Arena Coreana

Tradução: Filipe

Revisão: Luz


Volume 2

Capítulo 64: Elfo (2)

Graças a minha habilidade principal de invocar espíritos, eu fiz amizade fácil com os elfos. Na verdade, comecei a pensar que essa habilidade foi o motivo de eu ter recebido essa missão.

O objetivo dos exames não era causar sofrimento ao participante. Tinha que ter algum tipo de destino e para alcançar esse destino, os participantes tinham um papel apropriado nesse final.

Quem sabe o poderoso supremo sabia que eu iria passar o terceiro exame pelo território dos licantropos e acabaria aqui?

— Você se tornou nosso amigo. Mas, não é porque alguém é amigável que será sempre considerado um amigo próximo. — As mães falaram.

— Nós ainda não conhecemos você.

— Não podemos ficar seguros só porque você possui adoráveis espíritos.

“Ficar seguros? Eu nunca esperei que vocês enlouquecessem pela mera fofura dos espíritos!”

Fiquei um pouco frustrado, mas mantive a calma e respondi de forma política.

— Eu concordo que existem níveis para os relacionamentos. Estou contente que nós deixamos de lado nossas desconfianças e nos demos a oportunidade de sermos amigos. Espero que aos poucos eu mereça a confiança de vocês.

Para as minhas palavras, as mães apresentaram uma expressão de satisfação e dessa forma eu me tornei amigo dos elfos e recebi permissão para ficar no vilarejo.

Os jovens brincaram com os espíritos até que o meu tempo de invocação se esgotasse e eles se dispersassem.

— Me siga, vou te mostrar seus aposentos.

— Obrigado.

— Eu prefiro que você não seja tão formal.

— Tudo bem com isso? Então, Jake, quantos anos você tem?

— 102.

— … sendo assim, eu devo mesmo ser informal?

— O tempo de vida de um elfo é o triplo dos humanos.

“Entendi.”

Se eu dividisse a idade de Jake por três, ele teria mais ou menos 34 anos, então seria como se tivéssemos quase a mesma idade. Mesmo que eu, é claro, mal estivesse chegando nos 30!

— Então, cerca de quantos anos as mães têm no geral?

— Nossas elfos, qualquer uma delas acima de 200 anos, se torna uma mãe.

Woah…

Aquelas “tias” eram todas elfos com mais de 200 anos. Ainda que fossem velhas, todas elas tinham uma beleza estonteante e nenhuma aparentava idade avançada, os elfos, diferente dos humanos, envelhecem bem.

A moradia que Jake havia preparado era uma casa não diferente de uma tenda. Porém, eu não tinha ideia de qual era o material do tecido, mas ele era forte como uma parede, e a cama era feita de folhas e palha, macia e bonita.

O único problema é que não havia lamparina ou vela, então era bem escuro. Perguntei se havia algumas velas e Jake balançou a cabeça, dizendo que não.

— Agora que penso nisso, os humanos precisam de coisas como essas. Os elfos conseguem enxergar bem mesmo à noite.

Eles viviam bastante, mantinham a aparência jovem e podiam enxergar no escuro. De verdade, eu desejei ser um elfo.

— Bom descanso.

Jake me deixou e desapareceu.

Pensei em acender uma “lareira”, porém não queria incomodar, então não fiz. Pensei que os elfos não gostariam muito do fogo, provavelmente porque queimaria as árvores.

Entretanto, conforme a entrada da tenda foi puxada para o lado, uma silhueta feminina apareceu na escuridão.

Hey, humano!

Era a voz da elfo que eu havia visto mais cedo, a amada de Jake, Ella.

“Mas, por que ela soa tão irritada?”

— O que aconteceu?

— Por que você não brincou com nossa Elise?

— Desculpe?

— Quando as outras crianças estavam brincando com seus espíritos, minha pobre Elise ficou só olhando para você!

Eh, ela estava? Me desculpe, eu não sabia.

Como eu deveria saber se alguém estaria olhando para mim? Porém, eu estava ciente da personalidade temperamental de Ella e então apenas me desculpei.

Ella com uma voz mais calma, falou.

— Assegure-se de brincar com Elise amanhã. Ela não foi capaz de sair de casa desde que você veio aqui! Se a Elise não sair amanhã também, saiba que isso será sua culpa!

— … 

Ella disse tudo que queria e então foi embora. Fiquei pensando o que Jake viu nela para decidir estar com ela, mas pensando bem, Jake também tinha gênio forte, quem sabe a união deles era o destino agindo.

No dia seguinte, eu atraí a garota chamada Elise para fora e ela brincou com os espíritos. Foi fácil, Sylph foi para a tenda que ela estava, colocou a cauda e ficou balançando até seduzir a garota para fora.

Elise perseguiu Sylph para fora da tenda, onde ela me viu e ficou congelada de medo, mas eu invoquei Kasa e o coloquei acima da minha cabeça e assim ela deixou de lado a desconfiança.

Depois disso, não tive problemas. Passamos o tempo brincando com outras crianças e espíritos.

As crianças elfos também sabiam como invocar espíritos.

Os espíritos que as crianças invocam estavam voando em volta, por todo lado e isso me lançou em um loop como se eu estivesse vendo coisas.

“Em exatamente o que eu deveria estar ajudando-os?”

A questão de repente passou pela minha mente.

Nome: Kim Hyun-ho

Classe: 7

Karma: 0

Missão: durante o seu tempo, auxilie os elfos da Montanha Marrom

Limite de Tempo: 28 dias, 15 horas e 42 minutos

Pensei, que eu precisaria saber qual era o problema que eles tinham para que eu pudesse ajudá-los. Já que, não tinha como eu ter recebido uma missão impossível, pensei então que encontrar qual era o problema também deveria ser parte da missão.

Decidi perguntar para o menos terrível, Jake. Usei minha habilidade “guia” para encontrar ele, comecei então caminhando para a direção leste.

Jake não estava no vilarejo. Parecia que ele saíra, porém, eu não tinha como saber o quão longe ele havia ido e hesitei se deveria continuar a procurar ou não.

Então me aproximei de uma elfo que estava por perto e perguntei.

— Você sabe onde o Jake foi?

— Ele deve estar patrulhando como sempre.

— Sério? Obrigado.

— Porém, eu vi esta manhã que a Ella saiu do vilarejo com ele, hehehe.

Uh, o-obrigado.

A risada maliciosa da elfo me fez gaguejar. Mas, segui para fora do vilarejo na mesma direção, seguindo na direção que sentia a presença de Jake.

— “Proteção divina do vento”.

Usei a habilidade para procurar em um ritmo mais rápido, só podia usar por 15 minutos então corri o mais rápido que pude.

Cada vez que atingia o chão, meu corpo voava por 5-6 metros. Me sentia tão livre, meu corpo parecia leve como uma pena e continuei correndo animado.

— Sylph!

— Miau?

— Encontre Jake.

— Miau!

Sylph saiu voando rápido.

“Quão longe eu já corri?”

— Miau!

Sylph retornou e apontou para a frente.

“Ótimo!”

Senti estar perto e corri em frente na velocidade máxima.

Encontrei Jake.

Mas o rosto de Jake parecia irritado mais que qualquer outra coisa, e próximo a ele… 

Ella estava ajustando suas roupas de forma desesperada.

Olhei sem entender e o rosto dela começou a corar. A pele deles era tão clara que a menor mudança já era evidente.

— O que foi? — Jake perguntou em um tom irritado.

— … isso não é negligência do dever?

— Que negligência de dever! O que eu faço enquanto patrulho é minha escolha!

Ah, estou vendo, o livre arbítrio dos elfos. Se fosse no mundo real, isso seria demissão por justa causa.”

— De qualquer forma, o que aconteceu?

Hm, bem, sabe… 

Pensei um pouco antes de perguntar.

— Por que você sai para patrulhar?

— Você está perguntando por quê? Não é óbvio quando se trata de proteger o território de alguém, patrulhar?

— No vilarejo, todos os homens se foram, eles estão todos patrulhando com você?

— Normalmente não patrulhamos de forma tão diligente como agora. — Jake falou. — Nos últimos tempos, escutamos que a área estava estranha, então aumentamos nosso patrulhamento. Como no outro dia, em que Elise quase foi sequestrada, os humanos invasores têm se tornado frequente e os licantropos que vivem na parte leste da floresta, que costumam ficar nos arredores do nosso território, antes desaparecerem.

— LICANTROPOS?

Perguntei surpreso e Jake inclinou a cabeça.

— Isso, por que ficou tão surpreso?

Naquele momento, várias coisas passaram pela minha cabeça.

“É sempre assim. Não termina com um único exame, mas sim, em muitos casos o exame seguinte é continuação do anterior. Eles são meio que interligados.”

Odin havia dito isso.

“Você já não recebeu uma dica?"

O anjo quem disse.

E o líder do Clã Prata, Leon Silver!

O desgraçado sabia bem sobre a invocação de espíritos. E acima de tudo isso, ele estabeleceu um “rancho humano” e fez crescer os números do clã em cinco vezes, num curto período. Por quê? Para quê?

“Então é isso.”

Percebi que isso correspondia com o que os deuses já haviam decidido.

“Desde quando eu tive a oportunidade de pegar a invocação de espíritos como minha habilidade principal, não, desde quando eu fui revivido como um participante após morrer, até este momento, tudo isso pode estar acontecendo conforme o plano ‘Dele’.”

— O que você está pensando? — Perguntou Jake.

Dispersei meus pensamentos e respondi-lhe.

— Se é sobre licantropos, eu tenho uma história para contar a vocês.

— O quê? Certo, você veio da parte oriental da floresta, tem algo que você saiba?

Assenti com a cabeça e contei a história do que aconteceu comigo e com o Clã Prata. Eu, claro, escondi ser um participante e não mencionei a perda dos meus companheiros.

— Isso aconteceu?

A expressão de Jake ficou bem séria.

— Não temos que informar as mães sobre isso?

Tendo sido interrompida enquanto namoravam, Ella que estava frustrada e irritada, também ficou séria.

— Não havia pensado muito nisso, devido a que os licantropos eram em poucos números, mas isso é inesperado. Nós devemos alertar as mães.

“Ótimo!”

Fechei o punho. Eu havia falado para eles essas verdades e com certeza eu podia dizer que fui de ajuda para os elfos.

E tinha a promessa de Odin antes de começar o quarto exame. Ele havia dito que enviaria um exército para subjugar o Clã Prata.

“Esse exame vai ser tranquilo”

Eu pensei que iria concluir a missão e permanecer os restantes 28 dias no vilarejo elfo. Não parecia que teria mais nada requerendo minha assistência.

 

***

 

Jake terminou sua patrulha, voltou para o vilarejo e contou para as mães o que eu havia contado para ele. Naquela noite, fui chamado pelas mães.

— Nós escutamos sua história pelo Jake. Por favor, nos conte ela mais uma vez.

— Sim.

Eu mais uma vez recontei a história dramática ajustada.

— O Licantropo, chamado de Leon Silver, sabe mesmo bastante sobre a invocação de espíritos.

— É um amador, mas ele sabe como contra-atacar espíritos.

— Tendo aumentado os números do clã em cinco vezes nos últimos 20 anos, ele poderia estar reunindo força para nos atacar.

— Os 20 anos é o que me chamou a atenção.

Uma das mães falou e todas as outras devem ter se lembrado de algo, já que acrescentaram algo sobre isso.

— Relembrando aquele tempo, nós não enfrentamos os licantropos uma vez?

— Sim, um velho licantropo usou armas e atacou nosso território.

— Isso foi há uns 24 anos.

Juntando pedacinhos das histórias desconexas que elas estavam contando, eu peguei um resumo da situação. 

Vinte quatro anos atrás, um velho licantropo que havia tido sua posição de líder do clã tomada por um desafiante, pegou sua família e foi exilado do território do Clã Prata. A família expulsa colocou os pés na Montanha Marrom, foi atacada pelos elfos e foi aniquilada.

— Eles falaram que perderam aquele velho licantropo. Eles o caçaram até o fim, mas eventualmente perderam o rastro, eu sei disso, porque quem o caçava era meu marido.

— Não pensei muito sobre isso naquele tempo… 

— Quem poderia imaginar que um licantropo exilado voltaria para o clã.

Resumindo, o velho licantropo que perdeu toda a sua família e sem um lugar para ir, perdeu toda a esperança e em desespero voltou para o clã. Contudo, o Clã Prata pegou aquele licantropo de volta e Leon Silver ouviu as histórias que ele contou sobre os elfos e mostrou um grande interesse nisso. 

E tudo foi esclarecido.



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