Volume 8 – Arco 6
Capítulo 146: Passo a Passo
Damon foi um dos últimos a chegar no ponto de encontro, o porto de Atenas, já na reta final do entardecer.
Conforme se aproximava da reunião, verificou cada um que já tinha chegado antes dele.
Silver e Tríton, os irmãos de Atlântida, cada um em seu respectivo foco; o primeiro encarava as ondas fortes do Egeu, ao que o mais velho, de braços cruzados, observava a chegada do olimpiano.
— E aí, Damon!! — Gael acenou, chamativo como sempre, e abriu um sorriso eufórico.
Tinha ao seu lado Helena, ainda demonstrando certo receio no semblante, porém contente com a união do meio-irmão.
Chloe e Julie, as gêmeas atenienses, conversavam com sua mãe, que era acompanhada também da mensageira Íris. As quatro se voltaram ao rapaz.
Por fim, os protetores de Rodes, Selene e Hélios, já estavam na embarcação atracada na região isolada do cais, com tudo preparado para zarparem.
No entanto...
— Ainda resta a filha de Lorde Hades — comentou Chloe, encarando a deidade superior.
Atena encarou a pólis por um breve átimo, mas logo exalou um lamento e se voltou aos demais.
— Ouçam com atenção — proclamou em alto e bom tom. — Reitero aqui que o objetivo primordial de vocês, a Ordem Divina, é o de deter o avanço dos Imperadores das Trevas pelo Berço da Terra. Este é um local extremamente desafiador, mesmo para experientes como vocês. Portanto, não se descuidem nem por um segundo.
Ninguém ousou proferir uma sílaba enquanto a deusa pronunciava suas informações.
Helena engoliu em seco, nervosa.
Damon semicerrou as vistas tanto quanto Silver, alguns metros em paralelo.
Gael bateu as mãos, vestidas desde sempre com suas luvas especiais.
— Acerca do objetivo ordenado por meu pai, o Rei dos Deuses... — A maioria prendeu a respiração. — Somente sigam até onde considerarem realmente possível. Não importa o que ocorra, não desistam. Acreditem em si mesmos, acima de tudo, a exemplo do que nós acreditamos. E boa sorte a todos.
— Como quiser, minha mãe! — pronunciaram as gêmeas em uníssono.
— Vamo’ nessa então!! Vai ser uma jornada esplêndida!! — O filho de Apolo e Thalia deu a volta.
— Então a Melinoe não veio mesmo? — Helena mirou a saída da Passagem Espectral.
Sem sinal algum da filha de Hades, o resto dos membros da corporação se dirigiram ao navio.
Enfim, antes de ir por último, Damon cruzou olhares com a sábia. Não parecia demonstrar alguma emoção, mas tal encarada já tinha um enorme significado.
Atena assentiu para ele, enrustindo as sobrancelhas com seriedade.
“É a cara dele”, pôde ver, por um instante, a faceta de seu pai encarnada nas linhas faciais do caçula do Olimpo.
Sem prestar mais alguma conta, deu a volta e seguiu o itinerário para a prancha da embarcação.
— Estão todos aqui. — Hélios observou a chegada do último tripulante e acenou para a semelhante.
— Partiremos, então. — Selene desceu a vela. — Como combinado...
O aviso chegou aos demais.
Silver e Gael se sentaram um em cada ala da embarcação, preparados em prol de remarem com tudo que tinham.
Tríton deu a volta pela popa; era o único que não havia entrado ainda. Da cintura, puxou um bastão prateado, cujo botão central foi apertado pelo polegar.
Como um mecanismo, a haste cresceu e ganhou corpo, além de três lâminas afiadas no topo em formato de garfo.
Com bonitos adornos azulados, o tridente mais ou menos de sua altura se formou.
Chloe e Julie subiram até o cesto de observação no mastro.
A Notívaga apanhou o leme, acompanhada do Diurno.
Damon se assentou na proa, como fizera nas últimas nostálgicas viagens ao mar. Helena se uniu a ele, mostrando um pouco de confiança em contrapartida às últimas horas.
Acenou com a cabeça para ele, que devolveu da mesma maneira, introspectivo.
— Preparem-se — disse o filho mais velho de Poseidon.
Ele rodopiou o tridente à frente do corpo e, ao suspirar com leveza, fechou os olhos para deixar a Energia Vital fluir por seus canais.
Tocou com a extremidade inferior da arma na água, de onde ondulações agitadas começaram a nascer ao redor da embarcação, cada vez mais intensas.
Uma camada de Autoridade Elementar da Água preencheu a extensão superior da arma, a alcançar os dentes bem próximos no topo.
O Classe Herói, então, saltou da ponte e tocou os pés na superfície do Egeu, com tamanha sutileza que nem causou sonido.
Rodopiou sereno e, após um novo lamento, bateu a base do tridente cheia d’água no casco.
A energia foi transmitida da arma à extensão do transporte.
Em poucos segundos, conforme a gelidez se alastrava adentro, o solavanco inicial chegou.
Foi o sinal para Silver e Gael começarem a remar.
O vento gelado colidiu na vela, fazendo com que o navio enfim saísse de sua inércia.
Pegou velocidade rapidamente, a ponto de abrir metros de distância do porto em um sopro.
Depois de quase dois minutos, Tríton saltou ao interior do navio, acuando a própria influência.
Nunca foi tão fácil colocar uma grande embarcação em movimento.
Íris e Atena observaram de longe, conforme a imagem dos jovens diminuía mais e mais.
— Senhorita Atena. Sobre a...
— Não se preocupe, Íris. — Antecipando a mensageira, a sábia corrupiou-se. — A partir de agora, está nas mãos deles.
— E o que devemos fazer agora, senhorita?
Ao ser indagada, Atena caminhou em direção ao túnel arco-íris.
Sem nem se virar para ela, respondeu com afinco:
— Iremos forjar novas garantias para o futuro.
Logo após a partida do grupo especial ao Berço da Terra, os deuses deveriam seguir à próxima “fase” do passo a passo pelo confronto derradeiro contra os Imperadores das Trevas.
Dito isso, restava assegurar uma provável segunda opção a ser abordada pelo ainda misterioso grupo.
Ao ser levado em conta os recentes ataques no Deserto da Perdição, em Argos e, inclusive, o do Museion, a Deusa da Sabedoria pregava cautela para com todo o panteão.
Embora o foco estivesse quase que completamente voltado à corrida ao destino na terra das Moiras, as chances de outro movimento feito pelos inimigos sempre existiria.
Algo ainda mais “direto”.
Uma afronta em duas frentes, pensava a mulher, sempre ao ratificar tal frase quando oferecia explicações a favor dos demais.
Vivenciando a situação crítica, além de tudo que já tinham passado desde o fim da Grande Guerra, era de suma importância recuperar o rigor relaxado.
Nada obstante às claras desavenças internas entre muitos dos representantes dos Doze Tronos. Era uma mostra imprescindível de que a união estável entre as partes se fazia necessária.
Tudo em prol de superar o maior obstáculo que aquela Era Prateada recebia há um bom tempo...
— Conforme as atenções estão voltadas àqueles jovens, de equivalente modo precisamos proceder — afirmou com veemência a interlocutora das reuniões no salão superior do Olimpo.
Os deuses magnânimos deveriam se prontificar a batalhas que não travavam há séculos.
Não que fosse muito difícil prosseguir a tal cenário, contudo a máxima de “quanto mais, melhor” sempre falaria mais alto.
E a sábia conhecia muito bem a saída para aquilo.
Pois assim que enviaram jovens prodígios, capacitados a alcançarem até o que os excelsos em natureza jamais poderiam, logravam de garantias em potencial ainda naquele continente.
— Então era isso que a senhorita queria dizer — murmurou a Mensageira dos Deuses, ao entender o pensamento da mulher.
Mesmo que só depois de ser explicado a ela nos mínimos detalhes.
Foi isso que lhe conduziu a decretar os próximos — e imediatos — passos do lado da luz.
Tais determinações explicavam o motivo de constantes lufadas fora de época, a atravessarem as cidades pouco movimentadas do continente.
O causador dessas passava por todas as partes, criando caminhos que muitos jamais poderiam imaginar.
Aquele que foi abençoado pelo vento.
— Sendo que ela tem aquela lacaia irritante! — resmungava consigo, na travessia de grandes pólis em questão de minutos. — Vou importuná-la um pouco quando eu terminar esse trabalho! Seria muito bom ter a Deusa da Sabedoria me devendo favores!!
“Ainda que ela vá me ludibriar, com certeza!”, sorriu com escárnio num dos cantos da boca.
Hermes, com suas sandálias aladas, fazia os caminhos mais imprevisíveis pela terra, sem se importar de ser notado pelos mortais nas imediações.
Afinal, eles jamais poderiam o notar, de fato. Sequer tocá-lo ou vê-lo era imaginável, tamanha sua velocidade celestial.
De toda forma, ele tinha a recusa com veemência de acessar as Passagens Espectrais, originadas por sua irritante concorrente.
Para ele, não passava de uma farsante, mas essa visão se fazia exclusivamente em sua cabeça.
Queria provar que ainda podia ser superior através das passagens convencionais.
Assim, prosseguiu por inúmeras localidades até alcançar a região de encosta, através da pólis ateniense.
Deixou para trás a bonita arquitetura de grandes museus e templos modernos e partiu com tudo rumo... ao Egeu.
Pisou sobre o tapete aquático e, sem hesitar, seguiu adiante a toda celeridade.
Sua corrida sobre a água criava ondas que se repartiam em seus flancos, abrindo alas para algo que somente um deus — aquele deus — poderia fazer.
— Que venha... o Mediterrâneo!! — Notou a mudança repentina nas águas com as passadas.
Outro pedaço do oceano tomou forma, esse um pouco mais agitado que o Egeu, o qual era habituado.
O Mar Mediterrâneo, que banhava tanto o extremo Norte quanto o Oeste em comparação ao continente, transformou-se em sua reta final da travessia.
Que não demorou a ser finalizada, assim que uma pequena porção de terra surgiu diante dos olhos.
Além da vegetação natural e da singela cadeia montanhosa, já podia enxergar a muralha que circundava a cidade no ponto central da ilha.
— Lá está, lá está... A cidade dos céticos! — Sorriu ao levar a mão esticada sobre as sobrancelhas.
Dentro de poucos minutos chegou à região litorânea, enfim podendo interromper a constante maratona feita pelo continente e os dois mares.
Respirou fundo; não se sentia cansado, mas experimentava certo desgaste nas pernas graças ao exercício puxado que há tempo não realizava.
Nada obstante a isso, observou os arredores assim que iniciou seu avanço pelo âmbito.
Passou por algumas trilhas florestais até encontrar as primeiras intervenções humanas em meio à natureza; pequenas pontes que sobrepunham riachos e placas com indicações surgiam.
Mesmo que não precisasse, seguiu-as sem contestar.
Avançados os arvoredos aglomerados, alcançou a primeira entrada da grande pólis cercada pela muralha.
Embora capaz de passar por aquilo num piscar, reconhecia a grandiosidade atingida por seres inferiores e de pouca fé na construção.
Dito e feito, subiu a separação altiva em questão de segundos. No topo, pôde observar o interior através das vistas semicerradas.
Um sorriso de canto se formou no rosto convencido.
Depois de perder certo período naquela posição, ergueu a postura e correu no entorno, dando a volta por cima da muralha.
Pôde experimentar a aura nada agradável vinda daquela região, contudo pouco dava importância àquilo.
Não era tão conhecedor dos conflitos políticos e sociais dali, pois tinha preguiça para entender tudo — e nem era preciso, já que tinha sua querida irmã em prol de lidar com o assunto.
Após completar a circunferência quase inteira da grande elevação, encontrou o que buscava.
Chegou ao ponto definitivo e saltou de volta ao solo relvado, apontando na direção em questão.
As duas figuras ali postadas experimentaram a influência da magnânima presença, responsável por levantar diversas folhas do plano horizontal somente com a aterrissagem.
O ruivo e o loiro, em respectivo, voltaram as atenções até o Mensageiro dos Deuses.
— Gostaria de saber como aguentam esse clima tão hostil e desfavorável a nós. Se bem que devem fazer isso em completa devoção a minha querida irmã, não é?
Hermes recobrou a postura, revelando sua aparência característica.
Logo perceberam a identidade daquele que portava um cabelo branco, arrepiado e com ondulações, como se fosse uma tocha brilhante, além daquelas sandálias...
Prontamente se ajoelharam num gesto de extremo respeito para com a deidade.
— Lorde Hermes, o que nos traz sua excelsa presença?
O de cabelo ruivo, ondulado até a altura dos ombros, foi o incumbido de delegar sua cortesia.
— Minha irmã me enviou até aqui para entregar um comunicado importante a vocês. Apóstolos da Classe Herói: Perseu e Aquiles. — Encarou um de cada vez; primeiro o que se pronunciou e, na sequência, o encaracolado de pele negra. — Vocês devem estar alertas a partir de hoje para vindouros problemas. Em breve, serão convocados para uma armação defensiva em Olímpia.
— Uma armação defensiva? — mussitou Perseu, ao levantar um pouco da cabeça. — Algo aconteceu?
— Algo está acontecendo, mas vocês não devem saber pelo tempo perdido aqui, não é? Em resumo, estamos sendo ameaçados por algumas formigas que os superiores estão oferecendo a devida preocupação. Então, acharam melhor convocarmos os Classe Herói, a elite da Corporação dos Deuses, para tal emergência — proclamou sem nem piscar.
O mediador e seu companheiro trocaram olhares rápidos, como se pudessem entender um ao outro somente através de tal gesto.
— Compreendido. Iremos nos manter alertas, é claro. Qualquer situação será reportada e, caso seja necessário, retornaremos assim que possível — devolveu ao abaixar o rosto outra vez.
— Tomem o tempo que quiserem, mas tratem de serem rápidos caso tenham afazeres a completar. Foi o que minha irmã disse — replicou, dando meia-volta em alta velocidade. — Irei avisar aos outros. Quero terminar com isso logo e dormir! Depois minha tia Héstia ainda vai me alugar pra que eu conte tudo a ela...
Sem pestanejar, o deus saltou a muralha outra vez e disparou no sentido contrário do qual chegou.
A ventania proliferada por sua Bênção fez as árvores e a grama alta farfalharem nos arredores, assim como o cabelo dos apóstolos.
Se levantaram do chão em dois tempos.
Enquanto Perseu fitou a passagem superior através dos globos azulados, Aquiles limpou o joelho que havia tocado a extensão inferior por bastante tempo.
— O que achou dessa convocação, hein? — Ele mesmo executou a indagação, até se espreguiçar e estalar todas as juntas do torso. — Uma ameaça ao Olimpo? Que coisa mais extravagante, né não?
— Nunca ocorreu isso em tantos anos, pelo que eu saiba. — Perseu levou uma das mãos abaixo do queixo, bastante pensativo. — Tirando esta cidade em específico, que custa a aceitar suas divindades...
— Nossa, a gente ‘tá muito distante de lá mesmo!
Aquiles caminhou até a entrada da pequena região florestal, na qual havia um curto riacho a cortar a passagem.
Lá estavam seus trajes mais pesados, as armaduras feitas sob encomenda para os respectivos membros da Corporação dos Deuses.
As armas também repousavam ali; bainhas de duas adagas e uma grande espada.
Chegou nos cavalos que bebiam da água corrente, enquanto presos pelas rédeas nas árvores paralelas.
— Isso até que despertou meu interesse... — Apanhou suas coisas e vestiu a peça metálica, que não era tão pesada para o porte físico ligeiramente bem definido. — E então, o que acha?
Ao ser indagado mais uma vez, Perseu não viu outra opção senão responder como o parceiro queria.
— Fico impressionado que você carregue algum interesse nesse tipo de situação. Mas até que entendo um pouco... — Também se vestiu. Passou a alça da bainha da espada pelo torso e foi até seu cavalo. — Também estou curioso quanto a essa ameaça que o Mensageiro dos Deuses não indicou.
— Os deuses gostam mesmo de fazer mistério, né? — O sorriso do loiro se alastrou, assim que ele desamarrou a rédea e saltou até o animal de crina acinzentada. — Então vamo’ lá resolver o que precisamos, antes que a gente fique com mais trabalho nas mãos!
Perseu assentiu e montou no seu cavalo, que era majoritariamente marrom com uma bonita crina negra.
Eufóricos com o cenário de desenrolar não muito distante, cada um à própria maneira, os Classe Herói comandaram os animais a cavalgarem pelas trilhas exteriores da cidade de Tróia.
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