Cheaters Brasileira

Autor(a): Kuma


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 17: Apostas para os abestados

 

||CIDADE DE BALAM||, porção sul da região de ||LHASA||, tempo presente...

PLAYER: [???]

 

Qual é o preço de uma decisão idiota?

Um sussurro para o ouvido do rei dentro de uma corte real o qual, por conta da ignorância e soberba dos soberanos, não é correspondida?

O farfalhar dos tecidos errados correndo discreto por dentro dos aposentos escuros de um castelo?

Todas essas coisas na verdade são meramente ossos do ofício do antro de víboras em que nós vivemos. Um ninho de porcos que se deleitam dos prazeres obscenos e das palavras doces, porém venenosas que entoam de nossos lábios. Eu vivi minha vida inteira nesse lugar onde as palavras são mais letais do que as facas. Onde o veneno é invisível e a agulha vem por trás de sua nuca.

Qual a vantagem de tudo isso? É que eu também aprendi a ser assim. Eu sei como eles pensam.

Sei como esse jogo ridículo e egoísta de poder funciona e aprendi a manipulá-lo ao meu bel-prazer.

Ultimamente, muitas cidades de ||LHASA|| tem oferecido certa... resistência, aos meus papos e nossas negociações. Bem, talvez eu ainda tenha muito o que aprender ou eles eram idiotas demais para recusar minhas ofertas. Tolos o bastante para não quererem se juntar ao lado vencedor.

Sim; a história sempre é contada por vencedores, não é verdade? Os vencedores são aqueles que, através de seus esforços, de suas técnicas e de sua força, conseguiram se sobressair e sobreviver. Moldaram a história através de sua vontade e fizeram que os outros seguissem suas instruções para assim, esmagarem os fracos.

Os fracos perecem. Os fortes prosperam. Seja no campo de batalha ou mesmo em um banquete no salão do rei. A história não tem espaço para os perdedores. Eles são apagados e apenas servem para lembrar ao resto de quem realmente são os verdadeiros vencedores.

“Você... esse não foi... o combinando...”, seu corpo balofo e nojento despencou de cima de seu trono, um jato de sangue esguichando do peito.

Os poucos guardas que restaram vivos no local ficam paralisados. Melhor para eles que continuassem assim. A coroa escapou de sua cabeça calva e suada, rolando as escadas abaixo junto com o corpo.

HYUA! HYUA! HYUA! HYUA! HYUA! HYUA! HYUA!”, os soldados soltam um brado juntos, enquanto batia as espadas nos escudos em sincronia cadenciada.

Nada como uma sinfonia de morte e sangue para coroar a tomada da cidade de ||BALAM||, não é mesmo?

Outro soldado veio correndo pelo portão e se ajoelhou na minha frente. Era um mensageiro enviado pelo rei.

“Senhora Zelena! Trago uma mensagem do próprio rei Gabriel! Ele já está voltando para ||ANDRAS|| e diz que a tomada da cidade-reino de ||MERISHA|| foi um sucesso!”, disse ele.

Um sorriso involuntário invadiu meu rosto, mesmo já esperando pela notícia.

“Muito bem. Diga que estarei de volta em poucos dias e que tomamos também ||BALAM||. Assim que resolver algumas pendências com o rei de ||DRAGNERILL||, eu volto para a corte. Informe também que ainda estamos colhendo informações sobre o paradeiro da biblioteca.”

“Sim, senhora!”, ele fez um gesto solene e se retirou às pressas.

Olhei em volta. Só via vários súditos e alguns soldados apavorados lá, e mais um monte de mortalhas no chão. Segundo o que o rei Gabriel havia me ordenado, era que eu podia conquistar toda a cidade, mas que eu deveria mantê-la inteira. O senhor da ||CIDADE DE BALAM|| havia recebido um mensageiro nosso que levava uma mensagem amigável dias antes de nossa invasão.

Digamos que nosso mensageiro não voltou muito... inteiro. Mesmo com tudo que eu havia lhe indicado, ele ainda quis dar uma de rebelde e nos desafiar.

Agora sua cidade, sua coroa, sua vida... foram tomados dele apenas por uma ação egoísta. Por uma negligência sua com seus comandados e seu povo; um rei, um monarca deveria fazer o que é melhor para o seu povo, mas as coisas não funcionam assim.

Ele escolheu seu destino e sua cidade e seu povo agora pagam por sua escolha imprudente. Pobre e tolo rei...

“Então... queimem tudo.”, ordenei.

“E enquanto os servos, senhora?”, perguntou um dos soldados.

Eu os encarei com um desdém gélido nos olhos.

“Matem todos.”, essa é minha palavra final.

Os rostos deles se fecharam em desespero. Confesso que curti um pouco aquilo.

E então eu deixei o salão principal, desci as escadarias e me encontrei com o pátio principal do castelo com meus subordinados.

“Voltou rápido, Senhora Zelena. Imagino que sua negociação não foi muito... amigável.”

Não houve negociação alguma. Era esperar muito de um animal.”, respondi sem esconder minha repulsa.

“Já vamos voltar? Eu pensei que ia ser mais difícil essa invasão. Que decepção...”

“Vamos dar uma passada em ||DRAGNERILL|| antes de voltarmos para ||ANDRAS||. Tem algo de que quero me certificar.”, disse, me retirando do castelo.

A cidade já estava sitiada; os cidadãos já estavam dominados e o exército, despedaçado. Tudo frutos de uma decisão imbecil tomada por um rei tolo.

E a inteligência é a maior arma de todos aqueles desejam viver no antro de serpentes que é a realeza. E aí, nos perguntamos mais uma vez: qual o preço de uma decisão idiota?

A morte certa...

 

 

 

____________________________________________________________

Enquanto isso, na ||CIDADE DOS COMERCIANTES||...

 

“Preparados?”, perguntou ele, seus olhos dançando entre mim e Arthur.

Depois só o silêncio. Éramos como vaqueiros em um duelo silencioso, procurando o melhor momento para dispararmos o gatilho. O momento de tensão se instaurou no ar.

As garras de Arthur riscam.

Os sinos sibilam nos dedos do mercador. Um badalar, dois badalares...

Três...

*PLING, BLING, BLING*

“Não há limite de habilidades. Vocês podem usar qualquer coisa para tomar os sinos de mim. No entanto, eu só vou poder usar minhas habilidades de [MERCADOR].”, anuncia subitamente.

“O que?”

“O que ele está pensando?”, perguntou Arthur, incomodado com aquela frase.

Certo que |INVERTER PROBABILIDADE| era sua principal habilidade, mas não poderia ser a única que ele possuía, mesmo de uma classe não combatente. Mas o que ele queria dizer que só usaria suas habilidades de [MERCADOR]? Ele estava tão confiante assim para não usar suas habilidades ofensivas?

“Está fazendo pouco de nós, é isso?!”, gritou Arthur, irritado.

Ele soltou uma risadinha cínica, brincando com os sinos nos dedos.

“De forma alguma. Só acho que vai ser mais emocionante para a minha aposta se vocês tiverem uma... pequena vantagem.”

“Você poderia apenas nos dizer o que a gente quer, sem essa enrolação toda! Não temos que perder tempo com essa competição boba e...”

“Competição... boba?”, o tom de voz de Bazz7 mudou de repente. Ele estava mais sério agora e de novo a tensão do ambiente aumenta. Uma aura bem densa esmagou nossos corpos.

Quem sabe o que um mercador de nível 120 poderia fazer com dois aventureiros capengas de nível 15 e 17? E eu só não estava no mesmo nível que o Arthur porque o safado matou uma onda de monstros inteira enquanto eu dormia.

“Não é... uma... competição boba!”, disse ele com a voz tão pausada quanto ameaçadora.

“Como não? Você só poderia dizer o que a gente queria e a deixaríamos você em paz, seu louco! Pra quê tudo isso, afinal?!”, Arthur continuava a provocar o mercador.

Eu tinha sérias dúvidas de que aquilo fazia parte de algum plano mirabolante dele para desestabilizar Bazz7 ou mesmo para nos dar mais alguma vantagem. Ou eu achava que aquele diálogo só iria nos lascar mais ainda e era mais provável essa opção.

“E que graça teria nisso?”, refutou o mercador, a voz dura e ríspida de repente. “A emoção de uma disputa, o calafrio de uma aposta. Arriscar qualquer coisa, mesmo que seja algo irrelevante, em uma competição é o ápice do significado de ser quem eu sou.”, ele fez uma pausa, girando os sinos em seu dedo indicador. “Eu sou um mercador, e eu sempre tenho que ganhar algo, não importa o que seja. Sempre estou em busca de algo a mais; se não há disputa, não há vencedores, nem perdedores. Se não há vencedores, não há vitória e nem ganho e se não há nenhuma dessas coisas, é somente perda de tempo!”

Ele era bem mais insano do que eu pensei que fosse. Isso tudo era somente pelo prazer de disputar? De apostar?

“Além disso, querem aumentar a aposta?”, perguntou ele.

“Hm? Claro que não, seu louco! Vamos começar...”

“Vocês têm apenas uma oportunidade para aumentarem suas chances de ganharem. Mas já vou logo dizendo que posso ganhar de vocês sem que eu precise sequer lutar!

Eu pude ouvir o som da minha veia da testa estourando. Ele até podia ser de um nível alto, mas agora me deixou emputecido com toda aquela arrogância.

Eu sabia que, no fundo, poderia ser alguma estratégia dele para nos forçar a fazer uma besteira ou para nos tirar do sério – e eu admito. Estava funcionando! Já não aguentava mais ouvir ele falando aquelas merdas.

“Ora seu... Pode começar a chorar, porque eu vou te esbagaçar, seu vendedorzinho de fundo de feira; no litoral vou litorar!

Pensei que soaria como uma frase de efeito, mas saiu isso... fica desse jeito mesmo. Enquanto isso, já haviam incrivelmente se passado 4 minutos dos 10 que tínhamos para tomar os sinos dele! O desgraçado estava tentando levar a gente só na conversa – agora eu entendia a parte do “ganhar sem precisar lutar”.

“Ei...”, sussurrei para Arthur, já posicionando uma pegada no cabo do machado. “... eu vou paralisar ele com o |AUMENTAR CARGA| e você vai e pegar os sinos. Fácil e rápido! Entendeu?”

“Tem certeza?”, perguntou Arthur, apreensivo. “Não confio muito em atacar ele diretamente...”

Eu não tirava a razão de Arthur sobre estar se cagando de medo para atacar ele; a postura de Bazz7, seu rosto... sua expressão sempre dava a parecer que ele não estava pensando em nada ou sempre estava armando alguma coisa.

Uma expressão enigmática e traiçoeira com atributos de um personagem de nível alto com certeza não era uma boa combinação para nós. Sentia certo calafrio se começasse a encara-lo.

“Ele não pode usar o |INVERTER PROBABILIDADE|. Ele é de uma classe não combatente, então creio que ele não tenha outras habilidades ofensivas.”, ponderei. “Relaxa! Vai por mim.”

Arthur concordou com um aceno de cabeça. Não sei se isso o confortou, mas agora ele estava mais disposto a se arriscar.

“Certo. Vamos lá então!”

Então finalmente o encarei, procurando manter a confiança de um olhar petulante e desafiador. Não ia mais deixa-lo me intimidar, mesmo que fosse de um alto nível ou que estivesse bolando alguma coisa. Poderia ser apenas um blefe dele para nos fazer acreditar que ele estava armando alguma coisa e assim, permanecer no controle da situação.

Mas agora a situação era outra. Agora nós que tomávamos as rédeas!

“Se prepare para mamar, Bazz7!”, gritei, puxando o machado. “|ZONA IMOBILIZADORA|!”

“...!”

A bolha de vácuo atingiu o mercador e o prendeu, de forma que ele não podia se mexer. Claro que por causa de seu nível, os efeitos eram bem mais fracos e passavam mais rápido que em alguém do meu nível, mas era tempo o suficiente para que Arthur fosse até ele e capturasse os sinos.

“...AAAAAH!”

“Vou só pegar os sinos e te soltamos.”, Arthur se aproxima para pegar o objeto preso ao cinturão de Bazz7, quando tem seu pulso agarrado por ele de repente.

“Brincadeirinha!”, disse ele rindo com uma expressão assustadora.

Então arremessou Arthur por cima dele em direção ao tablado com uma força descomunal. Arthur caiu em cima da mesa circular de madeira e rolou até o chão, se contorcendo.

 


< ARTHUR >

- HP: 10450/12000 (-1550) [CONTUNDIDO]


 

“Arthur!”, gritei em um instinto involuntário.

Bazz7 avançou em direção a mim em uma velocidade esmagadora, o qual meus olhos o perderam de vista e reapareceu na minha frente. Rapidamente eu recuei com o machado em mãos, mas ele só se sentou em um banco que spawnou do nada e começou a remexer alguns ingredientes em cima de uma mesa – que por sinal, também apareceu do nada!

“O que?! Ele tá criando alguma coisa no meio da luta?”

“Ah, não precisa ficar tímido. Eu disse que só ia usar minhas habilidades de [MERCADOR] para lutar, não é?”

“O que?!”

 Ainda estava apreensivo em fazer qualquer ação. Arthur havia levado um dano considerável para uma queda e estava com o famoso status negativo [CONTUNDIDO]. Na verdade, eu pensei que ele ficaria com [DEBILITADO] como era de praxe, mas existia vários status negativos e positivos com efeitos diversos naquele mundo.

Só pelo meu joelho podre, eu deveria ficar naturalmente com um status de [CONTUNDIDO].

Mas o [CONTUNDIDO] ali parecia uma espécie de atordoamento. Arthur ainda não conseguia ficar de pé e cambaleava tropicando nas cadeiras para, pelo menos, conseguir se erguer.

Por enquanto ele ficaria bem, mesmo que fora de combate por hora, mas o que também nos colocava em uma fodida desvantagem. Além disso, ainda me pegava pensando como ele havia conseguido escapar do efeito da minha |ZONA IMOBILIZADORA|. Será que eu teria errado a habilidade?

Não... não poderia ser isso. Essa é uma habilidade considerada quase Lock Target –Alvo travado –, onde eu não conseguiria errar mesmo se eu me esforçasse muito para isso. Tinha noção – só porque eu observei em várias lutas de volta para ||AMINAROSSA|| – de que os efeitos eram diminuídos de acordo com a diferença de nível, mas pelos meus cálculos, Bazz7 não teria conseguido se livrar dos efeitos da minha skill tão facilmente.

Será que calculei mal? Ou seria algum truque de Bazz7?

“Está pensando muito, garoto.”, provocou o mercador, sorrindo malandramente.

Eu acordei com aquela expressão nojenta de superioridade que ele sempre mantivera no rosto desde o principio do nosso encontro. Aquela cara safada e sem escrúpulos de quem se achava sempre no controle de tudo.

E eu mal esperava para arranca-la a força!

“Por acaso esses sinos que está usando na aposta. Eles não seriam encantados, seriam?”, soltei uma pergunta no ar.

Ele levantou uma sobrancelha.

Talvez sim... talvez não”, interpelou Bazz7, cínico.

“Nesse caso, vou ter que me esforçar um pouco mais...”

Comecei com um corte vertical de baixo para cima, mas ele desvia facilmente, saltitando para trás. Continuei então, aproveitando o movimento do golpe anterior para criar uma varredura na diagonal vindo de cima e tentar acerta-lo ainda no meio dos seus saltos, mas ele era mais escorregadio que aquele sabonete gasto do seu banheiro e pulava tanto quanto uma perereca; no meio do ar, Bazz7 se esquivou dos meus golpes facilmente, deslizando seu corpo para longe dos golpes do meu machado.

E claramente ele não estava fazendo esforço algum para aquilo. Era como uma brincadeira para ele e estava claramente me avacalhando com isso.

“Droga! Não... consigo... acertar!”

“Vamos! Se não se esforçar, não vai conseguir pegar os...”

“|SOPRO DO DRAGÃO DE FOGO|!”

Depois de um grito estrondar atrás dele, uma baforada de fogo desceu sobre toda a área onde Bazz7 estava saltitando e o acertou em cheio. Arthur o surpreendeu com seu ataque poderoso em área e que atingiu toda o centro do salão, explodindo em um fogaréu que alcançou até a abobada do teto.

Eu tivesse que sair de perto rapidamente ou também seria pego pelas chamas. Nem queria imaginar o dano que aquele ataque iria causar em mim – isso se não me matasse logo de cara.

Ele poderia até esquivar dos meus ataques com o machado e até mesmo das minhas habilidades de alvo travado, mas como desviaria de um lança-chamas massivo?

A habilidade dele, no entanto, ainda não estava lapidada. Era somente uma carga e um tempo de recarga alto – Exatamente 90 segundos. Chegava até a ser ridículo de tão alto que era! –, sem falar em um custo de mana bem abusivo. Mas agora eu esperava que realmente tivesse causado algum dano nele.

Mas Arthur já havia se precavido e trouxe um item de raridade [RARO] o qual encontrou rolando dentro de um velho baú de um vendedor de tapeçarias em Lidooberry antes de partirmos: Era um //CRISTAL DE CANALIZAÇÃO//, um item que reduzia em 10% – até um máximo de 25%, dependendo da raridade e do nível, podendo até duplicar esse valor – o custo de energia de quaisquer habilidades conjuradas.

Podia até parecer quase nada, mas fazia uma diferença enorme para alguém da classe [MAGO] como Arthur era. Às vezes, 50 ou 70 de mana a mais pode fazer diferença entre a vida e a morte em um campo lotado de monstros, principalmente para um mago. Como eu não sou mago, dane-se a mana!

“Arthur, você conseguiu! Conseguiu atingir ele!”, gritei de longe. Ele era o único que podia ficar no meio daquele mar de chamas sem pegar logo de cara uns 4 stacks de [QUEIMADURA] e ter sua barra de vida reduzindo-se lentamente a cinzas.

“Onde... ele está?”, perguntou Arthur, ofegante.

Nós dois o procuramos em meio às labaredas. Por um momento, fiquei tão feliz com a ideia de que Arthur tinha conseguido machucar ele de alguma forma que me esqueci totalmente da quest.

Ainda nos restava 3 minutos para recuperar os sinos e nenhum sinal deles ou do mercador. Bom... isso até que o sujeito se revela de pé em cima da mesa redonda de reuniões, com maior pinta de personagem overpower.

“Essa passou perto. Um momento a mais que eu demoro e minhas roupas caras tinham ido para o saco.”, disse ele, passando a mão na testa e suspirando.

E lá se foi toda a pose. Provavelmente ele iria querer puxar mais papinho para enrolar o resto do tempo que faltava. Ignorando toda e qualquer possibilidade de elaborarmos um plano para pegar os sinos, fomos para cima. O plano agora era: ataca de qualquer jeito que dá certo!

E o atacamos; Arthur e eu corremos em direções opostas com o intuito de cerca-lo. Ele saltou de cima do tablado e aterrissou novamente no centro da grande sala, sua queda varrendo as chamas apenas em um giro de suas pernas no ar.

O ataquei então com um corte frontal vindo de cima e acertei o solo – o miserável esquivou sem esforço algum – e sua capa quente por entrar em contato com o fogo esvoaçou na minha cara.

Arthur foi logo em seguida em sua investida, mirando a retaguarda desprotegida – assim ele pensava – de Bazz7, mas antes que pudesse alcança-lo, em um movimento quase circense, o comerciante curvou seu corpo para cima e manobrou uma pirueta no ar, passando por cima de Arthur que só conseguiu assistir espantado aquele show acrobático.

“Mas que merda...?!”

“Atacando por trás? Que coisa feia, garoto!”, disse ele em um tom zombeteiro.

Arthur virou seu tronco na direção e chutou o ar em direção a ele, produzindo uma língua de fogo que voou para queima-lo – será que ele ainda se lembrava que era só pra pegar os sinos e não matar o maluco?

O comerciante cruzou os braços e os abriu em um movimento rápido logo em seguida, dispersando o fogo com uma rajada de pressão feita por ele.

Nesse meio tempo eu avancei por entre as chamas e o ataquei com o machado. Minha intenção não era mais acertá-lo com um golpe direto, mas sim conseguir cortar mesmo que fosse só um pouco qualquer parte de seu corpo para que eu pudesse usar o |AUMENTAR CARGA|. Além disso, eu tinha que me certificar de estar próximo dele o suficiente para pegar os sinos antes que o tempo de duração da skill se esgotasse.

2 minutos. O relógio era nossa principal inimiga.

*tic-tac... tic-tac... tic-ta…tic-tac…*

*VOOOOOSH*

O machado novamente passa raspando seu rosto, mas não o acertou. E ele só pulou para trás para tomar distância de novo. Era uma verdadeira brincadeira de pega-pega – e eu nunca me dei bem com essas brincadeiras – já disse que eu tenho o joelho podre né?

*arfando* “merda...”, já começava a ficar bem cansado.

Arthur continua indo para cima cada vez mais enérgico e com ataques mais intensos e violentos. Algumas de suas rajadas e baforadas de fogo explodiam os vitrais do salão e passavam perto de incendiar as tapeçarias e os tecidos decorativos que desciam dos robustos escudos pendurados nas paredes do tablado.

 

“Esse menino... que habilidade... peculiar.”, pensou o mercador.

 

Pouco a pouco, as explosões chamavam cada vez mais a atenção da multidão de fora e causava um tumulto na entrada da bastilha. Várias pessoas queriam saber o que eram e os comerciantes já reclamavam de tanta barulheira atrapalhando os negócios.

*PLIM, PLIM, PRAC*

*BOOOM*

 

1 minuto!

Não havia mais tempo...

Continuamos os ataques; Arthur arremessava suas bolas de fogo na direção dele, explodindo toda a parte central e a área do tablado, que agora estava inteira pegando fogo. Em um meio tempo, arremessei meu machado na direção dele que estava em mais uma de suas piruetas magistrais.

Pisquei para ele. Eu esperava que entendesse meu sinal e assim, criasse uma distração para mim.

Felizmente, ele entendeu. Se esforçou para produzir o máximo de bolas de fogo que conseguia e explodi-las ao redor de Bazz7. Claro que ele simulou que fosse acerta-lo – nem precisava de esforço para errar –, mas na verdade estava fazendo o que eu pensei que faria.

Seu MP já estava quase zerado. Ainda não tinha tido tempo para se recuperar depois de usar seu |SOPRO DO DRAGÃO DE FOGO|, mesmo o com o //CRISTAL DE CANALIZAÇÃO// para dar aquela forcinha.

“Então, garotos? Acho que eu venci essa aposta, não é?”, gritou ele, saltitando entre a fumaça gerada nas explosões de Arthur.

“Sério? Acho que não, hein?”, retruquei com igual atrevimento.

Ele ficou mais alerta depois das minhas palavras – na verdade, eu só havia falado qualquer coisa da minha cabeça mesmo –, mas já era tarde. O machado que eu havia arremessado para cima ainda estava suspenso sobre ele, envolto em uma esfera de vácuo que eu criei usando minha |ZONA IMOBILIZADORA|!

Desativei a habilidade, as mãos estando trêmulas com o gasto exorbitante de MP para mantê-lo suspenso lá em cima por tempo suficiente para pegá-lo – ainda não tinha controle algum do meu MP para isso. Nem sei se precisava também.

|AUMENTAR CARGA|!, a bola de vácuo se desfez e o machado desceu com velocidade em cima da cabeça de Bazz7.

“...?!”, Bazz7 foi pego de surpresa.

Ele desviou por pouco jogando o próprio corpo para trás, mas uma ponta do cabo atingiu sua perna no meio do trajeto e durante sua manobra. Claro que o dano foi nulo – saiu no contador de dano o lindo e redondinho 0 só pra afirmar isso–, mas ainda assim tudo estava ocorrendo de acordo com o que eu tinha imaginado!

Eu corri até estar em posição para tomar //WINGSLASH// em mãos novamente.

|AUMENTAR CARGA|

Desativei a habilidade um pouco antes do machado chegar as minhas mãos. Ao desativar minha habilidade, uma janela microscópica foi criada entre mim e ele de aproximadamente um segundo e meio – e nem pergunte como eu sabia disso – que era o tempo de reset da habilidade.

“O que?!”

Eu involuntariamente sorri. Era a minha chance!

|AUMENTAR CARGA|!”, gritei, ativando outra carga da habilidade.

O cabo do machado havia tocado a perna de Bazz7 e como a habilidade me permitia aumentar drasticamente o peso de tudo que eu tocava – e isso incluía o machado também que estava equipado a mim, ou seja, ele era uma extensão minha – consegui atingi-lo com a habilidade, o fazendo despencar bem mais rápido do ar até o chão.

Ele estava imobilizado no chão e eu corri em sua direção para agarrar os sinos. Restavam poucos segundos!

“Isso! Ainda falta dois segundos para o efeito da habilidade acabar! Eu vou conseguir, eu vou conseguir!”, pensei comigo enquanto esticava o braço direito na direção das duas bolinhas prateadas amarradas ao cinto do mercador por uma cordinha vermelha.

“Quase lá... quase lá!”

“VAAAAAII!”, gritou Arthur, de longe.

*VUUPT*

“O que...?!”

Por um breve momento... um instante bem rápido. Eu senti que iria ter os sinos em minhas mãos quando Bazz7 de novo se livrou da habilidade bem mais cedo do que eu havia calculado.

Ele sorriu, seu rosto zombeteiro me assustando no breve momento em que nossos olhares se cruzaram.

“Opa... acho que não.

....!!

Ele disse aquilo e rolou na direção das minhas pernas e me derrubou lindamente no chão. Assim que eu beijei o piso de madeira chamuscado do salão, ele montou em cima das minhas costas e me rendeu com uma chave de perna. E no meio do movimento, o tempo acaba.

“PORRA! PORRA! PORRAAAA!”, gritei, ainda imobilizado no chão com a minha perna quase fazendo um doloroso formato em “Z” nas mãos dele.

“AAH... que peninha... acho que eu ganhei nossa aposta, não é?”, disse Bazz7, acochando a pegada no tornozelo, entrelaçando seus braços na minha perna como uma serpente.

“Ei, ei! Já chega!”, Arthur chegou já tangendo ele de cima de mim. Por um momento, achei que ele ia levar minha perna com ele.

Então... como eu venci, vocês vão cumprir a parte de vocês e se tornarão meus mercenários, correto?”, era claro que ele se esforçava para suprimir um riso.

“Ei, ei, ei! Espera! Como escapou da minha habilidade assim tão rápido, posso saber?”, o questionei, puto por ter acontecido a mesma coisa de novo.

Ainda estava intrigado com o fato dele se livrar do efeito da minha habilidade antes do tempo calculado para ela acabar. Mesmo que os efeitos fossem reduzidos por conta da diferença de Lv., ainda era bem suspeito. E ainda por cima, eu contei aquilo ocorrer duas vezes durante o combate.

HÃ? Como escapei da sua habilidade?”, ele se fez de desentendido por um tempo, mas se fez muito mal. “Está falando disso?”

*BLING, PLING, BLING*

Ele pegou os sinos em mãos, balançando-os. O que ele queria dizer com aquilo?

“Espera... você não...?”, Arthur ficou em choque com algo que eu ainda não estava entendendo. O olhar cínico de Bazz7 só confirmou.

Exatamente, jovem. Esses sinos na verdade são //ANULADORES DE PULSO//.”, revelou o mercador.

“//ANULADORES DE PULSO//?!”, repeti, coçando a cabeça.

“São itens de raridade [LENDÁRIO] que me permite, ao soa-los, anular quaisquer habilidades em uma distância de até 2 metros de mim, além de dissipar efeitos negativos, é claro. Apenas com um toque nessas fofurinhas e voila!”

“Então você não estava esquivando dos nossos ataques, mas sim dissipando eles?!”, disse Arthur, incrédulo – não que eu estivesse menos impressionado com aquela pilantragem.

“Olha... como você entende as coisas rápido!”, responde, batendo palmas.

Ei! Então você trapaceou, porra! Não valeu!”

Ele riu.

Estou vendo que vocês não manjam nada das leis dessas terras, muito menos de apostas.”

“Como é que é?!”

É bem simples, garotos: se você não for pego trapaceando, então não é trapaça!”, respondeu em um tom bem ácido.

Mesmo sob acusações da sua trapaça, seu sorriso cínico e convencido não sumiu do rosto. Pelo contrário, ele parecia ainda mais satisfeito com aquelas incriminações.

“Mas que filho da...”

“Então de agora em diante vocês são Mercenários da minha Guilda! Estejam prontos para quando eu chamar vocês, está bem? Agora eu vou indo porque eu já perdi tempo de mais com essa brincadeirinha. Até breve!”, disse Bazz7 ajeitando sua roupa e se retirando do salão arruinado junto de seus guarda-costas.

Nós dois ainda ficamos lá por algum tempo, nos entreolhando sem acreditar no que estava acontecendo, feito dois otários. De repente, algo piscar na minha tela:

 


MENSAGEM DO SISTEMA

– [MISSÃO PRINCIPAL] FRACASSADA!

– NOVA [TRILHA DA HISTÓRIA] HABILITADA! –

– NOVO [TITULO] MERCENÁRIO DA ASSOCIAÇÃO DESBLOQUEADO!


 

Que lindo! Joga mesmo na cara que agora eu era um empregado do Bazz7!

“Merda... foi mal, cara. Eu pensei que talvez pudéssemos ter uma chance, mas só lasquei a gente nessa aposta.”

Arthur se sentou do meu lado ainda ofegando um pouco. A sua cabeça ainda pendia para os lados, a sua mana cobrando o gasto excessivo do combate.

“De boa cara. Acho que não poderia ter sido de outra forma mesmo.”

“Eu sei, mas eu devia ter avaliado melhor...”

Arthur balança a cabeça, tentando se manter acordado.

“Temos que pensar agora como vamos conseguir informações sobre SVOATH...”, ele fez uma pausa para bocejar. “... agora que perdemos a aposta, não tem o que fazer a não ser fazer o que ele disser.”

“Pois é..., mas podemos falar com ele depois e ver se ele reconsidera, não?”

“Acho bem difícil que ele vá ceder depois do discurso de doido que ele fez.”, responde Arthur, descrente.

“Então vamos...”

“Ei, vocês!”, uma voz gritou da entrada do salão e interrompeu minha fala.

“...?!”

“Vocês arruinaram o salão de reuniões da bastilha! Vão ter que pagar pelos reparos!”, exigiu o senhor bigodudo e barrigudo, apontando para nós.

O queeeee?!”, eu e Arthur gritamos em coro.

Virei lentamente minha cabeça para trás só para me certificar do estrago que fizemos – vulgo, Arthur fez –, e que iria sair do meu pobre bolso de aventureiro.

“Espera! Espera! Cobre do Bazz7 também! Ele que puxou essa luta aqui dentro...”

“Sim! Foi ele quem começou...”, disse Arthur parecendo uma criança que está levando bronca dos pais.

“Está louco? Ele é um dos líderes do Empório e claramente não faria algo assim! Parem de querer dar desculpas esfarrapadas para se safar!”, sua careca brilhante e branca já ficava vermelha de raiva.

“Mas..., mas...”

“Vão querer que eu chame a guarda da cidade ou preferem resolver logo isso aqui?”

Eu fiz uma careta de raiva misturada com ódio e Arthur baixou a cabeça, o rosto desolado por perder todo o dinheiro que estava economizando.

“Mas que %$@*$...”

.

.

­­.

Mas vocês pensam que acabou, não é? Vou mostrar que a desgraça ainda está pouca.

 

 

 

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De volta ao esconderijo...

 

SEUS IDIOTAAAAS!”, Justine perfurou nossos tímpanos com o grito mais agudo que suas cordas vocais poderiam proporcionar. “O QUE EU FALEI SOBRE NÃO APOSTAR COM BAZZ7?! COMO PUDERAM SER TÃO IMBECIS?!”

E eu nem sei como chegamos a essa bronca. Não me lembro de estarmos trabalhando para ela também.

“Não foi tão simples assim. Ele é bem... excêntrico e não conseguimos nos entender muito.”, justificou Arthur, coçando a cabeça.

“PELO AMOR DOS DEUSES, O QUE CARALHOS VOCÊS APOSTARAM?!”

Eu e Arthur nos calamos, olhando um para o outro. Acho que estávamos esperando para ver quem iria soltar aquela bomba para levarmos mais um quilo de palavrões.

“Então... apostamos nossos serviços a ele em troca de dizer o que queríamos saber...”

PUTA QUE MERDAAA! VOCÊS SÃO MESMO UNS ANIMAIS DESPROVIDOS DE MASSA CEREBRAL! UMA ARVORE É MAIS INTELIGENTE DO QUE VOCÊS, SEUS PASPALHOS!”

De repente, uma voz grossa veio do lado de fora, falando pela janela:

NÃO... ME COMPARE... COM ESSAS... IGNÓBEIS... CRIATURAS...

Aquilo era um Ente? Por que tinha a porra de um Ente no meio da cidade? E ele ainda nos chamou de ignóbeis! Eu nem sei o que isso significa, poxa!

“MEEU DEEUS!”, o coração por um momento parou.

“PUTA MERDA!”, gritou Arthur, recuando alguns passos.

“Ah, desculpa por ofendê-lo, senhor arvore.”, disse Justine, ligando o “modo WAIFU”, com a voz toda meiga e delicada.

Por que eu não estava surpreso com aquela mudança brusca de humor? Ela estava quase degolando nossas cabeças, mas agora estava quase alisando os galhos do Ente. Ainda quero saber como a programação dela funciona depois que sair desse jogo.

Os galhos do Ente arranharam as frestas da janela quebrada e voltaram para seus lugares, o grande ser reproduzindo um murmurejo grotesco e bem sonoro – era quase como se estivesse gemendo. Me dava arrepios ouvir aquilo.

“Então...”, ela voltou sua atenção para nós outra vez. “Agora que vocês vacilaram feio, não temos outra alternativa para fazê-lo abrir o bico do que entrarmos no joguinho dele.”

“Espera... você está querendo dizer que vai apostar com ele também?”

“Você é burro ou o que? Por que eu faria algo que só alguém com uma ervilha no lugar dos miolos faria?”, responde, seca. Ou melhor, ela me deu um tapa na cara praticamente.

Laimonas, Stuz, Ludwig e Lucy riam “discretamente” mais atrás. Só tentavam mesmo...

Espera aí... o Arthur estava rindo também?!

“Essa NPC está claramente me avacalhando...”, pensei, franzindo o cenho.

“Certo... então porque você diz que vai fazer o jogo dele? Não estou entendendo...”

“Eu não vou. Vocês é quem vão.

B U G U E I...

“O que?!”

“Quer que a gente aposte com ele de novo?”, inquiriu Arthur.

“Exatamente, mas agora vai ser diferente.”, ela fez uma pausa, cruzando os dedos. Laimonas levantou uma sobrancelha sutilmente. “Vocês, dessa vez, irão apostar de uma forma que não há como ele trapacear.”

Nos entreolhamos, confusos com o que Justine estava propondo.

“Está bem..., mas... como vai ser isso?”

Ela sorriu malandramente.

“Eu vou dizer como vai ser...”

 

 

 

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Sede administrativa da [Associação Comercial Continental], região central da Comerca. Hora de apostarmos mais uma vez!

 

Outra aposta?”, repetiu Bazz7, surpreso com a proposta.

“Exatamente. O que me diz?”, perguntei, dessa vez bem mais confiante.

Bazz7 alisou o queixo, nos encarando como quem procurava um sinal de incerteza em nossas palavras ou postura. Dessa vez, ele ia morrer procurando.

“Vocês não aprenderam com nosso último encontro pelo visto. Imagino que queiram apostar a liberdade de vocês dessa vez, não é?

“Então... mais ou menos, mas vamos aumentar ainda mais nossa aposta agora.”, eu fiz uma pausa, revisando todo o script que eu tinha na memória. “Se nós vencermos, você vai nos liberar e ainda irá ter um encontro com uma pessoa que iremos indicar, fazendo tudo que essa pessoa ordenar. Tudo certo para você?”

“Hm..., mas e seu eu ganhar?”

“Então em vez de servimos você só pela estadia aqui na cidade, o serviremos para sempre.”

Arthur engoliu em seco, ouvindo a proposta. Bazz7 segurou um sorriso automático e depois se recompôs.

“Muito bem... então aceito os term...”

“Eu ainda não acabei.”, o interrompi, levantando um dedo. “Além disso, você terá acesso a todos os nossos itens, inclusive isso...”, eu retirei o //FRAGMENTO DE ALMA// do inventário e o mostrei. Os olhos do mercador brilharão de fascinação pela pedrinha roxa e brilhante.

“NOSSAAA... Que pedra maravilhosa e brilhante é essa?!”, perguntou Bazz7, encantado com o item.

“Junior... tem certeza que mostrar esse item foi uma boa ideia?”, pergunta Arthur sussurrando.

“Relaxa. Agora eu sei o que fazer.”, respondo.

“Duvido muito.”, rebateu Arthur, cruzando os braços.

“O que acha?”, perguntei, mostrando a pedra.

Ele se aproxima lentamente, praticamente hipnotizado pelo fragmento, querendo tocá-lo, mas antes disso eu afasta a pedrinha dele. Vai que tinha algum efeito alucinógeno nele, sei lá...

“Eu... quero isso!”

“Muito foda, né não?”

“Esquece todo o resto. Eu quero isso! Eu quero essa pedra para mim!”, disse ele com uma urgência repentina. Ele estava desesperado por aquilo e era até bizarro a forma que ele parecia ter ficado dependente de ter aquilo.

“Ué... o que foi isso?”

“Então, o que vai ser? Eu pensei em algo muito...”

N A N A N I NA N Ã O! Sou eu quem vou escolher o desafio, ou então a pedrinha roxa aqui está fora da barganha.”, disse tomando as rédeas da negociação.

Ele fechou o rosto, mas não se opôs. Finalmente, agora quem mandava ali era eu.

“A aposta vai ser o seguinte: você vai nos enviar na missão mais difícil que você tiver. Uma missão bem difícil e que ninguém consiga fazer. Se nós voltarmos dessa missão vivos e completa-la, ganhamos a aposta.”

“Mas que raios de aposta é essa?”, pensou Bazz7, confuso.

“Mas como irei cobrar a minha parte se vocês morrerem nessa missão? Estão tentando me enrolar, por acaso?”

“De forma alguma. Vou deixar a pedra com alguém de confiança e que irá trazer a pedra para você se falharmos na missão e perdermos a aposta.”, eu claramente estava blefando ali – até porque a pedra não podia sair do meu inventário, não podia ser dropada e nem dada para outra pessoa.

Ele ficou algum tempo me encarando com a mão no queixo, pensando se deveria aceitar a aposta ou não.

“Certo. Até porque eu só quero essa pedra agora de qualquer forma. Não me importa muito o que acontecer com vocês.”, disse ele de forma tão seca quanto franca.

“Ótimo! Tudo está correndo como Justine previu., pensei comigo.

“E então? Como vai ser a missão?”, perguntei.

Bazz7 caminhou até sua mesa onde estavam empilhados vários papéis e pastas com relatórios, frequências, documentos de recebimento e extração, petições e as audiências feitas com outras guildas mercantes. No meio de todo aquele fuzuê, ele puxa uma pasta negra e bem velha – até meio amassada e empoeirada – e que parecia ser bem importante.

“Aqui está! É um projeto no qual eu planejava enviar uma equipe de expedição para esse lugar, mas a ideia até então estava só no papel.”, disse ele enquanto passava a mão para tirar o excesso de poeira da pasta. “Essa cidade tem trabalhado e discutido esse projeto a muito tempo, mas um recurso importante estava faltando para concretizá-lo. Algo que gerasse uma quantidade absurda e contínua de energia. Agora que encontrei o componente que faltava para suprir essa necessidade, o projeto pode ser concluído finalmente.

Ele mostrou uma folha carcomida e amarelada contendo alguns desenhos e rabiscos ilustrando uma torre bem alta com vários bichos em volta que pareciam ser robôs quebrados – não consegui distinguir bem porque parecia ter sido desenhado por uma criancinha de maternal.

“O que é isso?”, perguntei, curioso.

Bazz7 sorriu, separando aquele único papel e me entregando. Assim ele fecha a pasta e se vira para nós novamente.

Essa é a missão de vocês.

 



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