Volume 7.5

Capítulo 139: A trovadora (Parte 8)

— Do que você está falando, Emilio?

Cleo sentou-se no beco estreito, olhando o jovem diante de seus olhos.

Seu guarda, um jovem e poderoso cavaleiro do Reino de Celestia, estava segurando a espada na mão direita. Da ponta, o sangue da criada, a cuidadora pessoal de Cleo, que ele matou, caía gota a gota.

Cleo não podia ouvir o clamor distante.

A criada em que ela acreditou, que ela conhecia há tantos anos, a desprezara por todo esse tempo.

O cavaleiro em que ela acreditava apresentou a mão para ela.

— Cleo, isso é o suficiente. Não há mais necessidade de você se tornar um sacrifício. Vamos fugir daqui. Os preparativos já estão em ordem.

Emilio se aproximou devagar, estendendo a mão esquerda. Cleo moveu os olhos entre aquela mão e o rosto dele.

— Do que você está falando, Emilio? Se eu não participar da cerimônia amanhã, o país será...

Em sua consternação, Cleo não conseguiu processar a situação de forma apropriada. Isso se deveu em grande parte à traição da criada que ela considerava uma amiga, que lhe contaria tudo sobre a cidade do castelo e a vida dos plebeus. Mas, acima disso, ela não podia acreditar em Emilio quando ele lhe disse para fugir da cerimônia.

... ela viveu sua vida para o ritual de amanhã...

Para Cleo, esse era o significado de sua existência. Mesmo que soubesse que ia morrer, se fosse pelo bem do país... ela pensou. Não, ela foi ensinada.

Mas ela achou a mão esquerda estendida cativante.

"Se eu seguir Emilio, serei salva?"

Para ela, isso era o que poderia ser chamado de tentação do diabo. Ninguém nunca desejaria morrer de verdade. E até o ataque dos bonecos, Cleo havia passado um tempo feliz. Isso apenas ampliou seu desejo de viver.

"Eu quero viver. Porém…"

Cleo afastou a mão esquerda de Emilio com a sua direita.

Olhando para ele enquanto o cavaleiro arregalava os olhos, Cleo falou:

— Desista. Este corpo está prometido a Celestia. Seguir você é algo... que eu não posso fazer.

Ela estava muito confusa, mas, mal conseguiu se conter sem perder para a tentação. Raiva, ou talvez irritação, ela não sabia o que esperar de Emilio, mas o homem apenas ficou com uma cara triste e sorriu.

— Entendo. Você ficou forte, Cleo. Mas eu tenho minha própria obstinação.

Emilio estendeu a mão esquerda para segurá-la com força pelo braço. Mas no instante seguinte, ele virou as costas para Cleo, assumindo uma postura com o sabre.

Nas profundezas do beco, antes que ela percebesse, havia três pessoas de túnicas. Cleo não tinha sentido a menor sugestão da abordagem do grupo.

Um homem encapuzado, que estava apenas um passo à frente dos três, deixou sua voz confusa ecoar pelo espaço. Aquela voz, um tanto baixa, era uma que ela não podia acreditar pertencer a um humano. Não era um som de vida. Ela continha algo mecânico, inorgânico.

Mas aquela voz conseguia conter algumas emoções que Cleo não conseguia reconhecer.

— Isso é diferente do que combinamos. Você não ia entregar a princesa para nós? Este não é o ponto de entrega, traidor de Celestia.

O homem que declarou que Emílio era um traidor tirou uma espada farpada de debaixo do manto. Ele tirou duas. Aquelas duas lâminas espinhosas emitiam uma tonalidade roxa no beco escuro. Como a espada nas mãos de Emilio, elas nem emitiram um brilho reflexivo.

— … eu perdi meu caminho. Houve um ligeiro erro da minha parte.

Ainda preparando o sabre, Emilio não baixou a guarda. Ele estava dizendo coisas completamente diferentes de antes. Cleo pensou, mas ela percebeu que a voz dele estava nervosa.

— Mas-mas o que poderia...

Com a voz de Cleo ecoando, os homens de ambos os lados da pessoa com lâminas duplas entraram em ação. Rapidamente, como se estivessem correndo pela parede, eles saltaram em direção a Cleo.

— Seus imperiais desgraçados!

Dando uma declaração como se ele estivesse trabalhando com eles, Emilio balançou a lâmina contra os dois. Mas um deles deteve a espada do cavaleiro. E o outro foi em direção a Cleo sem a menor hesitação.

— Fuja, Cleo!

Emilio preocupou-se com a segurança dela, mas a garota em questão não podia nem se manter de onde estava.

— Ah…

Do capuz da túnica, ela olhou para o rosto de seu agressor. Ele usava uma máscara com algo redondo como uma lente presa. Ela brilhava como olhos vermelhos, e na escuridão do beco, isso parecia muito sinistro.

A mão que se estendeu, ao contrário da de Emílio, estava revestida como se estivesse envolta em borracha. Aquela mão que cheirava um pouco de óleo se estendeu na direção de Cleo.

Porém…

— Isso é o mais longe que você vai chegar.

... uma rajada de vento atravessou o beco dos fundos.


Bem na hora.

Correndo pelos complexos becos parecidos com labirintos, Rudel ficou aliviado ao descobrir que tinha chegado a tempo. Movimento de alta velocidade em um local que ele não conhecia tomou mais concentração do que ele imaginou, e ele não foi capaz de perseguir Cleo tão bem quanto esperava.

Colocando-se na frente dela no momento em que ele a viu, Rudel balançou sua espada.

Cortando o braço se esticando na direção da princesa, ele entrou no espaço entre ela e o homem suspeito. Ele imediatamente chutou a figura encapuzada, mas sentiu que algo estava errado.

"Óleo? E a sensação que eu tive daquele chute foi bizarra."

Ele com certeza arrancou um braço, mas o coto não estava sangrando. Em troca, um líquido, presumivelmente óleo, pingava um pouco. No corte também, o dragoon não teve a sensação de que estava cortando carne.

— Rudel-dono.

Cleo gritou, mas Rudel não se voltou para ela. Tomando uma posição com sua espada, ele falou:

— Por favor, fique atrás de mim. Parece que este é um grupo perigoso.

O homem que ele chutou para longe se inclinou. Da mão direita decepada, como ele pensou, não sangue, mas óleo escorria pelo chão.

O homem encapuzado com as espadas farpadas, que devia ser o líder, soltou uma risada nublada e mecânica.

— Kukuku, eu nunca pensei que encontraria um figurão tão importante aqui. É um prazer, Dragoon... não, Rudel Asses-kun.

Rudel se manteve em guarda enquanto ficava atento para ouvir.

— Parece que você sabe sobre mim. É uma honra para alguém de terras distantes... não, do Império, saber meu nome.

No espaço dessa conversa leve, Emilio se separou do inimigo, não parecia mais que os dois lados recuariam. O homem diante dos olhos de Rudel também recuou enquanto voltava para seus camaradas. Com seus movimentos, Rudel notou a identidade de seu sentimento de estranhamento.

"Os soldados-máquina do império?"

Soldados-máquina... soldados do império que compensavam seus membros perdidos com metal animado. Ele sabia que eles se moviam por meio de magia, mas era uma tecnologia não encontrada no reino. Por sua estranheza, eram muitas vezes segregados e ficavam encarregados do trabalho sujo do Império, o garoto ouviu isso na academia.

— Entendo, então há alguns olhos em mim.

Com as palavras de Rudel, o líder respondeu:

— Você é modesto demais. Sua existência é muito radiante para nós. Tão radiante que devemos invejar, e detestar algo que jamais podemos perdoar. Em especial, porque foi um dragoon que tirou meus braços e pernas.

Então ele era um soldado-máquina que perdeu seus membros em combate com um dragoon. Não havia dúvida de que o que estava sob suas vestes havia sido deixado em um estado terrível.

— Adotamos uma política de defesa de não agressão. Vocês são os que invadiram de forma unilateral.

O reino de Courtois residia em terras férteis e ricas. Não havia mérito em marchar sobre o Império. Mas o Império havia sido pressionado a uma circunstância em que eles precisavam invadir, mesmo que estivessem enfrentando dragoons.

— Quão jovem. Sua juventude também é invejável.

Sob o capuz, três pontos vermelhos emitiam uma luz fraca. Rudel levantou-se e tomou uma posição para proteger Cleo dos quatro. O grupo encapuzado à sua frente... e Emilio.

Emilio levou seus três soldados na direção errada para que ele pudesse fugir para os becos sozinho com Cleo. Essa foi a principal razão da cautela de Rudel. Suas ações finais deixaram isso ainda mais evidente.

O dragoon viu o cavaleiro como um inimigo. Emilio também parecia entender que, por estar imprensado entre Rudel e os homens encapuzados, ele não podia se mover com liberdade pelo beco estreito.

— Justo quando cheguei tão longe...

Com pesar... seu rosto formou uma careta quando seus olhos dispararam entre Rudel e os homens encapuzados.

— Kukuku, que cavaleiro mal preparado é você. Isso fala muito sobre a natureza de Celestia. E pensar que esse homem seria um dos cavaleiros que representam a nação... muito bem, retomemos nosso trabalho. Fizemos um excelente trabalho ganhando tempo.

Enquanto ele dizia isso, dois homens de túnica saltaram dos fundos dos edifícios que cercavam o espaço.

Quando Rudel agarrou Cleo sob o braço esquerdo e pulou para trás, ele estreitou os olhos enquanto olhava para a situação.

— Eles conseguiram esconder tantos?

Apenas com uma verificação rápida, ele podia sentir dez presenças por perto. Havia um problema com a segurança de Celestia, ou esses caras eram apenas bons em seus trabalhos... talvez fosse as duas opções.

— Você é muito descuidado. Quando o inimigo começa a falar, é melhor pensar que eles estão tentando ganhar tempo... é claro, você não tinha muitas opções à disposição. Um dragoon sem um dragão é apenas um cavaleiro normal. Matem-nos.

Perdendo o interesse, o homem de três olhos deu ordens a seus homens em uma voz sem emoção. Mas Rudel riu um pouco.

— Suas palavras me deixam doente.

Com essas palavras, ele se agachou com Cleo ainda debaixo do braço. Três flechas passaram sobre sua cabeça, o homem de três olhos usou as espadas nas duas mãos para bloqueá-las.

Era Millia.

Asas de magia se espalhavam de suas costas. Ela assumiu a posição de arqueira e, com sua flecha seguinte, um homem encapuzado com uma besta caiu do telhado.

— Rudel, você correu muito à frente!

― Me desculpe. Mas esse momento não foi ruim, Millia.

Para Rudel, esses não eram números com os quais ele não conseguiria lidar. Mas, com Cleo tão perto, ele não poderia mostrar toda sua força. Com a chegada da elfa, o dragoon tinha certeza de que o fator de risco por trás da luta havia diminuído.

— Cleo!

Emilio gritou enquanto lidava com o subordinado do homem de três olhos vindo em sua direção. Bloqueando a espada de seu oponente, ele usou a mão esquerda para sacar uma faca do bolso do peito e dar um golpe. Talvez seu oponente fosse parte da elite, pois ele saltou para trás para se esquivar.

Mas o sangue jorrou da máscara que o homem encapuzado usava para respirar enquanto caía. Vendo isso, o homem de três olhos estalou a língua.

— Uma elfa, hein... e o cavaleiro celestiano não é ruim. Bem, mesmo assim, ele não iria muito longe no Império. Todos, atrás deles.

Mudando a pegada de suas duas espadas, ele deu ordens a seus homens. Millia pulou o espaço, chutando de parede em parede, atirando flechas nos homens. O que eram simples flechas grudaram profundamente quando se prenderam nas paredes e no chão, mas os homens vestidos passaram correndo pela saraivada enquanto cercavam Rudel.

— ... desculpe, mas isso faz parte do meu trabalho.

Dizendo isso, Rudel confiou Cleo a Millia, que havia chegado perto o suficiente, e matou um dos homens encapuzados que vinha até ele.

A sensação de cortar metal e carne era algo que o rapaz nunca havia experimentado antes. Mas ele não teve tempo de ficar perturbado com isso.

O homem de três olhos correu enquanto emitia ordens.

— Eu cuidarei do dragoon. Vocês pegam o traidor e a prince-…

Assim que ele disse isso, desta vez, os homens encapuzados com arcos começaram a cair do telhado. Enquanto atingiam o chão, sons metálicos eram emitidos.

Rudel olhou para os dois que desceram no instante seguinte e dissipou a magia armazenada na mão esquerda. Ele havia pensado em fazê-los voar com magia, mas os que desceram pareciam ser aliados.

— Meu Deus, meu índice de encontros com a parte inferior do Reino e do Império está especialmente alta hoje. (Esse é com certeza Aleist, mas eu não deveria apontar isso).

Usando máscaras, os dois encapuzados estavam na frente do dragoon, e um respondeu sem virar a cabeça:

— Você se importaria de deixar isso conosco? Sua missão é proteger a princesa; essa é a nossa missão.

Rudel lançou um olhar para Emilio, mas em sua ordem de precedência, ele teve que priorizar Cleo. Ele não tinha necessidade de se fixar nos inimigos diante de seus olhos. Além disso, Millia já tinha levado a princesa e partiu. Era possível que houvesse outros inimigos escondidos.

— Então eles são todos seus.

Dizendo isso, Rudel logo saiu do local. Um vento forte soprou e, no instante seguinte, ele se foi.


— … a força dele excede os rumores. Ele pode ser ainda mais problemático do que em seus dias de escola, Senpai.

Cobrindo a túnica e a máscara que Nate entregou, Aleist olhou para a situação ao seu redor e tremeu.

Vestindo mantos pretos, aqueles homens com óculos redondos e vermelhos espreitavam pelos capuzes.

"O que isso deveria significar... sério, o quê!?"

A razão pela qual ele estava tão surpreso estava na pronta ordem de Nate para se arrumar, enquanto ela o levava de telhado em telhado. No momento em que percebeu, ele estava sendo atacado, uma batalha se desenrolou e, além disso, ele correra em socorro de Rudel.

— Cães do Reino, é isso. Não, talvez seja mais preciso chamá-los de perdedores.

Um homem cuja máscara tinha três olhos chamou Aleist e Nate. Ao redor, Emilio e os homens encapuzados estavam em alerta máximo.

... o que significava que eles estavam cercados.

— Agora vá e dê o seu melhor, Senpai.

Deixando escapar uma voz meio fofa, Nate foi em frente para empurrar o impossível contra o Aleist. Ela disse a ele para enfrentar o grupo que os cercava e direcionou muitas intenções assassinas.

— Espere um segundo! Me dizendo para enfrentar tantos inimigos, não importa como você avalie a situação, isso é estranho! É estranho, não é?

— Sim, sim, chega de brincadeiras. Apenas vá e dê o seu melhor. Você é meu guarda, não é? Você disse que me ajudaria, não disse?

— Não, eu disse! Eu com certeza disse isso! Mas nunca imaginei que chegaríamos a isso!

— Quero ver você em seu melhor. Não me faça dizer isso, que vergonha.

— Mesmo se você se sentir envergonhada, você não é nada fofa!

A conversa entre a dupla mascarada, se houvesse um terceiro grupo presente, eles com certeza estariam com seus olhos arregalados de surpresa. Era um esquete de comédia que se poderia pensar que continuaria para sempre, mas farto de tudo isso, o homem de três olhos abriu sua boca:

— Santo Deus, vocês não têm nenhum senso de tensão... muito bem, quando vocês saírem do caminho, iremos cuidar da princesa.

Com um leve movimento de sua mandíbula, seus subordinados próximos atacaram Aleist. Porém…

— …!? A textura quando você os corta é bizarra!!

No momento em que Aleist sacou suas próprias armas, ele cortou os homens encapuzados que o atacavam. Ele claramente os cortou antes que eles entrassem no alcance de sua espada, causando uma mudança completa nas reações ao redor.

O homem de três olhos soltou uma voz cautelosa:

— Um colega usuário de espadas gêmeas. E um dos hábeis. Que problemático... quão problemático. Matá-lo aqui pode ser do interesse do Império.

Com essas palavras, ele fez seus subordinados recuarem e ele mesmo disparou contra Aleist.

Por outro lado, Nate pulou para longe do colega enquanto falava:

— É todo seu, Senpai! Estarei protegendo suas costas.

— Não, lute ao meu lado! Essas pessoas parecem aterrorizantes!

Mesmo enquanto ele gritava, ele não tirou os olhos do homem de três olhos diante de seus olhos. De forma instintiva, ele entendeu que isso seria fatal.

As espadas de Aleist encontraram as de seu inimigo.

E vendo o inimigo de perto, Aleist sentiu que algo estava voltando a sua mente.

"Ah, será que esse cara poderia ser..."



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