Epopeia do Fim Brasileira

Autor(a): Altair Vesta


Volume 8 – Arco 6

Capítulo 147: Ampliando as Medidas

Conforme a noite ganhava dominância sob o céu de Hélade, as chamas magentas tornavam-se absolutas nos entremeios de uma das pólis principais.

Ao som dos batuques pesados, espalhados por toda a pólis, mulheres vestidas em véus brancos dançavam.

A festa tomava proporções maiores à medida que as primeiras estrelas surgiam a cintilar na abóbada escura.

Das casas nos arredores, flores eram lançadas ao ar por sacerdotisas, deixando-as serem levadas pela brisa fresca do verão.

Uma chuva de pétalas que fornecia ares de encanto à incrível festa cultual em Corinto.

E, ao longe, na colina onde um altar também repleto de flores e frutos residia, a mulher de longo e sedoso cabelo loiro era encantada por acompanhar a comemoração.

Os olhos encarnados pareciam brilhar tanto quanto as chamas. As bochechas caucasianas enrubesceram, enquanto o coração batia forte no ritmo da cerimônia.

Podia experimentar um vigor inédito lhe apossar o corpo, a ouriçando dos pés à cabeça.

Os orgasmos se intensificaram, ao momento em que exprimiu um gemido entre os lábios.

Depois de reunir tempo sobre tais sensações, deixou escapar um suspiro jubiloso.

Respirou fundo até, aos poucos, recuperar o controle respiratório.

Os cílios se aproximaram.

Sentia-se revigorada.

— Minhas amadas sacerdotisas e cortesãs... são uma exímia fonte de vitalidade — falou ao vento, conforme ajeitou mechas rebeldes sobre as orelhas. — Esta é uma belíssima época do ano, não concorda..., pequena Atena?

Detrás dela, na subida do relevo campado, a Deusa da Sabedoria abriu um sorriso sincero.

— Perdoe-me por me intrometer em vossa privacidade, lady Afrodite. — Fez uma breve mesura de corpo. — Respondendo vosso questionamento, de fato. Considero essa uma das melhores épocas entre as estações.

— Sabia que concordaria comigo. — Afrodite descruzou as pernas voluptuosas e ergueu-se da pedra elevada no altar. — E não precisa se preocupar. Na realidade, me poupou um bom tempo ao vir até mim.

Deu a volta e encontrou-se com a sábia, já plena em sua postura e semblante.

Ainda assim, Atena podia ver como a beleza da divindade era estonteante.

Mesmo ao dispor de um autocontrole que beirava a perfeição, por pouco não caía às tentações proliferadas por uma simples troca de olhares.

— Então esta era a razão de ter se ausentado da reunião. — Correu com os olhos verdes pela extensão da colina, fitando a festa na cidade adjacente. — Eu deveria imaginar. É a época de culto à Vênus, a Deusa do Amor.

Afrodite, ou Vênus, como fora chamada, prendeu um riso sedutor ao levar a mão diante dos lábios.

— É estranho quando me chama por este nome.

— Porém, é bonito. Se me permite, tão belo quanto o que estás habituada a utilizar.

— Agradeço o elogio e seu pedido velado em me fazer permitir que me chame somente por ele. — Juntou as mãos à frente do corpo. — Então, pequena Atena. O que traz até minha pessoa?

A sábia respirou fundo e, sem delongas, começou a contar em detalhes sobre a última reunião dos deuses com os apóstolos convocados.

Também dissertou, claro, sobre as informações que Ártemis tinha a passado, um dos motivadores primordiais para fazer tudo que era feito.

Após alguns minutos, a Deusa do Amor levou uma das mãos sob o queixo, processando tudo que tinha escutado.

— Então, estes jovens foram enviados à terra das Moiras. E o pequeno Zeus... — Bufou com fraqueza. — Ele me parece desesperado. Bem, de todo modo, desejo a melhor sorte a eles.

— Sim. No entanto, há algo a mais que devo lhe pedir.

— E o que seria?

— Como antecipado, enviamos Hermes a fim de requisitar os Classe Herói a um estado de alerta, embora ocupados com suas incumbências. E, além daqueles dois, há os demais jovens que possuem ligação para convosco.

— Entendo onde deseja chegar. — Afrodite fechou os olhos e girou metade do corpo, ficando entre a sábia e a imagem da cidade festeira. — Presumo, então, que o pequeno Hermes cuidará do requisito às crianças de Ares. Então, resta a mim comunicar Meade e Arthur.

— Precisamente.

— Está bem. Posso fazer isto! — Sorriu com encanto.

Alcançando a resposta desejada, Atena prestou uma nova vênia.

—  Agradeço imensamente, lady Afrodite. Dito isto, devo retornar, com vossa licença.

— Claro! — Afrodite tamborilou com os dedos no ar. — Até breve, pequena Atena! Assim que obtiver resultados, a informarei!

— Perfeito.

Sem delongas, a sábia corrupiou-se sobre os tornozelos e caminhou pela descida da colina que a levou ao litoral.

Afrodite a acompanhou em suas passadas inaudíveis, até que desapareceu da linha de visão.

Levou a palma esquerda a descansar sobre o rosto, cheia de delicadeza.

— Ela é tão fofa quando tenta ser séria... — Deu a volta, novamente levando sua atenção ao culto feito para si em Corinto. — Isso está ficando cada vez mais intrigante.

Levadas pelo vento, suas palavras se perderam na imensidão da noite terrestre...

Hermes não perdeu tempo.

Acelerou a corrida abençoada pelo retorno de Tróia, desceu a trilha e, antes de começar a executar os passos acima da água, interrompeu a sequência.

Levou uma das mãos abaixo do queixo, pensativo.

Olhou para o alto.

Algumas nuvens começavam a se espalhar pelo céu, no auge do nascimento estelar.

Estalou a língua, inquieto.

Contudo, resolveu tirar a prova dos nove; deu meia-volta e regressou alguns metros do litoral.

Com o tempo, encontrou a entrada da passagem que tanto renegava.

Construída por sua rival natural, determinou o pensamento de jamais adentrar os túneis arco-íris. Ele não precisava disso, nem um pouco.

Ainda assim, naquele instante a curiosidade falou mais alto.

Foi adiante, sem medo, e desapareceu do plano para surgir envolto no corredor que alternava entre as sete cores do espectro.

Andou alguns passos, constatando a moldagem vital da Autoridade Elementar da Luz

“Não é tão ruim”, pensou consigo, até perceber já ter se distanciado bastante da entrada. “Bom, às vezes, só em casos extravagantes, não vai ser tão mal...”

Exalou um fraco suspiro ao concordar consigo sobre aquilo ser bem mais útil comparado ao que imaginava.

Voltou a acelerar o ritmo. Nem precisou usar a Bênção para atravessar mais de metade do trajeto da ilha até o continente.

Os lábios se contorceram, em detrimento do esforço que fazia para ignorar a eficácia daquela passagem.

— Foi preguiça de me molhar de novo! — resmungou consigo. — Sim! Foi isso aí mesmo!

Encontrou a melhor desculpa esfarrapada em meio ao sorriso de escárnio.

Foi de uma extremidade à outra até perceber a mudança de rota imprevista.

“Eu ‘tava certo!”, comemorou ao ver que aqueles túneis não pareciam ser tão perfeitos assim.

Ou então, ele só estava caçando uma agulha no palheiro.

Fato era que não tinha costume em correr por ali.

Tomou uma longa curva à direita após chegar enfim ao continente. Ela o conduziu a uma região cercada por natureza, que foi prontamente reconhecida.

Depois de outro desvio rápido, avançou à primeira descida da Passagem Espectral.

De um morro, encarou a paisagem da cidade abraçada por duas montanhas.

Entre elas, residia certa acrópole.

— Vamo’ na segurança agora!

Disparou pelo trajeto natural, em direção ao aclive rochoso.

Conforme a brisa estival fazia a grama alta dançar, a bela jovem observava a chegada gradativa das nuvens.

Os fios do sedoso cabelo loiro dançavam no ar, a ponto de a obrigar a levar dedos à lateral do rosto, no intuito de impedir o conflito das mechas com os bonitos olhos encarnados.

A faceta tinha um leve sorriso, que não mudou nem quando uma influência agressiva invadiu seu espaço.

Somente desceu a linha de visão, na iminência de encontrar o rapaz musculoso arrastando um cervo pelo chifre.

O relvado era tingido pelo rastro de sangue, porém o animal ainda aparentava estar respirando.

Uma cena dolorosa, mas que foi absorvida com primor pela venusta. Ela não expressou nada além de uma lamentação.

O homem a encarou.

Os olhos negros, afiados como sempre, o cabelo vermelho-escuro, de pontas salientes em volta da nuca.

Sua beleza era superada pela brutalidade odiosa vinda da feição contorcida.

— Ainda está vivo — mussitou Harmonia, fleumática como de costume.

O aviso não foi tão bem-recebido por Brandt, que estalou a língua.

Mas agiu rápido ao girar o machado — que carregava sobre o ombro — e lacerar o cervo uma última vez.

O corte preciso na garganta do animal o permitiu descansar, livre do sofrimento.

— Pronto — resmungou, sem se importar com as gotas do fluido viscoso a sujarem não só a saia, como o rosto também. — Vou acender a fogueira.

O tom de voz grave sequer trouxe alguma reação à irmã, que observou-o proceder até a entrada do espaço fora do templo.

Chegou ao pequeno átrio semiaberto e deixou o abate, enquanto usava o corte do riacho para lavar a vermelhidão das mãos.

Harmonia contemplou os rastros destacados na água, pura e cristalina, serem levados pela fraca correnteza.

Depois, tratou de observar a crueza do semelhante ao se levantar e partir para cortar as partes do animal.

Vidrada na cena rústica, não pôde deixar de notar sua delicada brutalidade ao dividir com perfeição os pedaços dos ossos.

Quando terminou de fazê-lo, lavou-os de novo na água corrente e apanhou galhos cortados de árvores próximas, no intuito de acender o fogo.

Utilizou a Autoridade Elementar do Fogo, provinda de sua própria energia, através da lâmina prateada.

No avanço dos minutos, assou todas as partes suculentas do animal e as devorou uma por uma.

Nem ofereceu algo a sua irmã, mas ela estava bem com isso.

Vira e mexe a encarava de soslaio, um pouco incomodado com o silêncio adotado por ela.

O crepitar das chamas soava distinto, cortado apenas pelo som que ele fazia ao comer e beber do néctar divino, direto do gargalo de uma garrafa de cerâmica.

Ao finalizar a refeição cavernosa, soltou uma arfada pesada e, depois, um arroto.

Jogou os ossos no riacho, então ergueu-se e alongou o corpo robusto, satisfeito com o jantar.

— Por que ficou me observando do começo ao fim? Que desagradável — disparou à loira, que sorriu antes de lhe responder.

— Já estava aqui antes, me perdoe por isso. Se quisesse, poderia comer em outro lugar.

À clara provocação, Brandt rangeu os dentes e resolveu dar de ombros.

Apanhou a arma pesada pelo pomo, prontificado a ter seu momento de descanso no interior do grande santuário.

Por conta da despedida silenciosa, objetivada pelo rapaz, a jovem mulher não se conteve em murmurar na sequência:

— Está frustrado, não está?...

Aquilo o obrigou a interromper as passadas.

— Hã?...

Só depois disparou uma encarada feroz a ela.

— Você queria ser chamado para a tarefa que os outros prodígios foram. — Harmonia levou o olhar carmesim a se conectar ao rosto entortado do irmão. — Depois do ocorrido com aquela harpia, você...

— Cala a boca! O que ‘cê quer dizer com isso!? Me provocar, hein!?

Com veias a saltarem em suas têmporas, o apóstolo terminou de corrupiar a atenção.

— Nem um pouco. Só queria conversar sobre isso, saber como está se sentindo. Posso ver que anda bastante incomodado, de fato. — Estreitou os olhos pela primeira vez, trazendo a ele uma influência sisuda. — Na verdade, fico contente que não tenha ido em algo tão arriscado. Pelo que eu ouvi falar...

— Não me venha com essas palavrinhas bonitas, irmã! — O machado balançou rente ao rosto dela, criando uma pressão descomunal no vento. — É tudo culpa daquele desgraçado! Para de ficar procurando pelo em ovo pra tudo! Palavras não vão mudar nada!!

Harmonia concordava com o ponto de argumentação apresentado, portanto não encontrou maneiras de rebater.

No fundo, realmente só queria confortá-lo de algum modo, visto que a missão da qual foi vetado parecia ser de demasiada importância.

— Então, vamos — insistiu, porém, com outra abordagem. — Me diga.

Brandt ficou quieto a princípio, mas pôde-se ouvir o som do aperto de sua palma enfaixada no pomo do machado.

O rosto dele se contorceu ainda mais, mostrando linhas de um semblante nada agradável. Com ela e consigo mesmo.

Enfim cedendo para expressar suas frustrações, ele mussitou:

— Eu...!

Acabou interrompido antes de poder dar forma aos sentimentos, quando outra lufada cortou a separação entre eles, balançando seus cabelos.

Dessa vez não tinha sido nada natural, os dois concordaram em silêncio.

De teor mais gélido, levou o foco de ambos ao caminho manchado pelo sangue do cervo.

— Opa, opa, me desculpem! Atrapalhei a briga!?

Hermes jogou a moeda dourada para o alto, com o polegar, e voltou a apanhá-la com diversão quando caiu.

— Lorde Hermes... — A loira o recebeu, levantando-se do assento de pedra em prol de executar uma mesura respeitosa. — Seja muito bem-vindo. Ao que devemos sua ilustre presença?

— Olá, Afrodite dois. — Acenou ao se aproximar alguns passos. Logo percebeu a fúria estampada na cara do musculoso em paralelo. — Gostaria de ser rápido e franco com vocês! Também não quero me atrever a perturbar meu irmão esquentadinho...

Balançou os dois braços, em sinal de remanso.

— Pois não?

Harmonia voltou a levantar a postura, dotada de atenção às próximas declarações.

O Mensageiro dos Deuses pigarreou antes de comunicar:

— Como devem saber, há algumas coisas bem suspeitas se sucedendo em nossa volta. Minha querida irmã me enviou com o intuito de alertar todos os aptos a se unirem em prol do nosso saudoso panteão.

Ele jogou a moeda de novo.

Dessa vez, pegou-a com o dorso da mão e começou a movimentá-la entre os dedos, provido de extrema malemolência.

— Dito isso, o que necessita de nós? — A loira franziu o cenho.

— Minha irmã quer que fiquem atentos e se preparem. Ah, além disso, poderiam informar aos outros dois? Eles não devem estar aqui, certo? Estou com preguiça de caçá-los...

— Fobos e Deimos? Sim, eles estão fora, porém devem voltar muito em breve. — Juntou as mãos à frente do torso. — A situação é crítica a esse ponto?

— Ainda não, mas pode ficar. Ao menos, é o que andam dizendo. Por isso, passem o recado a eles e fiquem a postos para qualquer coisa! — Apanhou pela última vez o objeto metálico e fez um gesto de continência para se despedir. — Creio que seja isso, agora se me dão licença... tenho mais um a visitar.

— Agradecemos sua mensagem. Faremos nosso melhor em prol de sustentarmos a harmonia presente.

Hermes deu um sorrisinho — meio cínico — e disparou sem deixar rastros, arrancando outro grunhido do filho mais novo do Deus da Guerra.

— Brandt...

— Não me enche! — A interrompeu no ato. — Boa sorte em passar o que precisa praqueles dois malditos...

Sem deixá-la dizer algo mais a respeito, ele entrou no templo e bateu a porta com força.

Harmonia suspirou com certo pesar, mas ao mesmo tempo um pouco confiante do que poderia vir a seguir.

Estava ciente de boa parte do que acontecia nos arredores daquela Era graças à Deusa do Amor, sua mãe.

Não tinha presenciado boa parte dos acontecimentos com os próprios olhos, porém já sabia o suficiente no intuito de se precaver.

Agora, um novo nível aparentava estar batendo às portas, e isso tudo tinha ligação com a tarefa recente daqueles que viajaram rumo ao desconhecido.

Com o tempo, as trevas recairiam diretamente contra aqueles que viviam na luz.

“Me pergunto como se desenrolará isso até o fim...”

Ponderou ao erguer o rosto para fitar o céu, agora parcialmente nublado.

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