elfos tagarelaram de novo.

“Deve ser assim que celebridades se sentem quando saem. Deve ser difícil sair para namorar.”

Eu era o centro da atenção dos elfos e estando parado sozinho com todos me olhando era estranho.

Após pensar um pouco, eu decidi invocar Sylph e Kasa.

Os elfos então começaram a se alvoroçar.

 

***

 

— Ele é um humano digno de confiança, ele é um invocador de espíritos.

Jake declarou sua opinião com firmeza.

Mães… 

Debaixo da árvore da vida, pelo que se via do lado de fora, muitas mulheres de meia idade estavam reunidas. Parecia que todas as elfos mais velhas estavam reunidas ali e dentre elas uma falou.

— Jake, não estou duvidando do que você disse, não existe humano perverso que seja um invocador de espíritos. Contudo, os humanos perversos nem sempre são maus e nem os humanos bons são sempre puros.

— Não tem nada errado no que você disse, mas… 

— Mais que qualquer coisa, isso não é natural. O motivo de o humano percorrer todo o caminho até aqui, é só para sermos amigos?

— Isso é bem estranho. Humanos não são seres que se movem dessa forma, sem outras intenções, ele tem algum motivo ulterior.

— Mesmo que ele seja um humano bom, ele pode estar sendo manipulado por um humano mal. Quando eu era mais jovem e observava o mundo humano, vi esse tipo de coisa.

A discussão das mães continuou avançando em teorias sobre a ética dos humanos. Jake, vendo que a decisão demorava cada vez mais, ficou frustrado.

“Elas estão discutindo outros problemas de novo! Esse é o problema!”

O problema que os elfos tinham com elas era esse. Não importa o que fosse a reunião, haveria um monte de conversa.

Não importava a decisão, os elfos executariam imediatamente, mas eles tinham que esperar até a decisão ser tomada.

Ainda bem que as decisões tomadas depois de tantas conversas sempre foram corretas, de outra forma, essa sociedade matriarcal não teria durado tanto tempo, e então.

— Mãe!

— Mães!

Desde longe os elfos se juntavam.

As mães contemplaram isso.

— Minha nossa, o que eles estão fazendo aqui?

Oh, céus, isso é o fim da reunião.

— Eles devem estar curiosos.

— Eles deveriam esperar um pouco mais, céus!

Os elfos, sem importar a idade, todos reunidos gritavam.

— Aquele humano é nosso amigo!

— Vocês têm que aceitar ele como um amigo!

— Isso mesmo!

— Parem de conversar e só se reúnam com ele!

— Vocês não podem não o aceitar como amigo!

— Aquele espírito… 

As mães estavam sem palavras, apenas Jake olhava para a situação como se falasse “eu avisei vocês”.

 

***

 

Os elfos corriam pelos galhos da árvore da vida se amotinando neles, e centenas deles fizeram o caminho de volta em minha direção.

E como aquela multidão veio em minha direção, que era apenas um, fiquei um pouco apreensivo.

Own!

— Eu amei essa Sylph. Miau, miau!

— Kasa está balançando a cauda tão rápido, hehehe!

Felizmente, fui tranquilizado pelos jovens elfos que estavam brincando com os espíritos ao meu lado. Uma multidão de elfos estava à minha volta e Jake e as elfos caminhavam em minha direção.

Elas aparentavam ter idade, mas eram deslumbrantes.

Pareciam todas como “de volta ao dia em que eu era bem bonita.” Elas deveriam ser as mães que o Jake se referia, mas o número delas era grande, 20 ou 30 delas.

“Eu pensei que no máximo seriam apenas algumas.”

Devia ser que, não importa o que, uma elfo velha se tornava “mãe”. Não era de duvidar, porque as decisões eram tão demoradas, havia tantas tomadoras de decisão.

— Você é o humano que Jake nos falou?

Perguntou a que parecia ser a mais velha.

Ela era velha, mas ainda assim era linda. De certa forma, era estranho, mas ela não aparentava envelhecer.

— Sim, sou eu. — Respondi de forma respeitosa.

Os olhares das mães se viraram para as crianças que brincavam com os espíritos. As mães olharam para a minha Sylph e o meu Kasa e suspiraram.

— Como eles podem ser tão adoráveis…. 

— Sem dúvida, nós não temos escolha a não ser aceitá-lo como amigo.

— Sem dúvida.

Aos poucos começava a me preocupar com o futuro dos elfos.



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