Volume 8 – Arco 6
Capítulo 154: Próximo Nível
Fumaça se espalhou por todos os cantos.
O calor agressivo dominou o ambiente, enquanto o silêncio era cortado apenas pelos ruídos das estruturas em queda.
Já próximo de ser vencido à própria energia que preenchia o corpo, Castor tinha dificuldades para respirar.
Ao seu lado, Pollux permanecia mais ativo, ainda que tendo um porte bem mais “frágil” em comparação ao semelhante.
Trazia consigo, todavia, sequelas idênticas.
Caso permanecessem daquela forma por mais alguns minutos, sucumbiriam sem chance de salvação.
No entanto, isso parecia não ser mais necessário.
À frente dos dois, somente a destruição restou.
O cinza do breu espalhado pela última explosão ocasionada pelo ataque devastador do robusto trazia sinal algum daqueles que queriam derrotar.
Pouco a pouco, eles começaram a reduzir a intensidade vital das Autoridades Elementares que os corroía o corpo.
De certo não poderiam seguir em frente naquele estado, porém a tarefa estaria cumprida.
Puderam impedir dois membros do alto escalão da corporação divina a seguirem na caça aos Imperadores das Trevas.
Mediante um lamento pesado, Castor iniciou os preparativos mentais a fim de suportar a agonia intensa que viria após apagar o fogo de si mesmo.
Tinha, afinal, mais de metade da pele carbonizada, com os membros a pulsarem em carne viva — partes dessa também queimadas.
De todo modo, poderia sobreviver.
Em paralelo, Pollux carregava uma menor quantia de danos físicos. Poderia o ajudar de alguma forma.
No entanto, para a surpresa negativa dos gêmeos, a influência daqueles dois voltou a crescer.
“Impossível...!!”, o próprio robusto arregalou o pouco que restava de suas sobrancelhas.
Conforme a cortina de fumaça espessa se espalhava nos arredores... a figura dos apóstolos ressurgiu.
E os dois permaneciam de pé, a exemplo deles.
Os dois braços de Tríton carregavam diversas manchas de queimaduras, assim como a parte inferior do tronco.
Ao lado dele, Melinoe também tinha lesões teciduais, além dos cortes cauterizados nos membros superiores e um grande na bochecha direita.
No entanto, tinha ganhado uma nova laceração na altura do ombro esquerdo, bem colado à clavícula.
E apesar de todos os ferimentos que gritavam em dor e ardência por todo o corpo dos descendentes divinos... a imponência perante os gêmeos foi redobrada.
Os dióscuros permaneceram incrédulos durante todo o período de revelação.
O golpe mais poderoso que Castor poderia entregar, no limite de sua saúde enquanto dominado pela energia intensa, não serviu de qualquer coisa.
Os dois Classe Herói da Corporação dos Deuses mantinham-se de pé, inabaláveis.
Vivos.
Em uníssono, cada um a seu modo, entoaram:
— Isso é tudo!?
Os olhares combinavam.
Os semblantes demonstravam um ânimo singular para cada um.
Tanto Castor quanto Pollux não faziam ideia sobre como seguir na batalha.
Na melhor das hipóteses, ainda podiam utilizar a energia no modo destrutivo e aguentar uma nova leva de combate.
Mas a mente dos dois já apontava a um caminho que parecia sem retorno.
Seria impossível obter sucesso...
— Ah... Essa merda dói...! — A ctónica experimentou girar o braço onde a ferida mais profunda se aproximava. — Vocês foram bem fodas agora, eu admito!! Não esperava todo esse poder destrutivo!!
Em ignorância à agonia causada pela cisura queimada, apanhou com firmeza o cabo da alabarda.
Os olhos roxo-escuros passaram a cintilar, capazes de alumiar a penumbra desbotada do acúmulo de fumaça e poeira.
— Como prêmio de consolação, vou mostrar pra vocês... um gostinho interessante!
O manto de camadas escarlates foi forjado sobre o corpo da filha de Hades, recheado de detalhes esqueléticos; ao mesmo tempo que os ferimentos mais graves começaram a diminuir.
Não os curou em sua totalidade, mas já serviria em prol de renovar parte da capacidade física.
Essa era uma regalia de sua Bênção: o Manto do Inferno.
Logo ao lado, o mesmo ocorria.
Tríton não apresentava sinal algum de antipatia contra os adversários. Ruído qualquer soava de sua postura, tampouco do olhar.
Os globos cor de mel também irradiaram um brilho que se tornou vigoroso aos poucos.
Escamas azuis e douradas nasceram da própria pele, a se espalharem por todos os membros numa velocidade absurda.
As resistentes crostas aquáticas se estabeleceram até envolverem o rosto do atlanti, como se criasse um capacete protetor.
Para finalizar, uma cauda parecida com a de um peixe nasceu de seu cóccix.
Congelados em suas posições, os dióscuros somente foram tragados por devaneios perdidos.
Se não existia chance alguma restante, agora tinham conseguido atravessar o fundo do poço.
— Arte do Submundo... — Melinoe abriu o braço dominante. As lâminas da alabarda foram preenchidas por energia de Fogo. — Terceira Morte...!!
— Arte do Oceano... — Tríton ergueu de leve o porte do tridente, cujo garfo também foi dominado por energia de Água. — Quinta Onda...
Como se sincronizados, os dois sequer fizeram mistério sobre o que tinham em mente.
Quando as labaredas passaram a soltar pétalas flamejantes ao ar e o acúmulo d’água passou a ser envolto por pequenas faíscas elétricas...
— Tormento Rubro!!!
— Cólera dos Mares.
Ambos dispararam em suas devidas maneiras.
Melinoe cortou o ar, inclinando o torso de tal forma que foi apta a girar a alabarda para que as duas chapas metálicas disparassem as navalhas gigantescas.
As duas porções logo se uniram e se transformaram numa gigantesca onda de fogo, a varrer tudo no trajeto.
Tríton empurrou o tridente como se perfurasse o ar, permitindo que a abundância aquática munida de pequenos relâmpagos partisse.
Essa já nasceu enorme, capaz de rivalizar com o golpe performado pela ruiva.
No entanto, foi como se as duas se unissem, em uma harmonia entre o quente e o frio.
Imóveis na mesma situação, Castor e Pollux apenas aceitaram enquanto era cedo.
O estrondo os atingiu. A morte em gargalhos.
Dessa vez, o que restava das construções interiores terminou de ruir. Parte da superfície também não suportou ao impacto e passou a vir abaixo.
Todos nos arredores do jardim suspenso não só experimentaram a influência, um misto de agressividade e mansidão profundos, mas também receberam o tremor na terra e no espaço.
Mesmo o Mar Jônico pôde sentir, alterando a força das ondas a colidirem com os espinhos rochosos no abismo.
“Então... esse é o fim.”
Entre vida e morte, Pollux só pôde reconhecer o desfecho inevitável.
Conforme sentia ser puxado pela gravidade com o que restava dos sentidos quase apagados, abriu os olhos ardentes.
A aurora se completando no topo inalcançável, a ofuscar as últimas estrelas da madrugada.
Gelidez e quentura dominaram suas costas em seguida.
Pouco a pouco, conseguiu manter-se são.
O suficiente a fim de notar que não sentia mais o braço esquerdo e metade da perna direita.
O fim doloroso, lento, mas rápido.
Ainda assim, projetou um sorriso torto ao remeter à face de sua irmã mais nova.
Logo a última coisa que a mente trouxe a si. Uma clara imagem que diferenciava o semblante choroso dela em Delos... e a determinação astuta de minutos atrás.
Podia partir sem remorso daquela maneira, mas antes de se desgarrar à consciência, algo tórrido o tateou o braço restante.
Virou o rosto.
Castor estava de bruços; a carne marrom de tão carbonizada.
Os olhos, que pareciam ter só as esferas oculares expostas, sem nenhuma proteção de pele ao redor, encaravam o franzino.
Esbugalhados em essência. Secos como o deserto...
A boca sem lábios se moveu.
Embora incompreensível, o legítimo filho do Rei dos Deuses imaginou o teor da mensagem.
Antes que um dos responsáveis por os enviarem àquele estado pudessem fazer algo, o chão abaixo da dupla cedeu.
“Será que... fizemos ecoar...?”
Na cabeça deturpada, prestes a aderir à escuridão eterna, o de sangue divino concebeu a pergunta feita pelo semelhante mortal.
O único que os aguardava, de braços abertos, era o precipício.
Observados pelos silenciosos Classe Herói, os Dióscuros desapareceram em meio à devastação tingida de vermelho e azul.
Damon, Silver e Helena interromperam o avanço por um breve instante, espantados com a explosão definitiva que levou parte do pátio à ruína.
Bem próximos da reta final, onde novas correntes conectavam-se a um segundo átrio idêntico ao da partida, encararam a destruição consumada sobre a passagem.
Correntes de ar quentes e frias os encontraram.
Choques térmicos foram inevitáveis, até certo ponto.
“Que poder”, o olimpiano franziu o cenho.
Ao lado dele, a meia-irmã apertou os próprios braços, estremecida dos pés à cabeça.
— Foram derrotados. — A voz fria de Silver alcançou os ouvidos dos companheiros. — Meu irmão e a mulher do Submundo os derrotaram.
Em silêncio, o filho de Zeus exalou um lamento pesado.
Voltou a encarar a jovem deusa, que derramava um fio fino de lágrima da vista esquerda.
Ela própria já aparentava saber como aquilo iria terminar.
Mesmo assim, vê-la naquele estado trouxe um pesar doloroso ao peito do rapaz, que cerrou os punhos e se aproximou dela.
— Hele...
— Eu estou bem. — O antecipou, secando o pranto com os dedos indicador e médio. — Eu já estava me preparando. Quando a Melinoe e o Tríton assumiram, eu...
Com a voz embargada, ela segurou até onde foi possível.
A face vermelha e as pequenas tremulações ainda a se espalharem pelo corpo esbelto denunciavam sua forte vontade de chorar.
— Eu não... poderia fazer nada...? — Afônica, deixou o coração pesado falar mais alto.
Sem saber como lidar, Damon abaixou o olhar.
— O que eles fizeram em Delos... O que aconteceu no templo das Musas... O peso dessas tragédias está nas costas deles. — A face corada pendeu para o chão. As vistas marejadas encontraram os pés. — Foi o desejo deles. Tudo que fizeram é imperdoável. E ainda que eu quisesse perdoá-los... ainda que quisesse salvá-los até o fim, eu entendi que não podia. Por isso eu decidi... que precisava detê-los.
O monólogo se esticou, de acordo com os movimentos de sobe e desce dos ombros dela, cobertos pela manga curta do vestido rosa.
— Mesmo assim, no fim... eu pedi para que eles não fossem mortos. — Levantou as mãos estremecidas abaixo do olhar. — Eu cedi a esse desejo egoísta, achando que ainda poderia salvá-los! Só que eu nunca poderia, não é...? Por isso deixei aqueles dois. Por isso eu aceitei continuar. No fim de tudo, eu só sou como eles disseram que eu era... Fraca.
Mesmo com todo o desabafo, ela conseguiu evitar que alguma outra lágrima descesse.
Silver só olhava para o alto, na passagem circular que os levaria até as correntes finais.
Damon, em contrapartida, escutou a tudo sem tirar os olhos da irmã.
Comovido, mesmo sem demonstrar na faceta soturna, caminhou dois passos até ficar ao lado dela.
Então, tateou-a no ombro, como se em um afago.
Ao levantar a cabeça, os globos chorosos da jovem encontraram um afago nas esferas noturnas do garoto.
— Não acho que você é fraca. — Apesar do tom severo, sua voz trazia certo conforto. — Eu não entendo muito bem essas coisas, mas... ‘Cê suportou todo esse peso que eles criaram. E não desistiu até o último segundo. Isso só mostra como é forte, irmã.
— Damon... — Quase perdida para a força do choro, Helena juntou os lábios e engoliu em seco. — Obrigada.
Forçou um riso ao agradecer, mesmo que ainda baqueada.
Por ora, aquilo seria o suficiente.
O olimpiano assentiu com a cabeça, seguro de que eles poderiam continuar com o planejado.
Helena abriu e fechou as mãos, depois as batendo contra as próprias bochechas.
Ficou ainda mais enrubescida do que há pouco.
Ainda assim, ganhou um novo contraste na feição, agora de sobrancelhas firmes e lábios rígidos.
— Vamos em frente!
Conforme superava a perda dos irmãos que tanto desejava resgatar, a Classe Iniciante subiu as escadarias encíclicas para o topo da plataforma final.
Foram bons minutos, denotando o quanto a próxima parte seria bem mais alta. A brisa gélida os recebeu, fazendo seus cabelos dançarem no ar.
Já podiam ver, agora com maiores detalhes, o segundo nível da ilha. Esse ainda maior do que a “entrada”, onde diversos caminhos diferentes se destacavam de cara.
Um deles vinha logo daquela direção, para onde os elos metálicos apontavam.
Numa rápida análise ao correr com o olhar pelos arredores, Damon percebeu que os outros pátios levavam a passagens diferenciadas.
Ficariam distantes uns dos outros.
De fato, a separação em times tinha sido prudente pelas filhas de Atena.
— Está amanhecendo — mussitou a ruiva, encarando o céu que começaria a ficar mais nublado a partir dali.
Ao menos, poderia aproveitar a última luz do sol antes de ir rumo aos verdadeiros desafios do Berço da Terra.
“O segundo nível”, divagou o espadachim, respirando fundo pela boca.
— Um passo de cada vez — murmurou em voz alta.
Silver concordou em silêncio, ao que Helena realizou um gesto assertivo com a cabeça.
Quando os três se prepararam para pisar nas novas correntes e percorrer o trajeto final à porção verdadeira da ilha...
“Chamado: Aqui quem fala é a Julie”, a voz da ateniense preencheu a cabeça do trio, os interrompendo no ato.
— Telepatia? — Espantada, a jovem deusa levou a mão até a têmpora.
Incomodado como de costume — ainda mais quando o chamado vinha tão repentino —, Damon rangeu os dentes e torceu os supercílios.
Virou-se a observar por cima do ombro, na mira do último pátio à esquerda de onde se situavam.
Imaginou, pelo pouco que recebia do olfato aguçado, que as gêmeas se encontrariam naquela área.
E pareciam estar bem próximas do panorama que já tinham alcançado.
“Explicação: Eu e minha irmã acabamos de alcançar o segundo nível do Berço da Terra. Ela procura por vestígios que possam nos levar rapidamente aos inimigos.”
Do seu lado, a jovem de cabelo branco observava os pátios paralelos do novo átrio atingido, já no outro lado da travessia.
Chloe estava agachada atrás dela, a mão tocava o solo frio e os olhos fechados exalavam sua concentração ao utilizar a Psicometria.
O tempo voltava à sua mente e os demais sentidos visualizavam todos os possíveis caminhos de minutos a horas atrás.
E a exemplo do ocorrido na primeira passagem da terra, se deparou com a travessia de duas figuras envoltas nos famigerados mantos negros.
Reagiu instantaneamente ao tirar a mão do chão e se levantar. O brilho nos olhos violetas esvaneceu, direcionados aos apáticos da irmã.
— Dois prosseguiram a este trajeto. — Entregou a informação, que logo foi repassada pela telepata. — Eles se repartiram. Certamente atravessaram os rumos tomados pelos demais pátios. Iremos imediatamente.
“Resposta: Como quiser, minha irmã”, ao concordar com a púrpura, Julie transmitiu o restante da descoberta feita por ela aos demais apóstolos.
Como declarado pela pensativa, as duas retomaram o prosseguimento de imediato à trilha que vinha logo depois do átrio semiaberto.
A comunicação encerrou-se de forma seca. Mas já tinha sido o bastante para aqueles que vinham logo em seguida.
A partir dali, seria cada um por si.
“Oro para que nos encontremos novamente”, Chloe saltou as escadas para ganhar tempo, sendo acompanhada pela arqueira.
Em poucos minutos as duas alcançaram a terra batida, recheada de pedras e folhas secas.
Enquanto isso...
— Essas duas não mudam. — Damon lamentou, cansado. — Não tem o que fazer, então...
Virou-se aos dois que lhe acompanhavam, recebendo a concordância de ambos.
Seria difícil somente aceitar o atual cenário proporcionado pelo destino.
Entretanto, se pretendiam acreditar em uma ínfima chance de sucesso...
— Vamo’ lá.
Deveriam superar todas as adversidades.
Encarou de novo Helena, cheio de seriedade...
— Por favor, não. — E ela negou antes mesmo da proposta.
Incapaz de rebater, apenas a observou passar pela sua vanguarda, sendo a primeira a pisar nos elos dourados.
Com todo cuidado, os braços abertos para se equilibrar, ela avançou na direção do novo objetivo.
Silver foi em seguida, sem dizer nada a respeito.
Sobrou para o filho de Zeus ir por último, agora obrigado a se segurar, pois havia tráfego à sua frente o impedindo de correr.
Mesmo assim, os três não demoraram tanto para completarem a travessia.
Chegaram até o átrio elevado, de onde tinham à disposição uma vista tão assombrosa quanto a antecipada na saída do pátio suspenso.
Além dos rumos separados do novo pedaço de terra, eram devidamente saudados pelo local no fundo extremo da paisagem.
Só de olhar com atenção para ela, já podiam sentir um arrepio congelante subir a espinha.
Estava lá, além de todos os perigos desconhecidos...
O limite do destino: a torre negra que cortava o céu obscuro.
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