Cheaters Brasileira

Autor(a): Kuma


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 7: A cruel realidade de um herói de RPG

 

Nos limites do continente PYKAH, em algum lugar do vazio... as sombras se esgueiram para um farto banquete de escuridão!

DIA:???

PLAYER: [???]

 

“Sim, parece que começou... o primeiro evento!

“É ele! Ele chegou para cumprir a profecia que você mesmo com sua tola arrogância criou!”

Uma risadinha delicada e feminina de escárnio é jogada no ar.

“Será mesmo? Como sabe se não é exatamente isso que eu planejo que aconteça?”, rebateu, provocativa.

“Há coisas que nem mesmo você com controle da matriz pode fazer! Não há como enganar o destino e ele já provou isso diversas vezes a você...”

“Olha só! Você continua vindo com esse mesmo papo furado, mesmo agora reduzido á um mero e insignificante pixel!”

“Se quisesse fazer o que pretende, já o teria feito com o poder que tem agora. Por que ainda jaz trabalhando nas sombras como uma ardilosa serpente?”

Outra risada, dessa vez em um timbre mais diabólico e pausado.

“Querido pai Coruja... antes que uma partida de xadrez comece, todas as peças precisam estar devidamente posicionadas no tabuleiro, não concorda?”

......

“... por esse motivo, não é chegada a hora ainda. O espetáculo é longo e só estamos começando a levantar as cortinas!”

“Muita presunção sua achar que está no controle de tudo, mesmo sem sequer ter mudado seu destino ainda...”

“E é muita presunção sua achar que pode falar comigo nesse tom, mesmo sendo um monte de nada!”

*sons perdidos no meio da escuridão*

Um farfalhar de tecido ecoa em uma sala escura. A voz transcendental e masculina que debatia com ela silencia, como se a deixasse sozinha na escuridão.

 

“Eles que vão me permitir que eu mude o meu destino... como tudo deve ser de verdade!

 

_________________________________________________________

Enquanto isso, no sitiado ||VILAREJO SOLA||, o primeiro ato da grande encenação do fim de tudo, enfim começava...

DIA: 13

PLAYER: [Juniorai]

 

Chegamos correndo e nos deparamos com a maior parte do vilarejo já quase em estado de carvão. Haviam vários cadáveres de camponeses no chão; vários deles deformados, dilacerados e despedaçados. Os que tentavam correr para se salvar eram acertados por lanças artesanais malfeitas.

“O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI?”

A respiração de Arthur descompassou.

“Estão saqueando o vilarejo! São bandidos?!”

Antes fossem bandidos. Talvez seria melhor de lidar com eles, mas os responsáveis eram outra coisa. A primeiro momento, senti vontade de vomitar.

Eram verdes e de olhos estufados e amarelos. Bem feios. Usavam roupas selvagens de couro e carregavam armas rusticas. Tinham estatura pequena e todos estavam banhados em sangue misturado com terra e fuligem.

Goblins?!”, Arthur bradou.

“Goblins? Essas coisas são goblins?”

Após o choque momentâneo, minha mente começou a trabalhar novamente e logo vi e entendi a relação: realmente eram goblins. Eram bem mais asquerosos do que eu costumava me lembrar.

“Merda! Eles são muitos!”

O bando nos encontra e logo somos cercados! Ficamos de costas um para o outro de novo, nos preparando para o combate inevitável. Me preparei para o combate, apertando a pegada no machado.

“O que nós vamos fazer?”, gritei.

“Eu pensei que você soubesse, já que nos trouxe direto para cá!”, e de novo ele empurrava a responsabilidade para mim – e que de fato, era.

“Eu... também não pensei nessa parte!”, respondi.

“QUE MARAVILHA! Tem mais alguma ideia brilhante em mente?”, e Arthur estava irritado mais uma vez. Não me lembrava dele ser tão pavio curto.

“Matar todos eles, ficar vivos e salvar a vilazinha?”

“É. Acho que agora não temos muita escolha, né?”

Gyagyahahahahaha!”, os goblins riam com aqueles olhares sórdidos e distorcidos e já brandiam suas facas e lanças malfeitas contra nós.

Antes de algum movimento, eu podia ver a mesma ficha neon que eu via nos outros, revelando os atributos do adversário:

 


RAÇA: DEMI

TIPO: GOBLINS

NÍVEL: 3

HP: 175/175


 

Todos tinham uma barra de HP acima de suas cabeças. Algumas um pouco menores. Outras maiores, mas nenhuma passava de 200 de vida. Seguindo seu nível, não pareciam uma grande ameaça, porém eu não deveria me confiar nisso.

Eu ainda estava nível 1, sem habilidades e apenas portando um machado comum.

Com os conhecimentos que eu tinha, sabia que a maior força dos goblins não eram seus status e sim, seus números! E para o meu desespero, haviam tantos goblins quanto o número de camponeses naquele vilarejo!

Até mesmo Arthur se se descuidasse, poderia ser morto por eles. Salamandra poderia nos dar uma vantagem em batalha, talvez.

Logo alguns cálculos se formam na minha cabeça. Havia exatamente 15 goblins no meu campo de visão, mais os que estavam no campo de visão de Arthur que estimei sendo quase a mesma quantidade, juntamente com outros que estavam longe do nosso alcance. Se resolvessem atacar todos juntos, teríamos problemas.

E eles atacam!

“LÁ VEM!”, Arthur grita.

“Droga!”

GYAHAHAHAHAHA!!!

Uns 3 goblins pularam em cima de mim ao mesmo tempo! Minha reação natural é tentar contra-atacar com o machado, mas ele era bem mais pesado e quase não consigo movê-lo do canto direito. Percebi que não revidaria a tempo no meio da ação e resolvo tentar esquivar, mas uma das lâminas passa de raspão no meu braço de apoio.

“Droga!”

Tinha esquecido que, além de Lv.1, eu tinha zero de habilidade para manejar uma arma daquelas. Era diferente de estar jogando do outro lado da tela e beeeem mais difícil! Como um otaku semisedentário como eu iria lutar com um machado de batalha contra aqueles goblins?

Bom... eles não me deram muito tempo para pensar e continuam atacando por todos os lados. Institivamente eu só esquivava, como se meu corpo assumisse o controle em um ato automático e mecânico de sobrevivência. Novamente me forcei, entre as minhas evasões, a colocar mais força na pegada e tentar manejar o machado de algum jeito, nem que fosse para bloquear.

Então fiz uma careta de bodybuilder, firmei precisamente a pegada no cabo do machado e girei meu corpo, ao mesmo tempo que esquivei de mais dois ataques que também passam de raspão, conseguindo também girar o machado e desferir um ataque totalmente torto em diagonal para cima.

A lâmina pega na altura da cintura do baixinho da esquerda que vinha pela frente e o partiu ao meio! A barra de HP do pequeno monstrinho zerou com apenas aquele golpe.

Ainda no mesmo trajeto, a lâmina rasgou o dorso do goblin ao lado daquele e o deixou apenas com míseros 30 de HP. O último da fileira apenas foi arremessado com a força do impacto para uns caixotes do outro lado da rua.

Gyagyagyah!!”, eles continuam animados!

*EXP ~ 25 | Lv.UP!

“Eu... subi de nível?”

“AAAAAHH!! TOMAAAA!”

A perna de Arthur se incendeia e seus chutes carbonizam os pequenos corpos dos goblins.

Seu braço modificado era uma manopla escarlate de ferro crepitando em brasas e calor com um olho amarelo no peito da mão; era uma defesa natural e uma arma ao mesmo tempo! Arthur usava Salamandra para torrar os goblins ao passo que o usava para bloquear seus ataques.

Tirando a personalidade distorcida e assustadora, Salamandra era uma arma bem versátil e poderosa do elemento fogo! Que inveja e saudade da minha Gallatin!

Mas eu ainda estava curioso para ver como seria ela em sua forma original. Devia ser algo tão medonho quanto aquela voz.

Mas por enquanto, eu não podia me distrair. Ainda vinha mais ataques!

“AAAAAAAAAAAHHHHHH!! Podem vim, cacete!", Arthur grita sendo tomado pela adrenalina.

Um deles arremessa uma lança e que acerta a altura do meu ombro esquerdo, me derrubando. A lança passou rasgando, mas não perfurou. De qualquer forma, aquilo doeu pra caramba!

“Ei! Você está...”

Então, Arthur é acertado nas costas por um goblin quando se virou. Um instante de descuido e nós dois já estávamos em apuros!

“Idiota! Preste atenção no inimigo ou vai morrer!”, Salamandra o repreendeu.

“Aaaaaaaahhhh! Obrigado por me dizer o óbvio!

“Eu estou bem! Dá para fazer algo ainda...”, eu estava bancando o durão, mas foi temporário. Eu não conseguia me mexer direito mais.

O meu HP desceu de 500 para 470. Não levei tanto dano, mas a dor era bem chata. A pegada no machado afrouxou por causa disso também. Outro goblin me atacou pela frente, aproveitando-se que eu ainda estava me levantando. Forcei meu corpo a se mover e eu esquivo do seu ataque. Arthur aproveita a deixa para seguir com um ataque concatenado com a minha esquiva.

“AAAAAAAAAAAAAAAAAHH!!”

Colocando ainda mais força no braço, em um movimento quase desesperado, eu balanço o machado e ele acerta outros dois goblins, um com a lâmina e outro com o cabo. O que foi acertado com a lâmina não morreu, mas quase foi partido ao meio, ficando 10 de HP. Também ficou com um status negativo de sangramento, o qual iria perder o restante de sua barra até morrer; já o outro ficou bastante machucado também, mas ainda lhe restava 100 de HP.

Chequei meus status e minha barra de Stamina – que por sinal, agora que vi que possuía uma. Acho que estava usando mais energia do que deveria para manejar aquela arma. Me sentia cansado; os goblins não davam trégua e continuavam sua ofensiva feroz e desordenada.

“São muitos! Vai ser difícil lidar com todos eles!”, Arthur continuava a fritá-los, mas estava muito exposto aos ataques dos lanceiros e arqueiros deles.

“Por que você não usa sua magia de fogo?”, perguntei.

“Ainda tem camponeses vivos nas redondezas. Talvez acerte eles também se eu usar meu fogo.”

“Aí complica! Já tá tudo pegando fogo mesmo!”

“Você quer salvar a vila ou terminar de destruir ela, caramba?!”, bom argumento. Essa não dava para discutir. “Aliás... por que não está usando sua magia também?”

“Eu... não tenho magia.”

“O QUE?!”

GYAHGYAHGYAHGYAH!!!”, os goblins mudam os padrões de ataque repentinamente.

......!!

“O que foi?”, Arthur me olhou claramente confuso enquanto bloqueava mais dois ou três ataques.

“Acho que já sei uma forma de acabar com isso!”, disse, subitamente.

Parecia um blefe pelo modo como eu falei, mas blefes não funcionavam contra goblins; pensei em algo melhor...

 

(...) Antes de mais nada, goblins são apegas à segurança e à comodidade. Quando se veem em uma situação de perigo ou na frente de um inimigo superior, eles se acovardam.

 

Isso eu aprendi com minhas vivências nas campanhas de RPG de mesa e com outros jogos online e animes que assisti. Meus conhecimentos sobre essas coisas iriam vim muito a calhar agora.

Eles nos encurralam novamente – em uma onda que parecia não ter fim, parecia até que estavam respawnando infinitamente! – e eu procurei o goblin que eu havia partido ao meio, encontrando sua carcaça no chão.

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHH!!!!!

Soltei um grito selvagem e triunfante, levantando o meio cadáver pela cabeça – era absurdamente leve! O resto do bando se afastou. Arthur teve um mini enfarto com minha ação inesperada.

“O que está fazendo, seu louco?!”

“AAAAAAAAAAAAAAAHHHH! QUEM VAI SER O PRÓXIMO, SEUS MERDINHAS?! QUEM VAI ENCARAR O CAMPEÃO?!”

GYAHGYAHGYAHGYAHGYAH!!!”

“Isso aí! Me temam! Goblins não são de nada! Naquele instante, eu me sentia o todo poderoso! Eles saíram correndo com o rabinho entre as pernas, morrendo de medo de mim! Eu era seu pior pesadelo! Eu era visto como um demônio por eles agora!

“HAHAHAHAHAHAHA!”

“Você está me assustando, seu maníaco! Acho que o medo pode ter feito ele pirar, talvez...”

Com isso, ele conseguiu espantar o bando. Que pirralho esperto...”, Salamandra até me elogiou, para meu espanto. O que importa é que meu plano improvisado nos 45 minutos do segundo tempo funcionou!

Conseguimos espantar os goblins.

“Acho que agora estamos...”

BRUUUMM!!

Um barulho ameaçador foi ouvido. Um sentimento tenebroso tomou conta de nós de novo. Minha alegria dura pouco – pra variar, né?

Até perceber que na verdade, os goblins não fugiram de mim. Algo maior vinha pelo outro lado da cidade. As estruturas das casas fragilizadas tremeram com os passos pesados que reverberavam pelo solo em forma de pequenos abalos sísmicos. Da forma como andavam, seja lá o que fosse, estavam se aproximando rapidamente e vinham em grupo.

E na inocência, eu imaginei que estaríamos seguros agora.

“O que... é isso?!”

“Uns bramidos vindos da rua principal!”

CRAK! CRAK! Arvores caindo e a madeira incendiada se partindo. Mais construções vinham abaixo; não era preciso ser nenhum gênio para saber que nós dois estávamos bem ferrados agora. Pensei na possibilidade de correr para bem longe, mas minhas pernas travaram subitamente.

E então, algo bem grande surge, carregando machados, pedaços de madeira gigantes e um deles portava o que identifiquei sendo um mangual gigante! Eram gigantes – pelo menos uns 3 metros e meio cada um – e tão feios quanto os goblins que nos cercavam a pouco. Eles vinham rugindo e jogando destroços flamejantes do meio da cidade para o alto como palitos de fósforos.

BOOOOOM!

*Mais passos se acercam entre as chamas vibrantes*

Uma arvore desce e destrói uma construção ao nosso lado, lançando algumas pedras próximas. O choque fez a gente parar de tremer feito uma vara verde e acordar.

“Isso é o...”, Arthur gaguejou.

[CAMPEÃO GOBLIN]!”, respondi, a voz saindo abafada.

Os sinais visuais começavam a me incomodar de novo, apontando para a figura.

A desgraça da seta mostrava o meu objetivo. E que desgraça de objetivo suicida era aquele?!

Lá estavam eles, rugindo e mandando tudo pelos ares! Andavam um do lado do outro, formando uma fileira temível e fazendo sua marcha de destruição. Alguns carregavam alguns troncos de azarados que cruzaram seu caminho, esquartejados.

“Campeões... goblins?!”, Arthur não entendeu muita coisa. Até mesmo parecia que estava vendo um pela primeira vez.

“Goblins modificados e que ascenderam na sociedade e hierarquia deles. São os goblins mais fortes que um grupo pode ter!”

“E agora? O que nós vamos fazer? Estou vendo pelo menos uns sete deles!”, a voz de Arthur tremulava ao falar aquilo.

“Por que eles apareceram justo agora?! Muito conveniente...”

“Acho que realmente não devíamos ter vindo.”, ponderei.

“AH, É?! DEVIA TER PENSADO NISSO ANTES DE CORRER FEITO UM LOUCO PELA FLORESTA E NOS TRAZER AQUI!!”, ele não perdia uma chance de me alfinetar.

“Quem liga? Quanto maior o alvo, mais fácil para queimar. Isso é o que importa!”, Salamandra, diferente do seu dono, parecia bem empolgado para lutar com os grandalhões.

Por um breve momento, eu sinto algo estranho passar pela minha visão; era diferente das manchinhas que vemos flutuando na frente dos olhos e que nos incomodam de vez em quando.

Parecia ser algo como uma linha luminosa, ora em ziguezague, ora retas com curvas pontuais.

Em alguns cantos, de vez em quando, eu as via passando. Algumas vezes eu as observava passando em todo o lugar, e agora eu também via em alguns dos campeões goblins e aquilo prende minha atenção; O que eram exatamente elas?

Não parecia ser dessa realidade. Parecia algo... de outro mundo...

TAP! Levo um pescotapa de Arthur – daqueles pra arder mesmo!

“AAAII! Caramba!”

Chega pelou. Pelo menos me acordou para a realidade de novo. Ou “quase” realidade.

“Qualquer dia desses você vai acabar morto e eu vou junto!”

“E a novidade?”

Muito bem, não era hora de ficar tremendo feito vara verde! Vamos analisar os nossos grandalhões:

 


TIPO DE MONSTRO: CAMPEÃO GOBLIN

NÍVEL: 10

HP: 25000/25000

HABILIDADE: INVESTIDA PODEROSA


 

Já estava começando a ficar puto com aquele sistema de análise. Será que ele não me daria nenhuma informação útil? Elemento debilitante? Quem sabe sua força exata? Para um mundo de RPG, tudo era muito obscuro e incompleto.

Porém, seu nível já me espantava; era [CAMPEÕES GOBLIN] de nível 10! E ainda tinham em torno de sete deles, muito putos da vida e vindo em nossa direção! Eu nem em sonho lutaria com um monstro 9 níveis acima do meu.

Não tinha luta! Era suicídio. Só um louco lutaria contra aqueles caras e acompanhado dos menorzinhos também.

E que pena que eu sou o maior louco de ||AMINAROSSA|| atualmente.

“Temos que fugir daqui! Não tem como lutarmos contra eles...”

“Espera!”, eu fiz um sinal para que ele não saísse correndo. Por mais desesperadora que aquele cenário parecesse, eu respiro fundo e mantenho a calma. Tento reorganizar minhas ideias, o corpo tremendo e o coração acelerado com a adrenalina.

“Juniorai?!”, Arthur ficou sem entender, com cara de paisagem.

Enquanto isso eu pensava. Analisei o mais rápido que minha mente conseguia processar, observando o cenário, os inimigos e nossa posição atual – que era em torno de 8 á 12 metros de distância deles ainda. 25.000 de vida, uma habilidade com a qual eles poderiam chegar facilmente em nós em questão de segundos que era a |INVESTIDA PODEROSA|.

Um dos monstrengos agarrou um pedregulho enorme de umas das casas destroçadas e arremessa contra nós.

*Esquiva*!

A pedra ainda rolou bastante depois de acertar o chão.

Foi por pouco! Mais alguns segundos de lerdeza e eu tinha sido esmagado como uma barata.

Arthur produz uma bola de fogo na palma de Salamandra e lança contra eles. A bola de fogo que parecia pequena diante dos corpos parrudos e esverdeados dos monstros se transformou rapidamente em uma linda explosão que os acerta em cheio.

“|BOLA DE FOGO|!”, Arthur brada o nome de sua habilidade. Clássico!

“Uou!”

“Toma isso, seu monstro! HAAA!”

Muito fogo! Os goblins sumiram em um fogaréu imenso por alguns segundos. Depois disso, um rugido bem alto e o tronco veio na nossa direção, pegando Arthur desprevenido e que só teve chance de erguer seu braço para tentar se defender.

O impacto violento o jogou longe.

“Droga! ARTHUUUUR!”

Aquele ataque reduziu um pouco seu HP, mas ele só havia ficado mais irritado e violento. O fogo realmente pareceu perturba-los – alguns ficaram até mais violentos. Ainda tinha muito fogo em volta e não conseguir mirar sua barra com precisão.

Contudo, naquela hora eu tinha mais coisas para me preocupar. Tomara que Arthur não tenha sido estraçalhado com o golpe.

“ARTHUR! ARTHUR! ME RESPONDE, PORCARIA!!”, grito chamando por ele.

GRAAAUHHH!!!”, o rugido deles era animalesco e ensurdecedor. Uns dois deles vinham correndo agora, mais irritados do que nunca!

O grunhido me fez cair. Há um monstro terrível correndo atrás de mim e eu me separei do meu companheiro que era o único que podia dar algum dano nele.

Minhas definições de ferrado foram atualizadas com sucesso!

Outra bola de fogo explodiu no peito do monstro e ele recua alguns passos para trás e o outro tropica até entrar dentro de uma casa em chamas.

“AAAAAHH! Maldito desgraçado!”, Arthur tossiu sangue enquanto praguejava.

“Arthur!”, por um momento fiquei sem ar, mas agora eu estava aliviado por ele estar vivo, mesmo com aquela pancada.

Ele continuou com as bolas de fogo até cair de joelhos no chão, ofegando. Eu corri até ele para ajudar.

Seu estado não estava nada bom:

 


Status base adicional > //FORÇA -50%//

HP: 500 / 1925

MP: 250 / 1350


 

O golpe o deixou em estado crítico e dava para ver que ele sofria muito. Estava bem machucado. Sua mana estava se esgotando bem rápido e não regenerava como eu imaginei que aconteceria.

Tudo estava acontecendo exatamente ao contrário do que previ.

Já era de se esperar. Um golpe de um [CAMPEÃO GOBLIN] não podia causar um dano menor que aquilo – e eu o considerava um cara de sorte por não ter se desmontado todo no primeiro ataque. Ainda por cima, eu podia ver o status [DEBILITADO] acima de seus atributos.

Arthur estava impossibilidade de recuperar vida e energia. Eu tinha algumas potions, mas não sei se adiantaria visto a gravidade dos seus ferimentos. As mecânicas do jogo ali se aplicavam de forma bem real, tanto que uma simples poção de cura talvez não fosse suficiente para recuperá-lo.

“Droga! Esse monstro é mais forte... do que eu pensei...”, diz Arthur, com meias palavras.

“Você está bem? Consegue se manter de pé?”, era meio óbvio a resposta.

“Eu... estou.” Arthur disse aquilo ofegante, sua voz quase não saindo.  “Eu levantei meu braço... antes do golpe me acertar. Salamandra amorteceu... a maior parte do impacto...”

“Você é uma completa desgraça, Doutrinador!”, Salamandra disse aquilo com certo desgosto na voz.

Arthur cospe sangue. Eu dei uma potion de vida para ele.

“AAARGH!”

“Não se mexa muito...”

O goblin grandalhão saiu ainda mais furioso, quase mudando de cor. Seu rosto fica ainda mais deformado de raiva e os outros vem acompanhando seu estampido de fúria. Agora estávamos seriamente encrencados!

Era bem mais assustador agora do que antes. Ele saiu balançando sua arma que agora era um tronco de arvore médio que tinha arrancado nas redondezas e saiu demolindo tudo que encontrava pelo caminho, incluindo seus serviçais goblins que estava na frente.

Era uma máquina incontrolável de destruição. Uma verdadeira catástrofe natural!

“Eu só... posso usar minha |FIREBALL|... daqui há 30 segundos.”

Era muito tempo! Ele nos alcançaria antes disso. Devia ter outra forma de pará-lo.

Pensa, Junior. Pensa! Havia uns quatro [CAMPEÃO GOBLIN] maníacos e um em estado “Berserker”, balançando um tronco de arvore para tudo quanto é lado.

O que eu faria se estivesse nas campanhas de RPG? O que você faz, Junior? Bom devo dizer que isso é uma pergunta idiota. Está claro o que devemos fazer em uma hora como essa. Eu enlaço o braço direito de Arthur por cima dos meus ombros e o apoio em cima do meu corpo.

“CORREEE!!”, gritei.

Então saímos em corrida o mais rápido que o estado atual do Arthur nos permitia e nos enfiamos em um beco estreito entre duas construções altas de pedra e que estavam relativamente intactas. No meio do caminho, a habilidade de bola de fogo de Arthur resetou e ele atirou outra no chão no meio da corrida.

A bola criou uma labareda que explodiu o solo e formou uma cortina de poeira e terra com fumaça, criando uma ótima distração para que pudéssemos fugir e nos esconder nesse beco.

[CAMPEÕES GOBLINS] podiam ser mais altos, parrudos e fortes, mas sua inteligência não era muito maior do que a de um goblin comum. O grupo de brutamontes nos perderam facilmente, mas ainda estavam pelas redondezas, nos procurando e destruindo tudo.

Tentamos fazer o mínimo de barulho possível para que não nos descobrissem. Até mesmo parei de respirar por alguns instantes – era muito louco. Dava para ouvir minha própria respiração! – e procurei me acalmar.

Era uma situação de vida ou morte e que não tinha ninguém que pudesse nos ajudar ali; uma aldeia isolada na floresta, sem auxílio do reino mais próximo e sem qualquer chance de alguém vir nos socorrer. O que eu faria uma hora dessa?! Como sairíamos de lá inteiros?

*Pensa, pensa, pensa*

*Pensa, pensa, pensa...*

E então uma breve iluminação me alcançou:

 

“CHEQUE A LISTA DE HABILIDADES, SEU FILHO DA...”

 

“Isso!”

“Junior?”

“Xiiiu...”, o calei na hora, antes que começasse a falar. “Estou... pensando...”, e de fato eu estava.

...........

Nenhum barulho além das chamas e dos outros goblins pequenos.

“O que?!”

Onde foi parar os grandões? Uns monstros daquele tamanho e furiosos como estavam não podiam parar de fazer barulho assim do nada. A não ser que...

“ARTHUR!! CUIDADO!!”, gritei arrastando-o para fora da pequena viela.

Um dos Goblins Campeões explodiu o pequeno espaço com um golpe do mangual – sim... era justamente o pior deles! A bola de ferro vibrou entre os pedaços de terra e madeira, fazendo descer uma chuva de destroços por cima de nós.

“MERDA! CONTINUA CORRENDO!”, continuei gritando para Arthur se manter no ritmo.

Infelizmente ele ainda estava ferido e exausto e dois dos esverdeados dobraram o quarteirão para nos pegar, o que não era tão difícil pelo tamanho das passadas deles. Os dois grandões esverdeados, um portando algo que lembrava um tronco de uma arvore média em um dos braços e outro com uma enorme espada que jurei que pudesse cortar uma casa pequena ao meio, estavam na nossa frente, a alguns passos de nós.

O do mangual vinha pelo espaço entre as duas casas destruídas, surgindo entre a cortina de destroços e detritos das duas residências e o fogo, e mais dois vinham por trás, pela rua – aqueles dois que já nos perseguiam antes, um deles sendo o que o Arthur queimou com seu |BOLA DE FOGO|.

“MERDA! ESTAMOS CERCADOS!”

“Você tem algum plano?”, perguntou Arthur, ficando de costas para mim.

“O estoque de planos esgotou.”, era a ultima coisa que eu queria dizer em uma situação desesperadora como aquela.

“Merda... acho que esse é o fim, então...”

FIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIU

De repente, como se fosse obra do destino – ou da própria programação do jogo mesmo – algo veio voando muito rápido na direção de um dos dois goblins campeões que vinham por trás de nós e explodiu na nuca deles.

Após isso, outro gritinho desafinado que não era o nosso se levantou ao longe, vindo depois dos grandões.

“Ei, suas aberrações! Aqui!”, uma voz feminina provocava os Goblins Campeões com um atrevimento até charmoso.

Seja lá o que ela tenha tacado na nuca do goblin da direita, deu um bom dano nele, reduzindo seu HP de 25000 para 14.700 e deixando com um ferimento horrível naquela região – e sim, o ataque de Arthur não deu dano nenhum no goblin!

Os dois se viraram na direção dela; era uma maga tampinha que carregava um cajado de madeira retorcido e surrado em mãos, vestia um manto capenga vermelho-sangue com preto e um chapéu meio... duvidoso, se é que eu posso chamar assim – ela parecia ter roubado aquilo de algum bufão em algum lugar. Foi ela mesmo que lançou aquele ataque invisível e poderoso?

Bom, pelo menos uma parte dos goblins agora estava com a atenção voltada para ela, mas ainda tínhamos que cuidar dos...

*ZUUUP*

*VAAAASH*

Dois cortes precisos acometem os pescoços parrudos dos goblins campeões na nossa frente. Dois indivíduos vieram voando de “não sei aonde” e acertaram um golpe de dano crítico nos dois da frente e os derrubaram! Eu não consiga acreditar no que eu estava vendo!

Acho que havíamos chegado à um evento importante aqui e eu estava completamente vendido na cena.

Em um movimento acrobático, os dois aterrissam pomposamente depois de derrubar aqueles monstros. Um deles estava praticamente só vestindo as calças e ataduras que envolviam seus membros, sem usar nenhuma proteção em seu tronco ou algum elmo – se bem que eu também não tinha nenhuma. Ele era musculoso e lembrava muito um monge. –, e outro já tinha uma armadura pesada azul com detalhes dourados e portava uma espada e escudo. O do peitoral de fora era mais jovem e de longos cabelos negros amarrados por um rabo de cavalo e o cavaleiro era um pouco mais velho, com cabelos ruivos e espetados e uma barbicha rala no queixo e várias cicatrizes no rosto.

“Vocês já derrubaram o de vocês? Por que eu já finalizei esse daqui.”, outra voz feminina veio dessa vez do nosso lado, da direção do beco.

Era uma mulher bem alta e musculosa, vestindo uma regata e algumas luvas bem estilosas – parecia uma lutadora de Wrestling –, de calça colada e rasgada nas coxas e com algo que parecia ser uma jaqueta amarrada envolta de vários cinturões couro e placas de ferro. Tinha cabelos curtos e loiros, nariz negroide, lábios fartos e um olhar esperto e sempre desconfiado.

Para a minha surpresa – e eu não economizei na “surpresa”. Meus olhos quase saíam das órbitas. –, a dita cuja afundou a cabeça do grandalhão dentro do corpo com o próprio mangual! Puta merda, queria muito ter vista uma cena dessas!

“Quem são vocês, por acaso?”, perguntou o monge com pinta de príncipe chinês.

“Ah, somos aventureiros de ||AMINAROSSA||. Eu sou Juniorai.”, me apresentei.

“Eu... sou Arthur...”, a voz de Arthur estava muito fraca e antes que conseguisse se apresentar direito ele desaba no chão.

“ARTHUR! EI! EI, ARTHUR! VOCÊ NÃO PODE MORRER! LEVANTA!”, começo a sacolejar ele desesperadamente enquanto gritava.

“Ei! Ei! Vai com calma!”, o monge me segurou. “Ele não está morto! Relaxa!”

“Mas de fato os ferimentos dele são muito sérios. Ele tem que ser tratado com urgência.”, avaliou o cavaleiro de armadura azul. “Mas é um prazer conhecer aventureiros Aminarosianos. Não tem aparecido muitos por essas bandas ultimamente.”

A pequena maga veio correndo e foi de encontro ao cavaleiro. Pelo que deu a entender e avaliando sua postura, ele devia ser o mandachuva dali.

Agnes reportando, senhor! Boa parte dos goblins do vilarejo já fugiram ou foram eliminados! Os batedores já estão a caminho!”

“Perfeito! Você ainda tem alguns frascos de //PÓ DE RUBRIS AK’MA// aí com você?”

A baixinha vasculhou sua bolsa atrás do troço que seu chefe pediu. Só pelo nome eu já ficava com medo –, parecia ser algum nome de doença, sei lá.     

“Vocês que mataram todos esses goblins?”, perguntou a lutadora apontando para as carcaças.

“Ah, sim. Mas nós não demos conta de todos, infelizmente...”

“Nossa. Vocês dois sozinhos fizeram um bom estrago. HAHAHA!”, brincou o monge, ficando a lança no solo. “Mesmo parecendo iniciantes, vocês são bons! Meu nome é Garlan! Essa aqui do meu lado é a Gae!”, ele apresentou a musculosa para a gente.

“Hunf! Eram só uns goblins idiotas! Não fiquem se achando tanto.”, ela não parecia ter ido muito com a nossa cara, para variar.

“Já providenciei uma equipe de socorro para seu companheiro. Devemos voltar para ||LACUNA|| antes do amanhecer.”

“LACUNA?”

“De qualquer forma, vocês fizeram um ótimo trabalho segurando as pontas aqui para que chegássemos. Devemos essa a vocês por terem minimizado ao máximo o dano no vilarejo.”

De repente, uma tropa de soldados chegou marchando pela passagem principal por onde todos saiam e entravam na cidade. Aquele cara devia ser algum tipo de comandante daquela cidade-reino pelo qual passamos. Então ele se abaixou e pegou aquele “Pó sei-lá-das-quantas” e passou nos ferimentos de Arthur.

Ele já estava inconsciente.

“O que é isso que você está passando nele?”, perguntei, curioso.

“Isso? É um pouco //PÓ DE RUBRIS AK’MA// feito de //CARAPAÇA DE MURDUK// e conseguido nas montanhas geladas de ||REN DO NORTE||.”, ele discursou um texto e eu não entendi uma palavra. “Vai acelerar a regeneração das feridas, mas ele ainda precisa de um tratamento melhor. Por hora, isso deve ajudar.”

“Ah... sim. Obrigado, eu acho.”, agradeci, mas ainda estava boiando.

“Meu nome é Reginald Killjoy. Sou o Comandante da Guarda de ||LACUNA|| e diretor geral do Conselho de Defesa Lacunar.”

Ele nem precisava dessa introdução toda no fim das contas. Eu vi todos os vários títulos exagerados e cada um com quase 3 linhas que ele possuía em sua ficha de personagem – e falando nisso, que ficha, hein?

“Prazer! Meu nome é Lucy e eu vou ser a maga mais forte de todo o continente!”, a maga baixinha me cumprimentou com um sorriso caloroso e um aperto de mão.

“Ah... prazer.”

“Muito bem! Os batedores já estão todos aqui e uma carroça com quatro cavalos já estão esperando por vocês na entrada da cidade.”, Reginald me entregou uma espécie de carta com algumas instruções escritas. “Quando chegar à cidade, mostre isso para que vocês possam ser atendidos adequadamente. Se fizerem perguntas, digam que foi o próprio Reginald Killjoy que autorizou.”

“Certo!”, eu guardei a carta comigo e me despedi dele agradecendo pela ajuda. Ele então ordena que alguns dos soldados levasse Arthur em uma cama de madeira improvisada até a carroça. Ao ver Arthur sendo levado inconsciente naquele estado me partiu o coração; me fez ter um choque muito cruel de realidade que eu esperava não acontecer.

Lá dentro da carroça – e que era bem espaçosa, por sinal –, Garlan, Gae e Lucy já estavam acomodados em seus lugares esperando por mim. Gae me matando com olhar como sempre, Lucy lendo um livro e Garlan limpando o fio de seu glaive – agora olhando melhor, percebi que sua arma era um glaive e não uma lança.

Então o guia da carroça recebeu o sinal para partir.

Durante a viagem, eu não conseguia deixar de olhar para Arthur e me sentir mal por isso. Eu pensei que eu poderia ser o herói que dava um jeito de vencer no final como em todas as histórias que eu lia e os jogos que jogava, mas pelo visto não era bem assim que as coisas funcionavam.

Hoje eu quase perdi um dos meus amigos em algo que eu mesmo nos meti. E então minha ilusão de eu ser um “herói escolhido para lutar contra o mal” já caía por terra ali mesmo – eu sequer tinha habilidades para lutar! Eu matei alguns goblins ali na sorte e escapei várias vezes por mais sorte ainda.

Fiquei completamente indefeso. Completamente impotente!

E se Arthur tivesse morrido? Será que Salamandra teria lhe concedido uma vida extra assim como Gallatin fez? Acho que não...

Eu estava longe de ser o que eu achei que seria quando entrasse no meu jogo e pior ainda: esse mundo que eu criei era tão ou mais cruel do que o meu próprio mundo.

“....”

“Ei, forasteiro!”, Gae me chamou.

“Ah? O que foi?”

“Você é mesmo de ||AMINAROSSA||?”

“Gae!”, Lucy a chamou atenção, ficando constrangida com a pergunta da colega.

“Desculpa, Lucy, mas não pude deixar de perguntar isso. Tem algo nesse cara que... me é estranho.”, diz ela com a confiança treinada de uma guerreira.

Eu não podia culpa-la por desconfiar de mim. Se fosse verdade tudo que todos estavam dizendo sobre essa tal de “Guerra Continental”, era mais do que justificável. Além disso, eu não era muito normal para os padrões daquele mundo, nem minhas roupas.

“Então? De onde você é, forasteiro?”, perguntou ela mais uma vez, irritada.

“Eu... não me lembro.”, contornei com uma desculpa – esfarrapada sim, mas era o melhor que eu tinha para agora.

“Como não se lembra? Não se lembra ou não quer nos contar?

Garlan e Lucy se entreolharam, depois me encarando também para ver minha reação.

Ela estava claramente me pressionando, como uma espécie de interrogatório – eu já tinha visto essa cena antes muitas vezes. Porém só existia a “policial mau” agora e ela ameaçava esmurrar minha cara se eu respondesse uma vírgula errada.

Bom, não podia doer mais que um soco da Thayslânia, eu acho.

“Eu acordei em uma campina próxima de Aminarossa e sem memórias.”, menti novamente. Eu ainda não sabia o que poderia acontecer se eu revelasse a verdade para alguém que fosse de dentro do jogo.

Não era a melhor hora para testar isso, então continuei nessa linha de raciocínio.

“Eu acho que ele está falando a verdade, Gae.”, Lucy me defendeu. Ela parecia o NPC mais sensato daquele lugar.

A lutadora parruda bufou, cruzando os braços e virando o rosto.

“Certo! Uma hora vamos descobrir de qualquer forma!”

“Não liga para ela, Juniorai!”, Garlan tapeou minhas costas enquanto ria descontraidamente. “A Gae só é... precavida demais. Não é só com você, pode ter certeza.”

“Tudo bem. Eu já estou acostumado.”, respondi, voltando a me afundar nos meus pensamentos.

“Mas realmente você não parece ser Aminarosiano. De onde será que você vem?”

“Será que ele pode ser...?”, Lucy pareceu hesitar em terminar sua frase.

“...Andralino? Também desconfio de que seja. Esse tom de pele, essas roupas estranhas... só pode ser um Andralino!”, Gae voltou para a conversa bem mais rápido que eu imaginava.

Garlan e Lucy ficam em silêncio e um clima de tensão se forma na carroça.

“Como eu já disse... eu não me lembro de onde eu vim.”, repito.

“Se você estiver tramando alguma coisa, eu juro que não terei piedade de você.”, ela me ameaçou e depois voltou a olhar para a janela.

“Desculpa, Juniorai. As coisas em ||LACUNA|| não tem andado muito bem ultimamente.”

“Tudo bem, tudo bem. Eu entendo...”, eu estava dando uma de “good guy”, mas a minha vontade era de mandar aquela marombeira ignorante ir tomar naquele lugar que vocês sabem onde, não é? Acho que ela esqueceu que quem estava estirado no fundo da carroça era meu precioso amigo e que nesse momento estávamos em uma missão que valia muito para ele.

E mais uma vez, esse mundo me mostrava o quão cruel e irracional ele podia ser, mesmo que fosse criado e moldado pela lógica. A essa altura, eu já estava bem mais frustrado do que eu pensei que ficaria.

*suspiro*

“Achei que eu fosse me divertir mais com meu próprio jogo...”



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