Volume 1: Caçadores – Arco 2: Súdito Fiel

Capitulo 10: Tempestade Mortal

Karlamitas

Verdinho tinha razão, por que devíamos proteger um maluco fracote daquele? Mas Primordial alí, Primordial aqui, porra, só matar. Resolveria todos os nossos problemas facilmente.  

Mas claro, ninguém nunca me escutava naquele grupo.

Ai estavam lá, o Akiris de olho no menino, o Davie tentando socializar com ele e o Querubim... Querubim?

— Oooo Querubiim!

Enxerguei ele se levantando em cima do teto da cabine.

— Ta fazendo o que ai?!

Ele não me respondeu, apenas levantou o braço direito em direção ao horizonte.

— Endoidou foi?!

Prestando mais atenção na direção que ele apontou; aquilo era uma tempestade? Mas o céu parecia tão limpo.

Ainda olhando para as nuvens, eu caminhei até o nanico e encostei no seu ombro.

— Ai Akiris, aquilo é normal?

Com um olhar de estranheza, ele se virou para as nuvens cinzas. Depois de alguns segundos em silêncio, veio sua resposta.

— Não... obviamente não é normal.

— Humm, entendi... o que a gente faz agora?

— Corremos o mais rápido possível. Se aquilo for uma tempestade acarnica, iremos afundar.

— Mas que merda... — ficamos os dois em silêncio por alguns segundos. — Aí Akiris.

— Fala.

— ... Eu não sei nadar.

— Não é uma boa hora pra piadas Karla.

— Não, eu realmente não sei nadar.

— ... Tem boias penduradas dentro da cabine.

Com minha visão direcionada para a cabine, encontrei Wally falando e mostrando desenhos para o Davie, atrás deles existiam duas boias muito vagabundas penduradas na parede.

— Akiris... eu com certeza vou afundar...

— Então aconselho que fique longe da beirada.

— Uau! Que ótimo conselho.

— Acho que nem preciso te dizer isso, mas, prepare-se para um combate.

— Então, tipo assim gênio, vamos lutar contra uma tempestade?

— Presta mais atenção — Akiris se virou para as nuvens pretas. — Se eu estiver certo a tempestade não é apenas mágica, mas também conjurada. Então uma criatura pode estar trazendo-a até nós.

— Então é só matar o bichinho que vamos ficar seguros, brincadeira de criança.

— Como eu já disse Karla, prepare-se. E não se esqueça, nós estamos na água.

— Sério, relaxa um pouco, tá fazendo tempestade em copo d’água — terminei rindo enquanto caminhava para a vela mestra.

Checando minha guarnição, separei duas granadas, uma mágica e uma de fragmentos.

Refletia sobre alguns componentes para criar outras, mas não deveria ser uma boa ideia andar cheia de bombas em um barco. Estava tudo certo.

Por receio, decidi ficar com uma granada na mão.

Que engraçado, havíamos navegado bastante, uns trinta minutos talvez? O porto já estava maior.

Então se já estávamos relativamente próximos, como raios a tempestade já estava tão perto? Em uma corrida franca, poderia até chegar em Bahamut antes de nós.

Se precisasse chutar, diria que ela chegaria no barco em cinco minutos.

A cada segundo que a tirava de minha visão, ela aparentava se aproximar ainda mais rápida.

Aquela coisa estava me dando um calafrio e um gelo na espinha.

Aska era mais assustador que as nuvens cinzas, mas ainda assim, não parecia mais tão divertido brincar com aquilo.

— O que fazemos? Já tá aqui do lado — Soltrone perguntou com a cabeça apoiada na beirada da cabine.

— Vamos matar a criatura, é o único jeito — Akiris respondeu.

Ele se virou para a cabine, andou para a entrada aberta e falou algo com Verdinho e Wally.

Então se afastou, virou para mim, caminhou em minha direção e se apoiou na madeira.

— Só precisamos lutar se algo entrar no barco, se dermos sorte, o barco não será destruído antes de chegarmos.

— Saquei, mas e se ele for destruído?

— Se o barco for destruído, você me da cobertura. Vou usar transmutação para concertar.

— Transmutação?

— Mesma magia que concertou sua armadura, mas vai levar tempo, o barco não é pequeno.

— Entendi... — viramos para as nuvens negras em silêncio. —... Mas ai pequeno abençoado, onde você anda arrumando essas magias?

— Uma compensação de Dominus por termos que conter o Aska.

— Conter pra que? Pode soltar esse otário, já fiz chorar uma vez, faço de novo!

— Claro, pago pra ver — Akiris saiu caminhando para dentro da cabine.

O pavor estava três vezes mais forte.

A tempestade estava quase alí!

A ventania jogando tudo aos céus foi a primeira a chegar, logo junto a ela veio a chuva caindo sobre a madeira do barco.

Apesar de obviamente não ser uma tempestade comum, ela só parecia uma chuvinha. Akiris estava preocupado de mais.

Então, ela finalmente nos alcançou. Os brilhos amarelados dos raios demonstravam uma imponência assustadora sobre nós.

Querubim ainda assim continuava a cima da cabine, enquanto Akiris permanecia lá dentro com Wally e Davie.

Como eu imaginei, era só uma chuvinha, não existia nada de mais além dos raios estranhos.

No caso, uma chuvinha muito forte; mas ainda era apenas água.

Comecei a caminhar em direção a Akiris que estava perto da janela.

— Viu? Não falei? É só uma chuvinh...

O barco de repente parou bruscamente.

Um som de algo se levantando da água surgiu em nossos ouvidos.

Parecíamos estarmos sendo jogados para o lado.

Quando me virei, enxerguei algo completamente... nojento. Eram tentáculos.

Três tentáculos que soltaram o barco e agarram a madeira que pisávamos.

Um grunhido forte e grave abafado pela água acontecia enquanto o barco começava a ser esmagado pelos tentáculos pouco a pouco.

Akiris ao sair da cabine olhou os redores do barco e saiu em disparada para um dos tentáculos, Soltrone levantou voo e fez o mesmo. Eu que não vou ficar de fora!

Corri para o tentáculo a frente do barco, aquele sem nenhum adversário. Quanto mais me aproximava, mais o barco era destruído.

Alcançando-o, o agarrei com as duas mãos.

Com meu cabelo molhado quase tampando minha visão, vi ponta dos meus dedos brilharem em vermelho, logo, uma coisa era certa, desintegrar naquele merda!

O tentáculo agonizava e se contorcia, com um belo grunhido urgindo antes do barco aquele tentáculo soltar.

Akiris e Querubim também tiveram sucesso com os seus.

Os dois estavam retornando, Querubim flutuando e Akiris caminhando muito mais rápido que o normal.

— Ta apressadinho em.

— É a bota.

— Bota? — mudei minha visão para mais baixo do que o de costume.

Eu via uma bota marrom claro com asas na parte superior de cada pé, ela tinha uns sigilos estranhos, provavelmente na língua antiga.

— Alá Querubim, tá querendo te copiar — falei apontando para a bota.

Querubim com o rosto mais tampado que o meu ficou em silêncio.

Ele passou a mão tirando o cabelo do rosto, olhou para baixo e em seguida para mim, então aí... ele levantou voo em direção a cabine...

— Ninguém tem senso de humor nesse grupo — reclamei com os braços na cintura. — Aí Akiris.

— Fala.

— Topa um aperto de mãos?

O nanico olhou para minha mão começando a brilhar na ponta dos dedos, olhou para mim, e seguiu de volta para a cabine.

— ... Eu tinha que tentar.

Seguindo Akiris até a cabine, uma sensação estranha começou a percorrer pelo barco.

Ele com certeza também havia percebido, já que paramos ao mesmo tempo.

Que vacilo, aquilo foi um grande erro nosso.

Simplesmente não tínhamos notado... aquela sensação, aquela presença; ela havia desaparecido.

Sumiu no mesmo instante que os tentáculos surgiram.

Akiris rapidamente entrou na cabine comigo logo atrás dele.

— Davie, existe alguma forma de irmos mais rápido?!

— Ham? Não, é uma vela, não tem como sermos mais rápidos do que isso.

— Não importa o que aconteça, continue velej...

De repente, a presença retornou. Foi quase como um sinal... não... era como se ele estivesse noa dando um aviso.

Todos sentimos a mesma coisa; “Nós vamos todos morrer hoje”.

A paralisação do corpo... foi inevitável. Nem mesmo Akiris conseguiu terminar sua fala.

— Davie, o mastr...

Foi bem na nossa frente; um clarão mais reluzente que o próprio sol. Um raio completamente amarelo.

Aquele raio... atingiu a cabine diretamente.

O impacto foi forte demais, todos fomos afetados.

O clarão cegou nossos olhos, e o estrondo enorme fez parecer que os ouvidos tinham explodido.

Quando minha visão retornou, a ventania ficou ainda mais forte.

Com meus ouvidos sangrando, eu via em minha frente nos escombros do teto da cabine, Davie caído, sangrando e convulsionando.

Próximo a ele estava Querubim, muito machucado e emanando eletricidade quando se movia.

Wally mais afastado foi pego por alguns poucos escombros, estava com ferimentos leves, mas consciente.

— Davie! — ele gritou correndo até ele.

— Mas que merda... — pensei alto caminhando até Soltrone.

— Não encostem nele! — Akiris gritou com as mãos e olhos brilhando em verde.

Ele pegou um pedaço de madeira e com suas mãos brilhando, a madeira começava a mudar, se transformar.

Percorrendo suas mãos formando um tipo de luva de madeira.

Ele as colocou no sapato escuro de Davie, o retirou, e começou pressionar seu peito.

Wally estava chorando bem ao lado do corpo, típico de um bebê chorão.

Após alguns segundos pressionando o peito de Davie enquanto utilizava mais Essência, ele começou a acordar. Assustado e tremendo.

— Davie cuide do Soltrone — Akiris falou apontando para o Querubim.

Davie ainda parecia bem assustado, abalado e talvez até confuso também, ele começava a chorar enquanto não parava de tremer.

Sem paciência e ainda com as luvas de madeira, Akiris segurou Davie pela gola e deu um soco em seu rosto.

— AJUDE O SOLTRONE!

Davie recobrou um pouco do seu juízo. Ele se levantou ainda tremendo e com a boca e ouvidos sangrando, foi até Soltrone.

Antes mesmo de focar em Soltrone, Davie utilizava uma espécie de área de Essência, todos os ferimentos das pessoas ao redor estavam voltando, os zumbidos nos meus ouvidos sumiram.

— Wally, não sai daqui!

Após as ordens de Akiris, ouvimos outro estrondo.

Haviam diversos raios amarelos caindo do céu em direção apenas ao mar, eles não paravam... e eram muitos.

Um dos raios caiu junto aquele que nos atingiu, ele realizou um buraco na parte superior do barco.

Nas beiradas, surgiram pedras, pedras do tamanho de pessoas.

Elas flutuavam cada vez mais alto em uma espécie de sintonia com os raios.

Girando, se juntando, se moldando. Aos poucos formavam um corpo humanoide.

Garras de energia do tamanho de antebraços surgiram pelas pedras, junto a elas, braços de Energia, por fim um rosto energizado bizarro se formava sobre a pedra.

Ele não tinha nariz, orelhas ou uma boca de fato.

Em seu rosto o que existia eram olhos estreitos como os de um gato, mas eles não eram deitados, os olhos estavam em pé.

Um sorriso bizarro que descia de um olho a outro.

Suas pernas eram pura Energia e seus pés, pedras resistentes.

O resto do corpo era feito de pedras emanando Energia de dentro delas.

Era tão tamanha que cada pedaço do seu corpo soltava pequenas fagulhas de eletricidade.

Akiris arrancou alguns pregos da cabine, retirou as luvas de madeira que estavam se desfazendo, juntou suas mãos brilhando verde outra vez, e criou uma espada de ferro.

— Karla.

— Estou te ouvindo.

— Não morra.

— Sem piadas agora Akiris, ta na hora de trabalhar.

Saímos caminhando em direção a criatura que gargalhava sem parar.

Estávamos na desvantagem, a chuva era muito forte, existiam muitos raios caindo na água ao redor do barco e a ventania poderia nos levantar se vacilássemos.

A criatura parou de gargalhar, nos encarou e começou a brilhar ainda mais.

Por instinto me joguei na frente de Akiris.

A criatura com seu braço lançou um raio em nossa direção. Não tinha como desviar.

Doía pra caralho!!

Senti meu corpo inteiro queimando, queimando por dentro.

— Vai se foder! — gritei ao jogar minha granada.

Usei tanta força que nem mesmo a ventania conseguiu a parar.

O monstro nem desviou, recebeu a explosão em cheio. Que mané.

 Ele soltou um pequeno grunhido de dor, uma verdadeira música para os meus ouvidos.

Música aquela que foi interrompida com uma espécie de rugido furioso daquele maluco amarelado.

O barco parou mais uma vez. Tentáculos surgiram na superfície, dois deles novamente agarrando e impedindo nossa navegação.

Akiris olhou para mim sinalizando com sua cabeça, e em seguida correu para um dos tentáculos.

— Topa uma dança amarelinho?

Sai em disparada para cima dele.

A criatura continuava parada no mesmo lugar, não parecia ter vontade de mover um dedo sequer.

Com nossos corpos tão próximos, fingi um soco de esquerda enquanto pegava uma granada de Caos com a mão direita.

Enfiei-a no seu corpo e beijei uma de suas pedras perto do ombro.

A granada explodiu.

Nos distanciando levemente para trás.

A criatura bateu na beirada e eu cai próximo ao que sobrou da cabine.

Seus gritos de dor estavam muito mais altos, assim como seus trovões.

A criatura me encarava irritada, olha só que engraçado, somente felicidade era o que eu demonstrava.

Mas ela foi breve.

Perante a criatura, um raio caiu sobre minha cabeça.

Fui jogada com força contra a janela da cabine.

Aquela merda doía pra cacete!

O raio foi bem pior do que o de antes.

Meus ouvidos ardiam e zumbiam muito, minha visão estava embaçada e com muitas luzes acesas, meu corpo queimava e minhas pernas não se mexiam.

Eu não estava enxergando possibilidades de vitória, caso o monstro passasse a depender de seus raios... seria o meu fim.

Embora Davie e Soltrone tivessem caídos com apenas um, eu ainda estava consciente.

Só haviam duas opções sem o anti-arcanismo do Akiris; sobreviver, ou morrer lutando.

Embora tudo parecesse perdido, Soltrone caído, um moleque chorão nas minhas costa, Akiris fora da luta e o barco afundando, a sorte ainda sorria para mim.

Por mais que ele pudesse talvez ter Espírito consigo, o fato ainda era o mesmo, ele era de Energia, adivinha só, Caos sempre seria mais forte contra Energia.

Enquanto eu me levantava, enxergava um brilho verde percorrendo meu corpo.

Minhas dores diminuíram e minha visão retornou.

Por mais que o Davie tivesse ajudado, minhas pernas estavam lentas, e aquele medo e aquela dor, não eram tão pequenas como eu tinha pensado.

A cabine foi destruída, não tínhamos mais como controlar a direção, além de existir um enorme buraco onde o raio me acertou.

O monstro de pé começou a caminhar em minha direção.

Davie não havia terminado de curar Querubim, e tanto ele quanto Wally estavam em pânico.

Eu iria precisar segurar aquela criatura de alguma forma.

Com meus punhos levantados e brilhando em Caos, fui caminhando em direção ao monstro.

Chegando mais perto do local onde fui atingida, existia um buraco muito maior do que parecia mais atrás.

Mas que merda, o barco estava afundando rápido!

Imprudente por um segundo olhando para o buraco, fui atingida por um disparo de Energia.

Fiquei completamente paralisada.

Não conseguia me mover, e meus músculos arderam pra caralho, de novo!

Não, não, não, mas que merda! O desgraçado continuou a caminhar para o final do barco, ele não parecia mais ter tanto interesse em mim.

— Akiriiis!

Eu sentia o barco se movendo outra vez.

Ele devia estar cuidando de tentáculos lá em baixo.

Mas apenas acabar com os tentáculos não seria suficiente, precisávamos deixar aquela coisa longe do moleque.

Eu apenas conseguia ouvir a chuva barulhenta realçando os passos pesados da criatura.

Tentei me mover com todas as forças que me restavam, era como se tivesse uma bacia de vidros afiados passando por todo o meu corpo.

Quase olhando para trás, escutei outra descarga elétrica acompanhada do som de madeiras sendo destroçadas.

Alguém foi lançado pela criatura?

Quando minha visão alcançou os fundos, enxerguei Akiris com uma espada dentro da criatura e gritando palavras estranhas.

— Saiam daqui! — escutei um grito abafado de Akiris.

Quando Wally e Davie estavam se afastando pela beirada do buraco com Soltrone nos ombros, uma luz gigante desceu os céus outra vez.

Com o trovão vindo em seguida, sou lançada para trás quase caindo do barco.

O sangue nos meus ouvidos voltava a escorrer enquanto eu observava de baixo.

Uma péssima notícia, metade do barco já estava dentro d’água!

Tentando me arrastar em meio a forte chuva e a severa ventania tentando me levar para o fundo do mar, minhas pernas se encontravam dormentes.

— Não porra! Agora não!

Caida sobre a madeira, usei apenas os meus braços para me afastar da beirada que cada vez mais se tornava íngreme.

Mas já mal me restavam forças... merda... eu não queria morrer por não saber nadar.

 Mais a frente enxergava o corpo de Akiris, completamente destruído, queimado dos pés a cabeça.

Aquela coisa... ela estava apenas brincando e mesmo assim... mesmo assim... não tivemos chance.. QUE DESGRAÇA!

— Puta merda.

Mesmo sem metade do corpo para baixo, mesmo sem pernas, mesmo sem um braço e em combustão... Akiris ainda estava se movendo para o buraco...

Quanto mais ele se arrastava, mais seu corpo começava a se curar. Seus músculos, ossos, pele, tudo.

Quase totalmente de volta, Akiris se jogou pelos buracos enquanto emanava uma forte luz verde, logo em seguida um vapor muito forte subia ao céu.

Quanto mais segundos se passavam, mais o barco deixava de inclinar.

Já não havia mais como eu ficar parada.

Mesmo com meus ouvidos sangrando, ossos quebrados, e pernas cambaleando, eu juntei tudo o que me restava.

Com minha Anarquia em mãos, utilizei-a como apoio para ficar de pé.

Os outros três não estavam por perto, mas... a criatura... ela, estava morta?

Existiam três pedras relativamente menores que o monstro espalhadas pelo buraco do que restou da cabine.

— Nós vencemos?...

Deitando na madeira, aguardava pacientemente a morte, o fim, o descanso final.

— Oh Deuses, o que será de mim? — quando com os olhos fechados eu escutei.

— Levanta, temos trabalho a fazer.

Abrindo os olhos, via uma luz verde fraca enquanto apreciava a tempestade.

Minhas pernas não estavam mais doendo como antes.

Eu comecei a me levantar devagar ainda muito fraca.

— Não deveriam ser dez segundos?

— A morte foi um pouco antes do raio.

— Entendi. Inclusive, como suas roupas estão novinhas? Elas estavam totalmente queimadas.

— Karla, foco, a tempestade não desapareceu.

Ele estava certo. A criatura aparentemente foi derrotada, mas a tempestade não sumiu.

— Querubim tá bem?

— Os três estão atrás da cabin... — Akiris olhou para o que havia restado. — Eles estão nos fundos.

— Então Querubim tá vivo? Ainda bem.

— Veja se precisam de algo, vou fazer o possível para arrumar ainda mais o barco — Akiris falou já caminhando para uma das grandes crateras.

— O seu maluco, como assim arrumar o barco? Já entrou muita água.

— Consegui fechar o rombo antes de atacar a criatura. De qualquer forma, apenas precisamos que ele não afunde por enquanto.

Após ele descer no buraco, comecei a ir no encontro dos outros três.

O barco estava aos pedaços. As beiradas destruídas, barulho da água passando pelas madeiras, buracos em todo canto, a ventania ainda estava até levando consigo alguns pedaços por ai.

Caminhando pela forte chuva eu passei pelo resto da cabine, encontrei Davie curando Soltrone, Wally deitado com as mãos nos olhos e Soltrone inconsciente.

— Como ele está?

— Terminei agora, ele vai ficar bem — Davie respondeu abaixando suas mãos. — Karla, como você aguenta? Aquele raio... era como... se meu corpo estivesse pegando fogo por dentro.

— Dói pra cacete né.

— Ah, dui rim — Davie falou algo abafado pela chuva.

— Que?!

— Sim! Doeu muito! — gritou logo antes de começar a derramar suas lágrimas.

Seu choro seria quase impossível de notar, claro, seria se ele não estivesse gritando e batendo na madeira com tanta força.

— Eu achei que eu iria morrer... aquele último raio... — ele gritava e chorava ainda mais

Wally também estava abalado. Já era a segunda vez que sua vida tinha corrido um grande perigo, e mesmo assim ele ainda não tinha se acostumado.

Que barbaridade... eu estava rodeada de bebês chorões!

Pelo menos Querubim e Akiris não eram assim.

Agachando-me perto de Querubim, peguei ele pela gola e comecei a sacudir seu corpo inconsciente.

— Acorda, acorda, acorda, acoordaaaa!

Pelo visto não estava funcionando... plano b.

Alguns bons tapas no rosto de Querubim o fariam acordar.

Um tapa, dois tapas, três tapas, quat... — Olha só, funcionou! — proclamei surpresa.

— Bom dia flor do dia, dormiu bem? — perguntei com meu cabelo jogado para frente e um enorme sorriso no rosto.

— Me larga.

— Primeiro, meu bom dia.

— Me larga.

— Primeiro meu... — Um outro estrondo abafou minha voz.

Um clarão enorme tomou minha visão mais uma vez, junto a ela, aquele velho sentimento retornou para o meu corpo; medo.

O mais velho medo e temor pela minha vida.

Virando para trás minha reação não poderia ser outra

— Nem fodendo.

Três! Três monstros iguais ao anterior, mas, eles não possuíam aquele sorriso estranho, e eram muito... menores?

— Estamos com medo disso?

Eles pareciam muito fracos, então, por que aquele sentimento tão estranho?

Era como se estivéssemos entrado numa contagem regressiva de sobrevivência... e o nosso tempo estava se esgotando.

Davie tentava se afastar para trás, mas não existia caminho para fugir.

Wally retirando as mãos de seus ouvidos e abrindo seus olhos, encarou as criaturas, olho no olho.

Colocou suas mãos na cabeça e começou a repetir alguma coisa sem parar, mas eu não entendia, a chuva era muito mais alta.

As criaturas estavam se preparando. Seus olhos se moviam pela sua espécie de rosto, para um lado e para o outro, até pararem fixamente em nós.

No mesmo momento, começam a se aproximarem lentamente.

Eu não tinha tempo ou muito menos paciencia para lidar com dois bebês chorões.

— Fica aí! — gritei com Wally.

Virei para o lado e estendi minha mão para Querubim que pegava sua foice no chão.

— Ta pronto?

Querubim segurou na minha mão, apertou sua foice e se levantou.

Encarando as criaturas, ele começou a flutuar.

Preparando meu corpo para uma outra possível surra, presenciei Querubim ajeitar seu corpo na horizontal lentamente, sorrir por um momento, e partir em disparada gritando.

— Que a caçada comece!

Por reflexo me agachei desviando de sua asa aberta.

Querubim quase tão veloz quanto minha Anarquia, atingiu o ombro do monstro da direita com sua linda foice.

— Pera, ei, ei, ei, ei!... Então... eu vou lutar contra dois?... Que injustiça.

Não tinha chance alguma dele me ouvir, além da chuva, ele estava focado na criatura que quase caiu no chão pelo impacto.

— ISSO É TUDO CULPA DO AKIRIS! — desabafei caminhando em direção aos monstros.

Os dois começaram a se separar, provavelmente para atacarem por lados diferentes, que sapecas.

Levantei minha guarda e me começava a me afastar aos poucos do meio dos dois.

Ginguei meu corpo para a esquerda e fingi realizar um soco na criatura.

Antes de atingir o monstro, abri minha mão, encostei a palma na criatura e mais uma vez meu amado e querido, desintegrar!

A criatura grunhiu de dor... mas não virou pó. Que ótima surpresa!

Escutei um rápido barulho atrás de mim. Um forte chute na minha perna, outra vez, ela ficou dormente.

Mas que merda de chute foi aquele?!

O monstro atingido pelo desintegrar aproveitou minha queda quase de joelhos e chutou meu rosto.

Aquela sim, doeu para cacete!

— Meu lindo rosto! Seu deselegante! — gritei agarrando a perna do monstro que me chutou.

Ele balançava a sua perna agarrada enquanto o seu parceiro começava a brilhar em amarelo.

Com meus dedos brilhando em vermelho na perna do monstro que balançava sem parar, quando ele conseguiu me largar, já era tarde demais.

A esfera caótica foi jogada para sua perna.

A explosão da magia separou cada um de nós.

O monstro antes agarrado foi jogado para a água, aquele que estava brilhando caiu sobre os escombros da cabine, e eu fui lançada para trás destruindo uma das últimas beiradas do barco.

Com minha perna ainda dormente e quase paralisada, comecei a me levantar e me afastar da beirada.

Puxei minha Anarquia e mirei na criatura da cabine.

O monstro que estava enfrentando Querubim parecia estar em apuros, não tinha tempo algum para carregar um novo raio.

Mas ainda assim ele não aparentava estar sofrendo muito dano de Querubim... se eles eram tão fortes e resistentes, por que mal atacavam?

Aquele pequeno detalhe estava me incomodando a um tempo.

O monstro na minha mira começava a brilhar outra vez, outro raio?

Com minha pergunta interna carreguei a Anarquia, não iria deixar ele soltar um raio em mim.

Pois então ele não soltou nada, nem muito menos parecia querer realizar um ataque, eu via o monstro começar a flutuar para cima.

Antes de puxar o gatilho, escutei um barulho alto vindo da água.

Uma pedra de repente surgiu das profundezas e foi de encontro até o monstro brilhando em amarelo.

— Não é possível...

Olhando para o lado vi a criatura lutando com o Querubim sendo puxada para trás.

Rapidamente, os três se rodearam brilhando ainda mais, quando um raio muito mais fraco que os anteriores caiu sobre eles e atingiu o barco mais uma vez no processo.

A luz fodeu nossos olhos e o trovão de merda mais uma vez machucou nossos ouvidos.

Eu não conseguia escutar direito, tudo era um grande chiado.

O barco estava afundando mais uma vez e eu estava perdendo o equilíbrio

Era impossível se manter de pé em uma situação como aquela, ainda assim... eu não queria ver o sorriso diabólico e debochado que o Akiris iria fazer se eu perdesse alí... eu precisava levantar!

Os meu olhos começavam a se abrir enquanto eu tentava me manter de pé, o barco parecia já estar estabilizando outra vez, não estava mais afundando.

Minha perna por algum motivo parecia um pouco melhor, move-la já não era mais um enorme sacrifício mesmo com dor e muita dificuldade.

Mas a melhor parte estava nos céus, o monstro de merda, retornou.

Aquele sorriso maldito, a pressão que ele emanava, o ar de superioridade, tudo aquilo irritava.

Eu já estava me acostumando com a pressão que ele passava, não iria mais ser o saco de pancadas, porra, eu que deveria ser a executora!

Posicionei minha Anarquia em mãos e comecei a aumentar a potência da minha bala com Caos.

Com uma carga suficiente para ao menos derrubar aquele merda, de repente... sua expressão mudou.

Seu sorriso bizarro e enorme se tornou... neutro.

Eu deveria estar feliz! Já que ele deveria estar apavorado... mas tinha algo errado.

Os sons da chuva pareciam terem sumido... não, na verdade, era como se estivessem paralisados.

Eu ouvia meus batimentos bem lentamente, uma batida por vez, enquanto passos suaves eram realizados sobre a madeira.

Quando os passos sumiram, eu já estava sendo empurrada para dentro do mar.

A única coisa que enxerguei durante minha queda, foi um cabelo escuro molhado tampando quase completamente o rosto de alguém familiar, mas... um detalhe ele não escondia.

Os olhos, eles eram completamente... amarelos. Não existia pupila alguma.

— Aska... seu filho da puta...

Apoie a Novel Mania

Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.

Novas traduções

Novels originais

Experiência sem anúncios

Doar agora