Volume 10

Capítulo 205: Apenas uma narração indireta de um amigo

Parte 1

Era o início da manhã em que o sol ainda não havia subido ao pico. O ar fresco e claro era agradável à pele, e o céu oriental que começava a clarear era suave aos olhos. O som da atividade humana se tornava audível a partir da paisagem urbana de velhos becos que eram feitos de alvenaria aqui e ali.

Embora, como esperado, não houvesse quase ninguém andando do lado de fora. A única coisa viva lá fora era apenas um cachorro com a cabeça mergulhada em uma sacola de fast-food jogada perto da lixeira que parecia uma lata de tambor velha.

Aquele cachorro de repente levantou a cabeça com um estalo. O saco de papel preso ao focinho parecia uma máscara que cobria sua cabeça. O cão balançou a cabeça às pressas para a esquerda e direita para sacudir o saco de papel.

Logo depois disso, o que fez o cachorro reagir... foi um carro parando ao lado dele com uma freada brusca. Ele emitiu um som que fez o cão se contorcer e fugir a toda velocidade.

— Doutora Grant, Sr. K. Por aqui.

Quem desceu do banco do motorista foi Vanessa. O movimento dela tinha uma precisão impensável vindo de uma pessoa que levou um tiro em seu abdômen, mesmo que já tivesse recebido os primeiros socorros. Na verdade, remédios de outro mundo estavam misturados em sua gaze, algo que mostrou bastante força restauradora... mas a pessoa em questão não sabia disso. Ela só estava pensando: "Ó meu Deus. Sou mais resistente do que imaginei...", algo assim.

— … eeei, isso é teimosia ou algo do tipo? Ou então isso é assédio? Quantas vezes preciso lhe dizer que não sou o Sr. K até que você entenda?

Kosuke estava perfurando Vanessa com um olhar reprovador ao extremo enquanto descia do banco de trás. De forma misteriosa, não importava o quanto ele apelasse dizendo que "não era o assassino-san promissor, você entendeu!?", Vanessa ainda se dirigia a Kosuke como o Sr. K.

À sua maneira, Vanessa também pensou: "Por acaso, ele é mesmo a pessoa errada?", apenas por um instante, mas... ontem à noite, pelo comportamento de Kosuke, que disse: — Eu serei a sua força! —, ela então mudou de ideia: "Assim como eu pensei, ele é o verdadeiro Sr. K. — Com certeza ele odiava o apelido Sr. K, mas não havia dúvida de que ele era um assassino virtuoso, ela pensou.

E então, ela o chamou de Sr. K. Mas, de modo inesperado, foram pronunciadas palavras que prejudicavam Kosuke contra Vanessa, que foram as seguintes:

— Isso mesmo, Vanessa. Afinal, o Sr. K enfim nos disse seu nome. Vamos chamá-lo de forma apropriada de Ko-Ko-Ko-Kosuke, tá?

Emily, que também estava no banco de trás com Kosuke, desceu, mas por algum motivo, ela parecia tímida. Ela aconselhou Vanessa a chamar Kosuke pelo nome dele enquanto gaguejava. Emily também pensava como Vanessa, que o rapaz não era um civil comum. Ela pensou que Kosuke havia contado a elas o nome que estava escondido pela inicial. Foi por isso que ela pensou que eles deveriam chamá-lo pelo nome dele depois que ele por fim lhes contou.

Emily estranhamente se afastou de Kosuke desde a noite anterior. O próprio rapaz estava pensando: "... agora eu realmente consegui. Mas que diabos de braço direito do rei demônio? Ela deve ter surtado. Isso foi um total absurdo. O Lorde dentro de mim, ele espreitou seu maldito rosto...", ele acreditava que Emily com certeza o achava assustador e colocou alguma distância entre eles, então o rapaz ficou um pouco chocado com esse fogo de supressão de Emily, e ele sorriu de alegria.

Vendo isso, Emily se comportou de uma maneira estranha. Seu olhar estava vagando pelo ar vazio. E então, talvez algo em seu coração tivesse atingido seu limite, suas bochechas avermelhadas e seus olhos amendoados brilharam de forma feroz enquanto ela ameaçava: — Não olhe para cá! — Seus cabelos estavam arrepiados, como se ela fosse uma grande gata arrogante. Sua trança lateral, sua marca registrada, estava agitada.

Kosuke ficou abatido. Além de ter uma garota mais jovem colocando distância entre seus corações (Kosuke pensava assim), ele também ouviu: — Espere, o chuuni maldito não pode me olhar assim! É muito nojento! — (Foi isso que Kosuke ouviu). O mini-Kosuke dentro de seu coração já estava fazendo um "orz"1.

— Com licença, nossa situação é relativamente urgente aqui, então se vocês dois podem adiar essa primavera de seus corações…

— Não-não há nenhuma primavera juvenil aqui! O que você está dizendo!?

Vanessa estava enviando um olhar caloroso para Emily, enquanto ela coçava a bochecha parecendo perturbada. A vermelhidão do rosto de Emily ficou mais profunda. Seu limite também estava se aproximando. Ela poderia desferir seu soco de gato em pouco tempo se isso continuasse.

Como se quisesse dizer que não podia mais continuar com os outros dois, Emily bateu o jaleco branco que ainda não havia tirado até agora e entrou no beco com passos altos e rápidos.

— Doutora Grant.

— O que foi agora!?

— Esse não é o caminho, o certo é o próximo beco.

— ...

Emily parou de repente. E então ela recuou sem se virar antes de começar a andar com passos fortes para a esquerda enquanto ficava vermelha até os ouvidos.

— Doutora Grant!

— O que foi agora!?

— Não o da esquerda, é o beco da direita.

— ...

Uma curva de alta velocidade. O jaleco dela bateu com elegância! No entanto, a vergonha da pessoa já estava no máximo.

Vanessa e Kosuke se entreolharam e sorriram sem graça um para o outro antes de seguirem atrás de Emily.

A propósito, este era um dos esconderijos pessoais de Vanessa, então Emily não estava familiarizada com a área. E assim, Emily, que liderava a frente, partiu para um lugar desconhecido três vezes depois disso.

No final, quando ela enfim percebeu que podia apenas seguir atrás de Vanessa, Emily havia se tornado um fantasma branco com seu jaleco cobrindo todo o corpo desde a cabeça... parecia que o jaleco também tinha esse tipo de uso.


Parte 2

A porta de madeira se abriu lentamente enquanto fazia um som baixo. O rosto de Vanessa espiou o local com completa atenção. Não havia sinal de ninguém dentro da sala.

Kosuke e Emily também entraram na sala depois que Vanessa os autorizou. Dentro da sala, havia sinais de alguém morando lá com bastante frequência para um esconderijo. Havia uma mesa e um sofá de couro que pareciam ser usados com frequência e revistas espalhadas sobre a mesa.

— Parece que minha amiga está fora. Bem, ela costuma sair, então talvez isso seja natural.

Vanessa, que acabara de dar uma rápida olhada nos outros cômodos e no banheiro, voltou para a sala enquanto dizia isso. Parecia que esse esconderijo não havia sido descoberto pelo inimigo.

— Este é o quarto da amiga de Vanessa? Não é um esconderijo pessoal que você criou por um mal-entendido tácito do departamento de segurança?

Emily inclinou a cabeça enquanto se lembrava da explicação que lhe foi dada antes disso. Vanessa perdeu sua arma. Ela estava desarmada. Depois disso, ela precisaria fazer várias coisas, como entrar em contato com a sede e investigar as verdadeiras intenções da Chefe Magdanese, mas, independentemente do que ela faria, antes de tudo, ela precisava adquirir uma arma.

Para isso, eles abriram caminho para um esconderijo que Vanessa não informou nem mesmo ao departamento que ela preparou com base no entendimento tácito entre os funcionários do departamento de segurança.

— Estou compartilhando isso com minha amiga. Ela é uma cinegrafista freelancer que está ocupada o tempo todo. Estamos compartilhando o dever de manter o quarto em ordem, por isso dá certo que nós duas saímos da mesma maneira com frequência.

— Hmmmm.

Enquanto Emily assentia, Kosuke tirou uma revista da mesa com uma expressão estranhamente convulsiva.

— … entendo. Então, a fonte do conhecimento preconceituoso de Vanessa-san sobre o Japão é essa amiga.

A revista na mão de Kosuke indicava algo assim, se era uma revista que uma jovem lia, o comum seria algo como uma revista de moda. No entanto, esta revista tinha este nome escrito junto com a foto de uma garota com cabelos coloridos:

Animage2.

Quando seu olhar caiu ainda mais, cada uma das revistas espalhadas estava carregada de informações de animes e mangás japoneses com os quais ele estava familiarizado. Dentro da sala, havia várias estantes grandes decoradas com bonitas capas, mas Kosuke obedeceu ao seu palpite e verificou uma delas.

Como ele esperava, o conteúdo estava cheio de quadrinhos japoneses, light novels e DVDs de anime.

— O que você acha, Sr. K. A coleção da minha amiga é algo para se admirar, não é? A propósito, as três estantes de livros ali são minha coleção.

— O que você está escondendo no seu esconderijo?

Emily passou com uma pequena corrida em frente ao exasperado Kosuke e abriu a cobertura das prateleiras da coleção de Vanessa. E então, enquanto dizia: — Hee, então essa é a subcultura do Japão... —, ela pegou um mangá na mão com profundo interesse. Parecia que era a primeira vez que a garota via algo assim.

No entanto, era um livro excessivamente fino.

— Hinyaah. O que é isso!?

Emily gritou, seu rosto estava vermelho e ela segurou o livro o mais longe possível do rosto. Na capa do livro, devia-se dizer que era indecente ou que superava com facilidade essa expressão, de qualquer maneira, a taxa de exposição da pele da imagem na capa era muito elevada e, além disso, havia a ilustração de uma garota fazendo uma pose ultrajante.

— Aa, Doutora Grant. Por favor, não lide com isso dessa maneira. Esse é um tesouro meu, entendeu?

— Quem-quem se importa com isso, Vanessa pervertida!

— Por que você também tem doujin, huh…

Emily balançou o livro fino com a mão estendida com todas as suas forças enquanto gemia: — Uu! —, fazendo o seu melhor para que ele não entrasse em sua vista, mas ela não mostrou nenhum sinal de soltá-lo. Não estava claro se ela estava simplesmente lidando com isso com cuidado porque era a coleção de Vanessa, ou talvez houvesse alguma razão que dificultava que ela se livrasse do livro...

Pelo jeito que ela estava lançando olhares para a capa, sem dúvidas era a segunda opção. Quando ela notou o olhar estranho de Kosuke, Emily deu uma desculpa: — Não-não é isso! Eu-eu não sou uma pessoa dessas! — enquanto devolvia o livro em pânico à estante.

— Doutora Grant. Se você tiver interesse, depois de cuidarmos desse caso, eu o emprestarei, portanto, seja paciente por enquanto.

— Não estou impaciente! Não sou uma pervertida! É verdade, tá? Kosuke, eu realmente não sou assim, entendeu?

— Aa, tá.

Kosuke, que não sabia como reagir quando uma garota mais jovem estava implorando para ele dizendo: — Eu não sou uma pervertida! Acredite em mim! —, só podia assentir.

Vanessa lançou um olhar para Emily, que estava dando uma desculpa desesperada por algum motivo antes de se aproximar de repente de uma das estantes de livros. E então, ela lançou breves olhares para Kosuke. Ela parecia uma criança que mostrava o brinquedo de que se orgulhava para os pais enquanto dizia: — Veja! Veja!

Kosuke inclinou a cabeça enquanto virava o olhar nessa direção. Depois de confirmar isso, Vanessa pegou um livro de dentro das estantes, um livro intitulado "Enciclopédia do Chupa-cabra3".

Logo depois disso, as estantes começaram a deslizar. Elas fizeram uma meia-rotação, mostraram a parte traseira e voltou à sua posição original.

— Es-estantes secretas?

Emily também olhou para as estantes de livros quando ouviu o sussurro de Kosuke. E então, seu queixo caiu. Lá, muitas armas de fogo estavam alinhadas de forma organizada.

— Fufu, vocês ficaram surpresos? Mas, isso ainda não é tudo. Ainda há muito mais.

A beldade de cabelos muito curtos, vestindo um terno preto, estava com uma aparência triunfante. Enquanto Emily e Kosuke sentiam alguma irritação complicada com aquele rosto, Vanessa caminhou em direção a uma cama que estava dentro de um quarto, e desta vez ela torceu o abajur da lâmpada ao lado.

Logo depois disso, o fundo da cama levantou-se e expôs as armas de fogo armazenadas atrás dela.

— O que vocês acham? Todos esses arsenais ocultos foram feitos por mim mesma. Passei a maior parte das minhas férias nisso. Gastei todo o meu bônus de verão e inverno para preparar esse meu vangloriado arranjo. Vocês dois não sentem algo vendo isso?

— Puta merda! Vanessa-san, você, é mesmo incrível.

Tudo foi resolvido com isso. Dentro do coração de Vanessa-san, havia uma alma ardente semelhante a de Kosuke! O "Lorde" dentro de Kosuke de repente deu um sorriso niilista. Ele apareceu um pouco no ato e na fala do garoto, ao qual Vanessa assentiu, seu rosto parecia indicar que ela entendeu o que ele sentia. Emily estava ficando assustada com os dois!

Vanessa logo escolheu seus equipamentos e os enfiou no coldre e na mochila quando de repente percebeu algo.

— ... pensando bem, Sr. K. Você está bem com sua arma? Sua munição ou a arma de reposição…

Essa pergunta surgiu porque, pensando bem, até agora, Kosuke não mostrou nenhum tipo de arma de fogo sequer uma vez. Longe disso, Vanessa, que era capaz de dizer se alguém estava portando uma arma ou não apenas olhando a superfície da roupa, não sentia nenhuma presença de armas em Kosuke, por mais que ela o observasse. Ela pensou que ele estava escondendo sua arma com muita habilidade, porém...

— ? Não, eu não trouxe nada parecido com uma arma.

— … Sr. K. Você não disse que se tornará a força da Doutora Grant? É necessário que compreendamos o equipamento um do outro. É preocupante que você esteja escondendo sua capacidade.

— Não-não, não estou escondendo nada. Eu realmente não estou carregando nada parecido com uma arma aqui. Ou melhor, eu já lhe disse que sou estudante no Japão. Por favor, ouça o que as pessoas dizem. Eu não sou um assassino, é por isso que não trouxe armas!

O Sr. K era um assassino que mataria todos os seus alvos com um tiro na cabeça e um tiro no coração, não importava quem eles fossem... Vanessa estava fazendo uma expressão complicada, não apenas ela, Emily também.

Vanessa se aproximou de Kosuke sem dizer nada e começou a apalpar todo o corpo dele. Parecia que ela estava realizando uma revista corporal para confirmar que ele não estava carregando uma arma. Kosuke se sentiu constrangido dentro de seu coração com o toque que vinha de uma bela onee-san. Por alguma razão, Emily estava escondendo os olhos com as duas mãos, dizendo: — A, a, você até toca esse tipo de lugar!? — enquanto realizava o ato clichê de espiar por entre os dedos.

— ... você realmente não está carregando nada.

— Eu já te disse isso!

Vanessa deu um passo para trás, parecendo um pouco surpresa. Ela fez uma expressão difícil por algum motivo, depois balançou a cabeça.

— Entendo. Você deve ter algum tipo de circunstância especial. Não vou me aprofundar nisso.

— Ei, você. O que você está fazendo para se convencer assim como se assumisse que eu carregasse uma arma comigo? Estou lhe dizendo que nunca carrego algo desse tipo.

— No entanto, pensando a partir de agora, você também não pode ficar desarmado dessa maneira. Não sei o que você costuma usar, mas por favor, fique com a minha se não se importar com algo assim.

— ... de repente, apareceu esse desrespeito artificial de forma natural, como se eu não estivesse aqui. Eu sabia. Que aqui na Terra também existe um deus maligno como Ehito, e seus olhos foram atraídos para mim quando nasci.

Kosuke mostrou um sorriso irônico para Vanessa, que estava lhe fazendo recomendações: — Gostaria de uma Glock4? Ou você prefere uma Beretta5? Ou então, você gostaria de uma Desert Eagle6? — enquanto ele desviava o olhar.

— Não, não preciso de uma arma. Não faz sentido, mesmo que eu carregue uma. Dispará-las, bem, eu já experimentei isso antes, mas não consegui acertar nada. Também é algo perigoso. Sério, aquele cara, que tipo de habilidade ele tem?

Não seria preciso dizer a quem "aquele cara" se referia. Kosuke lembrou-se do momento em que ele pediu permissão para disparar uma arma, em parte por brincadeira, e balançou a cabeça por causa da memória ruim. Afinal, naquele momento, ele teve o rosto atingido pela arma devido ao coice, depois a bala que deveria estar voando para a frente milagrosamente ricocheteou e perfurou suas próprias nádegas.

O cartucho usado que voou em um estado muito quente entrou em suas roupas e, quando ele tentou disparar de novo e puxou o gatilho, o gatilho não pôde ser puxado, mas no momento em que ele saiu de sua posição de tiro para descobrir a causa, a arma disparou por acidente e quase explodiu o filho em sua virilha...

Se havia um deus das armas, não havia dúvida de que ele odiava Kosuke como se o rapaz tivesse matado seus pais. Até aquele rei demônio o avisou: — Você não carregará uma arma nunca mais. Você vai morrer, por autoexplosão. — com uma expressão que era uma mistura de medo e pena.

A confusão de Emily e Vanessa, que não sabiam dessas circunstâncias, estava ficando cada vez mais profunda. Um assassino que não estava carregando uma arma e fez uma expressão de nojo quando viu uma... as palavras de Kosuke de "Eu não sou o Sr. K." surgiram em suas cabeças. No entanto, ao mesmo tempo, suas palavras confiantes de "Eu me tornarei sua força!" e sua realização de permitir que as duas escapassem antes pressionou suas mentes em busca de uma resposta que fizesse sentido.

Talvez no nível subconsciente, elas apenas não pensassem que Kosuke não era o Sr. K. Se o garoto não era o Sr. K, isso significava que, naquele momento, não havia ninguém que pudesse salvar Vanessa e Emily que estavam cercadas pelo grupo de Kimberly, e isso significava que as duas não obtiveram a cooperação do verdadeiro Sr. K.

Por mais habilidosa que Vanessa fosse, ela era uma pessoa que ainda estava no reino de uma novata. Além disso, ela perdeu todos os seus aliados confiáveis por causa da traição de outro aliado. E nessa situação em que a organização em que ela deveria confiar se tornou suspeita, ela também estava sendo perseguida por uma organização de escala desconhecida. Se nesse tipo de momento o que ela pensava ser um trunfo era na verdade apenas uma carta descartável, não havia como ela querer reconhecer isso, embora entendesse que ser otimista era um tabu nessa linha de trabalho.

Kosuke deixou de lado a perplexidade de Vanessa e Emily, que estavam nesse estado, e falou com indiferença:

— Bem, vai ficar tudo bem. Não importa o que aconteça, eu vou dar um jeito. Em vez disso, vamos prosseguir se terminamos a preparação. A casa de Emily é muito longe daqui, não é?

Emily e Vanessa se entreolharam depois que Kosuke pediu para partir. O espanto delas ainda não havia desaparecido, mas vendo Kosuke, que declarou que não tinha problemas em ficar desarmado, mesmo sabendo que o oponente era um grupo armado, as duas decidiram adiar a pergunta por um momento. Ou melhor, poderia se dizer que elas não tiveram outra escolha senão apostar que Kosuke era o verdadeiro Sr. K.

Eles conversaram na noite anterior e concluíram que primeiro deveriam ir até os pais de Emily. Garantir e abrigar os pais da pesquisadora, que eram seu ponto fraco, era um assunto indispensável que precisava ser priorizado.

No entanto, a casa de Emily estava muito longe de sua posição atual. Levaria mais de meio dia de carro. Eles teriam que evitar lugares com grande possibilidade de serem monitorados como estradas e assim por diante. Nesse caso, eles chegariam ao destino durante a noite se levassem o tempo em consideração, mesmo que fizessem as refeições dentro do veículo.

— … você tem razão. Meu equipamento está preparado. Vamos partir.

— Tá legal. Mas, antes disso, me diga. Vanessa, por que você está levando esses quadrinhos?

Vanessa terminou animadamente sua preparação e, em seguida, voltou as adoráveis estantes e cama secreta aos seus lugares originais. Enquanto ela estava nisso, ela retirou vários volumes de quadrinhos das estantes. Um ela colocou no bolso interno do terno e os outros foram guardados na mochila. Vendo isso, Emily perguntou com os olhos tremendo.

A expressão de Vanessa ficou confusa, como se dissesse: — Eh? Você não entendeu? — Ambos Kosuke e Emily ficaram irritados de forma evidente.

— Mesmo se você me perguntar por que... depois disso, desafiaremos uma situação dificílima. Por assim dizer, é como um soldado indo para a linha de frente.

— Bem, talvez seja algo assim…

— Não é verdade? Então, é normal levar quadrinhos, não é?

— Por que chegamos a isso!? Eu não entendo o seu processo de pensamento!

Emily deu uma resposta esplêndida com essa lógica incompreensível. Vendo Emily assim, Vanessa ficou com uma expressão que irritou a garota, como se ela fosse uma professora diante de uma aluna idiota, e então ela explicou com cuidado e profundidade:

— Ouça, Doutora Grant. Em um filme ou peça, você já viu aquela cena em que um soldado indo para o campo de batalha dentro de um carro ou helicóptero pega uma Bíblia e ora?

— Cer-certo. Eu já vi algo assim antes. Espere um segundo, em outras palavras, aqueles quadrinhos…

— Sim. Eles são minha Bíblia.

— Peça desculpas a Deus! Peça desculpas aos seguidores do cristianismo!

Emily uivou. A família Grant também acreditava na bíblia cristã. E assim, ela não pôde deixar de retorquir quando alguém falava como se a bíblia e uma história em quadrinhos tivessem o mesmo status.

Vanessa bufou: — Fuh! — com essa contestação misturada com protesto de Emily e a ignorou. — Por que você bufou agora!? — Os olhos felinos de Emily a encararam de forma feroz mais uma vez enquanto ela erguia a voz, mas Vanessa, que estava em forma perfeita, deixou o quarto sem perder a compostura enquanto parecia dizer: —A doutora ainda é muita jovem, hum?

— … Shura no Mon, Grappler Baki e Naruto, trate-os como uma bíblia. De certa forma, talvez esse também seja o carma do Japão.

Emily correu atrás de Vanessa com a trança lateral balançando descontroladamente, enquanto dizia: — Ei, espere! — Kosuke estava ficando um pouco distante quando viu o título dos quadrinhos que Vanessa trouxe antes de segui-las.


Parte 3

O sol se pôs no oeste. Quando o céu começou a ficar alaranjado, o carro que Vanessa estava dirigindo estava seguindo por uma estrada que se estendia em linha reta como se o carro estivesse planando.

Dentro do carro, Emily e Kosuke satisfaziam o estômago com hambúrgueres e batatas fritas que haviam comprado em um restaurante famoso que visitaram no meio do caminho.

— … Emily, qual o problema?

Kosuke perguntou de repente. Emily estava comendo sua batata frita aos poucos como um hamster enquanto seu olhar estava direcionado para fora da janela. Ela então olhou para Kosuke.

— O que você quer dizer?

— Não, é que parece que você está com um olhar perdido. Você está cansada?

— Aaaaaa, não. Estou bem. É só que, tenho muita familiaridade, com esta área. Vendo isso, parece que voltei para casa. Mas, embora eu tivesse muitas histórias para contar quando voltei para casa antes, desta vez... algo como isso...

Parecia que, quando ela comparou a situação atual com a época em que voltou para casa, isso causou uma emoção profunda e pesada em seu coração. Assim como a cor laranja do sol poente despertava a solidão nas pessoas sem razão, parecia que o coração de Emily também estava excitado com um sentimento indescritível pelo cenário de sua cidade natal e pela cor laranja do céu ardente.

Kosuke, que sabia das terríveis circunstâncias pelas quais Emily passou nesses poucos dias, hesitou sobre o que dizer como resposta. Ele pensou que deveria dizer algo, mas tudo o que pôde fazer foi deixar seu olhar vagar incapaz de encontrar boas palavras. Nesse momento, ele se tornou invejoso de um certo agitador que podia laçar palavras sem dificuldades.

Emily mostrou um leve sorriso para Kosuke que estava em tal estado. Ela então engoliu a bebida em sua mão vez antes de dizer mais uma vez: — Estou bem.

Vanessa, que estava observando através do retrovisor a conversa entre os dois no banco de trás, abriu a boca com tato, como se fosse a substituta de Kosuke:

— Me desculpe, Doutora Grant…

— Céus. Vanessa também, não se preocupe comigo. Eu disse que estou bem.

— Não, eu realmente não posso acreditar nisso. Doutora Grant. O que é chamado de limite, é algo que virá mais rápido do que pensávamos.

De modo inesperado, a expressão séria de Vanessa podia ser vista através do retrovisor. As palavras da Emily ficaram presas na garganta dela. Kosuke estava pensando: “Como esperado de uma agente do departamento de segurança. Ela também sabe várias coisas sobre como cuidar de uma pessoa que é arrastada para um caso.” enquanto lhe enviava um olhar admirador...

— A sua bexiga urinária, está mesmo bem?

— Com que tipo de coisa você está se preocupando!?

Claro, era uma preocupação digna da garota mijadora Emily-chan.

— No restaurante agora há pouco, e também no posto de gasolina antes disso, notei que a Doutora Grant não foi ao banheiro. E ainda assim, você estava bebendo dois copos enormes de coca e café. Estou extremamente preocupada se você vai ficar mais ferida com isto.

— Is-is-is-is-isso foi...

— Contudo, não posso acreditar que a Doutora Grant, que já teve um grave fracasso duas vezes, tomaria uma ação otimista como esta com tanta facilidade. Doutora Grant…

— O quê-quê!?

Emily já estava se encolhendo em metade de seu tamanho original enquanto sua cautela e vergonha estavam no máximo. Os olhos de Vanessa brilhavam através do retrovisor para a garota.

— Por acaso, você foi despertada?

— O-o que isso significa?

A pura Emily-chan não conseguia entender o significado dessa pergunta. Claro, o jovem ao lado dela entendeu o significado. Vanessa perguntou com determinação:

— Para o prazer de urinar.

— VOCÊ É UMA IDIOTAAAAAAAAAAAAAAAA!? Não há chance de eu despertar para algo assim! Você quer me transformar em uma pervertida?

Mundo Desconhecido para Emily, Parte 2. Não havia como alguém se sentir bem por molhar as calças em público! Se havia alguém assim, então essa pessoa era sem dúvidas uma pervertida!

Claro, não havia como Emily ter despertado para um prazer tão especial como esse. E assim, Emily virou-se para Kosuke com uma expressão agitada e suplicou: — Isso está errado! Isso está completamente errado! Eu não sou esse tipo de pervertida! Acredite em mim, Kosuke!

— Se-se acalme. Não-não é como se eu estivesse pensando que você é uma pervertida.

— Sério? Sério, sério mesmo? Kosuke é...

Emily estava prestes a dizer algo. No entanto, realizar uma bela interceptação naquele momento era algo simples para Vanessa Paradis:

— Então a Doutora Grant não está despertando para isso... é lamentável para o Sr. K, não é?

— Não tem como isso ser verdade! Não me transforme em pervertido de forma tão natural assim!

— Ko-Ko-Ko-Kosuke!? Vo-você está desejando "aquilo"? Você estaria mais feliz se eu fosse uma pervertida? Isso... isso é preocupante para mim!

— Não tem como isso ser verdade! E por que você está se sentindo perturbada com isso!? O que você quer dizer com preocupante!? Você precisa negar com veemência e a todo custo!

A fazedora do caos, Vanessa. Ela mostrou essa habilidade sem poupar nenhum esforço, levando Kosuke e Emily para o vórtice da perplexidade!

— Fumu. Grande dificuldade está esperando por nós. É melhor ser enérgico assim. Vocês dois estão cheios de espírito de luta.

— Você, só cale a boca agora!!

— Você, cale a boca já!!

As réplicas de Kosuke e Emily explodiram em harmonia. Vanessa ficou com uma expressão que parecia dizer: — Incompreensível.

Desistindo de Vanessa, que estava espalhando bombas de palavras de forma tão natural, Emily estava fazendo uma justificativa desesperada para Kosuke enquanto o rapaz estava tentando acalmar a garota de forma desesperada. Durante esse intervalo, o cenário ao redor deles estava começando a mudar por completo.

Eles entraram na cidade. Havia uma grande construção, mas a maioria dos edifícios estava emitindo uma atmosfera retrô.

— Vanessa. Siga este caminho para atravessar o centro da cidade e ir para o norte. Veremos um rio depois de algum tempo. Há também um restaurante que faz uma torta deliciosa por perto. Você vai entender imediatamente porque eles têm uma placa de sinalização bonitinha.

— Entendido. É a primeira vez que venho aqui, mas... esta é a bela paisagem.

Havia um prédio chique com tijolos coloridos, e havia também um edifício de vidro. Mas esses dois tipos de edifícios não prejudicaram o cenário. Era como se as coisas novas e as velhas aceitassem umas às outras, dando a qualquer um que assistisse uma impressão suave.

No centro desta cidade, na época em que o sol estava afundando, a população local tinha expressões calmas. Eles estavam passeando com um ritmo relaxado na pavimentação de pedra enquanto seguravam um saco que estava recheado com comida. A visão tinha uma impressão confortável onde eles podiam sentir o fluxo do tempo.

E essa impressão tornou-se ainda mais marcante quando eles deixaram o centro da cidade e entraram no subúrbio. Havia mais vegetação, casas da mesma cor e mesmo estilo alinhadas em ordem, formando formas semelhantes de sombras. De alguma forma, parecia que até a luz do pôr do sol também se tornou suave.

Vanessa correu o carro seguindo a direção de Emily. Em contraste com Emily, que estava um pouco inquieta com esse retorno depois de tanto tempo, Kosuke estava tensionando seu corpo com moderação. Claro, ele estava considerando a possibilidade de uma emboscada por outra força esperando por eles.

Mas, em contraste com sua expectativa, ele não conseguia encontrar nada como um carro preto estacionado nas proximidades. Eles podiam ver as crianças ruidosamente brincando com muita energia, e as figuras de pais e mães instando-os a voltarem para casa em breve com sorrisos tristes. Não havia sinais de conflito, a área parecia muito pacífica.

— Ah, por ali. Aquela casa com a van branca estacionada! A luz está acesa. Parece que o pai e os outros estão em casa.

Emily deu um suspiro aliviado. A van branca era o carro que o pai de Emily, Carl, possuía. Era um carro que foi comprado há alguns anos atrás para que a avó, Syla, que usava cadeira de rodas, também pudesse entrar. Eles ainda não haviam terminado de pagar o financiamento deste carro. Havia também um veículo azul claro estacionado ao lado dele. Aquele era o carro da mãe, Sophie.

Vanessa parou o carro em frente à casa. Emily ia sair imediatamente, mas Vanessa a deteve. E então, Vanessa observou a situação do ambiente com atenção de dentro do carro enquanto tirava a arma do bolso do peito.

— Vamos ser cuidadosos. Vou enfatizar isso para você, Doutora Grant, por favor, não se separe de mim, não importa o que aconteça.

— Si-sim. Eu entendo.

A mão de Vanessa alcançou a chave do motor e ela olhou para Kosuke. A atmosfera leve habitual do rapaz desapareceu e ele olhou em volta com um olhar sério, mas em pouco tempo sua expressão ficou perplexa.

— Sr. K. Qual é o problema? Você vê algum sinal de problemas?

— … … … não, não há nada de errado. Não há ninguém, mas... é por isso mesmo que parece errado.

— ? O que você quer dizer com isso?

Kosuke não respondeu na mesma hora à pergunta de Vanessa. Ele olhou por um tempo na direção da casa. A expressão de Emily estava tingida com uma sombra de ansiedade ao ver Kosuke que não parecia normal. Endo balançou a cabeça e depois falou com reserva, em consideração a Emily:

— ... dentro da casa, não há sinal de pessoas.

— Eh?

Emily inclinou a cabeça. Os carros dos pais dela estavam estacionados, a iluminação dentro da casa também estava acesa. Aquelas eram a prova de que a família estava em casa. Apesar disso, não havia ninguém lá dentro. Uma premonição ruim inchou dentro de seu coração.

Por outro lado, Vanessa levantou uma das sobrancelhas e sua expressão ficou duvidosa. O "sinal" que Vanessa mencionou antes era algo como qualquer vestígio de luta, ou se havia alguém olhando para eles da cobertura de um prédio em algum lugar, ou carros estacionados que pareciam fora de lugar nesse bairro, ela queria dizer "vestígios humanos" que eram visíveis aos olhos.

Como ele sabia sobre o interior da casa que estava fora de vista…

— De qualquer forma, não podemos fazer nada daqui. Vamos tentar entrar. Talvez eles só tenham saído um pouco e estão na vizinhança.

— Cer-certo. Com certeza é isso.

Kosuke notou a expressão ansiosa de Emily e, por isso, pediu que eles agissem depressa. E então, ele saiu de forma apressada do carro para passar à frente. Vanessa enterrou sua dúvida dentro do peito por causa da ação de Kosuke.

Eles atravessaram o gramado bem conservado, subiram a ladeira que ainda parecia nova da reforma para poderem passar por uma cadeira de rodas e chegaram à frente da entrada.

Emily tocou a campainha. E então ela chamou: — Pai! Mãe! Vovó! É a Emily! Vocês estão aí? — Contudo, como para provar a verdade das palavras de Kosuke, não houve nenhuma resposta vindo de dentro da casa.

Emily tirou uma chave da casa de sua bolsa, pensando que a porta com certeza estava trancada se não havia alguém em casa. E então, ela colocou a chave e estava prestes a abrir a porta...

— E-eh?

Desde o início, a porta não estava trancada. Mesmo sendo um bairro tranquilo, era impossível para toda a família sair de casa sem trancar a casa. As bochechas de Emily sofreram espasmos.

— Pai! Mãe! Sou eu! Vocês não estão aqui!? Vovó! Onde está você!?

— Doutora Grant! Acalme-se!

Emily abriu a porta e entrou na casa sem ser capaz de se conter. Vanessa parou Emily de forma apressada.

No entanto, o aviso de Vanessa não entrou nos ouvidos de Emily. Seu coração, que estava pensando em sua família, estava disparando com a condição anormal da casa. Ela apoiou seu coração que parecia a ponto de ser esmagado por inquietação e terror enquanto corria pela casa. Ela fez isso enquanto chamava por sua família. Ela queria dizer seu habitual: "Estou em casa". Ela queria ouvir: "Bem-vinda de volta".

Entretanto, fosse na luminosa sala de estar, na cozinha onde sua mãe costumava usar um avental, no banheiro, no quarto do segundo andar ou mesmo no quarto de Emily, não havia ninguém.

— De-deve ser um erro. Todos, eles devem ter saído. É-é isso. Sem dúvidas, eles estão indo para a casa do Sr. McBurney, ou na casa da Tia Hannah.

— Emily.

— Espere, já sei. Vou ligar para eles. E então, apresentarei Vanessa e Kosuke a eles...

— Emily Grant!

— ...

Emily estava prestes a sair de casa com um sorriso irônico. Mas Kosuke chamou seu nome com um tom forte para detê-la. Emily estremeceu e ficou parada antes de se virar com um movimento rígido como uma máquina que não havia sido oleada.

Os olhos de Emily estavam vendo Kosuke pegando um tablet que foi colocado na mesa da sala de estar. Era algo que Emily ignorou antes. Mas, aquele item definitivamente não era propriedade da família Grant.

O motivo era...

— Está endereçado, para mim…

Sim, o nome de Vanessa Paradis estava exibido na tela do tablet que foi deixado ligado. Não havia como a família de Emily, que não sabia da existência de Vanessa, pudesse preparar algo assim.

Em outras palavras, esta casa foi visitada há poucas horas por alguém que não era da família Grant, alguém que conhecia Vanessa...

O rosto de Emily ficou branco. Seu corpo cambaleou de forma trôpega. Kosuke logo a apoiou.

Incentivada pelo olhar de Kosuke, Vanessa tocou o tablet.

Então, o aparelho projetou a imagem de uma sala em algum lugar. A sala não parecia desolada; era uma sala normal. Havia um sofá com uma capa de pano e uma mesa de madeira. Não havia ninguém lá. Parecia que o tablet foi colocado no lugar para gravar um vídeo.

Mas, um instante depois, a porta no canto da câmera se abriu. O que entrou pela porta foi uma cadeira de rodas e uma mulher idosa sentada nela. E então, um homem com mais de quarenta anos que parecia um pouco indeciso estava empurrando a cadeira de rodas. Uma mulher da mesma idade estava segurando a mão daquele homem enquanto olhava em volta, inquieta.

— ... vovó, pai, mãe...

A voz de Emily ecoou como um grito.

As pessoas no vídeo não pareciam feridas. No entanto, pela expressão e gesto, parecia que foram levados sem saberem de nada. Mesmo assim, isso ainda não podia fazer com que Emily, que estava assistindo o vídeo, tivesse tranquilidade. Emily olhou para sua família sequestrada e caiu impotente.

E então, o vídeo foi cortado e a tela ficou preta. E, no entanto, quando eles pensaram que era isso, uma imagem de um relógio, que exibia o horário com algumas horas de diferença, apareceu, a seguir, um mapa de uma fotografia aérea estava começando a ser exibido. Foi um show que parecia a personificação do mau gosto do criador.

— Aquele lugar… parece um distrito de armazém. Eles estão brincando conosco.

Vanessa cuspiu essas palavras. Ao lado dela, Emily estava se encolhendo, abraçando os joelhos e a cabeça. Ela estava tendo flashbacks da cadeia de eventos que deveria ser chamada de trauma, onde perdeu suas pessoas importantes.

Talvez ela também perdesse a família... aquele terror apagou a missão que lhe foi confiada por seus irmãos e irmãs mais velhos e a levou a um abismo de terror e desespero. Ela queria chorar enquanto implorava, ela ouviria o que eles queriam, por isso não deveriam machucar a família dela.

Uma voz falou com Emily. Aquela voz era suave, mas dura, quente e cortante, esse tipo de voz.

— Emily, vai ficar tudo bem. Não sei quem fez isso, mas não há sinal de luta em sua casa e não há sinal de violência em sua família. Esses caras querem a sua cooperação, por isso, embora possam usar sua família para te ameaçar, eles não podem machucá-los. É porque eles entendem que fazer isso só empurrará Emily para o desespero e hostilidade.

— Ko-su-ke.

Kosuke pegou a mão de Emily com gentileza, que estava segurando sua cabeça, e a puxou sem fazer força.

— Emily conhece a dor de ser mantida viva e deixada para escapar sozinha, e de ter algo confiado a você. Se você parar aqui, com certeza a mesma coisa acontecerá de novo.

— Não, eu não quero isso! Algo assim, de novo...

Emily levantou a voz com a expressão distorcida em lágrimas. Kosuke assentiu: — Não é? —, então, desta vez, ele puxou a mão dela e a fez se levantar.

— “Se há um momento em que você deve reunir todas as suas forças uma vez na vida, então agora é esse exato momento. Agora, neste momento, queime sua alma!"

— Eh?

— Foi apenas uma narração indireta de um amigo. Mas, no passado, quando eu estava enfrentando uma derrota esmagadora, consegui me levantar mais uma vez com essas palavras. Eu fui capaz de arriscar o meu corpo e alma contra grupos de monstros como meus oponentes. Graças a isso, eu posso estar aqui agora.

— Kosuke…

Emily ficou sem palavras. Isso mostrava o quão "pesadas" as palavras de Kosuke foram. Elas reverberaram nas profundezas de seu coração enfraquecido.

O brilho aguçado dos olhos de Kosuke, que parecia um guerreiro veterano, atravessou Emily.

— Para Emily Grant, sem dúvidas agora é a hora de queimar a sua alma. Prepare-se, cerre os dentes e grite até que seus pulmões estourem. "Quem vai atender aos seus pedidos!? Não me menosprezem, seus desgraçados de merda!" Algo desse tipo.

Essas eram palavras apaixonadas como magma fervente. Os olhos brilhantes de Kosuke ainda estavam atravessando Emily.

Portanto, havia apenas uma resposta que Emily poderia dar.

— É. É!

Sua alma que quase afundou no pântano de desespero, agora, queimou mais uma vez. Emily apertou com força a mão de Kosuke que estava segurando a sua.

— Kosuke, também vai me emprestar sua força, não vai?

— É. Foi isso o que eu te disse. Me tornarei sua força. A família de Emily, vamos salvá-los com certeza.

Os olhos de Emily brilhavam como um céu estrelado. A distância entre os dois era tão próxima que eles podiam sentir a respiração um do outro. Era como se essa fosse a distância atual entre seus corações...

— … devo ler o clima e sair? Ou então, devo me intrometer dizendo: "Não me esqueçam, por favooor"? Essa é a questão.

Vanessa murmurou.

Não era preciso dizer que Emily saltou para se afastar de Kosuke como um gato ágil. E também não era preciso dizer como ela se encolheu de vergonha quando se lembrou de como estava superperto de um garoto pouco antes.


Parte 4

Num horário em que a cortina da noite havia caído por completo, a escuridão da noite de um distrito de armazéns na periferia da cidade foi cortada pelo farol de um carro. O carro que estava avançando lentamente e em silêncio logo entrou em um local que estava cercado por edifícios altos em todas as direções.

Os faróis iluminaram um carro preto à frente.

Vanessa, Emily, e então Kosuke saíram do carro com os faróis ainda ligados. Vanessa caminhou para a frente com os dois jovens seguindo atrás. Emily estava segurando a manga das roupas de Kosuke com força.

O carro preto do lado oposto acendeu os faróis como se para se opor ao outro lado. Uma pessoa saiu do carro preto na frente da vigilante Vanessa. A figura da pessoa não estava clara devido à luz dos faróis batendo em suas costas, mas a agente poderia identificá-la.

E assim, ela pensou: "Aa, então é como eu imaginei." Ao mesmo tempo, ela também pensou: “Seria melhor se fosse Kimberly.”

— Agente Paradis. Você realmente nos causou muitos problemas. Segundo as regras, você vai receber uma ação disciplinar, entendeu?

Essa figura andou com passos barulhentos e se revelou. Era uma realidade que, se possível, Vanessa queria negar.

Chefe do Departamento de Segurança Nacional, Sharon Magdanese, foi essa pessoa que apareceu.


Nota do Autor (Ryo Shirakome)

Muito obrigado por ler essa história.

Muito obrigado pelos pensamentos, opiniões e relatos sobre erros de ortografia e palavras omitidas.


Notas

1 ― “orz” seria uma pessoa de joelhos e cabeça baixa (o “o” seria a cabeça o “r” as mãos encostadas no chão e o “z” as pernas dobradas). No Japão, esse é um gesto para mostrar constrangimento ou frustração.

2 ― Animage é uma revista japonesa de anime e entretenimento lançada pela editora Tokuma Shoten. Começou a ser publicada em julho de 1978, sendo considerada a primeira revista exclusiva sobre animação japonesa do Japão. É junto com as revistas Animedia (lançada em 1981) e Newtype (lançada em 1985) considerada a principal publicação sobre animes do Japão.

3 ― Chupa-cabra é uma suposta criatura responsável por ataques sistemáticos a animais rurais em regiões da América, como Porto Rico, Flórida, Nicarágua, Chile, México e Brasil. O nome da criatura deve-se à descoberta de várias cabras mortas em Porto Rico com marcas de dentadas no pescoço e o seu sangue drenado. Uma vez que não existem registos da sua real existência, o chupa-cabra é um elemento da criptozoologia (estudo de espécies de animais lendárias, mitológicas, hipotéticas ou avistadas por poucas pessoas).

4 ― A Glock é uma linha de pistolas fabricada pela empresa austríaca Glock Ges.m.b.H., que iniciou as suas atividades em 1963, produzindo itens de metalurgia e plástico, como facas e coldres, comercializados, em parte, para o exército. Em 1983 a arma foi adotada oficialmente pelo Exército Austríaco. Apresentou um inovador sistema de disparo “safe action”, que confere mais segurança e rapidez de tiro.

5 ― Beretta é o nome genérico atribuído à fábrica de armas de fogo italiana Fabbrica d'Armi Pietro Beretta S.p.A., cujo fundador foi Pietro Beretta, e às armas por esta fabricadas. Suas armas de fogo são usadas em todo o mundo para diversos fins civis, policiais e militares. Armas esportivas representam três quartos das vendas; Beretta também é conhecida por comercializar roupas e acessórios para fotografar. Fundada no século XVI, a Beretta é o fabricante ativo mais antigo de componentes de armas de fogo do mundo. Em 1526, seu produto inaugural foi o arcabuz.

6 ― A Desert Eagle é uma pistola semiautomática, de ação simples, operada por gás, que utiliza vários calibres, sendo de destaque o .50 Action Express (.50AE), .44 Magnum, .357 Magnum e .22 Long Rifle (este último utilizado para fins recreativos e desportivos). Existe também uma versão mais compacta no calibre 9 mm. Outras pistolas fazem referências ao nome Eagle, mas a similaridade é apenas estética.



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