Volume I
Capítulo 10: Confusão (parte I)
Depois de sair de Vila Verde e adentrar o interior foi que Peppe notou o porquê o país das Amoras ter esse nome. Enormes fazendas cobriam a paisagem, todas elas repletas de cultivo de amora.
Mas, além do verde da vegetação, a terra estava repleta de sangue. E não era daquele vermelho ralo, mas de um tom carmim profundo, beirando o roxo das frutinhas que davam nome à terra.
Era uma guerra civil. Um conjunto de rebeliões, reprimidas com violência pelo nobre regente, da casa Amoris. Ouvindo os boatos nos bares, parecia que o herdeiro estava longe, estudando em uma academia de magia, seguro, enquanto o tio "cuidava" das coisas.
Peppe riu.
"Que coincidência filha da puta", pensou, sem pensar muito mais na situação. Ele tinha os próprios problemas, afinal.
Um deles, inclusive, tinha cerca de 1,70m e o perseguia desde o momento em que deixou a fronteira. Vestia um capuz negro e não demorou para encontrá-lo em Morus, a cidade mais próxima da fronteira de Amoris com o Império das Rosas, ao sudoeste.
Peppe precisava passar por lá, depois cortar o Império Girassol, outra nação ao sul, e enfim chegar a Rochedo. O rapaz não era a melhor pessoa do mundo em geolocalização, o que o fez se perder algumas vezes e atrasou sua viagem em dias, para não dizer semanas.
Cansado, pretendia chegar em Morus e descansar por um tempo. Era a ideia, pelo menos.
Só que aquela cidade era muito convidativa. Como era uma região fronteiriça, tinha muitas rotas, com produtos variados sendo comercializados para lá e pra cá. Os mercados de Morus só viviam cheios.
Além deles, lá tinham muitos bares e gente de pelo menos três nações vizinhas. Era a cidade perfeita para a farra.
— Desce uma pra mim aí, chefe. Aquele licorzinho com mel, por favor. Tô cansado desse negócio de amora de vocês.
Ele estava em um bar, desses de esquina, que eram populares.
— Claro, jovem. Mas aí é mais caro.
Ele acenou que sim, sacando três cobres e entregando ao garçom.
Não se podia dizer que estava se divertindo. Várias moças bonitas caminhavam para lá e para cá. E ele gostava de ficar olhando, analisando uma possível pretendente para a noite.
Um certo incidente em uma certa cidade pela qual passou ainda estava chafurdando-lhe a mente. Ele queria esquecer aquilo com bebida e mulheres bonitas.
Quando já estava meio tonto, notou uma linda moça, ao canto. A reparou, mas, como ela já se levantava para sair, decidiu que não valia a pena. Poderia ser que não conseguisse nada, o que o gerava certa ansiedade.
Só que o cansaço já estava batendo forte. Talvez fosse a hora de só ir dormir mesmo. Talvez devesse deixar o incidente de lado e só aceitar que o destino, seja lá qual fosse, não queria que ele se divertisse naquela noite.
Ele então se levantou para ir embora e dormir.
Só que um certo grupo de três homens, que estava sentado no canto e fazendo baderna, não pensou assim. Quando a moça bonita se despediu das amigas, eles também se levantaram para sair. E nem escondiam suas intenções.
— Amanhã a genti vai tá longe mesmo chefí. Bora nessa ai mesmo. Pra que pagar puta? Vamo nessa aí mesmo.
— Vamó, vamó! Hehehe...
Peppe ergueu as sobrancelhas ao escutar isso. Eles claramente se dirigiam para a mocinha. E, apesar de não ser um herói, ele ainda tinha sua moralidade. Tinha que defender uma mulher indefesa.
Esperou alguns segundos e foi atrás do trio, deixando a espada em prontidão.
O que não notou foi a silhueta encapuzada, que o seguia em silêncio.
A mocinha foi da rua principal para uma rua lateral, depois para outra, e outra, até chegar em um beco escuro. Os três homens foram atrás, e Peppe atrás deles, ainda sem notar o próprio perseguidor.
As ruas da cidade não estavam lá muito iluminadas, e quase não tinha lua naquela noite.
Quando os três emparedaram a mocinha no beco, Peppe chegou, como um príncipe num cavalo branco.
— Vamó, sua safadinha. Úcê vai com a gente hojé.
— N-não! S-socorro...
— Que cacete tá acontecendo aqui?
Os três o notaram, e sacaram suas armas.
— Quem é úcê, disgraça? — questionou o marginal.
— É o alvo, imbecil.
Ao ouvir a voz feminina no fundo do beco, Peppe se surpreendeu. E o que aconteceu a seguir o surpreendeu ainda mais.
Aquela mocinha, aparentemente indefesa, sacou algo parecido com uma besta, sabe-se lá de onde, e mirou no rapaz. Os três marginais sacaram as espadas e facas. Só que não se dirigiram para a mocinha, e sim para Peppe.
— Façam um círculo. Não o deixem fugir — Ela disse. E eles obedeceram.
— Que porra — murmurou o rapaz. — Bom, que se foda. Venham!
Já com a arma em punho, a primeira coisa que fez foi desviar do dardo da mocinha. Um desvio lateral leve.
Ao se estabilizar, os outros três já estavam a seu enlace. Dois vieram com espadas, sendo repelidos de imediato.
Pah! Zimmm! Pah!
"Caralho, eles são mais fortes que os goblins", refletiu.
Quando repeliu dois, veio o outro, mais magro e mais ágil. Esse com facas.
Quase atingiu a cintura do rapaz, que escapou com uma meia lua desajeitada, seguida de um parafuso bem dado. A canela de Peppe atingiu a mão do oponente, fazendo uma das adagas cair para longe.
Ele xingou de dor. Provável que tenha fraturado a mão.
Foi naquele momento que o rapaz viu uma frecha na formação dos inimigos. Dava pra fugir. E era o que faria, afinal, não tinha ninguém para defender ali, e não ganharia nada derrubando os quatro.
Cansado e vendo o efeito da bebida passar, ele iria fugir. Já até bolou um plano de fuga.
O que não esperava era que, quando foi obrigado a desviar de outro dardo da besta, um outro objeto pontiagudo voaria, atingindo bem o ponto fraco da formação e impedindo-lhe a saída.
Ele escapou por sorte, dando um mortal invertido instantes antes de quase ser atingido.
— Não estava na descrição que ele teria tanta habilidade marcial. Terei que cobrar um acréscimo — comentou uma outra voz.
Foi só então que Peppe notou a figura encapuzada saindo das sombras, na rua atrás de si.
— Terminem o serviço. Ficarei aqui para evitar que ele fuja.
Ele estava cercado.
— Agora fudeu.
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