Volume I
Capítulo 11: Confusão (parte II)
Recapitulando, Peppe estava em um beco escuro, meio tonto e ferido, depois de tentar defender uma mocinha supostamente inocente de uns marginais. Acontece que aquela mocinha era na verdade uma vilã, parte do grupo de assassinos que queriam sua cabeça.
"Provavelmente isso é obra daquele Primeiro Ministro desgraçado, filho de uma puta!, que quer meu trono", pensou, respirando fundo depois de se estabilizar.
— O cliente quer o corpo dele inteiro, entenderam? Incluindo suas posses e roupas. Não é para saquearem nada — A voz de trás do beco avisou, ríspida.
— Pelo preço que estão pagando, eu não me importo. Que seja — respondeu a mocinha com a besta.
Os brutamontes que a acompanhavam acenaram à contra gosto, como se concordassem com aquilo.
Vendo que já tinham planos para seu cadáver, um certo desespero começava a tomar conta da mente do rapaz. Ele não queria morrer, e até então achava que era imbatível com esse novo corpo e suas habilidades marciais.
Mas aquele grupo era muito bom.
Os golpes que sofreu provavam a experiência que tinham em matar. Nem um minuto inteiro de luta se completou e ele já estava em um estado lamentável. Cortes no quadril, ao longo dos braços e no rosto, uma estocada profunda o atingiu na coxa esquerda e tinha várias contusões no braço.
Se fossem apenas os brutamontes, ele teria ganhado a muito tempo. Sua habilidade era páreo para eles. O problema era a mocinha com a besta e a assassina no beco, que cobria-lhe a saída e evitava que se enfiasse em uma rota de fuga.
Shiiiiin! Pah!
Evitou mais dois golpes de espada, revidando com vigor e dando um pulo súbito para escapar dos projéteis afiados. Conseguiu escapar sem mais cortes, mas estava se aproximando muito da assassina.
Precisava de uma estratégia.
Se fosse para cima da assassina e tentasse forçar a saída, poderia ser que conseguisse escapar. O problema era que ela parecia forte o suficiente para, ao menos, atrasá-lo, o que possibilitaria à operadora de besta atingi-lo pelas costas.
Se fosse para cima da mocinha, com fins de acabar com aquela chuva de projéteis, os três marginais iriam detê-lo, tornando-o um alvo fácil para a assassina e suas facas arremessáveis.
Esse era o problema dos becos. Só tinham dois lados. E ele estava cercado em ambos.
— Que caralho!
Vendo-se sem saídas, Peppe não sabia o que fazer. "Será que vou morrer de novo?! Porra!"
Foi quando reparou um vulto em uma gretinha lateral, numa das frestas das construções de tijolos.
"Ei, moleque! Talvez eu possa ajudar", uma vozinha sugestiva invadiu seus pensamentos.
— Quem disse isso? — sussurrou.
"Fui eu, aqui em baixo. Mas não olhe pra cá, ou vai ser atingido pelo virote da balestra que vai passar pelo seu ombro direito em 3 milésimos"
Peppe reagiu rápido e escapou do projetil. Passou raspando, na exata posição que aquele ser estranho falou.
"Não tenho muito como dar explicações agora, mas vou resumir. Sou um espírito ancestral. Faremos um contrato, eu e você. Posso te ajudar a escapar desse tipo de situação, já que você é desengonçado como um viado do vale e lerdo como um jacaré de bucho cheio".
— Como é que é, seu porra!? — Ficou atônito, enquanto pulava para escapar de mais uma série de investidas dos brutamontes.
Estocadas. Um soco com luva de ferro. Um deles usou o escudo para atordoá-lo. Apesar de ser atingido pelo soco, conseguiu evitar as espadas e a porrada da parede de aço e mais um projétil que veio em seguida.
"Faça um contrato comigo. Em troca eu lhe darei sagacidade, reflexos e conselhos. Converse com seus pensamentos, consigo lê-los"
Peppe se surpreendeu com aquilo, contudo não tinha tempo para duvidar ou questionar, respondendo: "Okay, muito bom. Mas e eu, o que terei que te dar em troca?"
Era como se o ser ancestral misterioso estivesse sorrindo de orelha a orelha naquele momento.
"Eu?! Só quero uma coisinha de nada. No futuro, quando você tiver mais poder, vai me ajudar com uma certa tarefa, que vai me favorecer muito. Se prometer fazer isso, podemos assinar o contrato e você vai me dar uma garantia"
"E o que seria essa garantia?", questionou o rapaz.
"Sua alma".
— Que maravilha em, então é assim que o diabo faz? — sussurrou, dessa vez usando a voz.
"Eu não sou um diabo, sou um espírito ancestral", respondeu, complementando: "E aí, moleque? Vai querer ou não? Você está ficando sem tempo..."
Peppe sorriu, depois rangeu os dentes. Acabou sendo atingido por outra adaga da assassina, enquanto tentava fugir de mais virotes e golpes de espada.
A adaga ficou cravada no mesmo lugar que a outra faca o atingiu. Ficou claro que o objetivo da assassina era inutilizar aquela perna e, com isso, deixá-lo vulnerável aos golpes e estocadas dos demais do grupo de sicários.
"Certo, eu concordo com o acordo. Fica com o caralho da minha alma como garantia. Só me ajuda a sair dessa situação de merda, por favor!", implorou o rapaz.
"Seu desejo é uma ordem, garoto da profecia".
Quase que imediatamente, o vulto branco saiu da fresta esfarelada em que se escondia e foi até a direção da coxa ensanguentada do rapaz. Chegando perto, parou de forma súbita, com uma cara de quem diz olha só, mas que surpresa.
Devia ser algo a ver com o evento mágico, pois o vulto branco subiu para o mesmo lugar em que a marca mágica de três pontas estava no corpo do rapaz. Isto é, nas costas, na parte que fazia oposição ao coração.
Em seguida subiu mais um pouco, até o olho esquerdo, e por lá entrou.
"Agora entendo!, que garoto curioso. Você tem duas almas... Vamos ver o que encontro... Muito bem, acho que subestimei você, rapaz! Hahahaha! Que surpresa maravilhosa!"
Assustado com os murmúrios retóricos do ser misterioso, mas sem tempo para perguntar, Peppe apenas retrucou com um resmungo, antes de rolar para a direita, evitando a morte certa pela lâmina da espada de dois gumes. O custo foi ter levado um baita chute de um dos sicários, que quase o tirou o ar.
A capoeira era útil, mas não fazia mágica. Ainda mais em um combate tão desgastante.
Foi quando a voz estranha resolveu responder.
"Já tive o suficiente. Eu, Gal Gael, aceito sua alma superior como garantia do mundo! Selemos o contrato, Sr. Giuseppe Moretti, ou devo dizer, mestre Peiwimir Ancherion Belial!"
O papo estava estranho. Que profecia? Que garantia do mundo? Como assim? Que nome impronunciável era aquele. E como ele sabia seu nome de terráqueo? Eram pensamentos que invadiram a mente do rapaz, que, por conta dos problemas mais urgentes e pela dor aguda que sentia, acabou ignorando.
E, naquele momento, foi tudo o que conseguiu ter de devaneio antes de a consciência se esvair.
Ele, que já estava caído, no chão permaneceu. E os sicários pensaram que haviam conseguido matar o alvo.
— Finalmenti! Qui pourra! Esse daqui foi chatú, chefí.
— Convencerei o cliente a dar um bônus pra vocês. Apenas aguardem e, por ora, verifiquem os pertences desse principezinho escorregadio — ordenou o ser encapuzado, ainda no breu do beco.
E eles assim fizeram.
Foi quando tiveram uma surpresa.
— Mas que corpo interessante. É quase como se fosse o de um deus. Quase...
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