Destino Elementar Brasileira

Autor(a): Rose Kethen


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 3: Resultados da Caçada

Não tinha tempo para analisar na Janela de Habilidades e nem precisava! Eu sempre soube como ativá-la!

Com a vontade em mente, ativei o tal "Manto Amba". Nesse momento, atrás da minha cabeça, naquele ponto onde o Chi travava, começou a arder, e meu sangue começou a ferver. Senti minha circulação ficar anormalmente rápida!

O Chi que envolvia o meu corpo, para me proteger, retrocedeu, indo direto atrás da minha cabeça! Era como se eu tivesse perdido o controle e a energia começou a se mover por conta própria.

Então, assim que foi para trás da cabeça, voltou a se espalhar, mas, dessa vez, por fora do meu corpo, mais especificamente, estava vazando pela minha pele e pelos, como um gás. E, em seguida, senti a minha Mana ser ativada em conjunto. Meu pelo irradiou e chamas se levantaram!

CARALHO! EU TÔ PEGANDO FOGO! QUE FODA!

O calor não se compara ao da mamãe, mas ainda dava para ver a neve derretendo bem rápido ao redor.

Eu mal tinha ativado o Manto Amba e comecei a sentir pontadas no peito e dores de cabeça... Parece que não dá para ficar usando isso por muito tempo... Estou gastando muita Mana e Chi ao mesmo tempo.

Chega de perder tempo! Tenho que terminar isso antes das energias acabarem!

Firmei os pés nessa neve derretida e investi contra esse puto. A velocidade que alcancei foi incomparável a de antes de ativar o manto... Além disso, me mantive no sentido de tigre, o qual posso determinar as coisas vivas próximas.

E, para eu citar isso de última hora, claro que havia motivo!

Merda, tem três brilhos se aproximando! Não tem jeito, meu azar é grande demais.

Ainda faltava bons avanços até alcançar o coelho, que sabia muito bem o resultado de tocar na minha chama. Com certeza esse desgraçado esperto vai começar a evitar ou me atacar o mais rápido que puder, sem se comprometer muito.

Ele vai usar a Habilidade! Notei a micromudança nos músculos da perna desse filho da puta. O desgraçado quer acabar comigo no ataque mais forte dele. Acha que vai ser fácil assim?!

E por acaso sou idiota de querer saber se suporto esse ataque? Desde o momento que notei a expansão nos músculos dele, já estava preparado para desviar.

É hora de dar o bote! Por mais que meu avanço seja absurdamente rápido, deixei claro o meu alvo desde o inicio: seu pescoço. Óbvio que esse animal iria cair na minha finta desde o começo.

Quando cheguei na distância certa, fingi me preparar para saltar, e o retardado me atacou na mesma hora, com um chute tão forte que o vento chegou a cortar sobre a minha cabeça. Ele acreditou fielmente que eu saltaria para abocanhar aquela garganta dele. Eu ainda estava meio agachado. A intenção de ataque que transmiti não foi à toa.

Vamos ver agora! Não dei tempo para o filho da mãe e saltei para saborear de verdade essa garganta.

Mas, mais uma vez, os malditos reflexos instintivos se provaram velozes.

PORRA! DE NOVO ESSE FILHO DA PUTA COLOCA O BRAÇO NA FRENTE! QUE SEJA, ENTÃO! VAMOS VER SE AGUENTA DESSA VEZ!

Mordi com todo ódio o braço. O calor do meu manto o fez soltar grunhidos de dor, queimando seu querido pelo e pele. Meus dentes entraram na carne macia dele com facilidade... Com um um movimento preciso da cabeça, arranquei o braço fora.

Esse é o preço que você paga por socar meu focinho!

Com o peso do meu salto, nós dois caímos e rolamos neve afora. Rolei o suficiente para evitar de ficar próximo desse animal.

Merda... a chama está ficando fraca... só um braço e estou assim... Eu respirava pesado, com sangue escorrendo pela minha boca. A dor de cabeça estava insuportável. Meu Manto Amba pode aumentar muito o meu poder, mas está desgastando demais o meu corpo.

Não consigo manter os olhos abertos direito, até o sentido de tigre está me deixando... Nesse momento tão precioso, meu corpo está desistindo. Gastei energia demais nisso...

Eu mal ouvia o coelho gritar em agonia, com a neve sendo erguida. Espero que esse puto esteja aproveitando essa dor! Que bela obra de arte que você está me mostrando. Heh...

Mas... Hah... Como eu gostaria de ter vencido esse desgraçado... Mas parece impossível agora...

Com a visão embaçada, vi ele se erguer manchado de sangue e com ódio em seu rosto. Heh... Consigo adivinhar o que ele quer dizer apenas com a sua expressão. Parece que a minha morte vai ser bem dolorida.

Oh. Parece que os amigos dele chegaram. Mesmo não vendo nada direito, a visão no sentido de tigre ainda me entregou a localização daqueles três pontos brilhantes. Estavam escondidos em cima de algumas árvores próximas do coelho.

Uma segunda vida gasta... Prestes a ficar melancólico, lembrei quem era meu oponente dessa vez. POR CAUSA DE UM COELHO! UM PUTO DE UM COELHO ENORME! QUE PORRA DE MORTE É ESSA?! 

Nem aproveitei essa vida direito e tive uma morte tão ridícula.

Assim que o coelho controlou sua dor e ativou a sua Habilidade para acabar comigo, três sombras caíram sobre ele. Três silhuetas apareceram... duas brancas e uma negra.

AH NÃO! SÃO MEUS IRMÃOS! ELES VIERAM AO RESGATE, PORRA!

Meu irmão mostrou toda a crueldade que podia e a primeira coisa que mirou foi o rosto do coelho. Desceu com as suas garras para fora, por trás do desgraçado, rasgando seus olhos.

Pelo visto, não sou só eu que sinto ódio ao ver os membros da minha espécie sendo feridos por uma criaturinha de merda que nem esse coelho.

Com o peso do meu irmão em cima do coelho, caiu sem nem ver o que aconteceu. E nem vai ver mais nada mesmo! Então, minhas irmãs só acabaram com a desgraça dessa besta maldita, mordendo a garganta em conjunto.

O filho da puta morreu do jeito que merecia!

Eu caí semiconsciente na neve derretida, vendo eles se aproximarem de mim com suas bocas cobertas de sangue e começaram a me lamber.

Heh... Valeu pessoal... mas... não tenho mais forç...

 

 

Uh...? Por que meu rosto tá molhado...?

Ainda meio sem entender o que estava acontecendo, apenas vi a minha mãe me lamber uma última vez.

Ah... Entendi... Eu desmaiei...

Ela está coberta de sangue... Deve ser tudo dos coelhos... Assim que dei essa observada mais atenta, com os sentidos voltando ao normal, ela parou de me lamber na hora e começou a se limpar.

Mamãe... Tá com vergonha de lamber o seu filho?! Haha. Até parece.

Conforme voltava a sensação do resto do corpo, comecei a sentir muitas dores. Não devo sair tão cedo dessa toca. Já meus irmãos, estavam dormindo tranquilos mais fundo.

Ao menos parece que está tudo bem.

Claro, ignorando a surra que eu e a minha irmã sofremos.

Pude perceber alguns ferimentos na minha mãe. Uma pata estava esquisita, como se estivesse inchada... Será que quebrou? Bem, não deve ser um grande problema para a recuperação que temos. No fim, os coelhos não eram mais do que insetos para a mamãe.

Já que não tenho nada para fazer, além de olhar o horizonte já conhecido, vamos checar o meu crescimento atual.

 

 

OPA! AGORA SIM!

Parece que os Talentos influenciaram muito nesses quatro meses. O Atributo de Mana cresceu muito, e eu nem treino isso!

Agora sobre a força... Acredito que o crescimento se deve a minha raça, já que presenciei a minha força e a dos meus irmãos aumentando muito rápido. Mas somos muito desajeitados ainda... Será que a agilidade vai demorar para dar um avanço?

Fora isso, ao que parece, o resto teve um crescimento "normal".

Agora é hora da cereja do bolo!

Habilidades!

 

 

Usando a vontade para ver as Habilidades, que tiveram mudança, deu para perceber que as Habilidades Únicas não tiveram mudança, já que não apareceram.

Hum? "Predador"? Dúvida surgiu na minha mente. Não lembro de ter recebido aviso algum sobre isso...

Espera... Quando desenvolvi o Manto Amba... recebi algum aviso... Um som! Aquele som só soou duas vezes até hoje.

A primeira vez foi quando provei a carne daquele coelho de orelhas cinzas, que matei junto com o meu irmão, e a segunda vez foi quando desenvolvi o Manto Amba.

Parece que a charada foi respondida bem rápido. Concluo que essa Habilidade foi criada quando provei a carne do coelho, o que faz mais sentido aqui, já que ela não pode ter brotado do nada!

Bem, independentemente do que seja, essa Habilidade pode ser o meu trunfo nesse mundo.

O motivo é óbvio! ELA ME FAZ MAIS FORTE SÓ COMENDO! Quem diabos não adoraria ter essa Habilidade?!

Agora, sobre o "Manto Amba"... Ele varia de acordo com a cor dos Tigres Amba... Curioso...

Certo, é maravilhoso ter algum tipo de esperança por ser um tigre laranja em um território só de neve. Ter uma chama única significa que sou especial, né? Heh...

Mas o que instiga minha curiosidade são alguns fatores. Por exemplo, meu irmão vai causar muitos problemas por aí quando desenvolver essa Habilidade. Será que pode até me envenenar se ele estiver com vontade de brincar de lutinha?!

E como é que funciona o envenenamento dele? Isso é algo que preciso descobrir...

Além disso, será que é uma boa começar a levar as minhas irmãs branquinhas para passear por aí? Vai que eu me quebro de novo em uma luta e preciso de uma cura?!

É uma ótima ideia... Com isso em mente, fiz um lembrete para futuras ocasiões.

Preso nas hipóteses, fiquei pensando nas situações futuras.

 

 

 

– Continente Brytia, ano 1652 do Calendário Imperial –

Após as calamidades terem ocorrido, já havia se passado 4 meses. Todos os continentes ainda se lembravam delas como se fosse ontem e por muito tempo iriam lembrar.

Brytia, sendo o segundo maior continente de Saphir, embora tivesse passado por um evento sem precedentes, não sofreu nenhum estrago devastador, como os outros continentes. Como, por exemplo, Beskin que havia sido partido em quatro partes por um terremoto. 

O maior problema em Brytia foram as pessoas que estavam nas ruas e olharam para o céu. Todos ficaram cegos. Mais especificamente, aqueles que estavam admirando o céu foram cegados. Contudo, para a sorte dos governantes, não houve morte. Na verdade, no império Rotermund houve uma enorme comemoração!

No mesmo dia do evento dessa luz divina, o Príncipe Imperial, Arthur von Rotermund, havia nascido!

Apesar de Brytia seguir regências pelo imperialismo, assim como boa parte dos outros continentes, este continente não era regido sob um império, como em Rus'ka, mas por três impérios. Dividindo o continente em três supremacias.

Apelidado como o império abençoado, o Império Beauneveu, liderado pela Imperatriz Louise IV Beauneveu de Brytin, foi fundado sob a ideia matriarcal. Sua regente agiria como absoluta e possuía a máxima autoridade sobre o território.

Somente as filhas da Imperatriz teriam o direito de suceder ao trono, enquanto os filhos seriam entregues o direito de receber títulos e territórios como Reis ou Duques. A autoridade era tanta que só a Imperatriz teria o direito de escolher seu pretendente como representante, que agiria sob o título de Imperador.

Desde a formação deste império, nunca havia tido mudanças nas fundações de ideologia. Ou seja, sempre houvera uma Imperatriz para reger.

O império de Louise era tão querido pelo simples fato da regência da sua Imperatriz ser totalmente incomum. Desde abolir a escravidão e dar oportunidades aos plebeus em se tornar nobres. Para seu povo, era mais do que merecido se referir como "Terra das Oportunidades".

O segundo comandante de Brytia, o Império Rotermundo, também conhecido como "Lar dos Guerreiros", tem como Imperador, ou como autointitulado em seu território, Kaiser, Joseph von Rotermundo.

Um homem altivo — por nascer em uma família nobre — e bruto, mas com um coração gentil que era só voltado ao seu povo e terra.

Mesmo seguindo uma ideologia patriarcal e militar, conseguia demonstrar seu brilho através das batalhas.

Por mais que ainda admitisse a escravidão dentro de seu território, era dado um direito único a todos — e não importava se era escravo, filho de escravo, plebeus ou nobres. Todos tinham o direito de ser um Soldado do Império e alcançar títulos nobres, adquirir terras e recompensas inimagináveis. O que Joseph mais valorizava era a força de vontade.

Embora o Império Rotermundo tivesse o maior poder militar do continente, não sentia a necessidade de iniciar uma guerra contra os outros dois impérios vizinhos. Pelo contrário, Joseph tinha bons laços com eles.

E, obviamente, Joseph V von Rotermund era o pai de Arthur, que recebera o cativante título de "Guerreiro dos Três Sóis".

Enquanto, por último, o terceiro império, nomeado de Império Evan, era um domínio religioso, buscando a disseminação da palavra do seu único deus, Va'an, por todo o mundo.

Heresia em seu território seria correspondida com punições pesadas, como meio de ensino para os outros cidadãos.

Quem quer que nascesse no Império Evan estaria preso a sua ideologia.

Seu Imperador e, também intitulado "Papa", era Robert Evan. Era de conhecimento comum que todos os Papas tinham sobrenome Evan, por mais que não tivessem uma gota de sangue familiar correndo em seus corpos.

A sucessão de um novo Imperador era realizado pela Igreja Evan, que era a verdadeira governante desse território.

Após a calamidade em Brytia, o Império Evan mostrou repentino interesse na criança abençoada, Arthur von Rotermund, que nasceu no mesmo dia da luz divina descer.

Não só isso, mas em poucos dias após o seu nascimento, três Fadas da Luz vieram cuidá-lo e protegê-lo. Não havia dúvida que esse menino de cabelo loiro e olhos azuis era agraciado pelas Criaturas da Luz.

Sem perder tempo, todos continentes — com exceção de Beskin, Zazir e Enir — estavam enviando seus espiões infiltrarem nos outros continentes, para descobrir quem eram os "Números" de cada continente.

Nesse momento, apenas Brytia e Rus'ka foram os menos afetados pelas calamidades, tanto que, após tais eventos, os dois continentes começaram a desenvolver as suas forças para a futura guerra declarada.

Em apenas 15 anos, uma Primeira Guerra Mundial se iniciaria em Saphir.

E, durante esse show de intrigas, aquele que mais sofreu, Beskin, estava sendo bombardeado por inúmeras guerras civis.

 

 

Certo, já faz meio ano que estou no corpo de um tigre. Desde aquele incidente da caça, a mamãe tem nos levado em caças e lutas com maior frequência. Sempre que algo saía de errado, ela nos tiraria de lá o mais rápido que pudesse.

Óbvio que eu não tenho só isso de novidade para contar! Como já disse antes, nós, Tigres Amba, crescemos muito rápido. E isso se deve a nossa raça ser especial.

Curioso para saber, não é?

Vou na ordem dos acontecimentos...

Quando pude comer uma Besta Mágica... Ah! Esqueci de falar que essas criaturas se chamam Bestas Mágicas, e aquela pedrinha que temos no nosso corpo se chama Gema de Energia.

Voltando... quando comi uma Besta Mágica e sua Gema de Energia, me foi explicado por um aviso — sim, que nem aquele do Manto Amba — o que são Gemas de Energia, e não apenas o que são! O aviso também dizia uma "Classificação" e o nome da Besta Mágica que comi!

Quando finalmente engoli a Gema de Energia de um dos coelhos malditos, esse aviso apareceu:

 

 

Pois é, esses coelhos são conhecidos como "Coelhos Ankis", e os de orelha cinza são os jovens. Eu não tive a chance de comer o Ankis negro, que nem aquele que a mamãe matou, mas acho que posso considerar ele como adulto... Bem, tanto faz.

Sobre essa "Classificação", já tenho ideia, desde que vi nas Habilidades algo assim. Então, acho que essas coisas funcionam que nem nos jogos? De acordo com o que sei, o SSS seria o tipo... "supremo" e o F seria o "lixo"?

Se for isso... Por Jeanne! Eu sou muito fraco! Como pude apanhar para um lixo assim?!

Agora, sobre essa parte de "Atributos Gerais aumentaram minimamente"... Só tenho uma coisa para dizer sobre: NÃO AUMENTOU NADA!

Sério, é triste só de pensar, mas talvez tenha sido um aumento de 0,0001%! QUEM SABE ATÉ MENOS! Não! Eu não estou triste por isso! Sério!

Que seja. Vamos falar de algo surpreendente e assustador!

Finalmente descobri o motivo de, quando absorvo o Chi, ele acaba travando algum tempo atrás da minha cabeça. É simples. Porque eu sou uma Besta Mágica, então, logicamente, também tenho uma Gema de Energia!

Sim! A minha Gema fica na minha cabeça! No caso, na parte de trás. Ao menos é o que eu acredito... Não tem como eu ter certeza, já que só posso supor isso.

Quando analisei todo o meu corpo num rio — um dos poucos que não estava congelado — percebi que não havia nenhuma "pedrinha" que meus irmãos ou qualquer outra Besta Mágica tinha. Logo, só podia estar nas minhas costas ou atrás da cabeça. 

É impossível eu não ter. O único indício de onde estava era esse ponto, afinal, pelo que pude entender, com o que entendi das Classificações, as Gemas de Energia são catalizadores de energia circundante, então o único lugar que absorvo energia fica ali.

Claro, isso tudo não passa de suposições. Pode ser que a minha gema fique dentro do meu corpo e não fora... Aí tudo o que supus seria idiotice.

Agora, voltando para como entendi as Classificações. Primeiro de tudo, como é que eu sei que elas sobem e que há outras Classificações?

Simples, por lógica. Se eu absorvo Chi pela minha Gema de Energia, então significa ela foi feita para catalizar a energia, e, quanto mais eu absorver, maior será a Classificação que alcançarei. Mas só posso afirmar com toda certeza caso a minha suba... Haha...

Entretanto! Ainda há outro indicador de que estou certo. Uma vez a minha mãe trouxe um Coelho Ankis jovem. E, diferente do anterior que comi, a Classificação que o aviso me mostrou era de (E-), ou seja, ele absorveu mais energia que aquele outro.

Assim, entendo que a Classificação mais baixa é (F-) e vai subindo. Então o primeiro coelho que comi era quase um (E-), já que estava em (F+).

Mas segura firme aí, porque ainda tem mais e a descoberta assustadora está por vir!

O Talento Mágico, pelo visto, é a quantidade e a qualidade de Mana que absorvo conscientemente ou inconscientemente... 

Começando pela absorção inconsciente, vou usar o Chi como exemplo.

Se eu gastasse mais da metade do meu Chi e não tivesse tempo para absorver mais, o meu corpo começaria a absorver de forma inconsciente o Chi circundante. Esse meio é extremamente lerdo, mas sempre está ativo. Afinal, a energia nunca para de ser atraída para o nosso corpo.

Já a absorção consciente é o ato de puxar a energia com a vontade própria. A velocidade desse tipo de absorção é muito mais rápida, mas exige concentração e calma.

Normalmente, a absorção consciente pode ser usada por todos lugares do corpo. Mas, no meu caso, o Chi vai automaticamente para a minha Gema de Energia, mas a Mana consegue adentrar meu corpo, de maneira consciente ou inconsciente.

Naquele dia que tentei absorver Mana de forma consciente, acabei forçando ela para dentro do meu corpo, adentrando na minha circulação. E, como resultado, o idiota aqui quase morreu do coração!

Eu concluo que há dois fatores importantíssimos que devo sempre ter em mente.

Primeiro, a Gema de Energia, como eu falei, é um catalizador ou receptor de energia. Tudo o que entrar por ela acaba indo para o meu corpo da maneira mais pura.

Segundo, a Mana é uma energia instável que, ao ser forçada conscientemente a entrar no corpo, pode causar um efeito de rebote na circulação sanguínea. O que explicaria aquela dor no coração que senti quando tentei abosrver por todo o meu corpo.

Então, com isso em mente, coloquei em teste a mistura dos dois fatores. Tentei absosrver a Mana conscientemente, mas invés de tentar usar o corpo inteiro para canalizá-la, precisava levá-la até minha Gema de Energia, para ver se iria purificar e estabilizar essa energia maluca.

No fim, foi um sucesso. Foi como pensava. A Gema de Energia era um receptor para ambas energias. E, pelo visto, só posso usar a canalização consciente se encaminhar para a minha Gema de Energia, senão vou morrer de ataque cardíaco.

Devo agradecer muito ao Mestre... Sem os ensinamentos e estudos sobre energias, dificilmente encontraria essas soluções. Na verdade, acho que eu já estaria morto a essa altura.

Atualmente, a Mana que entra nos meus poros de maneira inconsciente é bem mais tranquila e menos instável que antigamente. Talvez seja por causa do meu compreendimento novo da energia ou que meu corpo ficou mais "acolhedor" às propriedades dessa energia.

Finalmente é hora de falar da parte chocante...

Há uns dias, enquanto absorvia as energias conscientemente de cada vez — nunca as duas ao mesmo tempo — me veio a ideia de tentar absorver as duas ao mesmo tempo...

Não que fosse uma ideia nova, mas desde que tomei uma pontada no coração por causa da Mana, evitei qualquer tentativa muito arriscada.

Enfim, com o novo entendimento das energias desse mundo, achei que era uma boa ideia absorver as duas... Mas, quando testei... algo estranho e bizarro aconteceu...

Como já mostrei, com o Chi podemos analisar o interior de um corpo — não que eu seja capaz de ver as cores e tal — como um biosonar de um morcego ou visão de raio x. Tudo o que preciso para usar isso, é estar em contato com a criatura ou objeto. Assim como foi com a ferida da minha irmã quando foi atacada pelo Coelho Ankis...

Mas não é por isso que tô explciando tudo isso!

Seguinte, no dia que absorvi a Mana e o Chi ao mesmo tempo, a minha gema começou a arder demais! E, nessa hora, senti algo acontecendo no meu coração e cérebro! Foi uma sensação horripilante! Estranha demais!!!

Quando parou de arder e a sensação estranha sumiu, fui analisar — com muito receio — o que houve, já que meu corpo parecia estar mais disposto do nada!

E, ao analisar... SÉRIO! EU JURO! O MEU CORAÇÃO E CÉREBRO TINHAM CRISTALIZADO!

Ok, que não é tão assustador quanto tô dizendo, mas em algum canto desses órgãos tinha uma "casquinha" cristalizada. Não é nada grande, na verdade, era bem pequena, mas ainda ESTAVA CRISTALIZADO, CARALHO! Eu não tenho ideia do que é. Nunca ouvi falar sobre isso!

Eu não sei porque eles foram os únicos a serem cristalizados... Talvez seja porque meu cérebro está alojando o Chi do meu corpo, enquanto o coração é onde fica concentrada a Mana. Não consigo pensar em mais nada além disso.

A única diferença que pude perceber é que a cristalização do meu cérebro foi maior que a do coração. Não que fosse muito, porque é quase imperceptível.

Certo, já estou cheio de teorias e hipóteses! Se eu ficar apenas imaginando, não vou chegar a lugar algum.

 

 

– Continente Enir –

Este poderia ser o único continente que não sofrera com uma calamidade, mas continuava sendo o mais misterioso de todos. Os poucos ousaram se aventurar na rota de Enir jamais voltaram para contar história.

Porém, existia um certo tipo de "sociedade" que vivia nas bordas desse continente, onde as bestas eram moderadamente menos perigosas. Em verdade, o uso de "sociedade" estaria errôneo, mas que eram "comunidades", definidas por pequenas aldeias de diferentes raças distribuidas por Enir.

A Aldeia dos Anões Trovejantes, a Aldeia dos Elfos Prateados, a Aldeia dos Demônios Negros e a Aldeia dos Homens-Fera do Clã Leão.

Agraciados pela Mãe Natureza, os Elfos Prateados poderiam ser definidos como a raça superior aos Elfos que comumente eram vistos em Alran. Desde seus cabelos prateados, que definia o nome da raça, até seus olhos dourados.

Havia especulações dos motivos dos Elfos terem tantas variações de subraças e seus cabelos e pele diferindo, como a Afinidade com os Elementos ou um certo castigo vindo de um deus. Somente os próprios Elfos saberiam da resposta.

Existia até mesmo um conto de um Elfo com cabelo branco desde seu nascimento, totalmente diferente de qualquer outro nascido, chamado de Elfo Branco. 

Muitos poucos sabiam dos motivos dos Elfos Prateados, assim como as outras Aldeias, estarem em Enir. Mas uma coisa era certa... essas quatro comunidades eram definidas pelas raças mais fortes já vistas em Saphir.

Nesse aterrorizante continente, não havia como fracos se manterem, muito menos chegarem até lá. Uma terra de caos e constante guerra contra hordas de Bestas Mágicas.

Na Aldeia dos Elfos Prateados, uma comoção estava ocorrendo. Nela, podia-se ver um Elfo Prateado sobre uma plataforma rústica, que o elevava um metro acima dos outros.

Diante de todo o alvoroço e barulho, ao apenas levantar as suas mãos, todos calaram-se, surpreendentemente.

— Por que tanta gritaria? O que está acontecendo? — perguntou, olhando para todos.

Um homem começou a passar pela multidão apertada, mas, assim que foi notado, todos deram espaço para se aproximar da plataforma.

Ele olhou para cima e respondeu: — Líder Sha'l, o meu aprendiz voltou da viagem do recolhimento da informação com as outras Aldeias, como de costume. Quando chegou nos Demônios negros, informaram que viesse imediatamente para cá e avisasse a todos nós... — Sua garganta estava seca de nervosismo, então demorou para terminar a sentença.

O Líder Sha'l o questionou mais seriamente: — Rakar, o que foi informado?! — Suas mãos começaram a suar.

— O Interior de Enir está demonstrando perturbações... As Bestas Mágicas estão ficando mais violentas e ativas... Eles deixaram claro que... — Ele precisou engolir outra vez, de tão seca que estava sua garganta. — Pode haver outra horda de Bestas Mágicas de Classificação (B+)... Ou maior.

Rakar era o sentinela da aldeia e um amigo próximo de Sha'l, então sabia quanto peso essa informação tinha, principalmente pelo passado que tiveram em Enir. Nada era mais urgente, mas estava preocupado com o seu amigo ao receber essa notícia.

Vendo o corpo de Sha'l tremer e ficar quieto, lembrando do passado recente, ele queria adicionar algumas coisas, porém foi interrompido pela voz rouca de tensão.

— Se os Demônios Negros falaram isso... Não tem erros. Rakar, suba e preste atenção no que falarei.

Sem demora, Rakar assentiu e ajeitou o seu semblante ao subir na plataforma e encarar todos os irmãos da aldeia.

Sha'l pigarreou, para aliviar a garganta e corrigir o tom de sua voz, e começou a falar para os outros Elfos Prateados: — Estarei levando cinquenta jovens e vinte dos antigos guerreiros da aldeia. É nosso dever observar a situação verdadeira e relatar às outras aldeias. Mesmo que pertubações não signifiquem a vinda de hordas, Enir sempre tem vontade e objetivos.

Todos começaram a falar alto uns com os outros. Decidindo quem participaria e quem não. Havia medo e preocupação nos olhos de muitos.

Rakar viu que Sha'l havia se decidido rapidamente, como um verdadeiro líder, entretanto sabia o quanto estava desconsiderando. O perigo poderia estar em uma escala sem precedentes. E ele era o único que poderia lembrá-lo de suas responsabilidades como líder e pai.

Assim que estava indo interromper Sha'l, este último tomou a iniciativa e interrompeu primeiro, aproximando e falando baixo para Rakar: — Eu sei o que pretende dizer, velho amigo. A'ela está prestes a fazer quatro anos e tenho que realizar o Ritual do Vínculo para ela... Você, melhor que qualquer outro, sabe o quanto a amo e entende o verdadeiro motivo de eu ter decidido tão rápido. 

De fato, o motivo era proteger o mais rápido que podia a sua aldeia e, principalmente, a sua filha. Porém, Rakar parecia ver por trás dessa intenção virtuosa que seu amigo tinha.

— Líder Sha'l, exatamente por sermos velhos amigos e companheiros de batalha que o conheço melhor que todos desta aldeia! — exclamou, cerrando os seus dentes. — Não use meias verdades comigo. Você não pode usar isso como motivo para ir às Terras Gélidas por vingança por três anos atrás! Já perdemos demais... Se levar tantas pessoas nessa batalha de ódio, você será mais perigoso do que essa possível horda.

Sha'l olhou com raiva para os olhos de Rakar. A sua última afirmação era uma afronta a sua autoridade. Por mais que tentasse se manter firme na atual situação, tal afirmação vinda de um amigo mexeu muito mais do que a urgência e perigo.

— Eu sou o líder da aldeia, Rakar! Você não tem o direito de opinar coisas que só existem na sua cabeça. Se a vingança fosse o motivo principal de eu mobilizar quase metade da nossa aldeia, eu teria feito há muito tempo antes, quando ainda podíamos revidar! — A irritação era mais clara conforme falava do passado e sobre a vingança. — Como sentinela, você deveria saber muito bem sobre a ameça de não levar um grande time para atravessar as Terras Gélidas.

Rakar olhou no fundo dos olhos de Sha'l, que pareciam arder em raiva, e afirmou: — Amigo... Ouvirei desta vez porque é o líder da aldeia.

Vendo a insatisfação e ceticismo de seu amigo, Sha'l sabia que não estava se portando como deveria. Suspirou pesado e falou com o tom adequado: — Não se preocupe, Rakar. Estarei levando os antigos guerreiros para que os jovens possam crescer com os melhores.

Cerrando os punhos, o sentinela, ainda cético, falou: — Então, por favor, ao menos ouça o pedido desse sentinela, líder. Contate as outras Aldeias para levar um grupo maior de pessoas. Não podemos permitir que percamos nenhum outro para aqueles malditos tigres!

Sha'l apertou as sobrancelhas, avaliando a situação e o pedido.

— Se perdemos você, sabe que aqueles egoístas tentarão tomar o lugar, e a A'ela mal tem quatro anos... Não tem como tomar a posição. Talvez... até ocorra um assass... — Rakar tentou continuar, para convencê-lo do perigo, porém foi interrompido pela mão de Sha'l.

— A aldeia não perderá o seu líder e nada acontecerá com a A'ela, Rakar — declarou em tom pesado. — Deixarei você encarregado de cuidá-la, entendido? Você é o único que ela confia, e que eu confio também.

Ouvindo as palavras de confiança e seriedade de Sha'l, Rakar só conseguia abaixar a cabeça e assentir. Ele já sabia que estaria incumbido de cuidar da filha de Sha'l depois que fosse a caminho das Terras Gélidas. Uma responsabilidade gigantesca pesava sobre os seus ombros agora.

Sha'l bateu no ombro de Rakar e voltou para a multidão que movimentava de um lado para o outro, tentando organizar o time que Sha'l havia definido.

— Não há tempo para perder! — Sha'l anunciou em voz alta para todos. — Essa horda deve ser confirmada o mais rápido possível. Quanto mais tempo perdemos sem organização, maior e mais perigosa essa batalha vai se tornar! Sabemos muito bem que os Demônios Negros não dão informações falsas, mas a situação é vaga e precisamos confirmar a verdadeira situação, senão as outras aldeias não se moverão.

Quando todos ouviram as palavras do seu líder, sentiram o medo e ansiedade diminuir. Agora sentiam seus espíritos animarem e anseavam pelas futuras palavras de Sha'l.

Rakar era o único que estava quieto em seus pensamentos. Analisava qualquer reação de seu amigo, suportando quieto sobre as coisas que queria falar. Porém, no fim, ele apoiou a decisão de Sha'l.

— Somos os olhos da Aliança Último Escudo, irmãos! Esta é a missão dos Elfos Prateados. Somos a primeira defesa! Se o mal ruma em nossa direção, somos aqueles que apontam a espada e erguem o escudo! — Fazendo o seu discurso, Sha'l viu a aldeia reverberar em animação e decisão.

Ele desceu da plataforma junto de Rakar e caminharam entre a multidão.

— Irmãos e irmãs, é meu dever estar junto de vocês neste campo de batalha. A natureza é cruel para todos, mas é ela quem nos cuida! Iremos para o Interior de Enir! — Finalizou seu discurso no meio de todos.

Rakar, que seguia perto, viu o sorriso orgulho e, aparentemente, sem medo de Sha'l. Resignado, só podia suspirar e sorrir junto. Sabia que o seu amigo sabia o peso das escolhas que tomava, mas nunca deixava de se preocupar excessivamente por ele.

Mesmo ele, com pensamentos negativos, não conseguiu não ficar animado com o discurso de Sha'l. Seu sangue bombeava forte, lembrando das velhas batalhas, afinal, também era um dos antigos guerreiros.

Sha'l olhou mais uma vez para Rakar e disse sério: — Velho amigo, vou proteger toda a nossa família. Esse é o meu dever.

Sem dizer nada, Rakar bateu em seu ombro direito com a mão fechada, ajoelhando-se em uma perna. O ato mais antigo de respeito na raça Élfica para um superior.

— Proteja a minha filha, Rakar. No Ritual do Vínculo, não saia do lado dela... — Sha'l começou a dar as suas últimas instruções. — Enir é grande. Acompanhado de jovens inexperientes, a viagem se tornará mais lenta. Você já sabe onde quero chegar.

Rakar assentiu. Entendeu que seu líder levaria muitos meses para voltar. E mesmo que confirmasse que a pertubação era uma horda, só enviaria um mensageiro de volta para alertar as aldeias.

Com um olhar reflexivo, disse: — Obrigado por me acompanhar por tantos anos, Rakar. Cuide bem da A'ela e a ensine as Magias... Caso eu não volte... amigo... 

Nessa hora, Rakar o interrompeu, só de ouvir a melancolia que estava surgindo no tom de voz de Sha'l, ele já sabia o que queria dizer. — Não vá chorar na frente de toda a aldeia. Você é o nosso líder, Sha'l. Mesmo que encontre uma situação onde duvida de si mesmo, você nunca deve expressar isso na frente dos outros. Você deve ser o primeiro a tomar decisão e ser o último a estar incerto do futuro, amigo. E não se preocupe, não sairei do lado da A'ela.

Sha'l, ouvindo o apoio de seu amigo, lembrou de sua responsabilidade e ordenou: — Deixe preparado os mensageiros para cada aldeia. Se eu não enviar um mensageiro dentro de um ano, haverá uma guerra contra as Bestas Mágicas.



Comentários