Volume 1: Caçadores – Arco 1: Ressurgimento
Capitulo 7: Saber é Poder
Wally
Estava com saudades. Mal havia passado tanto tempo desde que deixei aquela carta... será que minha mãe estava bem? Eu iria os ver de novo? Será que meu pai sentia minha falta?... Tinha medo das respostas para aquelas perguntas.
Eu tentei inúmeras vezes esquecer que minha vida tinha virado do avesso, mas era difícil... muito difícil.
Aquela criatura assombrou meu pesadelo na noite passada. As vezes, prestes a dormir, escutei aquele rugido de novo.
Ficava com tanto medo que nem ao menos me mexia, eu permanecia em cima da cama; parado, paralisado... imóvel.
Na primeira vez que eu cheguei perto de um cavalo, eu estava apavorado. Não me movia exatamente igual a noite passada, minha mãe calmamente se aproximou de mim e se agachou, passou sua mão cheia de calos sobre meu cabelo e me contou seu segredo.
Ela me disse que quando ficávamos com medo, a melhor forma de voltarmos para a realidade era contando.
— Respire, encare o perigo, conte até dez e depois enfrente seu medo — ela me instruiu.
Mas naquele campo de batalha eu não tinha tempo para contar, nem capacidade para encarar, estava enraizado em meu ser, não acreditava ser capaz de me tornar tão forte quanto ela, nem muito menos cumprir as expectativas de meu pai.
“Maior que todos no mundo”, como? Como alguém como eu poderia cumprir tal expectativa? Simplesmente era impossível.
Aqueles pensamentos foram as únicas coisas que predominaram em minha mente por todo o trajeto do barco.
Minha vontade de chorar só aumentava e a frustração me havia me tomado por completo. Meu único livramento eram meus desenhos e os livros de Dracaries. Elementos, Valíria e Primordiais. Consegui aprender muitas coisas com aqueles livros.
Os Elementos eram um tipo de força invisível do universo, equilibrados com perfeição. Cada um dos Elementos denominavam um papel fundamental no ciclo da existência, tanto na vida ou no que viria após ela.
A principal descoberta dos últimos anos foi uma teoria de uma garota chamada Amara. Sua ideia era de que o elemento não fazia parte dos seres vivos, mas sim o contrário, tudo o que realizávamos e conseguíamos com os elementos era uma espécie de empréstimo.
Baseado naquilo, descobriram que o Elemento era vivo por si só, tudo o que ele entrava em contato em uma forte exposição, fosse matéria orgânica ou inorgânica, entrava em estado de transformação.
Eles se conectavam ao Elemento. Assim surgiram Dungeons, Masmorras, Itens mágicos e Feras mágicas.
Mas os Elementos não eram onipotentes, eles possuíam fraquezas; Essência era fraca contra Energia, porém Essência era forte contra Espírito.
Assim como Caos era fraco contra Espírito, mas tinha força contra Energia. Os elementos eram representados por cores específicas, amarelo para Energia, azul para Espírito, Essência era o verde e Caos tinha a cor vermelha.
Aprendi algumas coisas também sobre Valíria. No total existiam nove reinos, Eques Dracaries, Eques Nômades, Eques Gladius, Fygon Bahamut, Jurys Wolf, Flay Zarpids, Unity Popullus, Sarit Pyres e Phantom Wallpurg.
Todos os reinos eram conhecidos e normalmente chamados pelo complemento final de seu nome.
Havia também uma especificação sobre eles, todo reino era conhecido por algo em especifico.
Dracaries, Bahamut e Gladius formavam a Trindade de Valíria, por isso eu já os conhecia, mas o restante me surpreendeu.
Nômades tinha muitos festivais e competições todos os anos, cheio de comida e pessoas de Valíria inteira.
Wolf parecia bem agitada. Cada morador possuía um canino desde os seus quinze anos de idade, eles eram animais elementares, conseguiam controlar um Elemento sem perder o controle... queria poder visitar aquele reino.
Zarpids estava descrita como perigosa para viajantes. Aquele reino era conhecido pela grande variedade de itens mágicos de todos os tipos.
Popullus tinha a melhor engenharia e o título de reino mais pacífico de Valíria. Com construções maravilhosas e ideias inovadoras voltadas a construção, fossem elas de carruagens e carroças ou casas e castelos.
Pyres obtinha os melhores ferreiros, eles eram famosos por criarem as armaduras e escudos mais caros e poderosos que existiam. Periodicamente os caçadores encomendavam equipamentos daquele reino.
Wallpurg, um reino a beira da grande muralha, assim como Wolf, Dracaries e Pyres. Eram conhecidos pelo arcanismo, conhecimento e pesquisas arcanicas. Definitivamente o reino mais interessante.
Aparentemente existiam poucas florestas em Valíria. O livro descrevia somente uma floresta entre Dracaries e Bahamut, um pouco em Zarpids e também entre Wolf e Wallpurg.
As outras regiões eram mais planícies, com exceção do outro lado da grande muralha. Um local montanhoso onde habitavam de acordo com o livro: “As piores Feras mágicas existentes”.
Ele também falava mais sobre a grande muralha. A muralha foi uma ideia implementada pelo primeiro Dominus. Utilizando o material mais resistente de Valíria, Adamantium ou Adamantino.
Com a ajuda de diversas outros guerreiros, eles criaram a grande muralha. Graças ao Adamantino e seus arcanismos exuberantes, a muralha dificilmente sequer era danificada. Independente qual fosse a magia usada contra elas.
Sua altura chamava muito atenção, ela era imensa. Sendo possível enxergar a grande muralha basicamente de qualquer reino.
Mas e aquele lado? Qual era o seu nome?... Bom, ninguém nunca se preocupou em nomear o que tem do outro lado das muralhas, provavelmente porque todos temem as criaturas que lá habitam. Ainda lembrava bem que Gal do nome que ele os chamava, demônios.
Os caçadores foram criados principalmente para conterem os monstros daquele lado, ainda assim, uma expedição de extermínio para o outro lado, segundo o livro, era uma — Sentença de morte certa — todas as unidades que lá entravam, nunca retornavam.
Chegando no último conteúdo, os Primordiais. Aquela parte era o mais escasso de todos, tão escasso que aparecia como um complemento do livro dos Elementos. Únicas informações que podiam serem obtidas eram o nome e Elemento de cada Primordial.
Vlouthier e Fhyrier eram Caos, Essência tinham os nomes Proffanus e Hayzard, Shyoto e Crystaline apareciam como os do Elemento de Espírito, e os últimos Primordiais eram Shyn e... As#∆... Ask&... os Primordiais de Energia...
Não conseguia entender o por que... mas, eu sentia que já tinha ouvido aquele nome antes... sim, lembro de Dominus falando algo quando eu tive aquelas alucinações estranhas.
Então... aquela voz que eu ouvi na biblioteca... aquela coisa que conversou com Akiris, era o As&¢?... mas não fazia sentido, eu não era o As#¥. Com toda certeza eu não era um Primordial... não é?... É, com certeza não.
Mas era eu conversando com ele naquela hora, espera... o que era a conversa mesmo?... Eu não conseguia me lembrar.
De repente comecei a escutar um barulho de ferro, aparentemente o barco atracou. O que queria dizer que havíamos chegado na Ilha Venatorum, a base da ordem dos caçadores.
O capitão começou a sair da cabine em direção ao mastro da vela. Karla se levantou descabelada olhando para os lados assustada, não via o Soltrone nem Yuki, mas escutei a voz do Akiris nos chamando.
Guardei o último livro em minha pequena bolsa, eu me levantei de frente com o vidro da cabine.
Olhando através dele, enxerguei Akiris conversando com a Karla enquanto Soltrone descia planando da vela até eles, com o caçador Yuki saindo dos fundos da cabine até eles.
Comecei a me aproximar de todos eles. Caminhando em vossa direção, por um momento algo parecia estranho, o calor do sol havia sumido de repente.
Observando a minha direita, existia uma sombra me sobrepondo, engolindo-me completamente. Parando de caminhar, a sombra também parou de se mover.
Com enorme receio eu comecei a virar para a minha direita; alí estava ele, Dominus. Mais uma vez parado e me encarando em silêncio.
Após poucos segundos Dominus tirou seus olhos de mim e continuou a caminhar ao encontro dos demais comigo o acompanhando um pouco mais distante.
— Tiveram problemas na viagem? — ele questionou.
— Até o momento não — respondeu Akiris.
— Ótimo. Como normalmente os caçadores caçam a noite, neste momento a maioria devem estar em repouso.
Dominus levantou sua cabeça e observou em volta da encosta da ilha por um momento.
— Por precaução, não saiam de perto de mim por enquanto. Soltrone e Yuki vocês estão livres para irem e descansarem se preferirem.
No momento que Dominus terminou, Soltrone levantou voo e se afastou entrando na ilha. Yuki assustadoramente foi saindo do barco andando como se estivesse sendo guiado por alguém.
— Eii, essa é a base dos caçadores? — Karla com uma expressão curiosa perguntou.
— Para onde mais achou que estávamos indo?
— Espera...não vamos entrar para os caçadores né?
Karla observou Dominus em completo silêncio por um momento e rapidamente se escondeu atrás do Akiris. Aparentemente prestes a chorar, ela questionou outra vez:
— Não é?
— Não, nós não viemos entrar para os caçadores Karla.
Escutei um suspiro longo e a vi caindo um pouco para trás. Sentada em cima das tábuas de madeira ela respirou fundo e inspirou com uma mão a cima do seu peitoral.
— Vamos — Dominus ordenou antes de sair andando.
Akiris seguiu logo atrás dele, mas Karla não se levantou, apenas ficou me olhando... ela aparentava querer que eu fosse na frente, então, segui Akiris.
Baseando no que aprendi dentro do barco, até aquele momento eu tinha visto magias de Caos e Espírito.
Aquela esfera estranha da Karla que explodiu, assim como aquilo que a criatura fez eram Caos.
Provavelmente aquele magma que desapareceu completamente também devia ser Caos, aquela silhueta azul que o Yuki fez com a Karla era Espírito. Ele criou uma ilusão fictícia através, da alma da Karla?
Ainda não entendia exatamente pelo o que cada elemento era responsável, mas aquilo deveria ser um progresso, mesmo que fosse bem pequeno.
Pelo caminho existiam algumas árvores que eu nunca tinha visto na minha vida. Seus troncos eram gigantes e a madeira grossa tinha uma cor muito clara.
Suas grandes folhas tampavam completamente a trilha que estávamos seguindo, formando uma espécie de teto a cima de nós.
A caminhada era longa. A ilha aparentava ser maior do que eu imaginava. Há uma certa distancia eu conseguia enxergar algumas casas separadas em grupos. Aquelas deviam ser as moradias dos caçadores na ilha.
Como Dominus avisou, a maioria provavelmente estava dormindo naquele horário, o que explicava o fato de não estarmos vendo sequer um caçador por alí.
— Baita lugar sem graça esse — Karla pontuou olhando ao redor.
Akiris e Dominus estavam em completo silêncio, não olhavam nem respondiam as piadas de Karla, apenas seguiam a trilha.
Parando para pensar, o livro não especificava nada da Ilha Venatorum além de ser a base dos caçadores.
Provavelmente os comerciantes não deveriam frequentar em nenhuma hipótese aquele lugar. O porto da ilha era minúsculo, não deveria caber nem três barcos, o que era bem estranho.
Caminhamos pela estrada de cimento por muito tempo. Finalmente chegando ao nosso destino, o lugar em minha frente logo prendeu minha atenção.
Uma construção de concreto imensa com um sino enorme no topo, e telhados meio curvados em volta da construção.
As janelas do lugar não possuíam vidro, eram completamente expostas. Em sua entrada existia um portão que era muito maior que Dominus. Próximos a eles haviam duas placas com uma escrita que eu não compreendia.
Mais abaixo daquela língua estranha estava; “Catedral Marcial”. Aprendi com Gaius que marcial se consistia em algo relacionado a luta, mas o que era uma catedral? Um centro?
Dominus se aproximou das portas gigantes e começou a abri-las. Ele nem ao menos se esforçou para empurrar as duas portas... e aquilo parecia humanamente impossível.
Quando a porta foi aberta, surpreendentemente existiam algumas pessoas dentro do local. Alguns conversando, muitos olhando panfletos e outros descansando.
Grande maioria deles usavam um manto branco ou preto com o broche dos caçadores no centro.
Poucos outros apenas utilizavam o broche sem o manto. Refletindo outra vez, Yuki e Soltrone não estavam usando o broche na roupa, pelo menos não evidentemente.
— Vou resolver alguns assuntos inacabados na minha sala. Chamarei todos vocês quando acabar, por enquanto, estão livres para irem e virem.
Dominus se retirou em direção a um corredor bem distante a direita. Naquela espécie de salão existiam três corredores, um a esquerda, um na frente, e outro a direita.
A esquerda havia um painel com vários panfletos onde residiam desenhos e informações escrita neles.
Perto do corredor central se localizava algo que aparenta ser uma espécie de loja, ao menos era o que estava escrito na placa.
A loja havia capturado a atenção de Akiris, ele começou a se dirigir para dentro da mesma.
Mais a direita encontrei um grande balcão com uma mulher de cabelo curto, olhos pretos e um longo vestido cinza claro com um broche em seu peito.
Karla começava a rodear os corredores e Akiris ainda estava dentro da loja, naquele momento conversando com um homem. Roupas cinzas, cabelo lambido para trás, óculos, um relógio de bolso pendurado a sua calça e pelo jeito um broche no peito.
Sem ideia do que eu poderia arrumar para ocupar minha mente, eu me direcionei a um banco de madeira próximo também do corredor central. Sentei e me apoiei na parede olhando para cima.
O teto possuía uma espécie de corrente gigante com uma iluminaria evidente aprisionada em uma espiral de metal.
Mesmo com a luz do sol o lugar não era totalmente iluminado, por aquele motivo ela ainda estava acesa. Ainda assim, eu enxergava outras iluminarias espalhadas pelas paredes daquela Catedral.
Enquanto eu observava o lugar, percebi Karla se aproximando da loja, ela olhou a placa e retirou um cristal vermelho de um pequeno compartimento nas costas da armadura.
Aquela armadura era muito estranha, por que uma armadura seria útil se ela é cheia de furos? Aquilo não fazia sentido, todas aquelas brechas não ajudariam seus adversários?
Karla entrou na loja com seu cristal vermelho. Em poucos segundos após sua entrada, Akiris sai da loja, mas com algo diferente. Ele estava usando botas de cor marrom claro com duas asas pequenas no topo da bota.
Senti uma sensação estranha olhando para elas. Estávamos nos comunicando, elas ansiavam pelo meu toque, meu olhar, meus pés...
Que sensação esquisita. Aquilo com certeza era um Item mágico. A prova veio em pouco tempo, Akiris parecia muito mais rápido que antes, tanto que aparentava estar tentando se acostumar com sua nova velocidade.
Focado na bota, três pessoas se aproximaram de mim pelo corredor central. Eram três homens,
Um com os olhos azuis e pupilas pretas como Yuki. Em seus olhos se encontravam olheiras perante suas pálpebras, não devia dormir decentemente a um tempo, seu cabelo era enrolado com diversas mechas muito sólidas.
O homem ao seu lado usava capuz e era mais baixo que ele. Entretanto, parecia o mais forte dentre os dois. Aqueles homens lado a lado por algum motivo, usavam a mesma roupa.
A frente dos dois estava um homem do tamanho de Gaius, ele era estupidamente forte, parecia uma muralha.
Usava uma regata preta por baixo do manto branco dos caçadores, uma calça preta comum e andava descalço.
Aquele homem era um membro dos caçadores, uma elite em capacidade, poder e força arcana, mas, seus olhos eram iguais aos da moça do balcão, iguais aos de minha mãe, iguais aos de Akiris... aquele homem era um Nullu.
— Fala ae, de onde você é?, é um novato? — ele perguntou.
O homem ficou estático esperando uma resposta minha. Ele aguardou por alguns segundos e então continuou.
— Você ta bem?
— Ah... sim... estou sim, obrigado.
— Mesmo?... Certo então, que bom. Prazer em te conhecer novato, me chamo Cariani.
— Prazer, sou Wally.
— Esses dois irmãos aqui são Rios e Riuty, Rios é o do capuz e esse cabeludo é o Riuty.
— Muito prazer Wally — os dois disseram ao mesmo tempo.
— Você está pálido em garoto, mas o pior de tudo mesmo... você está parecendo um palito! Pelos céus! Que tal treinar conosco um pouco?
— Treinar?
— Claro, a melhor forma de extravasar sentimentos ou pensamentos é com os punhos garoto, vamos te mostrar — Cariani pontuou já me levantando com seus braços.
Os três começaram a me guiar de volta por onde eles vieram, enquanto Cariani sorria deliberadamente os outros dois aparentavam cansados e frustrados com suas mãos na cabeça.
Durante nossa caminhada até o local que Cariani estava me levando; havia um detalhe que não saia da minha cabeça, martelando-a incansavelmente por todo aquele trajeto.
Minha mente foi tomada por uma única pergunta, o que significava — Não posso confiar no sangue? —
Chegamos em frente a uma porta escura onde estava escrito na madeira, “Treinamento”, Rios tomou a frente e abriu.
Quando entrei por último junto a Cariani enxerguei uma sala enorme. Vários equipamentos para treinos em um canto e no outro vários bonecos parados. Todos exalavam um sentimento estranho, eles eram bonecos arcanicos.
Rios fechou a porta e foi em direção aos equipamentos, enquanto Cariani e Riuty me levaram até os bonecos.
— Seguinte garoto, não tem como deixar você menos palito em algumas horas, mas podemos ensinar técnicas de luta que vão ajudar você a se defender, o que me diz? — disse Cariani.
— Pareço tão fraco assim?
— Pra ser sincero, ta evidente até de mais — proclamou Riuty.
— Sei...
— Relaxa campeão, todos tem objetivos diferentes, o nosso foi ficar mais forte e o seu... bom... temos poucos médicos na ilha — Cariani me confortou sorrindo e desviando seu olhar.
— Cariani, os olhos dele são amarelos.
— Sim, mas quantos Híbridos você conhece de apenas um elemento?
— É... acho que tem razão — Riuty concordou pensativo. — Ei Wally, quantos elementos você já sabe usar?
— Ah... nenhum.
Quando respondi a pergunta de Riuty os dois ficam instantâneamente incrédulos. O ambiente completamente silencioso e seus rostos impregnavam uma impressão tensa na sala rapidamente. Fazendo parecer até que eu havia dito a coisa mais abominável possível ou que alguém acabava de morrer naquele exato momento.
— NENHUM?!... Quantos anos você tem Wally?! — Riuty gritou com suas mãos na cabeça.
— ... Tenho dezesseis anos.
— Dezesseis?... o mais tardar que uma criança começa a manipular o elemento que possui afinidade... é aos quatorze...
— Isso é tão grave assim? — perguntei a Riuty.
— Dois anos de atraso certo? É, isso é bem ruim. No mais normal dos casos as crianças começam a se comunicar com sua afinidade aos dez, nos quatorze já dominam a sua ligação com o elemento — Cariani explicou com um olhar abatido. — E isso é apenas para sua afinidade. Os outros elementos são muito mais difíceis de manusear, uma pessoa comum que não sabe muito de arcanismo, vive sua vida inteira com domínio geralmente de no máximo sua afinidade e mais um elemento.
— Perguntei quantos elementos você sabe usar porque não é normal uma criança estar entrando para os caçadores — Riuty realizou uma breve pausa. — Os caçadores mais jovens na história, foram Soltrone e Yuki com dezessetem. Mas eles apenas conseguiram porque aqueles dois Híbridos são prodígios escolhidos a dedo por Dominus.
— Aqueles dois garotos realmente são monstros, eles já conseguem utilizar os quatro elementos nessa idade... talvez um dos dois até torne o novo Dominus um dia — Cariani completou rindo.
— Tem razão, mas isso me faz pensar. Sem o controle do arcanismo e sem porte físico adequado, você não vai entrar para os caçadores, é impossível. Então você só pode ser um convidado do Dominus! — Riuty afirmou batendo sua mão direita na palma de sua outra mão.
— Um convidado do lorde né... humm... entendi, bom, esquece isso, acho que perdemos o foco. Viemos aqui pra fazer você extravasar então que tal começarmos de uma vez?
Cariani imediatamente começou a se alongar. Riuty seguiu a deixa e realizou o mesmo, logo eu também me alonguei.
Nem havíamos começado para valer ainda e mesmo assim, eu já tinha a convicção que não possuía chance alguma contra eles, caçadores estavam em um patamar muito a cima de meros cavaleiros.
Riuty exalava uma enorme força. O sentimento que eu tinha olhando para ele era ansiedade.
Mas Cariani não exala nada, sim, os Nullus não possuíam conexão elemental, de certa forma... eles não faziam parte do ciclo da existência. Então por que? Por que tamanho arrepios olhando para ele?
— Beleza, to pronto. Antes de ensinar qualquer coisa, quero ver do que você é capaz.
O sorriso bobo de Cariani havia sumido, em seu lugar estava um semblante sério e frio. Sem um aval do meu lado, Cariani já entrou em uma pose de luta.
Suas pernas estavam alinhadas e separadas, sua cintura levemente direcionada para frente e seus braços se encontravam a frente da cabeça, aparente uma postura totalmente defensiva, ele não pretendia contra-atacar.
Sem enrolação entrei em postura, não conseguia pensar no que fazer ou quando fazer, minha única luta de verdade havia sido apenas a quase dois dias.
— O que foi garoto?
Não fazia sentido tardar mais minhas ações, aquilo era um treinamento e não um combate real.
Comecei a me aproximar de Cariani um pouco displicente, com minha guarda levantada e o observando atentamente.
Como meu primeiro golpe, preparei um soco direito. Quase no momento do impacto, troquei minha postura através de um pequeno pulo, recuando o soco direito e trocando-o pelo esquerdo.
Meu soco se encontrou com o rosto de Cariani, porém, ele mal se mexeu, apenas me observou parado com sua postura em pé e um leve sorriso se abrindo.
Não podia me abalar! Ele era um caçador, obviamente não seria fácil. Com pequenos pulos consecutivos, preparei rapidamente uma rasteira.
Cariani parecia desprevenido, entretanto, antes de encostar em Cariani ele usou sua perna esquerda para pisar na minha direita.
Eu consegui ouvir um estalo por todo o meu corpo, aquela dor foi gigante. Tentei segurar o grito mas escapou um pequeno grunhido.
Cariani era difinitivamente forte, aquilo era simplesmente bizarro. Cariani rapidamente retirou sua perna e o seu sorriso, por fim ele levantou sua mão me chamando para cima dele. Ele aparentava estar se divertindo.
Não confiava nem um pouco que poderia derrotar Cariani... mas... será que nem ao menos acertaria um bom golpe? Sério que até mesmo aquilo estaria fora de meu alcance?
Andando de um lado para o outro, sentindo uma dor agoniante em minha perna, em frente a Cariani, finalmente percebi, ele também estava me subestimando.
Demonstrando claramente não me preocupar com a defesa, caminhei em sua direção. Seu rosto mudou completamente, Cariani estava desapontado.
— É SÓ ISSO QUE VOCÊ TEM?! — exclamou realizando seu soco.
Lançando-me ao chão, passei pelas pernas de Cariani na tentativa de agarra-lo. Antes de se equilibrar novamente, joguei-me para a esquerda segurando em sua camisa.
Com minha perna esquerda me impulsionei para suas costas gigantes, onde iniciei um enforcamento em Cariani.
Um golpe engenhoso que aprendi após assistir diversas vezes Gaius o utilizando para punir Gal.
Eu estava apertando com todas as minhas forças, meus musculos se contraíam e minhas veias saltavam... mas nada daquilo era o bastante. Cariani gargalhou com as mãos na cintura e disse:
— Você é bem rápido garoto, impressionante. Mas... foi uma péssima escolha.
Cariani se inclinou agachando para frente e sem seguida realizou um grande pulo para trás.
Ela era muito pesado! Muito mesmo! Meu estômago e peito estavam sendo pressionados, a falta de ar era um problema claro naquele momento, logo eu estaria inconsciente... aquilo foi humilhante. Era como se eu fosse uma mísera formiga sendo esmagada.
— Vai matar a criança! — gritou Riuty.
Cariani de repente cessou sua gargalhada e se jogou para o lado. Ele caiu esteticamente como se fosse uma pedra. Levantado de uma vez, eu recuperava aos poucos meu fôlego de volta.
Enquanto eu respirava profundamente era inevitável não perceber algo de diferente nos olhos de Cariani, no preto sombrio existia uma circunferência azul se mexendo levement.
Mais a frente, em pé e parado estava Rios, com suas mãos levantadas em nossa direção. Pois então ele as desceu, bufou e se virou para de volta aos equipamentos.
No mesmo instante Cariani balançou a cabeça, olhou para os lados, depois para trás e gritou:
— Já falei pra não usar comando em mim Rios!
Riuty caminhou em minha direção passando por Cariani e realizando um soco em sua cabeça.
— Wally, você sabe de que elemento foi aquela magia?
— Sim... eu... sei sim. Espírito não é?
— Correto. Então você entende sobre os elementos no geral, menos mal.
Cariani com suas mãos em seu cabelo se virou de volta para nós e disse:
— Ai garoto, você cometeu três erros enormes.
Cariani começou a se levantar do chão gelado da sala de treinamento me encarando sem piscar.
— Primeiro, você foi pra cima de alguém claramente mais forte que você sem um plano concreto. Segundo, utilizou golpes que necessitam de força bruta sem possuir essa força. E terceiro, você... você... o terceiro é que não existe terceiro erro, meus parabéns — ele terminou orgulhoso enquanto Riuty aparentava decepcionado. — Eu tenho uma ótima dica pra você, se você quer ficar mais forte, precisa rapidamente aprender a controlar ao menos sua afinidade ou como alguns chamam, seu elemento afinuo. Além disso, quero que treine a sua capacidade de forçar os músculos de regiões específicas do seu corpo.
— Você é rápido Wally, se fizer o que Cariani diz vai ser mais resistente em combate.
— Mas o principal que quero que aprenda é a utilizar melhor os meios que estão a sua disposição. Por exemplo, quando estiver corpo a corpo você pode atordoar seu adversário com uma cabeçada. Ninguém espera uma cabeçada.
Antes de Cariani prosseguir, escutamos a porta da sala se abrindo. Perante a ela estava Yuki. Ele caminhou até nossa direção cumprimentando todos com a cabeça. Cariani levantou imediatamente sua mão acenando para Yuki.
— Veio treinar com a gente Yuki?
— Não, dessa vez eu passo. Vim para chamar o Wally até a sala do Dominus.
— Vish, você está encrencado garoto. A sala do Dominus é tão ruim quanto encarar um monstro com Elementos de Caos e Energia — Cariani explicou rindo de minha situação.
— O que ele fez Yuki?
— Ah, o Wally? Não sei dizer, por quê?
— Então Dominus está chamando apenas para... conversar? — perguntou Riuty.
— Sim.
— Entendo.
— Sério mesmo?! Bom que sorte então. Foi mal ai pelo susto garoto.
— Então, podemos ir? — Yuki questionou olhando para mim.
— Claro...
Limpei a marca gigante do pisão na minha calça junto da sujeira e a o resto da roupa amarrotada pela luta. Abaixei as mangas da blusa e me virei para Cariani.
— Obrigado Cariani, aprendi muito com você, e com você também Riuty, obrigado de verdade —
Em meio a troca de sorrisos eu retornei para a mesma direção de Yuki e comecei ao acompanhar para a saída da sala de treinamento.
— Boa sorte garoto! — ouvi Cariani gritando.
Virei-me de relance e sinalizei um joia para os dois. Quase passando pela porta acenei em despedida para Rios que balançou a cabeça em positivo para mim.
Aquela tinha sido a primeira vez que eu havia feito amizade com outra pessoa que não fosse Gal.
Eu me sentia melhor naquele momento, conheci Yuki, Cariani, Riuty e até mesmo Rios.
Sentia que havia de verdade novos amigos... aquilo me confortou. Então aquele era o sentimento... o sentimento de felicidade.
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