Volume 1

Capítulo 7: Meu... Melhor Amigo?

A aula de inglês parece tão chata como sempre. O professor Horikoshi parece tão obcecado quanto todos dias. Ele nem repara quem muito dos alunos, nem sequer estão prestando atenção em sua aula. Alguns lutam contra o sono e o tédio se beliscando ou até mesmo guerreando contra seu próprio corpo tentando manter suas palpébras abertas. Já outros, como eu, simplesmente dormem sem nenhuma preocupação, apenas descansando a cabeça na mesa da carteira ou usando o próprio braço como travesseiro. 

 

Apesar disso, diferente dos outros, mesmo que eu esteja deitado eu me esforço para não adormecer profundamente. Afinal, não sei até quando esse estado de transe de Horikoshi-sensei irá durar. Algumas vezes ele pode simplesmente inventar de fazer alguma pergunta ou realizar alguma atividade em grupo. Se isso porventura ocorrer, quero ter tempo o suficiente para levantar a minha cabeça e evitar os longos minutos de bronca. Dizem que isso consegue ser mais entediante que as próprias aulas dele. 

 

Também há um outro grupo de alunos, mas esses são a grande minoria. São composto pelos mais inteligentes da turma, aqueles que estão sempre no topo das listas de avaliação e que são constantemente sendo usados como referências de estudantes pelos nossos professores. Em geral, são muita das vezes o — topo da cadeia — de nossa escola; os alunos mais populares e respeitados. No entanto, não são muitos que seguem seus passos e por mais que eu respeite os seus empenhos, eles parecem tão desgastados quanto o resto de nós. 

 

"Parece cansativo..." 

 

Minha cabeça estava descansando sobre meus braços. As palavras de Horikoshi-sensei intercalavam com o únissono barulho que fazia o giz ao encostar no quadro. 

 

"Ric, ric..."

 

Entretanto, um barulho que outrora não fazia parte daquele — conserto — se estendia até meus ouvidos. Era um barulho que parecia ainda mais irritante que o som do giz de Horikoshi-sensei.

 

"Ric, ric..."

 

Ao passo que tentei identificar a origem daquele barulho. Notara que o som irritante tentava loucamente acompanhar o som do giz. 

 

"Tec, tec..."

 

"Ric, ric..."

 

"Tec, tec..."

 

"Ric, ric..." 

 

"..." 

 

Antes que eu enlouquecesse, decidi virar o meu rosto para o que parecia ser a origem do irritante barulho que havia se juntado a orquestra infernal. Meus olhos cansados logo se encontraram com a pessoa responsável por toda aquela algazarra. 

 

"Então é você, héin? Que irônico..."

 

Era engraçado como uma pessoa que parecera tão sem voz, ainda sim, conseguia fazer um barulho tão alto. Um som este que chegava tão audível em meus ouvidos. Seria este mais uma brincadeira do destino? Não sabia....

 

Porém, mesmo que minhas retinas seguissem os movimentos daquela timída garota, sua visão seguia tão apaixonadamente os movimentos agéis do giz — como em uma orquestra. A garota que estava sentada ao meu lado direito, era a mesma a qual eu tinha o dever de trazer de volta ao clube, quem nem mesmo eu queria fazer parte. Um trabalho imprestável. 

O brilho de seus cabelos laranjas enchiam a minha visão. Mesmo que não fossem assim tão longos. Como se fosse uma hipnose. Hipnose essa que não me permitia fugir para lugar algum. Amaldiçoando minha falta de percepção, me perguntava como nesse mês inteiro eu não pudera notar isso. O quão sem tato era. 

 

A garota que estava sentada em meu lado direito desde o começo desse ano letivo...

 

...essa era Naoko Rina — a garota muda. 

 

***

 

"Como diabos eu não percebi isso?!"

 

Com as duas mãos segurando minha cabeça, quase que me castigava por ter deixado tal informação ter passado batido. Claro que havia notado a gravata vermelha dela antes, mas não passava pela minha cabeça que ela estava justamente em minha classe, muito menos do meu lado. 

 

"Estou em um romcom e não sabia?!!" 

 

Depois de notar o olhar de julgamento de alguns dos alunos, decidi que seria melhor manter a calma. Não era como se fosse o maior erro do mundo e além disso, isso era na verdade perfeito. Se ela estivesse em outra classe seria muito mais difícil manter contato com ela. Ir na classe dela estaria fora de questão visto que isso poderia... causar boatos... 

 

Nesse caso, eu teria que aproveitar os intervalos para ir falar com ela, ou o antes e depois das aulas. Seria bem difícil ter que seguir os passos dela. As pessoas poderiam achar que eu sou algum tipo de stalker ou coisa do tipo. 

 

Porém, ela estar em minha classe é perfeito, afinal, não é nada estranho um colega de classe e falar com o outro, certo? Pelo menos, eu acho. 

De qualquer forma, no momento não parece que eu vou ter qualquer oportunidade. Depois da aula de Horikoshi-sensei, Rina parece estar ocupada demais conversando com todas as outras garotas da classe. Bem, CONVERSANDO é uma palavra muito forte no caso de Rina; ela está de fato, escutando atentamente as outras garotas falarem com ela. É engraçado no entanto, que as outras garotas parecem entendê-la perfeitamente, mesmo que ela em sí não fale nada. 

 

É difícil até mesmo ver como Rina se comunica com elas, visto a quantidade de pessoas ao redor dela. Parece até uma feira. A algazarra é tão grande que me pergunto como que nenhum professor veio até agora intervir em todo aquele barulho. Mas, pensando bem, creio que eu já esteja acostumado com todo aqueles gritos, isso me leva a crer que talvez isso seja mais normal do que pareça. Pelo menos, na minha classe. Todas aquele amontoado de gente ao redor de Rina, me fez me sentir um pouco melhor, já que explicava o porquê de eu nunca a ter notado, apesar que não totalmente já que deveria ter a percebido pelo menos no decorrer das aulas. Mas, não me sentia mais assim tão mal. Talvez eu só precisasse de algo para jogar a minha culpa.

 

Por sua vez, aquela situação não parecia nada adequada. Já seria difícil juntar coragem para falar com Rina depois de aquilo tudo, ela deveria estar extremamente chateada comigo. Além disso, eu teria que fazer isso no meio de todas aquelas pessoas? Se fizesse isso e desse errado... minha vida estudantil estará acabada! E eu nunca mais vou conseguir uma namorada! Todos os meus sonhos da juventude estarão acabados! 

 

Conseguia imaginar perfeitamente os boatos que fariam com meu nome e a reação agressiva das pessoas. E ainda tinha a questão sobre o clube. Se eu não trouxer essa garota de volta, Yoshiko-sensei vai perceber a minha falta e irá me matar! Vai me jogar da primeira ponte que ela ver na frente dela.

 

"Ah... o que eu faço?! Mamãe... Sniff... acho que nunca poderei te dar um netinho..."

 

— Desistir antes de mesmo tentar é o refúgio dos fracassados! 

 

— O qu-

 

Uma voz enérgica tomou conta de meus sentidos. O seu tom no entanto era um pouco mais grosso que a voz de Himari, parecia ser a voz de um garoto. Institivamente meu rosto se moveu em direção ao dono daquela voz animada. 

 

— Mas, não se preocupe... quando estiver prestes a cair, seu amigo cuidará para que você se levante de novo! 

 

— Hã... quem é você mesmo? 

 

— Haha... isso dói, Ryoichi-kun. Mesmo se tratando de você...

 

Como esperado, a voz realmente vinha de um garoto. Mesmo não dando para calcular com cem por cento de certeza, ele parecia ser um pouco menor que eu. Seu cabelo é cinza escuro e o estilo é realmente bem diferente, um mullet. Na verdade, acho que desse garoto eu me lembro muito bem apesar de não saber ( ou ligar ) para o seu nome. Creio que eu o chamo de garoto do Mullet. Ele se senta um pouco mais na frente que eu, e na mesma fileira que Rina. Porém, não esperava que ele viesse falar comigo. 

 

— Eu sou Sasuke Yuji. Único filho de Keisuke Yuji, dono da maior companhia pesqueira de Kitakyushu. E também seu único e melhor amigo! — Exclamou, Yuji. Com sua voz cheia de felicidade genuína. Na verdade, era bem irritante.

— Essa última parte é enganação pura. 

 

— O quê?! 

 

Talvez eu tenha sido um pouco ríspido, mas eu não precisava de mais problemas. Além disso, sequer tinha tempo para aquilo visto toda situação envolvendo Rina. É verdade que eu tenho o objetivo de conseguir muitos amigos e provavelmente não dá pra — escolher — como vai ser a personalidade de todos, no entanto, é aquilo né... quando a esmola é demais, o santo desconfia... 

 

Hum, hum... é verdade. Me desculpe, Ryoichi-kun, eu fui grosseiro...

 

— Entendeu agora? 

 

— Sim. Eu não sabia que você... era tímido. Que amigo eu sou?!! — Indagou, Yuji. Fazendo o maior drama. 

 

— Você não entendeu nada! 

 

O problema é que toda aquela palhaçada que estavámos fazendo acabou chamando a atenção da sala toda, inclusive daqueles que estavam em volta de Rina e da PRÓPRIA Rina. Eu tive que me levantar e colocar a mão na boca daquele idiota. Eles ainda ficaram olhando para gente com uma cara desconfiada, mas logo voltaram a seus próprios assuntos. 

 

— Ufa... 

 

— Você é realmente tímido, não é Ryoichi-kun? 

 

— Não. Você que é um idiota mesmo. O que diabos você acha que está fazendo? 

 

— Como assim? Eu estou salvando a pele do meu querido amigo. 

 

— Amigo? Hoje é literalmente a primeira vez que a gente se fala. 

 

— Isso é apenas um mero detalhe. — Disse, Yuji. — Além disso, acho que você está redondamente enganado. 

 

— Eu? Como assim?

— É a segunda vez que a gente se fala! Você perguntou onde ficava a classe para mim no ano passado! 

 

— E isso importa?!! 

 

Os olhares de coruja dos outros estudantes se voltaram em nossa direção mais uma vez. E mais uma vez tivemos que abaixar a voz para que os outros não se incomodassem com a nossa conversa. Se é que aquilo pudesse ser chamado de conversa. 

 

— De qualquer forma, o que é que você quer?! 

 

— Eu já disse... eu quero te ajudar amigo... 

 

Quando eu percebi que ele não largaria do osso, eu desisti de fazer ele parar de me chamar de amigo. Também não era como se fosse algo tão irritante, então, decidi mudar a minha observação para outra coisa mais importante. No caso, eu queria saber qual era o seu objetivo. 

 

— Me ajudar...? Como...? 

 

— Hehe... não me subestime...

 

Yuji estava sendo enforcado por mim, mas de repente apontou seu dedo indicador na direção de onde Rina estava sentada. 

 

— Você está... de olho nela, não é...? De... Rina-chan... 

 

"De olho", é uma palabra muito forte. No entanto, eu gostaria de saber onde tudo aquilo iria parar, por isso, decidi que não o interronperia.

 

— Eu conheço ela muito bem... nós somos amigos... eu posso te ajudar a conversar com ela... — Disse Yuji gemendo quase sem ar. 

 

— Isso... parece muito bom! — Exclamei, finalmente largando o pescoço dele.

 

— Eu não... Cof! Cof! Disse...? 

 

Se aquilo fosse verdade, ele poderia fazer eu conseguir falar com ela a sós. Isso já seria de grande ajuda. Além de que ele poderia me contar mais sobre ela e sobre o que ela gosta e coisas do tipo. Isso aumentaria as chances de sucesso para mais de mil por cento! 

 

Ainda sim, tinha que ter cautela. Parecia tudo bom de mais para ser verdade. Ele ia me dar todas essas informações de graça? Sem qualquer coisa em troca? Ele parecia gostar de mim, mas tudo isso era muito vago no fim. 

 

Me encontrava em um beco sem saída. Confiar ou não confiar? Dar uma chance? Ou não? Por mais que buscasse uma resposta adequada para tudo aquilo sempre terminava no mesmo lugar no fim. Pois no fim das contas eu estava sem muitas opções... a não ser que eu seguisse Rina no intervalo, mas vai saber onde ela vai. 

 

— Afinal... quem diabos é você? — Perguntei, curioso por uma resposta decisiva. 

 

— Hehe... você é cauteloso demais Ryoichi-kun. Eu particulamente gosto disso, mas pode acabar afastando as pessoas de você. Afinal, eu já disse, não disse? — As palavras de Yuji como se misturavam ao ar quente da manhã. Sua voz animada e travessa tornavam tudo ainda mais agitado como se fosse verão, mesmo estando na primavera. 

 

— [...]

 

Eu sou simplesmente seu melhor e único amigo. Sasuke Yuji. 

 

Notas do Autor: Todas as Ilustrações dessa novel são feitas por IA. Comentem e façam teorias, leio e respondo todos os comentários

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