Volume 1
Capítulo 43: Feiticeiro (5)
Eu só quero que ela seja minha discípula?”
“Sem motivo?”
“Você realmente precisa de um motivo? Por que importa de quem eu gosto?”
“…”
Irene não conseguia responder.
Ele estava certo. Não havia nenhuma lei que declarasse que você precisava de um motivo para gostar de alguém. Poderia realmente não haver razão, mas poderia haver uma maneira vaga de explicá-la.
Mas o que era realmente importante para Irene era se o gato estranho gostava mesmo da sua irmã ou não.
‘Eu não entendo.’
A conclusão natural. Não havia como Irene, que era socialmente inepto, entender o coração do gato.
Ele olhou para o felino, apenas no caso de conseguir ler sua expressão, mas não havia maneira dele conseguir ler ela.
Naquele momento, Marcus, que estava em silêncio, falou.
“Com licença…”
“Sim?”
“Só perguntando. Aquela, a pedra … a pedra chatoyancy, a coisa que você acabou de dizer, sobre nossa propriedade…”
Seu jeito de falar frustrava o gato.
A gagueira, a dança em torno do assunto, e como ele vagamente terminou suas palavras.
Entretanto, sua intenção foi comunicada.
Lulu, o gato, que esperou por Marcus terminar, franziu a testa e perguntou.
“O quê? Você está me perguntando se eu conheço o conceito de dinheiro?”
“Não…”
“O que não. O que você pensa que eu sou? Um idiota? Apesar de ser um gato, eu sei o quanto essa pedra é cara!”
“E-Eu peço desculpas.”
“Uma joia desse tamanho pode me comprar mais de mil salmões defumados.”
“….”
“HumuHhjhasf? Não?”
A expressão de Marcus endureceu, mas Lulu não se importou.
Em vez disso, o gato começou a falar mais sobre seus pensamentos de maneira confiante.
“De qualquer forma, os humanos são os que se preocupam com objetos de valor como ouro e joias. Existem coisas muito mais importantes do que isso.”
“Hã?”
“Olhe aqui.”
O gato enfiou a pata no espaço ao lado dele.
Foi uma visão estranha, mas como os feiticeiros costumam fazer coisas assim, ninguém parecia muito chocado. Em vez disso, eles estavam interessados em que outros objetos Lulu traria para fora.
Contudo, o objeto trazido por Lulu não era nada mais do que uma bola de madeira feia.
“Isso?”
“Bola de madeira.”
“Bola de madeira?”
“Este é o meu tesouro que nunca vou trocar, nem mesmo por uma dúzia de pedras chatoyancy.”
“Perdão?”
“A fragrância desta bola de madeira é a minha favorita e não há como conseguir outra coisa como esta.”
Se fosse a fragrância, pode-se pedir a um perfumista ou mago para recriá-la.
Entretanto, a fragrância da bola de madeira era muito fraca, a ponto de só ser sentida pelo gato, que tinha um nariz sensível.
“O que você acha disso? Você não pode obter essas coisas, não importa quanto ouro ou joias você tenha.”
“Eu acho…que você está certo.”
“Além disso, há isso aqui também!”
Os tesouros de Lulu não pararam por aí. Como se quisesse se gabar, o gato continuou tirando coisas.
Um rabo de raposa que o lembra o gato de suas memórias antes de aprender feitiçaria, brinquedos de pelúcia costurados que recebeu de um gato vagabundo, e muitos outros itens diversos.
Lulu parecia orgulhoso enquanto explicava um após o outro.
“Eu entendo. Eu entendo agora.”
Marcus acenou com a cabeça como se entendesse algo. Não apenas ele, mas até mesmo as pessoas ao redor deles pareciam entender.
Claro, não era algo com o qual eles pudessem simpatizar profundamente. Eles sabiam do que Lulu estava falando, mas o dinheiro tinha seu próprio valor.
Não havia muitas pessoas que escolheriam algo precioso para suas memórias em vez de uma montanha de ouro.
Mas esses não eram todos.
Irene Pareira era desse jeito.
‘É porque eu sou um nobre?’
Ao contrário da maioria das pessoas, Irene nunca ficou sem dinheiro. Ele poderia viver a vida inteira sem se preocupar com essas coisas, e também estava acostumado a ser servido por empregadas.
A razão pela qual ele realmente simpatizou com as palavras de Lulu pode ser por causa dos pensamentos que surgiram em sua mente devido a viver em um ambiente farto.
Contudo, não foi uma coisa ruim.
Irene gostou do gato por algum motivo.
‘Isso significa que ele cuidará da minha irmã mais nova.’
O ponto era que o relacionamento com sua irmã também seria uma “coisa preciosa que o dinheiro não poderia comprar”.
Isso era o que importava para Irene.
O menino olhou para o gato com um leve sorriso, e o gato, que sentiu seu olhar, agarrou rapidamente o tesouro e saltou na frente de Irene, e enquanto segurava a pedra chatoyancy, ele falou.
“De qualquer forma, só pega isso e fala com ela.”
“Desculpe, isso não será possível.”
“Por quê?! Eu falei para você, certo?! Isso é muito caro!”
“Eu pensei que você tivesse dito que há coisas mais importantes do que dinheiro.”
“Ah!”
“E como eu disse antes, eu não acho que seja certo eu interferir em seus assuntos.”
“Converse! É apenas uma conversa! O que há de tão errado em dar conselhos como um irmão mais velho para sua preciosa irmã?”
“Você está certo, mas se eu der um conselho… vou falar sobre como me sinto por você e o que vi você fazer. Eu não vou aceitar um suborno e dar a ela boas informações sobre você.”
Irene falou com uma expressão calma.
Sem arrependimentos, nem um pouco. Em vez disso, Marcus, que estava bem ao lado dele, tinha uma expressão diferente e maior. Lulu também sabia disso.
Olhando para a pedra, o gato falou.
“Ugh, eu não sabia sobre Kirill, mas eu pensei que eu poderia te convencer.”
“…”
“Bem, nada pode ser feito. Ainda assim.”
“Ainda assim?”
“Você parece mais dócil do que a Kirill, então irei vir persuadi-lo com mais e mais frequência a partir de agora. E…”
Irene era um pouco mais divertido do que o gato pensava.
Com essas palavras, Lulu desapareceu.
Desta vez, todos ficaram chocados. Irene, que já tinha visto o gato fazer isso antes, também ficou um pouco chocado.
‘Dizem que o teletransporte é difícil até mesmo para magos habilidosos, mas isso pareceu fácil.’
Foi porque Lulu era um feiticeiro?
Ele olhou para o local que Lulu desapareceu. Sim, com certeza ele não olhou por muito tempo. Irene imediatamente virou sua cabeça e voltou a praticar e, como sempre, ele brandiu sua espada.
Fuush!
***
“Irene.”
“Hã?”
“Venha aqui.”
Depois que as negociações falharam uma vez, Lulu falou com Irene com mais frequência. Não havia nenhum motivo por trás disso. Agora era a mesma coisa.
“Por quê?”
“Apenas venha aqui. Depressa.”
O gato preto insistiu mais uma vez, e Irene se aproximou do gato com uma expressão curiosa.
Lulu olhou para ele e tirou uma tigela de salmão defumado e falou.
“Fique ao meu lado enquanto eu como.”
“… Era esse o propósito?”
“Sim.”
“Por quê?”
“Eu me sinto desconfortável quando ninguém está por perto enquanto estou comendo.”
“…”
Não foi só desta vez.
Lulu sempre foi assim.
Solicitações imprevisíveis, tópicos imprevisíveis e ações embaraçosas imprevisíveis. Ele nunca mais mencionou Kirill, mas Irene nunca achou que isso estranho.
‘Isso me lembra da escola.’
A Academia de Esgrima Krono era um lugar desafiador para Irene, mas, ao mesmo tempo, ele sentia falta dela. Foi o primeiro lugar onde ele fez amigos de verdade e onde ele poderia sair de sua bolha e conversar com pessoas de fora da sua família. E… era triste, mas Irene achava que ele nunca teria as mesmas oportunidades depois de deixar a escola.
Mas não parecia ser o caso.
Este gato incomum, puro e ultrajante trataria Irene sem hesitação. Parecia que não havia paredes entre eles, ou como se o conceito de paredes e limites não existisse entre eles.
De certa forma, ele era mais implacável do que Judith.
Mesmo que Irene tivesse dificuldade em se aproximar de outras pessoas primeiro, ele era generoso quando se tratava de aceitar as abordagens de outras pessoas.
“Veja aquele gatinho ali. Você sabe o que ele está pensando?”
“Eu não sei… o que ele poderia estar pensando?”
“Bem, eu perguntei a você.”
“Hã?”
“Eu perguntei a você, então por que você está me fazendo a mesma pergunta?”
“… Eu achei que você pudesse adivinhar?”
“Como eu saberia o que os outros gatos estão pensando?”
“…”
O gato, Lulu, voltou a dizer coisas sem sentido novamente. Vendo isso, Irene sorriu. Ele não tinha certeza de qual era sua relação com o gato, mas pelo menos ela não o fazia sentir mal.
“Por que você está sorrindo?”
“Por razão nenhuma.”
“É mesmo? Humm.”
Como um humano, Lulu deitou de lado com a cabeça apoiada em uma das patas dianteiras.
Estranho, mas um pouco fofo.
Vendo isso, Irene sorriu novamente.
No entanto, sua expressão endureceu quando ele olhou para sua espada.
‘Qual é a minha espada?’
A mesma pergunta ansiosa que o atormentava desde o momento em que deixou a escola. Mas não houve progresso.
Não era uma coisa estranha. Ele já sabia o que ‘não era sua espada’. Todavia, evitar aquela espada não o estava deixando encontrar a sua própria. Não, Irene nem sabia o processo de encontrar a resposta correta.
Tudo o que ele sabia era balançar sua espada sem confiar nas emoções do homem.
Naturalmente, essa não era uma tarefa mais fácil.
‘Estou cansado.’
No passado, as coisas não eram tão difíceis.
Ele balançava sua espada com mais força do que qualquer um e abusava de seu corpo por mais tempo do que qualquer outra pessoa… isso não importava antes.
O homem dos sonhos sempre apontava a direção que Irene tinha que seguir, e o menino simplesmente a seguia. Tudo que Irene precisava fazer era trabalhar duro.
Mas agora.
O vasto oceano.
Irene, que se sentia como se estivesse no meio do oceano, fechou os olhos.
“…”
A espada do homem.
Ele não sabia o que fazer.
Ele sabia que usava sua própria vontade e não a do homem para levantar a espada, mas o atual Irene estava cansado, exausto, e sua cabeça estava cheia de pensamentos complicados, que o fizeram querer procurar um lugar para se apoiar.
Um desejo de fugir do oceano sem fim e vir para a terra.
E com isso, Irene, que já foi um príncipe preguiçoso, pegou a espada novamente.
Swooish!
Ele a balançou.
… Depois de completar uma série de movimentos. Irene abriu lentamente os olhos e olhou em volta.
“…”
Felizmente, nada aconteceu.
Um poder sem precedentes não se desdobrou, nem o solo rachou.
Talvez fosse porque ele não estava 100% imerso nisso. O milagre não aconteceu novamente.
Ninguém estava interessado nele.
Para eles, o que acabou de acontecer não foi uma coisa tão estranha.
Para eles, seu jovem lorde estava brandindo sua espada como de costume.
Não, ele fechou os olhos e a oscilou, então ficou um pouco diferente, certo? Certo, ele deve ter estado mais focado do que o normal. Isso era o que as pessoas comuns pensariam.
No entanto, houve quem não pensasse assim.
“Irene.”
“Hum?”
Vendo Lulu se aproximar dele, Irene respondeu.
Ele não tinha ideia do porquê. Porque não essa seria a primeira vez, eles estavam conversando sem nenhum tópico ou objetivo.
Mas as palavras do gato preto que seguiram foram mais pesadas e mais importantes para ele.
“Você já aprendeu feitiçaria?”
“… O que isso supostamente deveria significar?”
Irene ficou embasbacado com a pergunta. O gato, Lulu, ergueu-se lentamente no ar para fazer contato visual com Irene.
Irene engoliu em seco.
Ele finalmente conseguia sentir isso.
Um oponente que exala uma atmosfera diferente de antes.
Em pouco tempo, uma proposta saiu da boca do gato preto.
“Você, seja meu discípulo.”