Em Outro Universo Angolana

Autor(a): Tayuri


Volume 1

Capitulo 21: Astrid, Morde As Tranças, Diante De Uma Nova Descoberta

— Astrid... Astrid!!

Astrid, abandonou o prato de sandwich em cima da mesa da cozinha e seguiu a voz.

Sob a luz artificial, atravessou a sala de estar, desviando de esculturas e papéis espalhados pelo que deveria ser apenas a sala. 

Parada na entrada da varanda, Astrid observou seu pai, o qual estava sentado em uma cadeira de balanço, com uma taça de vinho quase vazia em mão. 

Astrid revirou os olhos antes de adentrar a varanda e se agachar ao lado da cadeira. 

— Estou aqui! — falou, facilmente deixando transparecer seu descontentamento. — Espero que não tenha me chamado para encher sua taça. — Apoiou os cotovelos, no braço da cadeira, trazendo assim para si, o olhar de seu pai, o qual estudou seu rosto por breves momentos e em seguida, abanou a cabeça. 

 — Não é você!

— Hum? Não sou eu o que? 

— Não é você que estou chamando. 

Os olhos de Astrid se semicerraram e sua carranca, aumentou. 

— Só vivemos aqui nós os dois, se você não está me chamando, então está chamando quem? — Astrid se levantou. — Eu fiz um esforço quase monstruoso para sair do quarto e preparar algo para comer, por que está me incomodando? Apenas beba seu vinho em silêncio. 

Astrid lhe deu as costas, porém não deu nenhum passo adiante, ao ouvir seu pai dizer:

— Minha filha. Eu estou chamando minha filha Astrid. 

Astrid proferiu algumas palavras sem som e então se agachou novamente ao lado da cadeira. 

— Papai, você está bêbado? — Olhou em direção a mesa, e analisou as duas garrafas de vinho, as quais uma estava quase vazia. — Você nem sequer a terminou, mas já está completamente bêbado? — falou, quando voltou a encarar seu pai. 

Silêncio e então: 

— Você está bem? — perguntou, em um tom mais baixo e menos irritado. — Papai! 

Aaron Axel a encarou. 

— Não me diga — Uma pausa. — Você tem outra filha? Papai!! Você realmente tem outra filha? 

Aaron se manteve a encarando, até que por fim voltou seu olhar para o céu.

— Não nesse universo — contou, colocou a taça no chão e levou a mão agora livre à cabeça de Astrid. — Neste universo...

Sorriu. Porém Astrid não retribuiu, não antes dele dizer:

— Você é minha única filha, minha única Astrid.

.

.

Astrid abriu os olhos e mais uma vez, estava na ala médica. E sem realmente querer se mover, a soldada cogitou em se levantar, no entanto tal pequena acção a deixou exausta, sentiu sua garganta seca e um gosto amargo na boca. 

Remédio? 

Ela não sabia. Ela com certeza não sabia nem sequer de si mesma. 

Astrid não quis, no entanto ainda assim seus olhos se fecharam e apenas com o poder da força de vontade, conseguiu os abrir alguns minutos depois e o primeiro rosto que seus olhos viram foi o de Ian Moore. Ele tinha a mão repousando sobre sua testa.

— Cinco minutos — anunciou e levou sua mão esquerda para o bolso do jaleco. — Descanse por mais cinco minutos e vá para sua cela. 

— Minha...boca está amarga...por quê? 

— Ah!! — Ian tinha os olhos em um saco de soro que estava quase acabando. — É um remédio. Logo passa. 

— Por que? 

Ian a encarou.

— Por que o que?

Os olhos de Astrid se fecharam e tornaram a abrir alguns segundos mais tarde. 

— Por que...me deram um remédio, quando poderiam simplesmente usar… — respirou fundo. — Poderes. 

— Desperdício. Nossos curandeiros já são tão poucos, seria um desperdício usar suas habilidades, onde eles não são necessários.

Astrid riu.

— Disperdicio...essa magou, treinador...ah! você não é meu treinador. 

— Eh, eu não sou. E já agora seus cinco minutos acabaram, pode ir. 

Astrid não se moveu. Os dois se encaram até que Ian quebrou a troca de olhares e a forçou a ficar sentada. 

— Só mais vinte...não apenas dez. Me deixe descansar, só por mais dez minutos. 

Astrid tentou voltar a se deitar, porém quando deu por si, já estava em pé, com seus pés descalços pisando no chão frio da ala médica. 

— Eu mal consigo ficar em pé, vai me... — As palavras fugiram, quando os azuis de Astrid encontram o rosto de Elis Swooney. 

— Ei! Olha para cá. Olha para mim! 

Astrid olhou para Ian, entretanto antes que ele pudesse dizer algo, Astrid foi mais rápida.

— Edward...

— Está morto. Não vamos mexer em assuntos que devem estar enterrados. Entendeu? 

— Por que? Por que não podemos falar dele? 

— Quando o rei dá um assunto por terminado, o servo deve fazer o mesmo — disse ele, com uma expressão sombria. 

— Rei?

As mãos de Ian, que estavam segurando os ombros de Astrid, os apertaram com mais força, antes dele dizer: 

— Eles estão vendo...e ouvindo você — Parou, quanto Astrid tentou escapar de suas mãos e sem sucesso, Ian continuou sussurrando. — Então, tenha cuidado com o que diz...Ou vai acabar, cavando a própria cova.

Astrid escondeu suas mãos atrás das costas, e seus olhos olharam por cima do ombro de Moore, e assim a soldada viu, Kendra Russell, linda e visivelmente cara, como sempre. Seus olhos cinzentos olhavam para direção de Astrid, ou pior, estavam olhando diretamente para ela. 

Russell é...a rainha? Eu...sou a próxima a morrer? 

.

.

Com os olhos voltados para o chão, Astrid andava pelo corredor, perdida em sua própria mente. Se afogando em seus próprios dilemas até que, sua cabeça se chocou contra algo e seus olhos passaram a observar um par de botas, que não eram as suas. 

Eram de Jase, Astrid descobriu, após levantar sua cabeça. 

Nenhum deles disse algo. Jase se inclinou em direção a ela, que instintivamente inclinou seu corpo para trás. 

A respiração de Jase, colidiu contra seu rosto, seus lábios se moveram, no entanto Astrid não estava realmente ouvindo. Em algum momento enquanto encarava seu companheiro sua mente começou a vaguear, entre algumas memórias; a sala se enchendo de água. Aiyden controlando Jase. Aiyslnn. Uma mulher ciborgue. Jase nadando em sua direção. E...o beijo. 

Os olhos de Astrid foram dos lábios de Jase para seus olhos, e novamente retornaram para os lábios, que continuava proferindo palavras que não eram processadas pelo cérebro de Astrid, o qual parecia ocupado demais tentando assimilar o beijo. 

Beijei o Jase!

Jase me beijou!!

O corpo de Astrid foi ao chão, e assim sua mente voltou para realidade.

Astrid quis gritar, mas nada saiu e tudo que pode fazer foi se contorcer enquanto tentava não chorar.

— Astrid! — Jase se agachou ao seu lado. — Você está bem? Eu te disse que você iria cair se continuasse se inclinando tanto.

Jase tentou segurar o braço de Astrid, no entanto, antes que pudesse tocá-la a soldada rolou para longe de suas mãos. 

— Estou bem! — Foi tudo que disse, enquanto olhava Jase de uma distância que seu cérebro considerava segura. 

— Você deve ter engolido água a mais. Está mais estranha do que antes. Vá, levanta. Esse chão deve estar cheio de bactérias. 

Tentou caminhar até Astrid, no entanto, parou quando sem nenhum aviso prévio, ela se colocou em pé, fazendo-o rir. 

— Certo! Você já não era normal mesmo. 

O sorriso de Jase aumentou, e mesmo quando ele parou a poucos metros de si, Astrid permaneceu parada, e também não se moveu, quando a mão de Jase pousou sobre sua cabeça. 

— Fiquei preocupado! — admitiu. — Mas é bom te ver respirando novamente. — A mão de Jase deixou a cabeça de Astrid. — O jantar será servido daqui a pouco, você deveria ir se trocar. 

Sem esperar qualquer sentença de Astrid, Jase passou por ela, entretanto parou quando Astrid alcançou a barra de sua camiseta e disse: 

— Obrigado! Por me permitir respirar novamente. 

Jase se virou, no entanto, Astrid já havia lhe dado as costas. Ela já estava indo embora. 

.

.

Astrid deveria parar. Afinal foi apenas um meio para tentar salvar sua vida. Não significou nada. Não foi nada. Ela já havia aceitado isso. Ela já havia superado tal facto. 

No entanto, seus olhos não paravam de encarar Jase. De minuto em minuto, eles olhavam para ele e desviavam quando Jase a encarava de volta. Confuso, após vários olhares sem explicação vindo de uma de suas companheiras. 

Nos primeiros instantes ele tentou saber se Astrid queria lhe dizer algo, mas um tempo depois acabou apenas fingindo que ela não estava o encarando de forma nada discreta.

A porta da sala compartilhada foi aberta e por ela passou Ian Moore, sozinho. 

O doutor atravessou a sala, passou por Aiyden, sem o encarar e parou de frente a Aiyslnn. 

— Em quarenta minutos, você e Astrid Axel, devem se dirigir para sala de exames. Lutaram contra Candy, então…se apronte! — Informou, e sem dizer mais nada saiu da sala. 

Exame...uma palavra que na mente de Astrid, pareceu ganhar um novo significado. Tortura!

Os olhos de Astrid foram para Aiyslnn, que não a olhou de volta, e apenas ficou encarando as horas. 

Por que estamos sendo mandadas para exame? É minha culpa? Ou...É culpa dela? 

.

.

Ian havia dito, se apronte, entretanto, Aiyslnn não fez nada. Nada além de ficar em silêncio e olhar para alguma parede ou para as horas, que aos olhos de Astrid estavam passando muito lentamente, o que provavelmente deveria ser algo bom, porém por alguma razão do universo não trazia qualquer tipo de paz para Astrid.

Mais vinte minutos e elas estavam de saída. 

Ela não parece estar bem. E se ela não poder lutar? Eu é que tenho de nos proteger? 

Astrid deixou a parte de trás da cabeça ir contra parede, quando Aiyden perguntou: 

— Você irá para o grupo zero? 

— Talvez! — Aiyslnn respondeu. — Essa deve ser talvez minha última chance, para permanecer no grupo quinze. 

— Você pode vencer? 

— Só...se eu matá-la. De outra forma, não há como eu ganhar dela, não no estado em que estou agora. 

— Estão realmente pensando em te enviar para lá? — Lucky, perguntou. 

— Sempre que não precisa cuidar de mim, Elis está praticamente fugindo de mim, e quando está perto nunca olha nos meus olhos, não como fazia antes. 

— Isso não quer dizer muito. — Chloe interviu, e Aiyslnn riu. 

— Isso quer dizer tudo. Se minha médica começa a me evitar, com certeza, boas notícias ela não tem. 

— Ian, apenas disse para irem para um exame — falou Logan. — Por que estão tornando tudo tão assustador. 

— E também. — A voz de Jase se fez presente. — O único integrante do grupo zero está aqui...o que pode haver para temer lá dentro. 

— Não... — Aiyden olhou para Jase. — Há algo...Ou melhor alguém. Tem mais uma pessoa viva, no grupo zero.

— Outra...pessoa? — Jase repetiu. — Quem? Não me diga! — Tentou rir. — Não é você quem mata aqueles que entraram no grupo zero, mas o teu companheiro de cela, estou certo?  

— Não! —  Aiyden negou novamente. —  Nós não matamos ninguém. Pelo contrário, eles é que sempre tentam nos matar.

Todos olhavam para Aiyden, alguns com um novo interesse. 

— Mas...diferente de mim, ninguém que entrou naquele grupo já mais pode sequer atacá-la. 

—  Por que? 

Lucky, perguntou. 

—  Eles enlouquecem...

Astrid estava mordendo uma trança, quando Aiyden completou: 

—  Antes de perceberem, que ela…já havia  assumido o controle. 

— O que ela controla? — Aiyslnn, perguntou. 

— Emoções...ela pega em todos os teus piores sentimentos e os transforma no teu pior pesadelo.

— Ela é assustadora? — Astrid perguntou..

— O teu pior pesadelo é assustador? — Aiyden retrucou.

O silêncio caiu sobre a sala. Astrid empurrou sua trança para longe de sua boca e mais uma vez, bateu a parte de trás da cabeça, na parede.

 



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