Destino Elementar Brasileira

Autor(a): Rose Kethen


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 2: Ambiente Hostil

Estamos no topo da colina oposta aos coelhos, é uma longa subida para que cheguem até aqui.

Dou uma rápida olhada para trás, para ver se era seguro. Só há uma descida, algumas rochas grandes, cobertas por neve, e mais distante disso, um bosque se iniciava.

Quando aquele coelho nos avistou, nossa mãe ficou com os pelos eretos imediatamente, como qualquer felino.

Ela abriu sua enorme boca, mostrando seus enormes dentes e fez o rosto mais assustador que já vi em ambas as vidas. Nem Lei Chen conseguiria trazer tal terror ao meu corpo e espírito. Esse sentimento de medo… É uma das piores coisas que já senti.

O sibilar dela… era para ameaçar os coelhos, mas fez meu corpo ficar paralisado e arrepiado. Sem dúvidas, a mamãe é assustadora.

Pelo que pude perceber, minha raça é esperta demais e se adapta rapidamente em qualquer situação, porque, quando o coelho já nos avistou, minhas irmãs branquinhas já desceram a colida, para longe dos coelhos.

Já, minha irmã, meu irmão e eu ainda olhávamos para os coelhos. Eles pareciam querer nos matar, mas com nossa mãe próxima, eles ainda não decidiram se viriam ou não.

Então, a mamãe parou de sibilar e olhou para algo mais distante.

Um único coelho descia lentamente a colina da toca dos coelhos.

Ele tinha um corpo robusto, olhos ferozes e um dos dentes da frente rachado, mas diferente de todos, era todo negro, com 2 metros de altura. Um verdadeiro monstro.

Ele transmitia uma aura completamente diferente dos outros.

Descendo e olhando para o coelho que meu irmão e eu matamos. Minha mãe ficou ainda mais feroz após a aparição dele.

Parece ser o líder desses coelhos.

Após chegar perto do cadáver do coelho, lançou um olhar feroz para nós e soltou um grunhido esquisito, que instigou todos os outros coelhos. Parecia que havia anunciado que iriam atacar.

YYIIIAARRRRRG!

Com esse grunhido, minha mãe rugiu ainda mais alto.

ROOOAAAARRRRRRRRR!

Pelo que dá para ver, a mamãe não teria problema de lidar com eles sozinha, mas nós somos o peso dela nesse momento.

No dia da minha morte, pude entender o peso de ter que proteger alguém, que sequer pode ajudar, enquanto está em uma batalha de vida ou morte.

Embora meus instintos naturais me dissessem diversas opções de camuflagem ou fuga, eu não quis ouvi-los.

Eu quero ver o que vai acontecer!

Minha irmã e meu irmão ainda estavam do meu lado, tremendo sem parar, mas com olhos ferozes. Entretanto, esse era o limite deles. Fizeram bem em se manter aqui, mesmo com tanto medo e pressão.

Seus instintos os controlaram. Rapidamente foram pelo caminho que minhas irmãs branquinhas pegaram, seguindo as marcas de patas deixadas na neve.

E, enquanto seguiam, suas caudas apagavam as marcas deixadas.

Puta merda, o que diabos é a minha raça?! Somos muito mais inteligentes que imaginava!

Posso entender mais ou menos como somos tão espertos.

Pelo visto, é tudo devido nosso desenvolvimento como predadores nesse ambiente.

Nossa raça é extremamente experiente na arte da caça e camuflagem. Todas opções de camuflagem e fugas dadas vieram do meu corpo de tigre e não da minha experiência como artista marcial.

Devo dizer, meu corpo quer, e muito, agir, mas minha mente não permite. Se eu deixar meu instinto agir, talvez faça o mesmo que meus irmãos.

Por isso, não posso deixar nem um pouco meu corpo me controlar.

Preciso ver o que vai acontecer aqui!

Nessa hora, minha mãe não esperou mais, e, com um grande salto, caiu na base da colina, impedindo o caminho dos coelhos.

Subitamente, um brilho começou a sair da sua gema, aquela da pata traseira esquerda! Um brilho tão forte, que quase me deixou cego!

Seus pelos eretos começaram a dançar. Não era o vento que os faziam dançar, era outra coisa.

Então, a cor dos pelos começou a mudar, ficando mais claros, e a neve circundante começou a derreter.

E, DO NADA, CHAMAS COMEÇARAM A LEVANTAR DO SEU CORPO!!!!

QUE PORRA TÁ ACONTECENDO AQUI?!!

Ela virou uma enorme tocha!

Quando os coelhos viram a “transformação” da minha mãe, começaram a grunhir mais e mais, mas a chama dela queimou ainda mais violentamente.

As labaredas subiram mais alto... A neve em volta já havia derretido e apenas vapor subia e água fervia agora.

Mamãe… você está fazendo tudo isso por nós, não é? Protegendo-nos com tudo o que pode.

Ao pensar nisso, meu coração doeu. Porém, meu sangue fervia.

Pode ter sido apenas quatro meses contigo, mas sei muito bem que você tem dado o seu máximo para nos cuidar e criar.

Posso não ser capaz de falar contigo, mas você sempre entendeu o que precisávamos e quando precisávamos.

Minha mãe começou a sibilar e rugir mais, a única mudança nos coelhos foi que eles passaram a visar ela.

Eles formaram um semicírculo em torno dela.

Apenas o líder olhava para mim, com olhos ameaçadores. Parece que ele sabe quem foi o verdadeiro culpado da morte daquele coelho.

Dez coelhos, de direções diferentes, lançaram-se contra minha mãe, a qual respondeu com garras e mordidas. Não importava para ela se viessem de todos lados, eles seriam massacrados.

O mais próximo que estava vindo para chutar seu olho, teve suas pernas arrancadas com uma mordida absurdamente rápida.

Mas os outros coelhos não perderam a chance para usar o tempo do foco dela no coelho, e três coelhos atacaram com seus dentes, visando morder o seu pescoço.

Para a minha surpresa, ela nem sequer ligou, porque, quando as chamas de seu pelo tocaram as bocas dos coelhos, era como cera sendo derretida. Eles queimaram tão rápido que o que restou deles era uma pasta vermelha borbulhante no chão.

Com esse desenvolvimento da batalha, todos sabiam quem seria o lado vencedor.

Entretanto, algo que não esperava ocorreu.

O líder coelho usou a morte de seus companheiros para tomar o foco da mamãe e tirar a atenção dos arredores.

Quando eu vi, só havia 28 coelhos em torno dela, contando os mortos.

Dois coelhos haviam se retirado para a colina da toca, se escondendo da visão de todos.

Esses desgraçados! Acham que não percebi?

Agora não é mais seguro ficar aqui.

Minha mãe, sempre esteve usando as orelhas para ouvir os arredores, mas ela não ligou que dois coelhos recuaram. Acho que pensou que fugiram de medo. Mas, essa é a estratégia para pegar os filhotes dela.

Ela estava massacrando todos coelhos em sua volta. Contudo, eles eram muito rápidos, só conseguia pegá-los quando pulavam ou quando tentavam atacá-la.

Quando estavam no chão, apenas desviando, as garras e mordidas dela só pegavam de raspão, e eles continuariam circulando ela.

Como estou em um ponto mais alto que a minha mãe, consegui ver aqueles dois coelhos "fugitivos" estavam dando a volta, direto para cá.

Esse líder desgraçado está tentando mesmo pegar o culpado e fazê-lo pagar por isso, mesmo que custe a vida de diversos da espécie.

Que porra de laço essas criaturas criaram?!

Elas viviam em conjunto e mantinham um vínculo imaculável, e, qualquer um que tivesse coragem de atacar um de sua raça, teria que lidar com todos de uma vez.

Esse ambiente está se mostrando ainda mais feroz que eu pensava. Todas as criaturas aqui têm que viver juntas e serem uma verdadeira família para lidar com os verdadeiros predadores.

Rugi para a mamãe, alertando-a que iria sair daqui. Minha mãe, ouvindo o rugido, entendeu imediatamente o que estava acontecendo.

Esses desgraçados estavam tentando enganá-la para pegar seus filhotes!

Ela ficou ainda mais enraivecida, e, em um surto de raiva, minha mãe rodou em círculo. Sua cauda atingiu os coelhos em volta, quebrando seus ossos e os queimando por inteiros.

A última coisa que vi foi o líder dos coelhos batendo o pé e parecendo grunhir algo.

Acho que ele cansou de esperar e vai enfrentá-la agora.

 

 

Descendo a colina, sem qualquer pista onde meus irmãos estavam, segui meus instintos.

Eles diziam que o bosque era a melhor opção.

Embora não soubesse aonde os dois coelhos estavam, eles também não sabem onde estou. Ao menos é o que eu espero... Vai que esses desgraçados podem ver através da colina?!

Pulando as pedras cobertas de neve, fui o mais rápido possível para o bosque. Usei minhas orelhas para ouvir qualquer som dos coelhos que estavam vindo. Acabei escutando alguns passos rápidos da esquerda e direita.

Finalmente cheguei ao bosque.

É HORA DE ME ESCONDER DESSES COELHOS DE MERDA!

Me escondi debaixo da neve, como a mamãe ensinou, e nem mesmo deixei algum canto para olhar.

Isso não é medo deles ou algo do tipo, apenas me escondi para sentir a vibração da corrida deles. Se estiverem perto ou longe, eu vou saber.

Nesse momento, juntando todo o Chi, que podia usar do meu corpo, comecei a canalizá-lo para fora. Usei no solo e anulei todas as vibrações que vinham da luta da minha mãe e dos coelhos.

Eu só preciso da vibração que vem do bosque, nada além disso.

O solo é formado de neve fofa que pode enganar qualquer um, então não posso confiar nos meus ouvidos, usar o Chi é a única opção.

O único problema é que toda vez que tenho que absorver Chi, é que ele trava alguns segundos na minha cabeça antes de ser integrado ao meu corpo. Essa trava desgraçada é mortal para mim nesse momento!

A quantidade de Chi que uso no solo é um gasto mínimo, mas ainda assim é um gasto. Nesse corpo com pouco Chi, qualquer perda, é uma grande perda.

Enquanto estava sentindo as vibrações do solo, senti as duas vibrações que estava esperando.

Cada uma dessas vibrações vinha de lados opostos no bosque.

Mas que porra! Todo bicho nessa merda de lugar é esperto?!

Um dos coelhos ficou parado na ponta direita do bosque.

Será que ele está esperando que alguma hora eu tenha que sair do bosque?

Com essa pergunta, a resposta foi imediata. O coelho do lado esquerdo passou a correr pelo bosque todo. Ele não apenas ficava na esquerda, ele corria em linha reta, de esquerda para direita.

Ele tá procurando em todos os lugares o meu paradeiro.

Até agora, ele não passou por mim…

Espera…

Por que parou?

Aconteceu algo que não estava nos planos. Após o coelho ter corrido meio bosque inteiro, parou repentinamente.

Só pude sentir que estava caminhando devagar.

Ele encontrou algo.

A única coisa que ouço, é meu coração batendo cada vez mais rápido.

Eu não sei o que esse desgraçado encontrou, mas só passa uma coisa na minha cabeça: os meus irmãos!

Preso nos meus pensamentos, dois grunhidos dolorosos cortaram minha linha de raciocínio. Não posso ficar mais aqui!

Eu vou matar vocês, coelhos desgraçados!

Rapidamente saí da neve e corri para onde o coelho estava, mas não vou ser imbecil de correr nessa neve que complica demais a corrida.

Escalei em uma árvore e passei a pular de galho em galho.

Quando me aproximei, pude ver o corpo da minha irmã laranjinha, jogada à cinco metros de distância do coelho, que estava com a perna sangrando.

Minha irmã está deitada no chão e sangrando.

Meus pelos se levantaram na mesma hora, tudo em meu campo de visão se tornou vermelho. Apenas duas coisas se destacavam. Dois pontos brancos brilhantes, o coelho e minha irmã.

Todos reflexos do meu corpo se afloraram, era a mesma sensação de iniciar uma luta de vida ou morte.

Tudo parecia lento, como se o tempo estivesse para parar, cada mínimo movimento dos músculos era captado pelos meus olhos.

O fluxo do tempo não se tornou mais lento, eu que me tornei mais rápido. Com essa visão aflorada, deu para ver que a minha irmãzinha ainda respirava, com dificuldade. Parece que o maldito quebrou alguns ossos dela.

Mesmo com dor e com ossos quebrados, eu via nos olhos dela, uma raiva sem igual. Tentando até se levantar, suportando toda dor que sentia.

Mesmo quando pega de surpresa, ela foi capaz de ferir ele. Só isso prova que não vai desistir.

Após ver tudo isso, não sei se foi por causa da minha raça ou família, mas toda aquela situação parecia ter mexido na coisa mais preciosa da minha vida.

Meu corpo respondia com mais ferocidade, mais ódio e mais fúria contra aquele coelho de merda.

Parecia que meu corpo estava gritando: Como você, uma criatura inferior, ousou tocar na minha irmã?!

Eu nunca fui alguém que se deixava levar por emoções de medo ou raiva. Houveram apenas dois momentos na minha vida anterior. Na morte da minha irmã e na luta contra Lei Chen.

Analisando tudo isso, concluo aqui, este meu corpo influencia meu estado mental muito mais forte que o meu corpo antigo, pois, agora, em quatro meses de vida, eu senti o verdadeiro medo... Medo da minha mãe, a qual eu entendi que nunca deveria provocar.

E IRA CONTRA ESSE COELHO DESGRAÇADO QUE TOCOU NA MINHA IRMÃ!

Não aguento mais olhar!

Como se o tempo estivesse em câmera lenta, saltei para o coelho, visando estraçalhar sua garganta com minhas presas.

Com meu bote e meus reflexos aguçados, o coelho não teve tempo para reagir e desviar. Assim que alcancei sua garganta, por trás, e a mordi. Porém, ele respondeu o mais rápido que podia.

Como estava nas suas costas, pulou de costas para uma árvore próxima. O poder das suas pernas era o suficiente para me esmagar naquela árvore se me mantivesse preso nele.

Me soltei das suas costas o mais rápido que pude.

Rolando pelo chão, e a inércia fez o trabalho restante para mim.

Ele atingiu a árvore, quebrando-a ao meio.

Mas, com sangue borbulhando da sua boca, ele se levantou de novo.

Sangue tingia seu pelo cinza. Ao menos, dava para ver que a ferida que causei era mortal. O coelho sequer conseguia soltar um som, sua garganta estava cheia de sangue.

Se eu prolongar essa luta, ele vai morrer de perda de sangue. Essa é a morte que você merece, seu filho da puta!

Ainda bem que essa criatura não faz o mesmo que os especialistas da minha vida passada. Não visou minha irmã ferida para me ameaçar. Essa criatura pode ser inteligente para emboscar, mas, agora, todo seu foco e fúria está centrado em mim.

De vez em quando, dava para ouvir rugidos e grunhidos do outro lado da colina. Minha mãe está demorando muito, será que o líder é tão problemático assim? Gostaria de saber o que está acontecendo lá!

As pernas do coelho se incharam, e os músculos pareciam rasgar a pele. Pelo visto, ele iria se lançar contra mim, e, dessa vez, sua velocidade seria incomparável com a de antes.

Meus reflexos e instintos diziam para desviar o mais rápido possível, mas caso fizesse isso, ele acertaria a parte traseira do meu corpo. Invés de desviar, eu só tenho uma opção.

Acabar com o desgraçado no meio da investida.

Ele viu que eu não iria desviar e investiu com tudo contra mim.

Vi se aproximando, era como se a velocidade dele fosse a de uma corrida normal, no caso, isso é extremamente rápido, já que meus reflexos fizeram tudo ficar lento.

Embora meu corpo fosse um pouco rápido, esses coelhos sempre foram mais velozes que eu. Nem sequer posso pensar em comparar nossas velocidades.

Durante a investida dele, vi que suas pernas, após incharem, se tornaram muito mais fracas, como se aquilo tivesse exigido muito do seu corpo. Parece que é uma Habilidade deles… Entretanto, isso também vai ser o motivo da sua morte.

Enquanto se aproximava de mim, naquela velocidade absurda, percebi que estava preparado para usar todo seu corpo para me quebrar inteiro, já que estava para morrer, pretendia me levar com ele. Heh… Isso me traz antigas lembranças.

Como já entendi o que planeja, só há uma coisa que posso falar para você, coelho imbecil.

Sabe o que vai acontecer se você tropeçar nessa velocidade?

Suas pernas foram feitas para serem fortes, mas o desgaste dessa Habilidade era absurdo e fez quase inúteis.

É hora de usar uma das leis básicas.

Meu único movimento foi de agachar e utilizar a parte mais dura do meu corpo como uma ‘pedra’ no meio do seu caminho.

Minha cabeça era a arma perfeita.

Assim que ele acertou com o pé na minha cabeça, seu corpo girou no meio do ar, e, com aquela velocidade, iria bater contra algumas árvores e morrer de vez...

É o que eu espero! Vai que esse desgraçado levanta de novo? Sério, vê se morre de uma vez!

Ele bateu de costas contra algumas árvores. Aposto que chegou a quebrar a coluna nessa investida.

Mesmo após o perigo ter passado, meus pelos não abaixaram, eu me mantinha imerso naquele sentido de tigre. Com a respiração pesada, caminhei lentamente para perto da minha irmã, para ver como estava.

Ela ainda estava acordada, acompanhando tudo com seus olhos ferozes, como se me dissesse que nunca desistiria.

Só posso me impressionar por tal determinação.

Concentrei um pouco de Chi na minha língua e lambi sua testa. Dessa maneira posso analisar todo seu corpo.

Huh… Pelo visto aquele coelho não apenas quebrou algumas costelas dela, mas também conseguiu arranhar com suas unhas a coxa dela…

Ela respirava com dificuldade, já que a dor de se manter acordada com tantas lesões era gigantesca. Entretanto, sua regeneração me surpreendeu ainda mais.

Apesar dos arranhões não tivessem chegado muito fundo na sua coxa, ainda assim essas feridas estavam sendo curadas em um nível muito rápido. Só pude acompanhar o processo com o Chi.

Porque olhando de perto os arranhões, podia se ver que nem sangrava e estava cicatrizando.

Isso é bem chocante, mas também é uma boa notícia para mim. Porra, se eu tiver uma regeneração igual a dela, não vou temer quase nada! Hehehe.

Merda, não posso perder tempo pensando nisso, ainda há um problema para lidar.

O outro coelho deve ter ouvido todo o barulho das árvores quebrando, fora o fato de ter muito sangue por aqui... Em breve, ele deve vir até aqui checar porque o companheiro não voltou.

Minha irmãzinha ainda está consciente, mas não pode andar sozinha… Vou precisar levá-la para algum lugar distante daqui, antes do outro coelho chegar.

Pegando minha irmã pela pele da nuca, comecei a puxá-la para longe dali. Ela nem sequer mostrou resistência, graças a Jeanne, deixou tudo mais fácil.

Comecei a espalhar o Chi novamente, para sentir as vibrações. O coelho ainda estava lá, mas dava para sentir batidas contínuas no chão, como se estivesse ansioso.

Como ainda estava preso naquele sentido de tigre, conseguia exercer uma força maior, fora a velocidade ter aumentado. Então, em 20 segundos eu já tinha levado a minha irmã longe dali.

E, nessa hora, o coelho cansou de esperar, acho que o cheiro de sangue no ar o fez vir tão rápido. Imediatamente escondi minha irmã dentro duma copa oca de uma árvore. Ainda bem que esse bosque é coberto de árvores, e boa parte delas morreram por causa do frio absurdo.

Por algum motivo, sinto que todas as árvores deste mundo são mais largas e altas que as do meu mundo anterior...

Eu ainda estou salpicado de sangue do outro coelho, então julgo que ele vai saber onde estou e vir atrás de mim.

Então para me livrar dele só há duas opções, achando um rio e me banhar nele, que não tem por aqui, ou enfrentando esse coelho. Porém, dessa vez não haverá opção de ataque furtivo como antes. Será uma luta de frente.

Devo investir primeiro contra ele, assim, o foco será colocado apenas em mim, fazendo-o nem imaginar que escondi a minha irmã em algum lugar.

Correndo para o local onde as vibrações vinham, encontrei um coelho cinza enrome, me encarando com ódio. Como é que essas porras de coelhos crescem tanto?!

Com meu sentido de tigre em seu ápice, os instintos afiados ao limite, sibilei e grunhi sem parar. Quando estamos ameaçados e com raiva, isso se torna natural, pelo jeito.

Mesmo meus reflexos tornando tudo mais lento, ele estava em sua melhor condição, diferente do outro coelho que estava com o pé na cova, após minha mordida na sua garganta.

Investi visando suas pernas — ou melhor, suas patas — preciso feri-las para ser capaz de fazer algo.

Todo ataque eu faço, tenho que juntar Chi ao redor do meu corpo, para me tornar ainda mais forte.

O coelho então viu que eu visava um dos seus pés, e, quando estava prestes a morder o seu pé, o desgraçado, com a outra perna me chutou com toda força, para o lado direito, me enviando direto para uma árvore.

Esse chute fez minhas costelas trincarem de leve. Agora entendo porque minha irmã teve as costelas quebradas, foi por causa desse chute desgraçado. Até mesmo meus ossos reforçados com Chi trincaram com isso... Imagine se não estivesse reforçando, eu teria pelo menos quebrado uma ou duas.

Entretanto, eu não serei parado por esse chute. Uma coisa que aprendi nas artes marciais com o Mestre foi: quando enfrentar alguém mais poderoso que você e não tiver como evitar esse combate, você terá que devolver tudo com ainda mais empenho e força.

Se perder um dente, arranque três do seu inimigo. Se um soco te atingir, atinja um ainda mais feroz e mortal. Você deve usar a dor como um meio de atingir uma força ainda maior!

Não se limite ao padrão, procure destruir seu inimigo de uma só vez.

Embora pareça incrível pensar assim, é muito difícil de fazer, já que toda vez que você é acertado, uma dor absurda no corpo iria permanecer no seu corpo, fazendo você quase desmaiar e desistir de continuar.

Meu corpo ao bater na árvore, despencou no chão.

Mas o desgraçado do coelho não me deu tempo nem para o monólogo!

Assim que cai após acertar a árvore, o filho da puta já veio saltando para cima de mim com o pé direcionado para minha cabeça.

TÁ PENSANDO QUE É UM CANGURU AGORA, SEU FILHO DA PUTA?!

Esse corpo pode ser forte e rápido, mas ainda é desajeitado para muitas coisas.

ESSE COELHO ME IRRITA DEMAIS! EU JURO QUE VI UM SORRISO NA HORA QUE ME ACERTOU AQUELE CHUTE! E, AGORA ELE QUER ME AMASSAR COM ESSE PISÃO!

Rolei para o lado na mesma hora, desviando por pouco do pisão dele. A neve foi espalhada para todos os lados. Aproveitei essa chance e saltei nele.

Até que enfim um acerto!

Tentei morder sua garganta, mas o filho de uma coelha colocou seu braço na frente! Foda-se, vai isso mesmo!

Pode não ser um ferimento fatal, mas ainda fará sangrar.

Em resposta a essa mordida, ele me acertou um soco no focinho. PORRA! ISSO DÓI PRA CARALHO! Agora sei como é difícil ser um animal!

Embora tudo isso pareça ser apenas uma briga, eu nem conseguia ferir direito, enquanto ele quase quebrava os meus ossos. Um pouco desiquilibrada essa briga, hein?!

 

 

Hah… Hah.. Hah…

Estou cansado e minha respiração está pesada. É difícil me manter em pé.

A única coisa que me sustenta agora é a raiva absurda que estou sentindo. Eu não sei como esse corpo pode sentir tanta raiva, mas toda hora que me acerta, mais meu corpo explode em fúria.

Meus reflexos afloraram ainda mais, a dor agora era ignorada, meus pelos estavam ainda mais levantados e meus grunhidos se tornaram ferozes.

O coelho hesitou em me atacar quando me encarou outra vez. Parecia que um medo instintivo foi ativado na mente desse arrombado.

Embora eu não sinta dor agora, meu corpo está mais lento e pesado.

Quanto maior minha fúria, mais próximo me sinto de algo. Algo como o nascimento de alguma coisa dentro de mim.

Algo que cresce devagar.

Toda vez que minha raiva e fúria aumentam, mais rápido esse algo crescia.

Nessa hora, me veio à mente, aquela coisa que minha mãe fez durante a luta contra os coelhos. Aquela chama que irradiou do seu corpo.

Se ela pode fazer, por que eu não?!

Quando pensei nisso, aquele sentimento de que algo crescia devagar dentro de mim, explodiu em minha mente, e um aviso apareceu.

 



Comentários