Volume 8 – Arco 6
Capítulo 156: TERCEIRO ATO DO LIMIAR - Outro Amanhecer
“... sy...”
Uma voz distante ecoou, afônica, em meio a um espaço sem cor e vida.
“... isy...”
Conforme ia se repetindo, parecia se aproximar, ganhando força.
Ao procurar o remetente da mensagem, a garota olhou para todos os lados, sem conseguir encontrar algo que não fosse o puro vazio.
“... Daisy...”
Enfim escutou seu nome completo.
Dessa vez soou tão próximo que pareceu um sussurro ao pé do ouvido, capaz de arrepiá-la inconscientemente.
A garota se virou assustada, enfim encontrando a figura sorridente que não parava de proferir o chamado.
Sua boca se abriu.
Entretanto, nenhuma palavra foi recitada.
Tentou esticar o braço para alcançar a forma humana, mas não teve sucesso em sequer se aproximar.
Não importava o esforço, por alguma razão, nem saía do lugar. O desespero em receber o afago da misteriosa figura lhe assolava o coração.
Queria muito gritar, mesmo por algo que não entendia. Apenas o silêncio reverberava no ambiente.
Quando sentiu que estava prestes a perdê-la, viu a boca deformada se mover mais uma vez.
Incapaz de entender o significado da mensagem inaudível, foi dominada pelo breu sem poder fazer mais nada...
Daisy abriu os olhos com vigor, encontrando uma visão embaçada graças ao acúmulo de lágrimas.
Ainda na vivência final do sonho estranho, reconheceu uma silhueta que parecia inclinada sobre seu corpo.
Enquanto as emoções confusas, e familiares de certo modo, se esvaíam, pôde experimentar um toque frio na bochecha rosada.
A princípio, imaginou que seria algo próximo da figura contemplada na estranha experiência. Isso a fez esgazear as vistas marejadas.
Só então se deu conta de que era outra pessoa.
Enfim livrando-se das mazelas daquele devaneio, lembrou-se de quem estava, de fato, ali com ela.
O formigamento do toque dos dedos no rosto a acalmou na hora.
O pranto continuou a verter face abaixo, à medida que se habituou à claridade para enxergar a menina.
— Dahlinha?...
Conforme o estado embaçado da visão se tornava límpido, o rosto de Dahlia se revelou preocupado à filha de Zeus.
Ao escutar o nome que carinhosamente lhe foi dado, a respectiva projetou um sorriso afetuoso.
Os olhos lilases abertos, fixados no rosto da olimpiana ainda que não pudesse a enxergar, trouxeram alívio a ela.
As mechas corais do cabelo preto caíam pelas laterais do rosto e por pouco também tocavam a pele da recém-desperta.
Sem dizer muito, passou o polegar sobre o fio úmido a descer das vistas da pequena, com cuidado.
— Não precisa... chorar...
As palavras soaram fracas. Mas foi o suficiente para alterar a disposição da descendente celestial.
A feição dolorosa mudou em segundos. Os lábios se curvaram para o alto, as sobrancelhas relaxaram.
— Obrigada, Dahlinha.
Depois de mais um tempo, se levantou da cama com ajuda da mortal.
Se recuperou do baque estranho sem dizer muita coisa sobre e seguiu os primeiros afazeres daquele amanhecer.
Dahlia, ainda que cega, podia identificar o alívio tomado por sua amiga após tal afago.
Estava feliz com isso. Por ela e por si mesma, ainda sem um rumo definido naquele lugar.
“Será que meu irmão ‘tá bem...?”, Daisy ainda tomou alguns segundos de olho no lado de fora, pela janela.
Inquieta com a situação vivenciada por ele, no entanto, balançou a cabeça para os lados, decidida a cumprir com o que tinha prometido.
Ela também tinha uma importante missão.
Só que o ânimo não durou muito. Ao sair do quarto, levou a mão até acima da vista esquerda e abaixou a cabeça.
Uma enxaqueca a atingiu sem precedentes.
Parou de andar no momento, o que foi identificado pela boa audição da menina que vinha em sua companhia.
— Daisy...
— É só... uma dorzinha de cabeça. Eu ‘tô bem! — Forçou um sorriso ao declarar.
“Não posso ficar preocupando ela dessa forma...”
Empenhou-se em não demonstrar fraqueza, mesmo com o incômodo extravagante, e seguiu para o banheiro.
Lavou o rosto e pôs um vestido branco.
Depois, emprestou outro de seus vestidos à garota.
Era um pouco justo em comparação ao pijama de dormir, já que ela era maior em estatura, mas aceitou o presente sem reclamar.
Depois, Daisy arrumou o próprio cabelo, o deixando menos bagunçado que o natural.
E fez isso também com o cabelo de Dahlia.
Ao penteá-lo, seguindo o exemplo de que Atena fazia com o seu, notou que os fios dela eram bem onduladinhos.
Fez o possível para o deixar bonito e arrumado.
No fim, o amarrou em um rabo de cavalo alto, deixando apenas duas mechas rebeldes caindo ao lado dos olhos.
A morena levou as mãos para reconhecer o novo penteado pelo tato. O rosto corou só com isso.
Já a filha de Zeus havia amado.
Devidamente arrumadas, as duas comeram algumas frutas e foram para o pátio exterior.
De mãos dadas, caminharam a passos lentos até a borda do salão, protegida pelo guarda-corpo.
A lufada gelada, resquício da madrugada que tinha acabado de partir, colidiu com seus rostos e fez seus cabelos dançarem ao vento.
Daisy respirou fundo. E Dahlia seguiu o ato ao ouvi-lo.
O céu alaranjado criava um belíssimo cenário acima das cidades olímpicas e da enorme extensão do mar que se seguia até o horizonte.
— É um clima gostoso — mussitou a cega.
— Sim! Mas a irmãzona disse que o tempo vai mudar em alguns dias... — O olhar se dirigiu aos grandes corcéis no fim da paisagem. — Eu gosto desse clima.
O vento permaneceu intenso, a dançar ao redor das meninas em paz, tendo em seu uivo fraco o corte do silêncio absoluto.
Sem soltar a mão da amiga, contemplativa ao que podia sentir além da visão, a filha de Zeus encarou-a de soslaio.
Ainda não conseguia sentir nada de muito concreto com sua Empatia. Seu desejo era manter a utilização verdadeira da Bênção em segredo por ora.
Só de criar um contato com a mortal, entretanto, já tinha o suficiente a fim de transmiti-la algo bem claro.
O misterioso bloqueio resistia, embora as emoções estivessem mais límpidas em comparação ao encontro inicial...
— Acordaram cedo hoje, meninas. — De repente, a voz madura alcançou-as pela retaguarda. — Bom dia.
Ao se virar, Daisy encontrou a deusa que sempre andava em sua famigerada armadura sobre o vestido.
O longo cabelo roxo também oscilava com a proliferação do vento da matina...
— Irmãzona! — Ao chamar pela superior, Dahlia também se corrupiou. — Achei que viria mais tarde.
— Nunca perco a oportunidade de contemplar tamanha beleza. Como você própria disse, vivemos uma alternância entre épocas. — Atena andou até se juntar às duas, perto do respaldo. — E a pequena convidada, como está?
— Ela ‘tá falando bem mais! — Animada, puxou de leve a mão da menina. — E como ela não lembra do nome, eu ‘tô chamando ela de Dahlia! Ela gostou bastante!
— Dahlia, hein? De fato, é um nome bonito. — A deusa encarou a menina alta, que parecia perdida no olhar. Lembrou-se que ela não enxergava. — Daisy está sendo uma boa anfitriã, Dahlia?
— S-sim... — Forçou um sorriso, ainda um pouco retraída.
— É claro que eu ‘tô! — Emburrou o rosto ao intervir.
A Deusa da Sabedoria prendeu um riso.
— Bem, se ela afirmou, então acredito. — Tirou outra pontada da caçula, que resmungou. — E vossas memórias? Ainda nenhuma lembrança clara regressou?
Ao mudar o teor da conversa, ainda que com a voz amigável, a deusa trouxe um momento rápido de tensão ao ambiente.
— Ainda é um pouco... complicado... — Dahlia tornou-se cabisbaixa. — Estou tentando me habituar a isso, mas... nada veio até agora...
“A fala dela é mais aprumada do que imaginei”, surpresa ao escutar a resposta, ainda que lenta e murmurada, Atena semicerrou as vistas.
Em contrapartida, a cacheada não percebia tais nuances, já que tinha contato algum com mortais.
— Fico contente que estejam bem, ambas. Todavia, é necessário que adotemos devidas precauções. Devemos encontrar maneiras de resolver este problema. Não poderei esconder a situação de nosso pai por muito tempo.
— Sabemos disso! — Determinada, a olimpiana assentiu. — Eu vou ajudar a Dahlinha! Vamos encontrar uma forma de resolver tudo, até ela se lembrar das memórias que perdeu!
Satisfeita com a declaração da futura apóstola, Atena esboçou um sorriso de orgulho e alívio.
— Aproveitarei o princípio desta manhã em prol de visitar rapidamente a Ilha de Rodes. — Sem pestanejar, deu a volta com os passos inaudíveis. — Permaneçam em casa até meu retorno. E evite de abrir a porta para estranhos, Daisy.
— ‘Tá bom! — A pequena deusa acenou com o braço esticado. — Boa viagem, irmãzona!
Dahlia, insegura, apenas fez que sim com a cabeça, sem nem ser notada.
A deusa tomou seu rumo às escadarias e desapareceu.
Como pedido por ela, as garotas terminaram se aproveitar o ar fresco e voltaram para a câmara.
Pelo menos ali dentro podiam permanecer seguras, sem serem incomodadas por qualquer um enquanto a entrada estivesse fechada.
Enquanto seguia a caminhada lenta da anfitriã, Dahlia, segurando em seu ombro, criou coragem para proferir um questionamento:
— Daisy... — A voz fraca da morena a alcançou pelas costas. — Tem... estranhos aqui?
— Oh? Não, não! — Deu uma risadinha de leve.
— Entendi... — O temor refugou dentro de si, até que outra indagação surgiu: — Daisy. Por que deseja tanto entrar... nessa Corporação?...
— Ah! Você já ouviu falar da Corporação dos Deuses, Dahlinha!? — Um sorriso eufórico surgiu na cacheada. — Você ‘tá conseguindo se lembrar de alguma coisa!?
— Esse não é um nome estranho, mas... — Pensou em silêncio por breves segundos, até balançar a cabeça em negativa. — Não. Ainda não consigo lembrar de nada...
— Ah, que pena... — O ânimo tornou-se desapontamento no mais rápido piscar. Só que a olimpiana não se deixou abater e respondeu: — Sabe?... Eu quero me tornar uma Apóstola porque quero ser igual meu irmão. Quero ir em missões junto com ele e ajudar as pessoas, que nem ele faz!
— Seu... irmão...
— Ele é incrível! É forte, corajoso! Ele gosta de parecer sério e emburrado, mas é muito gentil! Eu amo muito ele! — Chegou ao quarto. — Por isso, quero estar sempre ao lado dele...
Dahlia compreendeu todos os sentimentos da menina, principalmente naquele final, quando a voz dela se tornou mais carregada.
— Eu ‘tava pensando... e se também tiver irmãos, Dahlinha?
— Irmãos...
Ali foi o tom de voz de Dahlia que ganhou peso após a suposição repentina.
Recuou a mão que apoiava no ombro dela.
O ato preocupou a filha de Zeus, que girou sobre os tornozelos e a encontrou, pensativa.
Um tanto aflita.
Levada pela curiosidade, estendeu a mão a tatear o braço da garota com a ponta dos dedos.
Os olhos cerúleos alternaram à tonalidade dourada, a cintilar em meio ao cômodo.
— Me desculpe. — As palavras repentinas de Dahlia, entretanto, a fizeram parar. — Sei que... só atrapalho...
Também acuou o toque. A íris regressou ao celeste original.
Com o uso definitivo de sua Bênção, mesmo que por meros segundos, encontrou a mesma resposta de mais cedo.
Só que, dessa vez, foi capaz de identificar traços emotivos mais concretos a permearem a mente esbranquiçada da garota.
— Não diz isso! Não ‘tá incomodando em nada! Na verdade, eu ‘tô adorando ter você aqui comigo! — Abriu os braços, numa genuína elevação de felicidade. — Meu irmão fica sempre saindo nas missões, por isso eu quero logo ser uma Apóstola pra ir com ele! Eu não gosto de ficar sozinha, então a irmãzona fica me levando pra casa dela, mas... Nesses tempos, eu sempre pensei como seria ter uma amiga pra passar o tempo comigo!
— Amiga...?
— Sim!! — Pegou nas mãos dela com afinco. — Eu já disse! Nós somos amigas, não somos!?
Sem palavras para aquele curto momento, Dahlia experimentou uma pontada em seu peito.
Era seu coração, bombeando calor com maior velocidade ao restante do corpo.
Não se lembrava de se sentir daquela forma. Talvez nem nas memórias perdidas acreditava ter passado por algo parecido.
De alguma maneira, sentia isso, bem no fundo do âmago...
A afeição experimentada a permitiu sorrir, tão radiante em comparação à própria menina.
Podia confiar nela.
Podia, ao lado dela, sentir-se feliz.
Algo que, também — agora tinha certeza, mesmo sem saber —, jamais teria sentido em toda sua vida.
— Obrigada, Daisy. Fico feliz por ter conhecido você.
— Uhum! Eu também, Dahlinha!!
Láquesis analisava as concepções dos fios de sua exclusividade com extremo foco.
Com a mão abaixo do queixo, os olhos turquesa semicerrados em profunda concentração a fim de detectar cada mínima oscilação nas fibras próximas.
Mesmo que a mente recebesse todas as informações simultâneas quanto às ações e consequências vivenciadas por eles, abria um sorriso delicado de satisfação.
Era mais divertido do que concebera. E era apenas o início.
Pelo contrário, as irmãs não cessavam os trabalhos de tecer os novos fios da Roda da Fortuna e cortar os que se estendiam até a região obscura do salão.
“Maldita desocupada”, Átropos não perdia a oportunidade de amaldiçoar o desejo ferrenho da Sorteadora em acompanhar os famigerados pirralhos em sua aventura no Berço da Terra.
Vez ou outra a encarava de soslaio, mesmo por baixo do capuz negro. Mechas do longo cabelo rosa chegavam a se revelar mediante os movimentos de observação.
Láquesis não saía daquele lugar há algum tempo.
Usava sua longa unha do dedo médio destro para causar ondulações diferenciadas nas fibras tênues, também vez ou outra.
Agia mais contemplativa do que ativa na determinação da sorte dos enviados divinos.
De vez em quando ela dava a volta e rapidamente fiava alguns fios alheios, pertencentes a mortais e outros seres vivos, só para dizer que não perdia tempo vadiando.
Isso nem de longe seria o suficiente em prol de apaziguar o sentimento odioso da Rompedora.
E tal sentimento a fazia cortar cada vez mais fios do que o costume em um único pedaço de dia.
Com maestria na utilização da grande tesoura cor de sangue, às vezes rompia mais de cinco em simultâneo.
No fim, permitia que sua influência venenosa escapasse, até alcançar Láquesis a atiçando com um calafrio na espinha.
Essa sensação, no entanto, só a deixava deleitosa.
Notou a cravada minuciosa da semelhante ao encarar sobre um dos ombros.
Átropos voltou a desviar o foco às fibras que a envolviam no local ausente de iluminação.
Uma troca de olhares de menos de cinco segundos, mas bastante a fim de causar um rebuliço intenso em toda a câmara.
O som da roda, dos cortes da tesoura e do cantarolar de Láquesis foi absorvido por uma nova ocorrência.
Algumas das fibras separadas no topo do salão se moveram de forma abrupta.
“Aí está!!”, a Moira da Sorte foi rápida em se dirigir à região com um sorriso entredentes.
Enfim algo “intenso” parecia se conflagrar durante o percurso de entrada no primeiro nível da ilha.
Ao alcançar, flutuante, as relíquias exclusivas, gastou breves segundos no intuito de se conectar aos acontecimentos e compreender suas nuances.
A configuração a fez soltar gemidos finos de deleite, regozijada ao contemplar, enfim, vias de fatos interessantes para os próprios gostos.
Escutando tal reação, Átropos rangeu os dentes.
Cloto manteve-se, como sempre, absorta em seu dever.
Láquesis prosseguiu para “brincar” com os envolvidos na que podia ser considerada a primeira grande batalha da desventura no Berço da Terra.
“Vamos ver, vamos ver...”, com um cálculo rápido nos pensamentos, a Sorteadora usou sua unha específica e começou a emendar suas manipulações deliberadas.
A Rompedora a observou durante um tempo.
Comediu as emoções negativas e restringiu-se a balançar a cabeça em negativa.
Continuar preocupada só iria a atrasar, no fim das contas.
Portanto, decidiu corrupiar-se e ignorar a irmã arteira um pouco.
Entretanto...
— O quê!!??
O grito entoado por Láquesis a fez girar, agora com maior afinco.
A própria sequer tinha percebido sua reação naquele instante fortuito.
Até mesmo Cloto encarou por cima do ombro, conforme os ecos atravessados por toda a câmara perdiam intensidade.
Só então a Sorteadora piscou, ergueu os ombros e entendeu o que tinha acabado de gerar.
Imediatamente virou os olhos, e apenas os olhos, para observar a resposta das irmãs pela visão periférica.
Pôde constatar, mesmo que sem muita clareza, que tinha puxado a compenetração de ambas.
Levou a mão em frente à boca, tentou fechar as vistas.
Só queria esconder delas a formação de um sorriso torto na face corada.
“Droga, preciso me controlar!!”, deu bronca em si mesma.
Desconectou os cílios no objetivo de voltar à análise do estado dos fios que tinha sob controle até há pouco.
Alguns deles ainda balançavam com placidez, mesmo sem as ações de sua fiação de sorte e azar.
E isso era natural. Todas as Moiras sabiam muito bem.
No entanto, o que martelou a cabeça de Láquesis, naquele exato momento, ia além das expectativas.
“De novo... De novo eu fui desafiada!!”, os lábios cresceram ainda mais o riso desconcertado. “A filha do Deus do Submundo não perdeu o braço...!!”
O misto de soturnidade e diversão no semblante era assombroso. Não queria que nenhuma das irmãs visse aquilo.
Sob as mechas do curto cabelo róseo, Cloto continuou a fitá-la em silêncio.
Ao mesmo tempo, analisou os fios separados que a semelhante controlava até a repentina histeria.
Mesmo distante de onde se encontravam, podia identificar nas minúcias os acontecimentos e as determinações influenciadas pela mulher.
Projetou um tênue sorriso ao compreender o cenário por si só, daquela distância.
— Láquesis. — O repentino chamado da Tecelã a fez gelar. — Poderia, por obséquio, ser cuidadosa para que não destrua aqueles Jardins Suspensos?
A esguia se virou, um tanto assustada. Ao menos pôde desfazer a feição que queria omitir.
O misto do susto e do choque da sucessão de ocorrências a fez perder a capacidade de fala durante um período extenso.
Sem ter percebido que a mais velha a observava tão atenta quanto Átropos, ela soltou uma risada espalhafatosa:
— O que é isso, minha querida irmã!? Não precisa se preocupar, não pretendo causar prejuízos exagerados em nossas terras! Seria desagradável lidar com isso futuramente, não é!?
“Não posso me descuidar desse jeito com Cloto por perto”, a seriedade veio em contracorrente nos devaneios.
Ela sabia muito bem da capacidade dedutiva da pequena.
Devia tirar o máximo de proveito das enigmáticas “falhas” em seu poder de Determinação de Sorte.
Aquilo deixava tudo mais imprevisível.
E queria acompanhar os desdobramentos até o limite, nem que eles acabassem alcançando o Templo dos Destinos.
O total oposto do desejo da tesoureira, que novamente tornou a focar em suas tarefas.
“Ela não deve descobrir”, determinou ao encará-la de perfil.
Mas a falta de conhecimento acerca dos pensamentos da Tecelã ainda eram um incômodo.
Fato era, por ora, que recebera permissão para lidar da maneira que desejasse com os jovens divinos.
Usaria isso a seu favor até onde fosse possível.
Enquanto isso, Cloto seguiu a fitando, sem se deixar ser percebida. Os cílios próximos denotavam sua austeridade silenciosa.
Como expectado, Láquesis continuou a esboçar reações estranhas enquanto conferia o prosseguimento das fibras.
Com um tanto de empenho, porém, conseguiu segurar o espanto na sequência, mantendo alguma aparência para as irmãs.
Incapaz de se conter, a Tecelã virou o rosto de volta à Roda da Fortuna, só no intuito de prender uma risada fraca.
O sorriso leve, mas entusiasmado, permaneceu em sua face ligeiramente rosada.
Levou a mão direita a passar sobre os fios que eram dispostos pelo giro interminável da grande roda, habilidosa o suficiente a fim de estendê-los e dar brilho a todos.
A Sorteadora continuou a brincar.
Em certo momento, deslizou a unha em dois fios mais escurecidos para, depois, mudar a posição deles.
Os trouxe para mais distantes da extensão que seguiria ao domínio de Átropos
“Vocês não irão partir agora. Talvez aqueles dois tenham algum uso interessante para ambos, em breve”, determinou a pitada decisiva de Sorte àqueles dois destinos e os protegeu perto de si.
Mesmo ciente de que Cloto não gostaria de nada daquilo...
Resolvida a questão da dupla específica, encarou outra vez as fibras que podiam seguir.
— Acho que vou deixá-los correndo por algum tempinho — disse em voz alta. Desceu o corpo até outros cordões. — E enquanto os encontros interessantes não começam...
“Nada mal seria uma espiadinha naqueles que permaneceram no conforto”, encarou, com afinco, outra dupla bastante quieta e, até então, discreta em meio aos gigantescos destinos divinos.
— Especialmente essa aqui...
Além dos grandes deuses e dos jovens promissores, aquele par lhe instigava.
Não conseguia definir as razões para ser acometida por tais sensações.
Todavia, isso só fazia crescer sua vontade de descobrir mais sobre elas.
E sobre o que estava por vir em seus caminhos...
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