Em Outro Universo Angolana

Autor(a): Tayuri


Volume 1

Capítulo 20: Enchidos Até Ao Teto

Coisa horríveis, seguidas de outras piores. Essa era a rotina dos soldados do Centro de ajuda cinco. 

Algumas horas atrás, Astrid estava fritando os miolos pensando na esmagadora possibilidade de estar mesmo em outro universo. E agora estava presa, em uma sala que iria se encher de água até ao teto, e a falta de portas e janelas a faziam se questionar se suas habilidades de AquaSwimm, a manteriam viva, até o tempo estipulado terminar, claro! Isso se esse tempo realmente existir.

Astrid abaixou o olhar para o chão e encarou seus pés descalços, molhados pela água que corria, aumentando pouco a pouco, para os afogar.

Bem, ao menos não estou usando meias. 

Astrid olhou mais atentamente para seus pés e não pôde evitar novamente pensar sobre como conseguiram tirá-los das celas enquanto dormiam. Como nenhum deles percebeu que estavam sendo levados para uma sala super sinistra afogadora de pessoas?

— Aiys. Acha que pode se livrar da barreira? 

A voz de Chloe chegou aos ouvidos de Astrid, a qual levantou o olhar, para onde sua companheira estava. 

— No meu estado actual, não sei se poderei. Tudo irá depender do quão resistente essa barreira é. 

— Há alguma hipótese de destruíres os dois de uma vez só, se liberarem um pouquinho a mais? — Lucky perguntou, e Aiyslnn negou. 

— De momento, creio que não seja uma boa ideia. Doutora Swonney, aconselhou que por enquanto actua-se no modo seguro. 

— Então vamos nos concentrar em destruir a barreira primeiro. 

Aiyden sugeriu, e todos os olhares se voltaram para ele.

— Como? — Chloe quis saber. Aiyden apontou para um pequeno aparelho que se encontrava na parede, muito perto do teto. 

— Se não estiver enganado! Aquele aparelho é o responsável pela barreira. 

— Por que acha isso? — Os olhos de Chloe correram ao seu arredor. — Você já esteve aqui…ou é apenas um palpite? 

Aiyden pareceu pensar, com a mão direita atrás do pescoço e os olhos ainda no aparelho. 

— …Não diria que estive exatamente aqui, mas…eu acho que já fiz um teste parecido com este. Isso já foi há algum tempo. Mas tenho quase a certeza que se desligarmos aquele aparelho, a barreira irá sumir, e assim poderemos destruir a parede de vidro. 

— Simples assim? — Chloe quase sorriu. 

— Eu diria que sim, entretanto algo me diz que essa não é a resposta certa. Não até sairmos daqui. 

Os integrantes do grupo quinze se entreolharam. Astrid olhou ao redor da sala, que tinha seu espaço ocupado apenas por eles. Tentou olhar para o que havia atrás da única parede de vidro, mas não viu nada, a estranha barreira que se projectava por toda sua extensão, dificultava totalmente qualquer hipótese de ver o que havia por trás. Seria a saída? Ou apenas outra armadilha? 

Por alguns minutos ninguém disse nada, o tempo foi passando e a água já chegava à cintura de Astrid. 

— Lembras de mais alguma coisa sobre este teste? — A pergunta foi para Aiyden e veio de Aiyslnn. — Pois tenho minhas suspeitas que este teste não seja apenas isso.

Sua voz era baixa, porém ainda audível, Seus olhos estavam abertos, no entanto pareciam querer se fechar, a todo momento.

Você está com sono? 

Astrid queria perguntar.

Você está doente? 

Astrid quis lhe questionar. Quando sua aparência a lembrou de Keva.

— Não tenho a certeza. — Aiyden falou e a água pareceu ficar mais fria, mesmo não havendo qualquer item que pudesse estar produzindo aquele frio. — Só lembro que alguém morreu. 

A água já havia chegado ao pescoço quando Astrid imergiu.

Afundou e tentou nadar. Bateu os braços desajeitadamente e antes que pudesse se obrigar a deixar o pânico ir e recuperar a calma, um rosto surgiu diante de seus olhos. Uma mão agarrou-a pela cintura e Astrid foi puxada para a superfície. 

Arfou. Tossiu e respirou desesperadamente.

— Tente se acalmar. — Uma voz chegou aos ouvidos de Astrid, a qual olhou para cima e viu Logan, com o cabelo loiro quase cobrindo os olhos, que a encaravam com preocupação. — Calma! — Pediu e pouco a pouco a respiração de Astrid foi se normalizando. — Ficarei ao teu lado e te manterei boiando. 

— Não…quer dizer obrigado! Eu consigo boiar sozinha — disse e em seguida se afastou de seu companheiro.

— Se não sabe nadar, é melhor…

— Eu sei nadar! — retrucou — Eu só…

— Seu poder.

Astrid desviou o olhar de Lucky, para Aiyden e lentamente assentiu.

— Ainda não posso controlar. — Seus olhos azuis já não encaravam ninguém.

— Nós sabemos. Mas se continuar fazendo isso aqui, pode ser fatal. Tente contê-lo o máximo que puder, até sairmos daqui. 

Astrid não disse nada, e Chloe desviou sua atenção dela, para Aiyden, o qual nadou até o aparelho e de frente a ele, Aiyden levou a mão direita para o aparelho ao passo que seus companheiros se entreolharam por alguns instantes e tornaram a olhar para Aiyden, quando o dito cujo nadou para perto deles. 

— Desligou? — Astrid perguntou e Aiyden negou. 

— O que estava tentando fazer? — Chloe olhou de Aiyden para o aparelho. 

— Petrificá-lo. Mas não funcionou. 

— Então e agora? Vamos e damos alguns socos no aparelho, até ele quebrar? 

— Melhor não. — Aiyden respondeu, porém Jase não o encarou. — Se deixarmos alguma peça vazar, é possível que acabemos todos eletrocutados. Então…

— Então… — Chloe incentivou.

— Creio que nossa melhor solução seja provocar um pequeno curto circuito. — Seus olhos foram para Jase.

Os dois soldados se encararam. E pouco a pouco Jase desmanchou a expressão fria, para uma assustada.

— Não!! Definitivamente não. I-isso não vai funcionar.

Jase abanou a cabeça freneticamente, enquanto se afastava.

— Não posso — proferiu ele. 

— Além de você, ninguém mais pode fazê-lo — disse Aiyden.

— Não!!!! — Jase gritou e o silêncio se fez presente.

— Vamos tentar outra coisa. — Lucky interviu  — Ele não pode fazer isso. Jase não pode usar seus poderes, quando há água, então vamos arranjar outra forma de o desligar.

Aiyden tirou os olhos de Lucky. Olhou para o aparelho e depois tornou a encarar  Jase. Estudou seu rosto por alguns instantes e por fim avançou, ficando de frente a Jase. 

— Eu farei isso — anunciou e Jase o encarou. — Com você.

Astrid sentiu a água ficar mais fria. A confusão pareceu tomar conta de Jase, por alguns segundos até que seus olhos se arregalaram levemente.

Ele havia entendido.

— Quer me controlar? 

Aiyden não disse nada, e assistiu apenas seu companheiro de cela abanar a cabeça freneticamente, novamente. 

— De jeito nenhum. 

Jase se afastou, como se fugisse de uma assombração.

— Então faça você mesmo. 

Jase parou. Seu corpo pareceu tremer, e Astrid não soube se era pelo frio ou pelas palavras de Aiyden.

— Ele não vai fazê-lo. Vamos tentar de outra forma. 

Chloe tentou intervir, no entanto a atenção de Aiyden se manteve em Jase.

— Você o único que pode fazer isso — falou, em um tom elevado que lembrou a Astrid, o dia em que ajudou Keva Rudson. — Em menos de alguns minutos a sala ficará totalmente cheia. Precisamos fazer algo, agora! 

— …Eu não posso. Você não consegue entender? — vociferou. Virou-se e Aiyden estava apenas a uma curta distância de si, porém Jase não se afastou. — Se usar a minha habilidade eu vou…vou…— Fechou os olhos por breves momentos e quando tornou a abri-los prosseguiu. — Vou eletrocutar a todos. 

— E se não o fizer, nós vamos morrer afogados.

Todos ficaram em silêncio, e o ar pareceu ficar mais pesado. 

Aiyden olhou para algum ponto da sala e depois tornou a olhar para Jase.

— Olha! Eu entendo que você não quer fazer isso. Você com certeza não acreditara, mas eu não quero te obrigar a fazer algo, que não queres fazer, mas…aquela maldita velha está brincando conosco. Ela…— quase sorriu. — Ela deve estar rindo de nós, agora. Ela sabe que você não aceitará usar seus poderes. Ela sabe que seu poder é o melhor para desligar o aparelho e também…— Seus olhos passearam por todos. — Que você não me deixará fazer o trabalho por ti, mesmo que custe sua vida. 

— Eu faço! 

A voz de Aiyslnn se fez presente, enquanto a água aumentava, há uma velocidade muito lenta.

Os olhos de Aiyslnn se abriram e mais uma vez, Astrid se lembrou de Keva, parecendo à beira da morte.

— Eu posso fazer isso. Usarei apenas uma pequena quantidade de…

— Se você fizer isso…— Chloe começou.

— Nós iremos congelar até a morte. — Jase concluiu. — A água está muito fria. 

— Sinto muito! 

— Eu também sinto muito, é tudo culpa minha — admitiu Logan e Jase negou com a cabeça.

Astrid olhou de Logan para Aiyslnn e novamente, não soube como interpretar.  

— Não é sua culpa. Vocês não têm porque se desculpar. A culpa é daquele maldito maniaco e…— Jase passou as mãos no rosto e quando por fim as levou para longe, seu rosto expressava nada além de frustração. Olhou para água e depois para seu arredor. — Sério, ela está mesmo brincando conosco. Essa merda já não devia ter se enchido completamente?! 

Sim! Astrid olhou para qualquer lugar, e seus olhos registraram algumas câmeras. Ela está vendo tudo. Está apenas brincando conosco. 

— Kendra deve ter tirado o dia para nos assistir — Aiyden começou. — Ela deve ter cansado de contar diamantes. 

Jase riu, e seu corpo pareceu relaxar um pouco.

— Eu ainda não posso fazer isso, mas…— Olhou para Aiyden. — Eu vou deixar você fazê-lo. — Os olhos de Jase, foram para Chloe e Lucky, as quais prontamente fecharam a boca e por fim voltou a encarar Aiyden. — Mas…se tentar me matar, eu te mato…Ou melhor meus amigos te matam. 

— Eh! Tenho a certeza que isso poderá acontecer — olhou de relance, para Aiyslnn. — Como minha vida está em jogo, então creio que seja justo te silenciar. — Seus olhos se encontraram com os cinzentos de Jase, que tentou dizer algo, porém sua boca se fechou quando os olhos de Aiyden se tornaram turquesa. 

— Jase! — Chloe o chamou, porém não obteve nenhuma resposta.

— O que quis dizer com.. silênciar? — Aiyslnn perguntou.

— Quer dizer que, não irei ouvir sua voz, na minha cabeça. — Sem oferecer mais nenhuma explicação, Aiyden se foi, em direção aparelho e Jase o acompanhou.

— Ele…não vai  matá-lo, certo? 

—  Não! Ele… 

—  Ele não vai —  Lucky, concluiu e todos incluindo Astrid a encararam. 

— Ele é humano! —  Aiyslnn respirou profundamente. —  Tal como Lucky e Astrid disseram, ele não vai matá-lo. —  Seus olhos encaravam Logan. —  Então não se preocupe, ele deve liberá-lo quando tudo…

—  Feito! —  Aiyden anunciou, após o aparelho soltar fumo. 

—  Já? —  Astrid soltou, involuntariamente. 

—  Jase? —  Chloe, chamou quando os olhos de Aiyden, voltaram a ser negros. 

—  Po-por que estão olhando assim para mim? O que aconteceu? 

— Jase —  Lucky chamou e rapidamente Jase encontrou seus olhos e sem trocar nenhuma palavra, apenas se encararam, até que por fim, Lucky mergulhou. 

—  O que aconteceu? —  Levou a mão à cabeça e passou a coçá-la. 

— Bem…digamos que você…conseguiu desligar o aparelho — disse Astrid e seu companheiro, olhou para o aparelho, agora apagado e depois tornou a olhar para seus companheiros. 

—  Vocês estão bem? 

— Estamos vivos! —  Aiyslnn respondeu. — Aiyden usou o poder dele em você, e conseguiu que desligasse o aparelho. 

Jase somente assentiu, porém não olhou para o lado. Para onde Aiyden estava. 

— A barreira sumiu — anunciou Lucky, após emergir. — Mas temos um novo problema. 

— Cobras! — Aiyden tentou e Lucky somente assentiu.

— Claro! É  óbvio que essa aberração tinha de aparecer — disse Jase, frustrado. 

— Vocês já mataram, uma? — Aiyden perguntou e a resposta veio de Chloe.

— Já. Uma vez. Mas essa possibilidade não está disponível no mesmo. Vamos apenas dar um jeito de distraí-la enquanto Aiyslnn quebra o vidro. 

— Suponho que não consigas controlar, cobras comedoras de pessoas, certo? — Jase perguntou, no entanto Aiyden não respondeu.

— Ela realmente come pessoas? — Astrid questionou e todos os olhares se voltaram para ela. — Isso quer dizer que seremos comidos?...Eu disse algo de errado? O que estão olhando? — Olhou para trás e quando tornou a olhar para frente eles ainda a encaravam. 

— Pode nos teletransportar para fora da sala? — Muito lentamente, Astrid negou. 

— Mesmo se funcionar não tenho ideia de onde acabaremos. 

Chloe olhou para Aiyden e novamente tornou a encarar Astrid. Abriu a boca, entretanto a fechou rapidamente e segundos depois Astrid tomou a iniciativa. 

—  Você… —  Seus olhos estavam em Aiyden. —  Pode nos tirar daqui? Usando meu poder.  

Aiyden, não disse nada e Astrid segurou o braço de Logan quando sentiu algo passar por baixo de seus pés. 

— Acho que já tivemos o suficiente de controle mental por hoje. Vamos parar com isso — avisou Jase, sem olhar para ninguém.

— Meu poder...Não está mais funcionando. Não devemos estar em uma dimensão. Então com certeza seria possível nos teletraportarmos para fora da sala.

— Acabaria com a tortura. Russell, com certeza não gostaria disso. Oton, já deve ter terminado de criar a cobra. Acho que ela está nos rondando e a água voltou a subir. Então, vamos apenas fazer como Chloe disse, todos com exceção do Jase e da Astrid distraiam as cobras. Eu irei quebrar a parede. 

Sem esperar alguém dizer algo, Aiyslnn partiu, em direção a parede de vidro. 

— Logan, acho melhor você ficar também.

— Não! Me deixem ajudar! Prometo que terei cuidado. Eu ficarei no controle. 

Chloe o encarou por alguns instantes e por fim mergulhou, sendo seguida por Lucky, Aiyden e Logan. 

Sem dizer nada, Jase puxou Astrid para perto da parede. 

— Estou com medo. — Astrid admitiu. 

— Eu também. Mesmo tentando, não consigo fingir que não há uma cobra enorme, por baixo dos meus pés. Odeio testes com água — bateu a parte de trás da cabeça na parede. — Eu sempre acabo sendo um completo inútil. 

— Você também é ruim nos teste de altura — relembrou Astrid e Jase riu. 

— Certo! Eu realmente sou. — Riu mais. 

— E no tiro ao arco...

— Já entendi! Então que tal pararmos de enumerar meus defeitos? 

Astrid riu. 

— Você está bem? 

— Tem uma cobra enorme, por baixo de nós, o que você acha? 

— Não estou falando sobre isso — olhou para Jase. — Antes, você pareceu realmente assusta...

Astrid se teletransportou. Esticou os braços para cima tentando voltar à superfície, no entanto tal como na dimensão das punições, a cobra ou melhor, uma das cobras envolveu seu pé, em um aperto mortal. 

Astrid tentou nadar, ao mesmo tempo que a cobra a puxou para baixo, em direção a onde deveria estar o chão, mas que agora parecia um buraco negro, de onde Astrid sabia que se entrasse, já não mais voltaria a sair. 

Seu corpo e tudo a sua volta começou a vibrar.  A cobra pareceu se agitar e a puxou mais para baixo. 

Astrid levou um braço para cima, ao mesmo tempo que uma espada, cravou na cauda da cobra, liberando assim o pé de Astrid, a qual arregalou os olhos quando uma ciborgue entrou em seu campo de visão. A mão enorme metálica, tentou alcançar a soldada, no entanto Astrid se afastou e logo em seguida a cobra atacou a ciborgue, que rapidamente se defendeu de suas mandíbulas, usando sua espada como escudo, no entanto em uma batalha de força a cobra venceu e segurando firme em sua espada a ciborgue foi empurrada para longe. 

A vibração na água se tornou mais forte e os ouvidos de Astrid começaram a doer, ao passo que seus olhos começavam a pesar, provavelmente devido ao ar que já começava a faltar. 

Lançando os braços para cima, Astrid tentou nadar em direção ao ar que lhe faltava. Nadou o mais que pude e quando por fim alcançou o limite, percebeu que já não havia ar, a água já havia cobrido toda a sala. 

Com os olhos abrindo e fechando, Astrid sentiu tudo a sua volta se tornar mais lento. E então, sem aplicar qualquer resistência, deixou seu corpo afundar, sentindo o ar e sua consciência indo embora.

O som que parecia vir do além, parou. A vibração terminou e o rosto de Jase, entrou no campo de visão de Astrid, ele estava nadando em sua direção. 

Jase estendeu seu braço, e muito lentamente Astrid estendeu o seu, no entanto, sua mão não alcançou a dele. 

A silhueta de Jase foi se desfocando e Astrid já não sabia se o que via era realmente uma pessoa. 

A soldada fechou os olhos, e quando os abriu, a silhueta de uma pessoa estava em seu campo de visão. Tentou forçar a visão, mas seus olhos apenas viam um borão.

Quem?

Jase?

A pessoa chegou mais perto de Astrid. Suas mãos tomaram seu rosto e... seus lábios pressionaram os de Astrid. 

Do lado de fora, a parede de vidro se quebrou totalmente. Astrid fechou os olhos e apagou.

 



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