Em Outro Universo Angolana

Autor(a): Tayuri


Volume 1

Capítulo 13: Expectativa Vs Realidade

Horrível. Esse era o adjectivo mais simpático que Astrid conseguia pensar para oferecer ao aspecto da comida que estava em sua bandeja, mas especificamente a mistura homogênea, estranha que segundo, Jase, conseguia os deixar cheios mesmo só com uma tigela, como? Ele também não o sabia, no entanto, o facto de ele ainda respirar, deu a Astrid o mínimo de confiança para poder cogitar em comê-lo.

Astrid levantou a colher de prata e a suposta comida escorregou por ela, voltou para a tigela e seu estômago revirou.

— Para de fazer isso!!

Pela quinta vez, Jase reclamou.

— Ou nem você, nem eu conseguiremos engolir essa coisa — dizendo isso ele levou uma colher a boca e alguns segundos depois seu rosto se contorceu em uma pequena careta.

— O gosto está pior hoje? — perguntou Lucky.

— Nível 4.

— Nível 4... o que isso quer dizer?

— Péssimo. — Foi tudo que Lucky disse para Astrid, antes de afastar a tigela. — Muito péssimo.

— Eu daria um pouco mais de 4.9.

— Isso é basicamente 5 — retrucou Astrid, para Aiyslnn que somente deu um sorriso. — Sério... está mesmo tão ruim assim?

— Não está tão mau assim, um pouco de sal e... — Logan não terminou e somente anuiu com a cabeça.

— Psicopata! Você é completamente louco. — O loiro apenas deu de ombros.

— Não vou comer. — Decidida Astrid empurrou a bandeja e Jase a empurrou de volta. — Você acabou de chamar o Logan de psicopata. Não vou comer.

— Era brincadeira, eu estava brincando. Não está tão ruim assim, então coma.

Colocou a colher na mão de Astrid.

— Chloe... — Olhou para a tigela intocada, que havia sido empurrada, com o claro aviso de que não seria tocada e então olhou para Chloe e rapidamente desviou o olhar para tigela de Lucky. — Por-porque está me obrigando a comer? Lucky também não está comendo — disse muito rápido.

— Ela aguentara bem mesmo se não comer, mas você não.

— Quem disse? — Jase tombou a cabeça um pouco para o lado, os cachos quase cobrindo seus olhos cinzentos. Eles a encaravam seriamente. — E-eu…eu…eu vou comer — Levou uma colher à boca por impulso, porém no segundo seguinte travou com a boca bem fechada.

— Engole... — Astrid negou. — Astrid...engole essa coisa.... não se atreva a deixar sair. O que entrou já não deve sair. Então engole.

Os olhos de Astrid se fecharam e ela engoliu. Jase suspirou aliviado e os olhos dela se abriram encontrando algo. Uma coisa que certamente ela não poderia ignorar.

Co-comida de verdade.

As mãos de Astrid perderam as forças e a colher que carregava caiu de sua mão e segundo mais tarde a mistura respingou em seu rosto, entretanto ela não pareceu se importar e somente continuou encarando.

Astrid fechou os olhos, os abriu e umedeceu os lábios enquanto a bandeja vinha em sua direção. Ela queria pegá-la, gostaria de se degustar com os belos pães que pareciam grandes o suficiente, para serem finalizados com mais do que quatro mordidas. Beber o sumo de laranja após se deliciar com o leite com chocolate e então as frutas, comer muito lentamente cada uma das belas frutas e após tudo isso ela beberia a linda água que estava em um copo de vidro, a água que possuía uma cor mais bonita, do que a que estava em seu copo de alumínio.

O estômago de Astrid roncou, porém não se importou se foi ouvido ou não e ela só esperou... e esperou e então, Aiyden passou bem a sua frente, levando a bandeja para longe de seus olhos, mas não de suas narinas.

— Se...se eu pudesse comer... só um pouco dessa... maravilhosa comida, eu certamente não me importaria de morrer hoje — sussurrou Astrid, e a mão de Jase se levantou preguiçosamente até bater na própria testa.

Só um pouco.

Muito lentamente o corpo de Astrid começou a se inclinar para frente, em busca de alcançar a maravilhosa comida, mas...algo a impediu.

— Humm?

Subitamente seu corpo foi puxado para trás e ele se foi levando consigo a comida.

— Não vá!!

Sussurrando, Astrid estendeu um braço para frente e rapidamente ele foi abaixado.

— Por favor! — Jase pediu. — Para de fazer drama.

— Mas é que...

Olhou para sua própria comida e depois encarou Jase.

— Essa comida é... tão horrível.

— Eh, nós sabemos. Mas infelizmente para nós, não podemos ter aquela.

Lucky que segurava a camiseta de Astrid a soltou e ela olhou para Aiyden, o qual estava sentado em uma das mesas do refeitório.

Sozinho em sua mesa o garoto foi retirando o miolo do pão, provocando uma angústia em Astrid que assistia muito atentamente a todos os seus movimentos. Após colocar o miolo na boca, Aiyden passou sua atenção para o copo de leite, hesitou em tocá-lo e em seguida passou a bater em sua superfície com um dedo indicador, enquanto em seu rosto mantinha uma expressão pensativa, como se tivesse considerando se bebia ou não.

— Porque o alarme ainda não soou? — Os olhos azuis de Chloe, estavam em Aiyden, tal como os da maioria dos soldados que estavam no refeitório. — Ian disse que agora ele faz parte do grupo quinze, então porque... — Olhou para Edward e rapidamente encarou Aiyslnn. — Porque nada está acontecendo?

— Alarme? — perguntou Astrid.

— É uma regra. Não se pode sentar em uma mesa de outro grupo.

— O que acontece se o alarme soar?

— Dimensão das punições — falou Chloe, com o mesmo olhar sombrio de antes, o olhar que a fazia parecer mais com a Chloe que Astrid chamava de amiga.

— Espera...isso não quer dizer que também vamos? Já que somos...

— É pouco provável. — Lucky se lançou um pouco para trás e sua cadeira foi junto. — Não que aconteça frequentemente, mas até ao momento ninguém que cometeu tal infração gerou uma desclassificação, ou seja, apenas quem cometeu é enviado para dimensão das punições.

Enquanto a maior parte dos soldados o encaravam atentamente, há uma distância que não poderia se chamar de segura porém aceitável. Alguém decidiu se aproximar, um garotinho que não aparentava ter mais de dez anos, e com uma fraca capacidade de ler ambientes, pois aquele na cabeça de Astrid parecia dizer: perigoso.

O menino de cabeleira ruiva, parou a uma pequena distância da mesa, claramente ciente da regra, a qual parecia não se aplicar a Aiyden.

Alguns segundos morreram, a tensão pareceu subir mais um pouco. Jase se levantou e Chloe tentou puxá-lo para baixo.

— Senta! — A voz de Edward não era alta, porém pareceu ser audível o suficiente para Jase que se sentou, alguns segundos depois.

Edward trocou olhares com alguns soldados, olhares que Astrid não conseguiu decifrar, porém sabia claramente que todos estavam atentos, parecendo como se estivessem esperando, para...um ataque.

O silêncio incômodo pairou sobre o refeitório, o garoto abriu a boca, porém nada atravessou os ouvidos de Astrid, mesmo no silêncio do refeitório nada se ouvia.

O garoto falava sem produzir nenhum som e Aiyden por sua vez apenas se mantinha o encarando como se realmente não se importasse, como se realmente estivesse ouvindo. Ele parou de falar, Aiyden assentiu e o menino foi embora.

Algo pareceu se alterar no ambiente, como se uma onda de alívio ou algo a mais tivesse chegado para todos, sons quase indecifráveis voltaram a preencher o refeitório, e quem pode, voltou a se concentrar em sua comida ou na conversa.

O que raio foi isso?

— Ele não pode falar? — Astrid olhou para cada um, esperando quem pudesse lhe oferecer a informação.

— Pode. Ele deveria estar projetando sua voz na cabeça dele. — Logan tinha um dedo em sua têmpora enquanto explicava. — É uma espécie de poder... telepata. Só que diferente de um telepata normal, ele precisa realmente falar ou... mover a boca como se tivesse falando e assim a voz dele se projeta na mente alvo, com as exatas palavras que ele está proferindo com a boca.

— Telepata... — Olhou para Chloe. — Você também pode fazer isso?

— Chloe, não tem essa habilidade.

Quem respondeu foi Logan, após vários minutos de silêncio vindo de Chloe.

— Mas...pelo que percebi parece que ele não é... muito bem vindo...então... Porque aquele garotinho falou com ele?

— Provavelmente para dar alguma mensagem dos mortos. Ele com certeza deve ter uma fila gigante de mortos querendo lhe dizer algumas palavrinhas.

Os olhos de Astrid piscaram, diante dos de Chloe, que a encaravam, enquanto seus lábios pareciam ao ponto de se esticarem para um sorriso.

— Mo-mortos!! Aquele menino...ele... pode falar com os mortos? Espera!! Isso quer dizer que aqui...

— Esqueça!! — Jase quase gritou. — Não pense sobre isso. Não pense!!

— Mas... — Astrid olhou ao seu redor, como se procurasse por alguém. — Eles...

Uma voz baixa e quase sombria sussurrou.

— Estão aqui...

Astrid gritou e Jase começou a tossir compulsivamente. Lucky e Chloe começaram a rir sendo logo seguidas por todos, exceto  Edward, que ainda mantinha um olhar distante enquanto comia pedacinhos de pão, tão pequenos que ele poderia ficar o dia todo e o pão não acabaria.

Enquanto risos e pequenas conversas rolavam pela mesa do grupo quinze, Astrid manteve seus olhos em Edward, que parecia não notá-la, que parecia ainda estar no ocorrido da noite anterior.

— Edw...

Astrid se calou e tentou, tentou muito encontrar algo para dizer, algo para perguntar, qualquer coisa que poderia trazê-lo de volta para realidade, porém ela não tinha nada, nem amigos eles eram, como ela poderia ter algo a dizer para o garoto que na noite anterior, acabou atirando na própria irmã.

Elis está morta. Astrid pensou várias vezes, antes de ele começar a explicar o que ocorreu por trás daquela porta de metal que levava à cela dos meninos.

Sua voz saiu um tanto quanto rouca enquanto começava pela parte em que eles adentraram a cela na noite anterior. Sua voz se tornou um pouco baixa enquanto ele explicava que eles acabaram por interrogar o garoto com perguntas que na cabeça de Astrid soavam muito como acusações, tendo em conta que elas se resumiam em: Porque você matou os soldados que foram enviados ao grupo zero? Foi o centro que te ordenou a matá-los? E eles prosseguiram com mais perguntas e a falta de resposta dele acabou não deixando as coisas melhores.

Edward deu uma pausa, parecendo estar tentando lembrar dos eventos ou até pensar cuidadosamente nas palavras que diria a seguir e após alguns segundos em silêncio prosseguiu.

Explicando rapidamente que levantou sua arma para Aiyden, após ele retirar uma pequena pistola de um dos bolsos da calça. Ele não havia atirado ou sequer, mirado neles. Edward reiterou. No entanto, sem querer correr o risco, Edward decidiu tentar ameaçá-lo com sua arma, para obrigá-lo a soltar a que estava em suas mãos.

Naquele momento até mesmo Logan e Jase, se voltaram para Edward e por alguns instantes abriram a boca como se fossem prosseguir com a história na conta dele, no entanto Edward saiu na frente, contando sobre o estranho toque fantasma que o assustou, o suficiente para o dedo que repousava sobre o gatinho se mover num impulso e assim disparar.

Aiyden que estava em sua mira não se moveu. Seus olhos negros de modo algum pareciam minimamente surpresos. Ele com certeza não parecia ter levado um tiro. As costas de Edward se encostaram na parede, enquanto ele contava sobre como Elis simplesmente apareceu em seu campo de visão, sobre como tirou as armas das mãos de cada um deles. Sussurrou um: estou bem no ouvido de Edward e se foi, como se nada tivesse acontecido, como se ele não tivesse acabado de disparar nela.

Após finalizar Edward se calou e Logan continuou explicando que Elis usava um colete à prova de balas e que antes de ela tomar a arma dele, ela sussurrou em seu ouvido que as balas eram de festim. Ela ficaria bem, foi o que ele concluiu.

Sem um ponto final real, todos pareceram dar por encerrado, ao menos superficialmente. Astrid por sua vez se sentiu estranha. Havia uma certa felicidade por Elis estar viva, mas também havia uma certa raiva pelo fato de que ela tinha poderes. O que em sua cabeça certamente não fazia sentido, afinal ela não passava pelo mesmo que eles...mas daí também se lembrou dos curandeiros que também tinham poderes e de forma alguma pareciam passar pelo que os outros soldados vivenciavam.

Astrid quis perguntar, mas ao olhar para o rosto de cada um, concluiu que a confirmação que Jase havia lhe dado sobre Elis ter poderes, já havia sido informação suficiente, para preencher sua quota de perguntas um tanto quanto sensíveis. Principalmente quando a mera menção do nome de Elis ou algo relacionado a ela, poderia levar Edward Swooney para mais longe.

— Se-se iriam protegê-lo então porque nos deram armas?

Um por um todos olharam para Astrid, todos incluindo Edward, o que deixou Astrid deveras nervosa, questiona-se se ao acaso fez a pergunta errada.

— Disseram que era para nossa sobrevivência, mas nos deram armas com balas de festim. — Jase tinha as mãos descansando atrás da cabeça, enquanto prosseguia com seu raciocínio. — Qual foi a finalidade daquilo? Qual a finalidade de ele ter vindo...

Jase pareceu travar, e uma expressão beirando a compreensão, atravessou seu rosto e se propagou para os dos restantes.

— Um teste.

Edward proferiu simplesmente e Lucky completou: — Um teste para ver se teríamos coragem para matar o monstro do grupo zero.

Parecia ser apenas um palpite, entretanto ninguém se deu ao trabalho de dizer o contrário, então Astrid só pode concluir que os outros pensavam da mesma forma.

Ele é só um estudante do ensino médio, não acho que seja um monstro ou algum tipo de assassino. Alguma parte de Astrid quis argumentar isso, mas então se lembrou dos ciborgues, da neve, de Aiyden a controlando como se fosse uma marionete e do tiro, que ela sobreviveu de alguma forma. O tiro que naquele momento ela não se recordava se realmente doeu ou em qual parte do seu corpo ele perfurou.

Monstro. Ele é um monstro. Ele é apenas...Astrid encarou o rosto de cada um de seus companheiros e por fim encarou Aiyden. Eles são todos apenas cópias, clones... eles não são... reais?

O sino que anunciava o final do café da manhã, soou atrasado, facto que Jase não deixou de evidenciar, antes de se levantar e anunciar que era hora de mais uma: tentativa de morte forçada.

.

.

Métodos cruéis, porém bons instrutores. Foi o que Astrid observou, após suas aulas de luta corpo a corpo e manuseamento de espadas. Ela ainda era péssima, isso era um facto incontestável, no entanto algum progresso estava sendo feito, principalmente quando ela decidiu realmente fechar a boca e seguir o que lhe era ensinado, tal como Elis havia dito, ela estava pegando tudo que pudessem lhe dar, afinal se não dá para sair pela porta da frente ela terá que dar a volta até a porta dos fundos e até se jogar pela janela. O que infelizmente para si não parecia haver naquele lugar, onde toda a luz que iluminava o ambiente era artificial, sem luz do sol, sem nenhum ponto de folga realmente visível.

Nem na sala das corridas. Astrid constatou, enquanto pela primeira vez realmente se deu ao trabalho de olhar o imenso espaço, o qual possuía um teto que se encontrava bem distante de seu corpo. Sem janelas, apenas concreto por todo lado.

A uma pequena distância da roda formada por seu grupo, Astrid se encontrava em pé de costas para eles, até que uma parte da conversa a chamou atenção e ela se aproximou.

— Do que estão falando? Que rumor?

Todos a encaram. Jase pegou em seu braço e a puxou para mais perto, todos se moveram um pouco abrindo um espaço e Astrid entrou na roda.

— Há um rumor, entre muitos outros rumores sobre...

Dando uma pausa, Jase lançou um olhar furtivo para Aiyden, que parecia distraído olhando ao seus arredores e como se isso fosse garantia suficiente de que ele não estava os ouvindo, Jase continuou.

— Ele. Que dizem que para além do poder de controle mental.

Um arrepio subiu pela espinha de Astrid.

— Ele também tem um outro, que chamam de toque fatal.

— O que isso faz? — Astrid não tinha a certeza se realmente queria saber, no entanto não pode evitar guardar sua pergunta.

— Dizem que se  tocares na mão dele a tua se desfaz — revelou e inconscientemente Astrid encarou as próprias mãos e por alguma razão elas começaram a tremer, obrigando ela a escondê-las.

— I-isso é sério? — perguntou, e por momentos esperou que Jase cairiam na gargalhada e a chamaria de idiota por acreditar naquilo, mas ele não o fez, ele continou sério.

— Como disse é só um rumor, mas... é bem possível que seja verdade.

Como se combinassem ao mesmo tempo todos olharam para Aiyden que por sua vez também os encarava. Sustentaram o olhar por algum tempo até que Aiyden decidiu olhar para qualquer outro lugar, longe de seus olhos.

— Mesmo que seja uma corrida sem obstáculos, nós ainda teremos de tocar em sua mão, não é? — Ninguém disse nada. — Vamos mesmo bater na mão dele?

— Se não o fizermos, seremos desclassificados e tenho sérias dúvidas que ele vá ser enviado para dimensão das punições. E se... — Edward passou a coçar levemente a cicatriz como se de repente ela lhe causasse incômodo. — Mesmo se formos para a dimensão das punições de propósito, não tenho a certeza se a longo prazo isso será a melhor alternativa.

Todos excepto Astrid encaram Logan.

— Se irmos para lá continuamente não creio que vou poder impedi-lo de matar algum de nós. — Aiyslnn já não encarava Logan, que mesmo parecendo ser o alvo de suas palavras permanecia quieto.

Porque Logan e morte continuam a parecer juntos? A língua de Astrid pareceu coçar para perguntar. Para entender, o que aquelas palavras significavam. Porque o integrante mais simpático e que parecia mais inofensivo era tratado, como se realmente pudesse matar algum deles.

O som que anunciava o início da atividade soou, mecanicamente Edward se moveu até uma máquina, com uma tela a qual permitia inserir as posições de cada membro do grupo. Ele moveu sua mão pela tela, e Astrid reparou que ela tremia, como se desarma-se uma bomba, coisa que já haviam feito, após a aula de manuseio de espada, tal evento que certamente não correu muito bem. Alguns minutos se passaram e quando Edward voltou ele parecia irritado.

— O que foi? — Jase perguntou, quando Edward chegou perto o suficiente para ocupar seu lugar na roda.

Seus olhos bicolor se fecharam e a testa franzida fazia parecer que ele estava pensando no que diria, ou apenas tentando expulsar a frustração e irritação que se estabeleceram em seu rosto.

— Coloquei Astrid atrás dele.

Seus olhos se abriram e os de Astrid se arregalaram.

— Sinto muito, iria colocar ele entre mim e o Jase. Achei que com nossos poderes talvez pudéssemos tentar dar um jeito caso... for verdade. Mas... — Sua mão se fechou em um punho. — A porcaria desse sistema não permite editar as posições e...

— Tudo bem. — Astrid conseguiu dizer. — É como disseram, é apenas um rumor, então...a uma grande possibilidade da informação estar errada. E-e...ele está usando luvas, então talvez com ela seu poder não funcione — disse se lembrando de suas mãos enluvadas. — Então... tudo ficará bem — tentou sorrir, porém ninguém tentou retribuir.

Todos partiram em suas posições, na pista que segundo Lucky, pertencia a família, menos letal, sendo sem nenhum obstáculo e extensão o suficiente para doer as pernas por dias. Antes de ir em sua posição que ficava em frente de Aiyden, Edward sussurrou algumas instruções sobre não parar de correr e diminuir a velocidade se for necessário e bater na mão de Aiyden apenas com as pontas dos dedos, para tentar evitar o máximo de contacto possível. Astrid assentiu e Edward partiu.

Em sua posição Astrid tentou se aquecer, usando exercícios que lhe eram dados pelos treinadores no início de cada aula. Sua posição era a segunda, a qual ficava entre Jase que estava na primeira e Aiyden que se encontrava na terceira.

Olhando para o clone de seu colega ao longe, Astrid respirou muito, muito fundo e quando soltou o ar, alguma espécie de paz pareceu chegar até si, ou era isso, ou era apenas um certo conformismo de que iria ficar sem uma das mãos.

É só um rumor.

— Não passa disso.

— Astrid!!

Ao ouvir seu nome, Astrid olhou para trás e Jase vinha em sua direção. A corrida já havia começado, constatou. Estendeu seu braço para frente e Jase bateu na palma da sua mão, desejando um sonoro: — Boa sorte.

Por segundos suas pernas pareceram congelar, mas Astrid as forçou a se moverem. Correu pela pista se mantendo em sua linha e se esforçando para não ceder a pista escorregadia.

Aumentou sua velocidade ao passo que suas pernas começaram a doer. Mas seu corpo não parou, nem mesmo quando um dos soldados que corria a sua frente escorregou, se chocando com outro e levando os dois a rolarem pela pista, indo em direção a Astrid, parecendo duas bolas que vinham para derrubar um pino que no caso seria Astrid, no entanto, algo que nem ela mesma poderia acreditar, aconteceu; Seu cérebro pareceu assumir alguma função de sobrevivência que lhe permitiu previr o acidente que teria se tenta-se ir para qualquer um dos lados para assim concluir que deveria aumentar sua velocidade e saltar quando eles estavam a alguns metros de si. As pernas de Astrid se agacharam no ar, esticou as mãos para cima e por breves segundos se sentiu como uma estrela do basquetebol prestes a marcar o cesto da vitória.

Seu corpo foi teletransportado para mais alto e então para o chão. Olhou para onde estivera e com um fraco: Uou. Saiu correndo.

Apertou os passos pela pista e quando chegou perto de Aiyden, sua velocidade começou a diminuir pouco a pouco, enquanto olhava para as suas mãos enluvadas.

Alguns competidores passaram por ela e Astrid apenas ia se tornando mais lenta.

É apenas um rumor.

Tem de ser só um mero rumor!

Aumento sua velocidade, Astrid desviou seu olhar para os olhos de Aiyden, e por um momento achou que eles mudariam, que os negros se transformariam em turquesa, mas eles não mudaram, e nem sua mão mudou, quando ela bateu na palma da mão de Aiyden, a qual era estendida para si.

Aiyden saiu correndo e Astrid caiu de joelhos. Respirou fundo e baixou os olhos para suas mãos, mas...nada aconteceu.

Talvez sejam as luvas? Ou talvez...

Levantou os olhos para frente, para onde Aiyden saiu correndo.

Seja só um rumor.

 



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