Contra o Mundo Brasileira

Autor(a): Petter Royal


Volume I

Capítulo 7: Taxa da guilda

Ao entrar no prédio da filial, Peppe notou um estardalhaço.

Um grupo de homens altos estava na entrada do centro de treinamento, falando alto e xingando. 

— Vou pegar de cacete o filho da puta que quebrou o boneco de treino! Deixe-o entrar aqui pra ver. 

— Isso mesmo. Caro pra um caralho essa caceta! Duvido que o mestre vai comprar outro tão cedo. 

Ele acabou se lembrando do ocorrido de alguns dias, quando deu um super golpe de capoeira no dito objeto. Parece que aquele treinamento inocente causou mais do que pequenos trincos ao pobre boneco. 

E só agora, quando aquele grupo de aventureiros retornou de uma missão, é que perceberam o estrago. 

Fosse qualquer de rank F a se deparar com essa situação, talvez ele tentasse passar de fininho e evitasse se autodenunciar. Principalmente porque isso implicaria numa briga com aventureiros mais experientes e, assim, possivelmente mais fortes. 

E Peppe talvez fizesse isso, se não estivesse puto com o pouco salário que acabou de receber de Lia pelas missões concluídas.

— Eu não deveria receber um cobre a mais? — questionou, notando que só haviam 5 cobres na mão.

— Ah, isso... É só a taxa da guilda. 

— Quê?!!

Naquele momento um dos brutamontes esbarrou em Peppe, como se quisesse lhe chamar a atenção. 

— Ei, moleque, sai da frente! Vou perguntar pra atendente quem foi o maldito que quebrou o boneco de treino.

Talvez esperasse que o rapaz saísse com o rabo entre as pernas, por ser mais fraco, ou que no máximo lhe desse uma resposta rude, mas se afastasse em seguida. Mas isso não foi o que aconteceu. 

Pah!

Num piscar de olhos, o sorriso do brutamontes ficou com três janelas a mais. E ele ficou espatifado no chão, sem conseguir raciocinar. 

— Fui eu, sua puta! Eu quebrei o boneco, tá bom?! E vou quebrar essa merda de novo se puder. Porra! Tá de sacanagem?! Cobram uma fortuna de taxa e eu nem posso treinar nesse caralho? 

— O quê?!! — Todos ficaram atônitos. 

Três membros daquela turba começaram a se mover na direção do rapaz, mas foram interrompidos por outros dois que se puseram em suas frentes.

— Mas ele tem razão — disse outro aventureiro, ao fundo. — Essa taxa é um absurdo! Quinze por cento de uma missão de classe D é um assalto!

— O que está dizendo, idiota?

O que se seguiu foi o escarcéu.  Acabou que Peppe usou sua capoeira de forma sagaz para sair relativamente ileso, escapando da confusão que ele mesmo criou, enquanto um outro grupo, formado por pessoas revoltadas com a taxa da guilda se formou para apoiá-lo.

Jab de direita. E mais um chute lateral. Esquivas rápidas e muita sagacidade. Fazia tempo que ele não presenciava tamanha batalha. Aqueles homens eram de fato muito bons de briga. 

Ele chegou até a porta com relativa facilidade. Quando estava prestes a se mandar, contudo, foi interrompido com um batido súbito. A madeira quase atingiu-lhe a cara. 

Um grupo de homens bem vestidos, com roupas de lã nobre e aparência jovial, entraram no saguão da guilda. Um deles tinha um broche no peito e carregava consigo um pedaço de papel. 

— O que está acontecendo aqui? — questionou, mandando os dois que o acompanhavam irem em direção ao balcão da recepção. 

Instantes depois foi que Lia, a recepcionista, gritou para que todos parassem com a confusão. Demorou um pouco, mas os brutamontes obedeceram. 

Aparentemente, Lia foi uma aventureira de rank C antes de se tornar recepcionista da guilda, de modo que os membros ali a respeitavam consideravelmente. 

— Obrigado a todos. Agora pode falar, lorde Luiz. 

Ele assentiu, agradecendo-a pelo trabalho. 

— Escutem todos. Já devem saber dos boatos recentes do aumento súbito de goblins nesta região. — Fez uma pausa dramática, como que para que confirmassem sua afirmação. — Pois bem, em nome do barão de Vila Verde, eu, Luiz Vila Verde, informo a todos que, de fato, houve um surto dessas criaturas abjetas para cá e peço a colaboração da guilda. A recompensa será generosa para aqueles que me trouxerem a cabeça do cacique goblin!   

Enquanto falava, ele pregou o cartaz no mural. Nível da missão: classe C. 

— Só grupos com ao menos um rank C poderão realizar essa daí. Mas que cacete — reclamou um deles.

Peppe começou a ficar triste, pois a recompensa era alta e ele certamente seria promovido se conseguisse cumpri-la. Acontece que ele não conhecia muitos aventureiros, certamente nenhum classe C, e os poucos que estavam naquela filial não iriam querer aceitá-lo no grupo depois da briga que começou mais cedo.

No fim apenas decidiu aceitar sua própria incapacidade social e começou a pensar em como faria para chegar até a academia de Rochedo para estudar magia. 

Ocorre que, enquanto se dirigia novamente à porta, uma mulher o parou, puxando-o pela manga da camisa. 

— Ei, você! Já tem grupo? 

Peppe estranhou. Afinal, quem seria louco o suficiente para convidá-lo, depois de tudo o que fez. 

Reparando-a, notou que a moça tinha cabelos roxos, era até que jovem, mas não tinha um rosto muito bonito. Também não era feia. Mediana de aparência, talvez. Suas curvas definidas e as cicatrizes nos braços à mostra, contudo, mostravam que era uma espécie de guerreira.

— Não — respondeu. 

— Ótimo! Vi que tem uma boa destreza. Estamos precisando de um batedor. Quer se juntar a nós? Darei cinco por cento da recompensa que conseguirmos. O que me diz?

O rapaz raciocinou um pouco. Não era uma proposta ruim, se fosse levando em conta que ele era um classe F sem nome e, ao que parece, antissocial. 

Deveria avaliar o restante do grupo primeiro. Talvez pudessem contribuir com a eliminação dos goblins, fazendo com que pudesse upar de classe mais rápido. 

Como que adivinhando os pensamentos, a garota de cabelos roxos apontou na direção do resto do grupo: um careca com duas espadas embainhadas, outra garota de pele bronzeada, portando um arco, e um homem muito alto e parrudo, que carregava um grande machado nas costas. Parecia um bom grupo. 

Peppe fez que sim. 

— Perfeito — respondeu a mulher. — Aliás, prazer, me chamo Raven, aventureira de classe C e líder dos "Presas de Gavião". Qual seu nome?

— “Petrus”, mas pode me chamar de Peppe. Sou novo na Guilda e não sei muito bem como as coisas funcionam por aqui. 

Ela sorriu. Em seguida foi apresentá-lo para o restante do grupo. Peppe os achou gentis, na medida do possível. Embora ele mesmo não fosse um poço de gentileza, sabia se comportar bem quando a situação assim exigia. 

— Muito bem, o prazer em conhecê-los foi meu. Então tá tudo combinado. Amanhã, quando o sol raiar, na entrada da filial?

— Isso — respondeu Raven. 

— Tá bacana.

E assim ele se virou para partir, não deixando de lançar uma piscadela para a morena do grupo, quem Peppe considerou ser dona de uma bela comissão de frente. Ela corou em resposta. 

"Caralho, como essa peituda consegue estabilizar o arco tendo esse tamanho de peitão?!", perguntou-se, perplexo e admirado. 

Raven pareceu ter notado e franziu o cenho. Aquela foi a deixa para que o rapaz apressasse o passo. Afinal, não gostaria de ter problemas logo no primeiro dia com o grupo. 

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