Volume 1

Capítulo 3.2: Vida Externa

Persisti com obstinação, subindo centímetro a centímetro, mesmo quando minhas mãos ficaram dormentes e meus braços exaustos. O suor escorria da minha testa devido ao esforço sobre-humano. Desistir não era uma opção.

Finalmente, alcancei a porta e dei um salto em sua direção, abrindo-a com um solavanco. Entrei cambaleando de volta na sala de controle, ofegante e exausto. Arrastando-me pelo chão e usando os cabos como auxílio, consegui retornar ao painel. Comecei a apertar todos os botões na esperança de parar a nave.

Por sorte, a nave parou subitamente, e as luzes se apagaram. A embarcação desligou completamente, porém continuou a girar lentamente, conservando parte do impulso anterior.

No meio da escuridão, desorientado, meus olhos buscaram ansiosamente qualquer fonte de luz no ambiente. Com o tempo, identifiquei um tênue brilho vindo detrás do painel de controle. Com cautela, evitando ser lançado novamente, apoiei-me no console.

Percebi um grande painel ainda ativo. A imagem exibia nossa trajetória presente, um curso que nos conduziria diretamente a uma estrela. Esse era o destino que nos aguardava desde o início? Uma missão suicida premeditada? Ou foi por mexer nos controles?

— Se tivesse sido um pouco mais tarde, estaríamos beijando aquele ponto amarelo agora… Livro? Droga, deixei ele cair.

Procurei-o ao redor, mas estava muito escuro e não fazia ideia de onde havia deixado cair.

— Deixa de brincadeira, não quero brincar de esconde-esconde agora!

De canto de olho, percebi que a nave prosseguia avançando lentamente em direção à superfície da estrela. Maldição! Pressionei botões, dei chutes em cabos, puxei alavancas e sacudi as telas flutuantes, contudo, a nave permanecia morta.

— Droga! Acabei de salvá-la e agora ela vai ser engolida por uma estrela? Vai para o inferno!

Decidi usar minha telecinese para abranger toda a nave. Sabia que essa ação me daria uma tremenda dor de cabeça depois, dada a quantidade de peso envolvida, mas se isso significasse a possibilidade de salvar... droga! O peso era muito mais leve do que eu imaginava, e a nave começou a girar descontroladamente.

A velocidade gradualmente começou a diminuir. Por fim, consegui estabilizar a situação. Achei que tudo estava sob controle, mas um súbito solavanco fez-me repensar a situação.

Dessa vez, o monitor sinalizou que estávamos em rota de colisão com um planeta. Contudo, a tela subitamente escureceu, e a nave balançou violentamente.

Em um estado de desespero, tentei usar meu poder de telecinese, mas o tempo já estava contra mim. A nave explodiu com uma força avassaladora. O impacto foi impressionante, contudo, não deixou sequer um arranhão em minha pele ou roupa.

Emergi dos destroços em chamas da nave, ainda atordoado pela explosão que parecia ressoar em minha mente. Meus olhos, turvados pela fumaça e poeira, esforçaram-se para decifrar o cenário à minha volta.

Os escombros da nave estavam em chamas, lançando chamas douradas e fumaça escura. Minha visão, obscurecida pela fumaça e pela poeira em suspensão, lutava para decifrar os contornos da paisagem tumultuada à minha volta.

Cada movimento era uma luta contra a confusão que tomava conta dos meus sentidos. Minhas pernas, trêmulas, avançaram pelo solo áspero e acidentado, enquanto o estalido dos destroços se misturava ao som agudo de uma ventania.

Encontrando a porta, usei a telecinese para abri-la, um campo gelado e escuro me esperava. Como esperado, a explosão despedaçou a nave. Os destroços foram fragmentados e espalhados em várias direções. A parte em que estava foi jogada a uma certa distância do local de impacto.

— Como se não fosse ruim o bastante perder o Livro, também perdi a nave — murmurei para mim mesmo.

Usei a telecinese para não pisar nos destroços e chegar ao centro da explosão. Os destroços ardentes criavam ilhas de luz intermitente na paisagem sombria, lançando sombras dançantes sobre a neve. A tempestade de neve rugia como um monstro faminto, envolvendo-me em sua fúria gelada, quase como se o próprio mundo estivesse desmoronando ao meu redor.

— O que você acha de…

Uma tristeza me abateu ao perceber a falta que ele fazia. Nunca o tinha perdido de vista desde que ele começou a falar comigo. Isso nunca deveria ter acontecido. “E se eu o perder? Se eu nunca mais puder encontrá-lo?”, meu pensamento pessimista revelou-se mais sombrio do que eu lembrava. “Não, tenho que me concentrar em encontrá-lo primeiro”.

Explorei os destroços em chamas do impacto. Levantei cada pedra, placa e estrutura inteira de metal, mas nada dele. Enquanto fazia tudo isso, descobri que o sentimento de tristeza era, na verdade, o mesmo sentimento que há muito tempo havia esquecido, o sentimento de perda.

Fui de pedaço em pedaço dos destroços que conseguia ver naquela nevasca. Horas se arrastaram como eternidades enquanto eu persistia na busca infrutífera. O sol começou a surgir no horizonte, espalhando uma luz estranhamente intensa pela paisagem congelada. Ergui os olhos para o céu, surpreso com a luminosidade que banhava o planeta.

Com a chegada do amanhecer, percebi que a tempestade estava diminuindo. A luz fraca do sol lutava para penetrar as nuvens densas, mas mesmo assim, o cenário parecia menos hostil.

Flutuei no ar, pairando acima dos destroços enquanto varria o terreno com o olhar. As chamas pareciam mais calmas agora, como se também sentissem a diminuição da tempestade. Enquanto subia, uma visão que não via há muito tempo se desdobrou diante de mim: árvores.

A encosta da montanha abrigava um grupo de árvores resilientes, sua presença verde-escura salpicada de branco contrastava fortemente com a desolação fria ao redor. Uma sensação de excitação borbulhou dentro de mim. Precisava investigar mais de perto.

Reorientei minha trajetória e iniciei meu avanço em direção ao pequeno oásis verde na paisagem congelada. À medida que me aproximava das árvores, um misto de expectativa e curiosidade tomava conta de mim, e o objetivo de encontrar o livro havia passado para um segundo plano. Tinha confiança de que ele compreenderia o motivo da demora em minha busca.

Ao adentrar o bosque, uma sensação de maravilhamento me envolveu por completo. Estendi as mãos para acariciar as folhas, sentindo a textura rugosa sob meus dedos. Era um contraste notável em relação às pedras áridas e à poeira que haviam sido minha realidade até então, trazendo uma sensação de conforto inesperado.

Um sorriso espontâneo surgiu em meus lábios enquanto me deixava envolver pela presença real das árvores à minha frente. Impulsivamente, inclinei a cabeça e lambi a casca de uma das árvores, também provando a umidade das folhas, uma sensação tão contrastante com as paisagens áridas que havia conhecido até então.

Arranquei um punhado de folhas e levei-as à boca, mastigando com a curiosidade de uma criança exploradora. A crocância delicada e o sabor fresco reavivaram um prazer que eu havia deixado de lado, o prazer de comer. No entanto, no final, ainda cuspi as folhas.

— É, não sou fã de coisas amargas...

O silêncio que se seguiu me lembrou da perda do livro. Vai levar um tempo, mas tenho confiança de que vou encontrá-lo.

Enquanto meu olhar percorria a paisagem, algo mais capturou minha atenção: uma criatura. Uma espécie de cabra, com pelos espessos e chifres curvos, me observava com um misto de curiosidade e cautela. Uma onda de emoção me envolveu quando percebi que estava diante da primeira criatura viva que via em muito tempo.

Aproximei-me da cabra com cautela, estendendo a mão para mostrar que não representava ameaça. A cabra, por sua vez, pareceu ponderar minha presença por um instante antes de dar um passo hesitante em minha direção.

No entanto, de repente, a criatura investiu, seus chifres apontados diretamente para mim. Um sorriso desafiador curvou meus lábios enquanto percebia a intenção de ataque do animal. Consegui me esquivar a tempo, sentindo a rajada de ar enquanto a cabra passava zunindo por mim. Achei o gesto divertido.

— Muito lento. Seus chifres são apenas para enfeite?

A cabra virou-se novamente para me encarar, e desta vez eu estava totalmente preparado. Com movimentos calculados, consegui habilmente evitar sua investida. No entanto, em vez de recuar, optei por responder ao desafio. Agachando-me, investi em direção à cabra, e nossas testas se chocaram. Embora o impacto tenha sido sentido por ambos, foi a cabra que cedeu e recuou. Sua expressão parecia mostrar surpresa diante de minha reação.

Percebi que ela logo poderia fugir, decidi provocar novamente, zombando dela no processo. A cabra emitiu um som baixo, quase como um resmungo, antes de tentar outra investida.

Com um sorriso travesso, comecei a brincar com a cabra. Desviava dos chifres saltando por cima dela ou segurava-os com minhas mãos enquanto rodopiávamos, ambos ficando tontos de maneira hilária. Até mesmo ousava montar nas costas do animal enquanto gargalhávamos de alegria. A cabra estava claramente irritada, balançando a cabeça e brandindo seus chifres no ar.

— Tudo bem, vou permitir que você me acerte de frente uma vez, como forma de compensação.

A brincadeira atingiu seu auge quando a cabra investiu com todas as suas forças, impulsionando-me a rolar ladeira abaixo. Em meu rastro, uma pequena avalanche de neve foi desencadeada, me envolvendo por completo. No meio das risadas contagiantes, emergi da neve como um ser selvagem, sacudindo-me com energia.

— Isso foi incrivelmente revigorante.

Um sorriso se espalhou por meu rosto, e uma risada espontânea escapou de meus lábios. A cada riso, senti uma sensação de euforia percorrendo meu corpo, como se cada fibra da minha pele estivesse vibrando de alegria. Era como um toque revigorante, exatamente o que eu estava buscando.

À medida que o eco do riso desaparecia, algo intrigante capturou minha atenção. Meus olhos se estreitaram enquanto eu me concentrava na forma difusa que se destacava, envolta em um véu de neve. No começo, era apenas uma sombra indistinta, quase se confundindo com a solidez de uma pedra distante. No entanto, gradualmente, essa figura começou a tomar forma, surpreendendo-me além das minhas expectativas. Seria outra criatura viva? Uma coincidência incrível de dois seres compartilhando o mesmo espaço neste vasto planeta?

Avancei com cautela, minha curiosidade aumentando a cada passo. Cada vez que me aproximava, podia sentir a textura da neve sob meus pés, quebrando o silêncio com um suave estalar. Quem ou o que quer que estivesse ali permanecia imóvel, como se fosse uma parte da paisagem gelada.

Conforme me aproximava, a forma indistinta começava a ganhar contornos mais nítidos. Era um jovem humano, de estatura pequena e fragilidade óbvia, envolto pelo manto de neve. Uma sensação de angústia me envolveu, como se cada detalhe da cena se destacasse diante dos meus olhos, uma mistura de surpresa e compaixão que preenchia cada parte do meu ser.

“Não estou sozinho!”

— Calma, você vai ficar bem... — murmurei, mais para me tranquilizar do que para o garoto.

Ajoelhei-me ao lado dele, minhas mãos tocando o rosto pálido que se tornara azulado. Cada contato era uma confirmação da urgência da situação. Minha mente era um turbilhão de pensamentos enquanto eu procurava desesperadamente por uma solução. “Ele precisa de calor”, ecoou em minha mente, como se pudesse sentir a necessidade de aquecimento na pele fria.

Sem hesitar, concentrei meu poder, permitindo que uma aura calorosa e acolhedora me envolvesse.
O calor irradiou de mim, envolvendo os arredores. Por um instante fugaz, a esperança floresceu, fazendo-me acreditar que minha ação poderia salvá-lo. No entanto, à medida que meu poder fluía, a dura realidade se mostrou cruel e sádica.

Os olhos do garoto se abriram, primeiro exibindo surpresa e dor, seguidos por uma agonia intensa. A neve ao redor de nós dois evaporou instantaneamente, suas roupas entraram em combustão. Parei a onda de calor, mas era tarde demais. O calor e o fogo carbonizaram sua pele e roupas, uma visão devastadora que fez meu estômago revirar.

O cheiro era penetrante e avassalador, uma mistura de queimado que só se encontra em um incêndio. A expressão do garoto, anteriormente contorcida pelo desconforto do frio, agora estava deformada e preta como carvão, seus olhos e a boca abertas congelados em seu último momento. Ainda conseguia ouvir seus gritos ecoando em meus ouvidos. Era uma cena que ficaria gravada em minha memória para sempre.

Meus olhos se fixaram na cena, como se estivessem forçadamente abertos por uma mão invisível, e tudo à minha volta desapareceu em uma névoa de terror. Horrorizado, minhas mãos se contraíram involuntariamente.

“Se soubesse que isso aconteceria… teria ficado nas profundezas da minha caverna...”

Meu grito escapou de meus lábios, um som estridente que ecoou no vazio, carregando consigo a angústia, a culpa e a tristeza insondáveis que me assombravam.



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