Volume 7.5

Capítulo 138: A trovadora (Parte 7)

No centro da movimentada praça central de Celestia, uma estátua da rainha fundadora do país foi erguida.

Com o horário passando um pouco do meio dia, as barracas de comida emitiam um aroma de dar água na boca.

Comida no vapor parecia ser a norma, pois muitas pessoas podiam ser vistas comendo legumes no vapor cobertos com carnes e molhos.

Fora isso, as pessoas que andavam enquanto comiam um alimento embrulhado em massa branca que soltava sucos de carne se destacavam. Segurando-os em papel pardo, suas formas e suas bocas desabafavam enquanto comiam, deixando uma boa impressão.

As pequenas diferenças que ele encontrou de Courtois tornaram tudo mais interessante para Rudel.

Embora isso se devesse também ao fato de o grupo do dragoon ter se disfarçado para fazer o papel de turistas.

— Eles são diferentes do que você pode encontrar em Courtois? São doces, não são?

Quando Rudel compartilhou sua impressão, Cleo, com as roupas de uma simples aldeã, se maravilhou ao lado dele. Ela também não sabia que tipo de comida os habitantes da cidade comiam.

— Eu não consigo pensar que essas coisas são doces...

Eles soltavam um vapor e o conteúdo estava cheio de carne.

Uma vez que ela expressou isso, um dos guardas, Passan, explicou:

— O chefe Rudel está falando sobre os pães cozidos no vapor. Você enrola a carne em uma massa e a cozinha com vapor, por isso é uma refeição comum e não um doce.

— É mesmo? Você é surpreendentemente informado.

Quando Rudel assentiu, um estande que vendia algum tipo de boneca chamou a atenção de Cleo.

Então, Pono a advertiu:

— Prin… ah, não! Jovem senhorita, você não deve tocar nelas. Eles são extremamente fáceis de quebrar e são o tipo de lembrança que força qualquer turista que as pegue as compre.

Cleo puxou as mãos para trás com pressa.

O velho que estava na barraca fez uma careta ao ver isso.

— Não é como se eu estivesse tentando deixá-las fáceis de quebrar. É apenas, o processo de fabricação, sabe? Quando você as faz sair da terra, elas ficarão frágeis.

Ouvindo as palavras do lojista, Rudel apenas pensou...

"Então faça algo quanto a isso."

Pensando do ponto de vista de um cliente. Na verdade, se ela pegasse uma e a quebrasse, eles provavelmente seriam forçados a comprar o item. Millia, que se aproximara da mesma maneira, agora parecia aliviada.

— Em primeiro lugar, essa é a nossa divindade guardiã, que deve ser tratada com cuidado. A culpa é deles por quebrá-las.

Com a opinião do velho, Rudel olhou para sua forma, mas era algo muito rústico e ele mal conseguia entender sua forma. Um corpo elíptico com quatro pernas grossas presas; a única parte da boneca colorida era um ponto vermelho semelhante a um olho.

Ele só podia ver isso como uma exploração.

"Foi mal feito, ou o original se parece mesmo com isso... tenho a sensação de que quem os torna mais fáceis de quebrar e os coloca à venda também é culpado."

Rudel olhou de relance para Izumi.

Ela estava atenta ao ambiente densamente lotado. E sob o manto que ela usava como escolta, sua mão estava colocada em sua katana.

Rudel também direcionou sua atenção para os arredores.

Então, Emilio pegou uma das bonecas de barro na mão e a levantou.

Seu subordinado Ben avisou-o do perigo, mas o cavaleiro riu e a devolveu ao seu lugar original.

Seus olhos estavam terrivelmente frios.

— Agora que vimos os bonecos rústicos que são a especialidade desta região, vamos para a próxima área. Milady, pode ser um pouco tarde, mas e o almoço?

Emilio sugeriu para Cleo que eles almoçassem.

Ela curiosamente voltou os olhos para as bancas de comida. Embora houvesse algo que ela queria comer, ela não conseguiu dizer nada a esse respeito.

Rudel chamou Passan. Tirando a carteira do bolso interno do peito e entregando a moeda celestiana que ele havia trocado.

— Passan, use isso para comprar alguma coisa. Parece que milady está interessada nas barracas de comida.

— Vo-você não precisa gastar tanto!

Passan se recusou a aceitar tal fortuna, mas Rudel o forçou a aceitar. Olhando para Emilio, ele não mostrou sinais de oposição, em vez disso, apenas assentiu.

— Não se preocupe com isso, basta comprar o suficiente para todos. Leve Pono com você.

Dizendo isso, Rudel moveu-se para ficar no lado oposto de Cleo e Izumi.

— U-um, se é um incômodo, então...

Enquanto a princesa parecia se sentir culpada, o dragoon balançou a cabeça.

— Não, eu também queria experimentar, então não se preocupe. Peço desculpas por você ter que fazer companhia na minha refeição.

Quando ele falou isso de forma diplomática com a princesa, Izumi e Millia mostraram caras cansadas.

A elfa até o encarou descaradamente.

— … qual o problema?

— Não é nada demais. Eu apenas pensei que você estava sendo muito atencioso.

Quando Millia levantou os cabelos e disse isso, talvez sentindo a atmosfera, Passan e Pono foram em direção às barracas. Ben os invejou enquanto observava as costas da dupla.

Como sempre, Cleo parecia culpada, então Emilio prosseguiu.

— Eu apreciaria se vocês deixassem de lado suas discussões para quando voltassem para seu próprio país. Agora é a hora de milady.

Millia se virou para Cleo.

— Minhas desculpas, Milady.

Ao ouvir isso, Cleo deu uma risada solitária.

— Não, está tudo bem.

Naquele momento, Passan e Pono retornaram, os dois braços cheios de comida.

— Estamos de volta!

— Passan, você comprou demais.

Ben suspirou. E, de forma natural, Emilio começou a seguir para um lugar na praça em que cadeiras e mesas estavam preparadas.

— Então vamos comer. Por aqui.

"Ele está acostumado a isso. O que significa que os cavaleiros comem aqui? Apesar disso, não vejo nenhum por perto."

Rudel não podia ver nenhum cavaleiro comendo no local.

Ele viu alguns soldados de vigia e alguns homens fazendo as refeições. Mas ele não viu nenhum cavaleiro.

"Há algum problema com o intervalo de tempo?"

Rudel observou Cleo se sentar enquanto chamava Passan.

— Passan, os cavaleiros comem nesta área também?

Olhando com o canto dos olhos para Emilio, que usava um capuz, Rudel buscou confirmação. O cavaleiro estava explicando à princesa como comer os vários alimentos das barracas.

Os olhos de Ben e Pono estavam brilhando com o banquete diante deles.

Passan também e, quando Rudel começou a conversar, olhou com preocupação entre Rudel e a comida.

— Não tem como eles virem aqui. Mesmo se estiverem em patrulha, eles recebem refeições gratuitas no castelo. Nunca ouvi falar deles aparecendo nessas barracas miseráveis.

— Mas este é um ponto turístico, não é? Eles nunca descansam as pernas na área e comem nas barracas?

— Sim, essa pode não ser a melhor maneira de dizer, mas os poderosos cavaleiros comem em "restaurantes adequados". Este lugar é perfeito para os soldados sem dinheiro encherem o estômago... estamos agradecidos por isso, sem dinheiro e todo o resto, mas quando você se torna um cavaleiro, é menosprezado, ou melhor...

Vendo como ele se esforçava para dizer isso, os cavaleiros evitavam comer nas barracas de comida populares.

"Eles desprezam os alimentos que as massas comem? Alguns deles são surpreendentemente deliciosos, mas…"

A cautela de Rudel em relação a Emilio aumentou de forma instantânea. Mas como as coisas estavam, ele não tinha nenhuma evidência. Mesmo que ele tivesse suas dúvidas, elas estavam em um nível em que desapareceriam se o homem desse uma desculpa.

"Um pouco suspeito", isso foi tudo o que ele pensou.

— Passan, você pode ficar com o meu. Eu estou bem apenas com um.

Dizendo isso, Rudel pegou um pão com carne na mão e rapidamente terminou sua refeição. Um Passan encantado levou o restante do pão para Ben e Pono.

— Chefe, eu recebi isso do Chefe Rudel!

— Viva. Vamos ter um banquete hoje!

— Obrigado!

Dando um sorriso sem graça para os três alegres, Rudel foi até Izumi e sentou-se ao lado dela. Enquanto se mantinha cauteloso com o ambiente, o rapaz tomou o cuidado de não direcionar isso para Emilio.

Millia olhou para os dois, mas ele a ignorou por enquanto.

— Aconteceu alguma coisa?

Ouvindo o sussurro de Izumi, — Não é nada definitivo. —, ele disse como prefácio enquanto sussurrava de volta. O próprio Rudel só teve uma leve sensação de desconforto.

— É Emilio. Algo parece errado com ele.

— … entendi.

Sem mexer os olhos, ela deu ouvidos às palavras do rapaz.

— Essa pode não ser uma missão tão simples. Mantenha isso em mente.

Dizendo isso e se levantando, Rudel se aproximou de um assento adequado para proteger Cleo.

Embora estivessem no meio do trabalho, o grupo de Ben estava se banqueteando com a refeição. Cleo parecia estar se divertindo enquanto os observava.

Ela ansiava pela vida dos plebeus... coisas como status diferente, para ser mais específico.

Não era como se Rudel não entendesse o sentimento.

"Talvez toda família real seja complicada."

Havia muitos pontos estranhos nesse assunto. Ele não podia acreditar que o motivo de sua convocação fosse porque os cavaleiros do país não eram confiáveis.

"Não adianta pensar demais nisso. Esse não é o nosso trabalho."

Rudel mudou sua linha de pensamento para se concentrar apenas na missão. Mas quando Cleo deu uma risada inocente enquanto ouvia as conversas do grupo de Ben, ele ficou um pouco curioso.

Voltando os olhos para Emilio, Rudel percebeu.

"Ele está sorrindo?"


Aleist havia subido ao telhado de um prédio com vista para a praça central.

Para ser mais preciso, Nate o levou até lá.

Ambos usavam túnicas, armas preparadas enquanto esperavam em prontidão.

Mantendo o corpo baixo, Nate usou o telescópio para verificar os arredores. Quando o sol estava bem alto no céu, a razão pela qual eles não se destacaram foi por causa da magia que a garota estava usando.

Aleist lembrou a magia e as habilidades que ele não usava no jogo.

"Todas as magias e habilidades que pensei serem inúteis, e pensar que havia usos tão convenientes. Mesmo assim, o que Nate está fazendo?"

Ele ainda tinha que ouvir o motivo pelo qual Nate tinha ido para Celestia. Mas Aleist fora levado de Courtois como guarda dela.

Houve um pouco de combate com pessoas que ele suspeitava serem soldados do Império Gaia.

"Não há dúvida de que é algo problemático. O que ela está olhando?"

Nate olhou pelas lentes enquanto chamava Aleist. Era quase como se ela tivesse os pensamentos dele na palma da mão.

— Você está curioso sobre mim, senpai?

... mas isso era sem dúvidas um mal-entendido. Não havia como Nate entender como Aleist se sentia.

"Bem, se ela notou, é melhor eu não tentar enrolar."

Mostrando um sorriso amargo, Aleist ofereceu uma correção a Nate.

— Tenho certeza de que estou curioso sobre o motivo pelo qual chegamos a um país estrangeiro para fazer algo como isto. Em primeiro lugar, você ainda precisa explicar por que tivemos que fugir daquele grupo estranho.

Enquanto ela ouvia a resposta do garoto, Nate continuou observando algum lugar com seu telescópio. Ela continuou olhando para o que parecia ser a praça central da movimentada estrada principal.

Talvez ela tivesse encontrado o alvo de sua vigilância, pois não tirou os olhos de lá.

— Você está perguntando isso agora? Eu preferiria se você perguntasse mais cedo ou ficasse quieto e mostrasse estoicismo1 enquanto me vigiava em silêncio.

— Isso não faz parte da minha personalidade. Se você não gosta disso, apresse-se e encontre um namorado, e case com ele após sua formatura.

— Uah... senpai, você é terrível. Depois que você fez uma coisa daquelas comigo.

Uma coisa daquelas se referia a quando Aleist foi forçado contra o chão. Foi em seus dias de estudante. Chegando na festa de formatura, Aleist trombou com Nate, que estava distribuindo bebidas, e ela acabou caindo em cima dele, o forçando contra o chão2.

— Eu fui a vítima, não fui? E foi mesmo uma confusão naquela época.

Relembrando seus dias de escola, Aleist soltou um suspiro enquanto encolhia os ombros.

— Senpai, não quero ser aquela a dizer isso, mas não há muitos estudantes por aí que aproveitaram a vida escolar tanto quanto você. Cercado por garotas bonitas, com amigos e rivais... foi demais, não foi? Se é isso que faz você suspirar, os deuses vão puni-lo.

Aleist chegou a um amplo entendimento com as palavras de Nate.

Era um fato que ele realmente se divertiu. Ele estava realizado.

Porém…

— Me confessei à garota que eu gosto e ainda não recebi uma resposta. Não, já é, como devo dizer, sim, sem esperanças, mas veja...

— Hah, você está tão insatisfeito com uma garota bonita como eu?

Enquanto Nate se chamava de bonita, Aleist desviou os olhos e murmurou.

— Acho que a parte em que você se elogia não é legal. Você é excessivamente autoconsciente?

Nate levantou o telescópio e o atingiu na cabeça de Aleist. "Está mesmo tudo bem usar um artigo caro dessa maneira?", pensou Aleist, enquanto ele esfregava a cabeça.

— É constrangedor para eu dizer isso. Eu gostaria que você estivesse mais atento ao coração de uma donzela. Somos apenas nós dois, então não seria bom se houvesse uma atmosfera um pouco melhor entre nós? Tipo, quando eu me chamei de bonita, você poderia ao menos dizer: "Você com certeza é linda, Nate".

O rosto de Nate ficou vermelho de vergonha, mas...

— Isso parece um aborrecimento.

Aleist disse sem rodeios que era problemático apenas para ser atingido pelo telescópio mais uma vez. Vendo Nate silenciosamente bater nele com o rosto ainda vermelho, Aleist...

"Ah, ela pode até ser um pouco fofa quando está envergonhada."

... acabou pensando que até Nate tinha algumas partes fofas. Devido à abundância de membros violentos em seu harém, mesmo que ela o agredisse, ele acabou vendo isso como algo fofo.


Enquanto eles passavam o tempo na praça central, a hora de retornar ao palácio chegou.

O fluxo de pessoas também começou a mudar, com o tráfego de pedestres diminuindo aos poucos.

Mas então, Emilio se moveu.

— Milady, você gostaria de ver o famoso local de Celestia? Não é muito longe da praça central, então ainda podemos chegar a tempo.

— Um local famoso? Nunca ouvi falar disso.

Cleo olhou para Ben, mas o grupo de três inclinou a cabeça.

— Havia um lugar assim por aqui? Nesta área, acho que você poderia chamar a praça central de um local famoso, mas...

Enquanto Pono cruzava os braços, Emilio entrou em negociações um tanto vigorosas.

— Os que conhecem, conhecem bem. Embora para pessoas sem amadas, isso pode ser irrelevante.

Ouvindo sobre amadas, os três assentiram.

— Então é um daqueles pontos para encontros? Com certeza, não seria estranho se nunca tivéssemos ouvido falar disso!

Enquanto Ben dava uma grande risada, Passan continuou inclinando a cabeça.

Rudel se aproximou de Passan e tentou perguntar o que o homem estava pensando.

— Alguma coisa está te incomodando?

— Não sei se você sabe, mas nessas partes, a praça central é um local turístico, então há soldados. Mas vá um pouco longe e a ordem pública não é muito boa. Mesmo se você disser que é um ponto de encontros, eu não estou entendendo como... bem, eu não tenho uma namorada, então talvez eu apenas não saiba.

Ao ver Cleo sendo levada por Emilio, seu rosto ficou um pouco vermelho com as palavras ponto de encontros.

Enquanto olhava para Rudel, Emilio partiu para uma persuasão eficaz.

— Por que você não faz uma última visita lá com Rudel-dono?

Ao ouvir o nome de Rudel, Cleo pensou um pouco e assentiu.

— Você tem razão. Se pudermos voltar em pouco tempo, no final, pelo menos...

"Um pouco". Ela disse e consentiu. Emilio a guiou. Mas, naquele momento...

— Kyaaaaah!!

Junto do grito de uma mulher, eles ouviram o som de um prédio ou barraca sendo quebrada. Uma parte de uma barraca decolou em direção a Rudel.

— Afastem-se!

Dizendo isso, Rudel sacou a espada e cortou o que estava vindo para sua direção.

Izumi e Millia correram para o lado de Cleo, enquanto o grupo de três entrou em pânico, incapaz de tomar uma ação imediata.

Emilio deu ordens a eles.

— Ben, pegue seus homens e verifique a praça. Vá direto em direção ao barulho e veja se o inimigo ainda está lá.

— Eh, ó, sim!

Quando Ben saiu correndo, Rudel se aproximou instantaneamente de Emilio.

Ele não conseguia mais pensar que seu sentimento era um mal-entendido.

— Espere aí. Como você sabe que é um inimigo?

Sacando sua espada, ele não hesitou em direcionar a ponta para Emilio.

Com certeza houve um tumulto. Mas o grupo de Rudel ainda não havia descoberto os mínimos detalhes sobre o que havia acontecido. Apesar disso, Emilio havia concluído e proclamado um inimigo.

Izumi e Millia também entraram rapidamente no espaço entre Cleo e Emilio, preparando suas armas. Mas eles foram engolidos pela onda de pessoas fugindo.

— Princesa!

Enquanto Izumi corria em direção a Cleo, uma grande massa caiu do alto. Depois outra e mais uma. No espaço que Izumi levou para erguer os olhos, Emilio fez seu movimento.

"Isto é ruim!"

Rudel tinha certeza de que Emilio cortaria Izumi. Ele determinou que aquelas coisas que vinham do céu eram seus aliados.

Mas Emilio ignorou Izumi por completo.

— Espere!

Engolida por toda a multidão, Millia não conseguiu se aproximar de Cleo.

— Emilio, por que você está fazendo isso!?

— Cale-se e me siga!

Com sua mão sendo agarrada com força por Emilio, Cleo encarou e resistiu. Infelizmente, a diferença de poder era grande demais e sua resistência terminou em futilidade.

Ao redor da residência ainda correndo para fugir, e com seus movimentos selados, aquelas massas em queda cercaram Rudel.

Aqueles corpos redondos pareciam feitos de uma esfera esmagada, com quatro pernas grossas anexadas. Seus únicos olhos vermelhos emitiam uma luz, suas superfícies de terra...

— Eu não sei o que está acontecendo... mas não parece que essa seja a divindade guardiã.

Semelhante aos ornamentos vendidos na loja de lembrancinhas, aqueles objetos que ultrapassavam dois metros de diâmetro cercaram o grupo de Rudel, prendendo-os com seus olhos.

No meio de tudo isso, apenas Emilio foi capaz de correr livremente, arrastando Cleo pela mão.

Millia puxou o arco de suas costas, mas como se para protegê-lo, as massas se moveram para bloquear a linha de visão da elfa.

— Parece que essas coisas são os camaradas de Emilio.

Com as palavras irritadas de Millia, Izumi também sacou sua katana e se posicionou.

— Eu gostaria de persegui-lo o mais rápido possível, mas...

As massas que não mostravam intenção de deixá-las passar se moviam de forma mecânica, como bonecos. Ao redor do grupo de três de Rudel, eles pareciam a ponto de atacar.

Um passo... Izumi avançou e desferiu um corte voador em um boneco. Ela determinou que o ambiente enfim se tornou escasso o suficiente para ela exercer sua força.

E, se mexendo um pouco, o torso da boneca foi separado de suas pernas.

Aquele corte limpo revelou, praticamente como os ídolos à venda, que seu interior estava vazio.

— O que há com essas coisas?

Achando as bonecas vazias estranhas, ela tentou pensar nelas como golems produzidos com magia e tentou olhar em volta. Embora seus olhos sempre fossem bons, ela não conseguia ver nenhum mago os controlando.

Para bonecas feitas de terra, suas superfícies eram quase como cerâmica. Além da parte cortada, ela podia ver lugares rachados também.

Mas os inimigos não eram fortes. Rudel pensou que estaria tudo bem se eles cortassem todos os inimigos, mas os membros deslocados do boneco logo subiram para suas posições originais, apertaram-se e colocaram a coisa em movimento mais uma vez.

— Isso é bem problemático.

Rudel se posicionou com sua espada enquanto dizia isso, enquanto Izumi enviava uma onda de choque voadora para criar um caminho. Girando, ela falou com Rudel.

Seu rabo de cavalo balançou, e quando ela olhou por cima do ombro, a forma de Izumi criou uma bela imagem.

— Vão em frente, vocês dois. Se não cumprirmos a missão, isso afetará a reputação de Courtois.

— No momento em que ela foi sequestrada, nossa reputação foi perdida. Mas se é assim que vai ser, eu vou na frente.

— Eh? Estamos mesmo deixando-a aqui sozinha? Ei, Rudel!

Millia expressou sua oposição em deixar Izumi para trás.

Mas Rudel tomou uma decisão rápida, ignorou os bonecos no processo de regeneração e perseguiu Cleo.

— Aaaah, que seja!

Millia seguiu atrás, projetando asas de magia das costas e correndo atrás do dragoon.

Se um boneco tentasse segui-la, um corte voaria por trás, cortando o alvo em pedaços. Mas como se isso não tivesse sentido, os bonecos se regeneraram um após o outro.

Mesmo assim, Rudel deixou Izumi para trás.

"Muito bem, isso significa que eu e Millia teremos que enfrentar Emilio, mas esperar por apenas um único inimigo é ser otimista demais."

Os dois que perseguiam Emilio, que havia entrado em um beco pela estrada principal, mantiveram a possibilidade de uma emboscada em mente enquanto prosseguiam.


— Muito bem.

Tendo deixado Rudel seguir em frente, uma vez que as costas dos dois estavam fora de vista, Izumi embainhou sua katana.

Não era como se ela não tivesse a intenção de lutar. Ela determinou que cortá-los levaria muito tempo.

Ela desprendeu o fio que amarrava a bainha a seu cinto. Tomando a bainha na mão, ela pulou logo acima da boneca que tentava se mover indo atrás de seus dois companheiros.

— Você não vai fugir.

Puxando a bainha até a metade da lâmina, no momento em que sua extremidade tocou o inimigo, ela martelou a espada de volta com uma grande velocidade.

A boneca foi batida contra o chão, quebrando além do reino de qualquer reparo. De seu salto do topo da boneca quebrada, Izumi observou o estado de seu inimigo.

— Então eles não se regeneram se você os quebrar o suficiente. Então eu vou destruí-los direito.

Izumi correu direto para os bonecos restantes e, como se tivessem uma forma de vontade, os inimigos começaram a recuar.

Mas ao analisar seus movimentos, eles não podiam produzir muita velocidade, assim, Izumi não os deixaria escapar.

Ela deu outro salto e destruiu outro boneco.

O chão em que ela ateu bateu o alvo criou um buraco com o impacto.

"A Capitã Bennet me ensinou muitas coisas, mas parece que consegui replicar pelo menos uma delas."

Essa era uma técnica que ela aprendeu para lidar com inimigos onde cortes não eram tão eficazes.

Enquanto Rudel e os outros avançavam, Izumi aprendeu essa técnica para persegui-lo, mesmo que fosse apenas um único passo.

— É a primeira vez que a uso em combate real, mas é uma boa oportunidade.

Izumi murmurou enquanto continuava destruindo os bonecos que continuavam se juntando na praça central.


Fugindo para um beco, Emilio parou.

Depois de percorrer os becos em forma de labirinto sem se desviar, ele cuidadosamente colocou Cleo, que ele havia içado debaixo do braço esquerdo, no chão. Ela havia se debatido ao longo do caminho, mas, a essa altura, estava incapaz de resistir.

Quando ela se sentou, Emilio falou.

— Ainda vamos nos mover. Suas roupas ficarão sujas se você se sentar aí.

— ... por que você virou a casaca?

Era uma voz fraca, mas ele ouviu isso ecoar pelo beco. Ele podia ouvir os sons distantes da batalha, mas nada mais.

Então, a voz de uma mulher surgiu.

— Isso é problemático, Emilio-dono. É preocupante você fazer coisas desnecessárias.

O que Cleo viu quando levantou a cabeça foi a criada que cuidara dela. Ela estava usando seu uniforme de camareira, mas sua atmosfera era diferente do habitual.

— Por-por que você está aqui…

Cleo não queria acreditar. A empregada estava mantendo uma conversa muito amigável com Emilio. O que significava…

— Que mulher tediosa. Bem, isso não deve ser um problema para iscas, então não tenho queixas. Eu pude rir de como você me considerava uma amiga, e seu ambiente lamentável era interessante o suficiente para assistir, então eu vou te perdoar.

Enquanto a empregada transmitia essas palavras com um sorriso, os pensamentos de Cleo não conseguiram acompanhá-la.

Mas não importava como ela se lembrasse, esse era com certeza o rosto da garota que ouvira o que ela tinha a dizer de forma muito calorosa.

— Você não precisa parecer tão confusa. Afinal, você é apenas uma isca. Muito bem, se mantivermos os superiores esperando, eles ficarão com raiva. Leve-a embora logo, Emilio-dono.

Vendo a empregada com um sorriso para um sorriso inquietante, Cleo não sabia mais em que acreditar.

— A-amanhã, eu tenho que...

— Eu sei. É por isso que estamos impedindo isso. Te mataria se você fosse apenas um pouco grata a mim por cuidar de uma mera ração?

Uma lágrima correu pelo rosto de Cleo.

Assim, Emilio se aproximou da camareira.

— Emilio-dono, se você soltar as mãos dela, a isca vai fugi-... eh?

Depois de desembainhar a espada, Emilio ainda a segurava com firmeza na mão direita. Com um grande passo à frente, ele a balançou do canto superior direito para o canto inferior esquerdo.

A empregada ficou surpresa, mas, tendo treinado em algumas artes marciais, ela saltou para trás no mesmo instante. Ela olhou furiosa para Emilio.

Nela, Cleo não via vestígios da mulher gentil que contava histórias de uma vida comum.

— O que você está fazendo, seu cavaleiro podre!?!?

Puxando a faca que escondia na saia, desta vez, a empregada saltou contra Emilio. Porém…

— H-huh…

No momento em que ela avançou, o sangue jorrou do ombro direito até o quadril esquerdo. Como se ela tivesse sido cortada...

— Você esqueceu como eu subi na brigada de cavaleiros?

— Desgraçado... seu lixo de cavaleiro arrivista3. Você acha que vai acabar com isso!?

Cuspindo sangue da boca, a criada levantou a voz.

— Não. Mas sabe, vocês me deixam enojado. Desapareça.

O tom anterior de Emilio desapareceu, suas palavras se tornaram um pouco ásperas. Ele enfiou o sabre na camareira para dar o golpe final.

— Emilio, você…

Quando Cleo disse isso, o cavaleiro se virou e mostrou um rosto triste. Mas, ao mesmo tempo, um pouco feliz... como se a expressão dele estivesse tentando lhe dizer algo.

Embora ele tinha sido tão duro um momento atrás, seu tom em relação a Cleo era gentil.

— Não se preocupe, você estará livre em breve, Cleo.


Notas

1 – O estoicismo é uma escola de filosofia helenística fundada na Grécia, em Atenas, por Zenão de Cítio no início do século III a.C. Os estoicos ensinaram que as emoções destrutivas resultavam de erros de julgamento, da relação ativa entre determinismo cósmico e liberdade humana e a crença de que é virtuoso manter uma vontade (chamada prohairesis) que está de acordo com a natureza. Devido a isso, os estoicos apresentaram sua filosofia como um modo de vida e pensavam que a melhor indicação da filosofia de um indivíduo não era o que uma pessoa diz, mas como essa pessoa se comporta. Para viver uma boa vida, era preciso entender as regras da ordem natural, uma vez que ensinavam que tudo estava enraizado na natureza.

2 – Eventos do capítulo 70.

3 – Arrivista é uma pessoa que pretende vencer na vida a todo custo, mesmo que cause prejuízo aos outros.



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