Em Outro Universo Angolana

Autor(a): Tayuri


Volume 1

Capítulo 17: Aiyden Oferece A Astrid, Uma Ajuda Um Tanto Quanto Duvidosa

 

— Você...não está bem? — perguntou, após longos segundos sem resposta. — Astrid. Está ouvindo?

Aiyden continuou chamando, entretanto, sua companheira de grupo, permaneceu calada. Sua mão trêmula que segurava a foice, escondida a sua trás, começou a suar ao passo que sua mente tentava trabalhar em algum mecanismo para esconder a outra foice, antes que Aiyden nota-se sua existência.

Seu colega de cela sentou-se à sua frente. Seus olhos antes parecendo preocupados passaram a encará-la de forma curiosa, como se ela tivesse se tornado um problema que ele deveria resolver. O Sodalitano, estendeu uma de suas mãos em direção ao rosto de Astrid, e bem perto de tocar sua bochecha ele parou, a encarou por alguns instantes e por fim recolheu sua mão.

Entretanto, a mão que segurava a voice parou de tremer e Astrid fechou os olhos, seu coração batendo freneticamente.

Não posso fugir de olhos fechados. Mas se os abrir ele vai me fazer cravar minhas foices na minha própria cabeça, como fez com...

Um beliscão foi desferido no braço de Astrid e ela abriu os olhos. Como se esquecesse que ele poderia controlar sua mente, a soldada o encarou, confusa ou talvez chocada.

— Porque me beliscou?

— ...Ian diz que essa é a melhor forma de acordar alguém.

— Por acaso eu pareço estar dormindo?! — Astrid quis rir, quando percebeu que seu corpo não se transformou em pedra, quando notou que ele apenas lhe deu um beliscão, não uma sentença de morte.

— Você fechou os olhos — retrucou.

— Eu... — Fechou a boca, apertou o punho com força, o encarou e os olhos dele ainda eram negros quando ela disse: Obrigado!

— Pelo beliscão?

— ...Sim.

— Sério?!

— Você ficaria grato por um?

Aiyden negou. Astrid novamente fechou a boca quando sua a mente a recordou que ele poderia fazê-la se matar.

O Sodalitano se levantou e estendeu a mão para Astrid, a qual a encarou, talvez ponderando aceitar ou se questionando o que aconteceria caso negasse.

— Não vou te transformar em pedra, se é isso que temé. Apenas irei te ajudar a  ficar em pé.

E então Astrid ficou em pé, sozinha, levando suas foices consigo. Devolveu-as às costas e olhou para qualquer lugar, excepto para o rosto de seu companheiro.

Não importa para onde olhasse, não havia nenhum lugar conhecido, apenas um monte de neve, montanhas, uma floresta ao longe e vários cadáveres de ciborgues e claro, Aiyden, a última pessoa que Astrid gostaria de ficar sozinha.

— Uma tempestade de neve vai chegar em breve.

A voz de Aiyden soou depois de vários minutos em silêncio.

— Você deveria ir. Para perto dos outros soldados.

Eles, certamente, não deveriam dizer mais nada um ao outro. Ele atirou nela e a controlou para matar, com certeza não deveriam conversar.

Eles realmente não deveriam, e Astrid estava tentando não o fazer, ela estava tentando ao máximo não o questionar sobre a localização dos outros soldados ou até sobre a localização atual deles. E muito menos sobre o porquê dele estar sozinho, tendo apenas ciborgues mortos como companhia.

Entretanto, não conseguiu evitar em abrir a boca e disser:

— Ele não funciona.

As sobrancelhas de Aiyden se elevaram e Astrid o encarou.

— Não posso controlar meu poder. Sequer sei como vim parar aqui.

Aiyden levou uma mão à cabeça, coçou-a e pareceu pensar.

— Você não pode controlar — disse, porém não encarou Astrid, de modo que parecia estar falando consigo mesmo. — Não pareceu realmente difícil. — Seus olhos se voltaram para ela. — Você apenas precisa visualizar para onde quer ir e assim irá para lá. Foi o que fiz quando estava te controlando no dia em que nos conhecemos.

Você atirou em mim. Astrid quis acusar, entretanto não disse nada.

— Ian não me disse a localização dos outros soldados e também não creio que possa te ajudar a se teletransportar até o centro. Meu poder não me permite usar tanto da habilidade dos outros.

— Não tente.

Silêncio e:

— Não use seu poder em mim. Não o faça novamente. Se não eu juro que...

Quê o que? Astrid quis saber, no entanto nem ela parecia ter a resposta para aquela questão.

— Quê...Eu...

Seus olhos vaguearam por seu redor e os ciborgues mortos e a ausência dos soldados fizeram seu nível de desconforto subir mais alguns degraus.

Porque ele está sozinho? Ele matou todos eles? Onde estão os corpos? Ele os transformou em pedra?

— Você os petrificou?

— Hum!? Quem?

Aiyden se voltou para ela e os pés de Astrid recuaram alguns passos, mesmo antes de seu companheiro sequer cogitar em dar um passo em sua direção. Os pés da soldada prosseguiram a levando para trás até que em um dado momento, seu tornozelo se chocou contra algo, ela perdeu o equilíbrio e seu corpo foi puxado para trás, porém Aiyden a segurou, pelo braço.

O Sodalitano a puxou para cima e logo levou sua mão para longe de Astrid, a qual sentiu o estômago embrulhar, primeiro por ter seu braço tocado por Aiyden e segundo porque quase caiu sobre o corpo de uma ciborgue morta.

A soldada abaixou os olhos para o braço, que fora tocado por Aiyden, porém ele não mudou, ele não petrificou.

— Os outros... o que aconteceu com os outros soldados? Porque não há nenhum soldado vivo, ou...morto? — perguntou sem olhar para ele.

— Outros...Ah! Não há outros.

Por fim, Astrid o encarou.

— O que quer dizer com isso?

— Que não há outros.

— Quem...quem matou esses ciborgues? Como veio para cá? Você não deveria estar no Centro?

— Deveria?

— Sim. Afinal você é um VVIP. — Tentou sorrir, amargamente.

VV... Do que...Não! Seja mais clara. Não estou conseguindo te...

— O que estou tentando saber é... porque raios alguém que não vai à guerra está aqui? Porque aqui não há qualquer soldado quando há tantos ciborgues mortos? E... se caso soldados do Centro estiveram aqui eu... quero saber se você...

— Os matei?

— Sim! — falou alto, e em um tom mais baixo prosseguiu dizendo. — Você irá me matar? Não é que eu queira morrer ou algo assim, mas eu estou realmente curiosa, sabe. Estou quase morrendo de tanta curiosidade então... me responda. Dessa vez, você irá me matar?

— Não. Eu não vou matar você — declarou. — E também não matei nenhum soldado do Centro. — Passou a mão pela nuca. — Se alguém esteve aqui eu não o vi. E desde que completei catorze anos, que venho a guerra.

Catorze...

— Você...atirou em mim. — Respirou fundo. — Depois de me usar como uma boneca, você atirou em mim. Porque? Você havia dito que sobreviveriamos juntos e então...

— Não o fiz... — replicou e olhou para o lado. — Atirei no ciborgue que estava atrás de você.

Atrás... de mim...

Um floco de neve pousou no ombro de Astrid. Memórias passadas começaram a fluir sem controle. Sem saber o que fazer, Astrid olhou para o céu e tentou se recordar da sensação de levar um tiro. Do sentimento que uma bala causa quando perfura um ser vivo, a dor, mas... não veio nada.

Ele não atirou em mim...

Não? Mas eles o chamam de monstro.

Os olhos azuis se fecharam e voltaram a abrir-se, permitindo-a assistir a fina chuva que não tardou a se tornar em uma tempestade. Tal como ele havia dito, uma tempestade estava vindo.

.

.

A cada passo, Astrid sentia seu corpo congelar.

Mais um passo e seus joelhos foram ao chão, afundaram na neve e a mínima pausa trouxe uma enorme vontade de descansar. De simplesmente ficar parada ali e se possível não voltar a se mover nunca mais.

Só alguns minutinhos...só...

Seu corpo foi puxado para cima. Seus olhos demoraram, porém focaram nos de Aiyden e por um momento que ela certamente chamaria de doentio, cogitou em pedi-lo para que tomasse conta de sua mente.

— Astrid?

— Eu tropecei. Vamos continuar.

O soldado assentiu, levou suas mãos para longe e voltou a liderar o caminho em busca de abrigo. Astrid continuou o seguindo.

Depois de uma longa, fria e tortuosa caminhada, encontraram, ou melhor, Aiyden encontrou uma caverna. Entraram e se acomodaram no limite dela.

Astrid abraçou as pernas enquanto sentia cada parte de seu corpo congelar, tão intensamente que ela poderia jurar que o frio estava a congelando até aos ossos.

Uma pequena luz iluminou a caverna e uma fraca onda de calor se chocou contra o corpo de Astrid que quando cogitou em procurar de onde vinha, a voz de Aiyden se fez presente.

— Não aquece muito e também nesse frio não poderá fazer muito. Mas...é tudo que há.

Astrid olhou para Aiyden, depois para o mini candeeiro em suas mãos, o qual ele colocou no chão e o empurrou em sua direção.

— Espero que ajude um pouco.

— O...obrigado. — É tudo que falou antes de desviar o olhar para a entrada da caverna.

Vários segundos morreram com o silêncio no comando. Vários segundos em que o frio ficava mais forte. Vários segundos em que o som de dentes se chocando uns contra os outros, ficava mais alto aos ouvidos de Astrid, que não podia evitar temer que eles se quebrassem.

— Você parece estar com muito frio — disse, seu companheiro de cela.

— E... você parece... não estar sentindo nada. — Levantou os olhos para Aiyden. — Você parece não sentir frio. — Tentou sorrir.

—...Não é que eu não sinta ou...não esteja sentindo frio... — Empurrou mais o candieiro. — Por conta dos treinos, acabei adquirindo uma maior resistência ao frio. Mas creio que você ainda não deve ter experienciado este tipo de treino.

Astrid riu.

— Isso é uma sorte ou azar?

— Diria que é mais uma sorte. A taxa de sobrevivência de treinos como esse era bem baixa, ao menos no grupo zero.

Ele não olhou para ela, quando disse:

— Em um grupo quase sempre só voltava a metade. Treinos, principalmente de resistência ao frio era demais para eles, mas aquela velha bruxa não se importava. Mesmo sabendo que a probabilidade de eles morrerem ser muito alta, ela não dava a mínima, porque eles eram inúteis para o Centro.

Com os olhos presos no candieiro Aiyden ficou em silêncio. Vários segundos se passaram e ele continuou olhando, tão concentrado que quase parecia estar em transe.

— ...Aiyden...

Os olhos negros piscaram. Se voltaram para Astrid, a qual o encarava com os olhos expressando nada mais que confusão.

— Mas o que quero dizer é que...se quiser... — hesitou, estudou o rosto de sua companheira por alguns instantes e prosseguiu dizendo. — Posso te ajudar, com o frio.

Me ajudar...?

— Tens outro candieiro? — Ele negou.

— Sr.Moore apenas me entregou um. Mas a ajuda a qual me refiro é algo que Ian... O Sr.Moore me disse, com base em algo que ele leu em um livro.

— E o que seria isso exatamente? — Abraçou suas pernas com mais força.

— Bem...sinceramente eu não tenho a certeza quanto a eficiência disso. São apenas as palavras de Ian, ou as palavras tiradas do livro que ele leu, então há uma grande probabilidade de não funcionar.

Os olhos de Astrid se fecharam. Voltaram a abrir e ela tentou ao máximo focar no rosto de Aiyden.

— Então...o que seria isso, que veio das palavras que o Sr.Moore tirou do livro que leu? — perguntou, tentando ser tão clara quanto ele.

— Tirar a roupa — falou Aiyden e o tempo pareceu congelar.

Longos minutos morreram enquanto Astrid tentava processar a informação recebida.

— Tirar a roupa? — Ele assentiu. — Ah! Claro, faz todo sentido. Claro...é óbvio. — Um suspiro escapou dos lábios de Astrid. — Certo! Vamos dizer que estamos quites ou algo assim. — Seus olhos não encaravam Aiyden enquanto parecia cair em um monólogo. — Eu te acusei de ter atirado em mim e você... — Olhou para ele e tentou encontrar as palavras certas — Você salvou minha vida, então eu estou tentando encontrar o termo certo para usar nessa situação. Sabe tendo em consideração que salvou minha vida, mas...não sei se deveria te chamar de pervertido, idiota ou pervertido idiota. — Astrid espirou e por um momento se sentiu tonta. — O que acha?

— Porque deveria ser chamado de pervatido, idiota ou pervatido idiota?

— Por que você está sendo um — respondeu muito rápido. — Estou errada?!

— Está.

Astrid tentou rir. Espirrou mais.

— Como? Você literalmente me disse para tirar a roupa...de que forma eu estou errada em te chamar de pervertido?

Os olhos de Aiyden se desviaram dos de Astrid e uma de suas mãos foi até a única mecha de fios brancos que havia entre os fios pretos.

— Espera...você... — Tornou a olhar para Astrid. — Você está pensando que eu... — Astrid se arrastou um pouco para longe e na sequência Aiyden jogou a mecha de cabelo para trás. — Você me entendeu errado. Não estava sugerindo que tirasse a roupa toda. Acredita, não tenho qualquer intenção maliciosa para com o teu corpo.

A soldada não disse nada, no entanto também não se aproximou ou sequer retirou o olhar de desconfiança.

— Quando sugeri sobre tirar a roupa, não estava me referindo a ela toda. Os uniformes do centro nunca tendem a variar, ao menos não os da mesma classe, então por conta disso supões que tal como eu por baixo do fato você teria uma camisa ou uma regata, ou estou enganado?

Os olhos de Astrid se moveram de uma lado para o outros e segundos mais tarde, lentamente negou com a cabeça.

— Então...

— Então estava me referindo apenas a tirar a parte de cima do fato. Porque se ele não está conseguindo aquecer você, então é porque deve ter sido mal configurado ou ele simplesmente não consegue fazer nada diante desse frio, então é meio indiferente se o usas ou não.

— O fato aquece?

— Sim. Não te explicaram sobre o fato? — A cabeça de Astrid tombou um pouco para o lado, enquanto ponderava sobre culpar os ajudantes do Centro ou admitir que realmente não estava nem aí para qualquer informação que estavam tentando transferir para o seu cérebro. — Ao menos o teu parece estar funcionando bem. Ele está conseguindo te manter quente — falou Astrid simplesmente.

— Ele não faz isso.

Astrid o encarou.

— Como não? Você disse...

— Russell, mandou desligar esta função a mais ou menos um ano atrás.

— Porque? Pensei que era um VVIP. Sabe... serviço de mil estrelas.

— Não sei o que esse VVIP quer dizer, mas Kendra mandou o desligar, porque eu disse que a mataria enquanto estivesse dormindo. — Confessou.

Certo! Ele não a matou, só ameaçou.

— Mas voltando ao assunto anterior... — Astrid tentou abrir a boca para dizer algo, entretanto Aiyden foi mais rápido. — Segundo o que o Sr.Moore me falou, para que duas pessoas possam aquecer uma a outra no frio é necessário não só estarem próximas como também não usarem muita roupa. Então, tendo em conta isso, pensei em usar o calor do meu corpo para te aquecer, antes que você... morra de congelamento corporal ou hipotermia.

O silêncio assumiu o comando. O frio pareceu aumentar e o som dos dentes de Astrid se chocando, se tornou mais alto aos seus ouvidos.

— Porque quer me ajudar? — perguntou, um tempo depois. — Você já devia ter virado as costas para mim desde o momento que te acusei, mesmo quando você havia me salvado. Então porque? Porque se dá ao trabalho de me oferecer ajuda e até... — Olhou para baixo. — Seu candeeiro.

— Porque você precisa. — Foi tudo que ele disse.

— ...Sabe, você é realmente estranho. Você...aquele garoto também não parecia exatamente normal, mas definitivamente você é mais estranho que ele.

— A pessoa a quem pegaste o lugar? — Astrid riu.

— Sim. A pessoa que roubei o lugar. Alguém com um rosto parecido com o teu.

— Somos tão parecidos assim?

— Até demais.

— Ao menos ele é normal.

— ....Eu disse que ele era normal. Apenas...um pouco menos estranho... — Uma tosse escapou da garganta de Astrid a qual passou a sentir a cabeça doer e a garganta seca. — Eu já tecnicamente te chamei de assassino...então, posso fazer uma pergunta?

Aiyden somente assentiu.

— Você... — Estudou atentamente o rosto de seu companheiro. — Você realmente matou...todos os soldados do grupo zero?

— Não! Você acredita em mim?

— Talvez...Porque...porque quebrou o braço de Kieran Gray? — perguntou e antes que lhe fosse oferecida uma resposta continuou: — Sei que era uma luta e tudo mais e que você estava apenas fazendo o que todos fazem, mas..quebrar o braço dele isso...foi muito cruel. Você poderia tê-lo derrotado com sei lá, um chute ou algo assim, mas ao invés disso achaste melhor partir o braço dele.

Mais uma vez Aiyden empurrou o candeeiro em direção a Astrid que agradeceu pelo pequeno calor, porém em seguida se sentiu mal, pois quanto mais perto ele estiver dela, mas longe estará de Aiyden.

— Não quebrei o braço dele — confessou. — Apenas o coloquei no lugar — acrescentou.

— No lugar? Mas-mas eu..quer dizer todos vimos você... — Travou e tentou se lembrar da luta. — Você o quebrou.

Aiyden estudou Astrid por alguns instantes a encarando firmemente sem dar algum sinal de que iria desviar o olhar.

— O ombro dele estava deslocado. Antes de chegar ao grupo quinze, já o tinha visto e ele...nós esbarramos um no outro e após o embate acabei por notar que ele estava machucado e depois do ocorrido Ian... — coçou a cabeça. — Sr.Moore disse me que Kieran havia tentado fugir alguns dias atrás.

Os olhos de Astrid se arregalaram.

— Ele foi apanhado. — A soldada constatou e Aiyden assentiu com a cabeça.

— Foi pego pelos guardas e enquanto lutava acabou por ter o ombro deslocado.

— Mas ele poderia ter ido a ala médica. Eles iriam... — parou quando Aiyden passou a balançar a cabeça e claro sinal de negação.

— Russell não permitiu. Como castigo ela não deixou que tratassem do ombro dele.

Fumaça saiu da boca de Astrid. Suas costas foram contra a parede e por um momento ela desejou se fundir a ela. Provavelmente deveria ser melhor ser uma das paredes daquela caverna do que ser ela mesma.

 

— Ela o deixou treinar nessas condições...Aquela mulher é tão...

— Ela é.

— Então no final você resolveu fazer aquilo que eles se negavam a fazer. Ou melhor, que Russell se negava a permitir.

Monstro diziam todos. Monstro pensou Astrid enquanto o assistiam fazer outra pessoa agonizar de dor, mas...

Sem realmente se importar em ser invasiva, Astrid o encarou atentamente, tentando encontrar algo, alguma evidência de que estava mentindo, que ele era tudo o que os outros diziam, no entanto não encontrou nada... nada mais que sinceridade.

Não posso ver seu coração, não posso ler seus pensamentos, porém também não consigo dizer que ele está mentindo.

— Foi perigoso. Poderias ou podes tê-lo machucado...sem querer.

— Já fiz isso antes — disse ele, normalmente, como se adolescentes ou qualquer um sem um devido certificado e experiência saíssem por aí fazendo tal coisa. — Não o fiz contando com sorte ou algo assim. Sabia bem o que deveria fazer...

— Por que você já o fez antes — concluiu.

— Sim. — Ele falou em voz baixa e assim ambos caíram no silêncio.

 



Comentários