Volume 1

Capítulo 8: Meu... Melhor Amigo? (2)

Era a hora do intervalo. Os alunos começaram a sair da sala um após o outro em direção ao refeitório. Já os que traziam seu almoço de casa apenas continuavam em seus assentos, ou se sentavam com seus colegas e amigos. 

 

Meu bento estava em mãos hoje. Meu plano inicial era chamar Rina para almoçar comigo. No entanto, assim como alguns de nossos outros colegas, Rina também saiu da sala. Havia me esquecido que ela estava no refeitório no outro dia, isso significava que talvez eu deveria não ter trazido meu almoço hoje. 

 

"Droga..."

 

— Você parece estar enrascado Ryoichi-kun. — De repente, a voz alegre porém irritante de Yuji se voltou a mim mais uma vez. Ele estava com uma sacola em mãos, que imaginei que fosse provavelmente o seu almoço. — Mas, deixe isso para lá por enquanto. O almoço é sagrado. Vamos ir comer e depois a gente conversa sobre isso.

 

— Afinal, o que você quer hein? — Perguntei com certa ríspidez na voz. 

 

— Hum... forrar o estômago? 

 

— Não isso. Eu quero dizer... por que você está sendo tão amigável comigo? Você diz que é meu melhor amigo, mas até ontem você nem falava comigo. 

 

Minha dúvida não era por acaso. Tudo ainda era muito estranho envolvendo esse cara e eu ainda não sabia se confiava em suas palavras. Entretanto, se fosse verdade o que ele disse, realmente ele poderia me ajudar no caso de Rina. 

 

Depois de alguns segundos pensando, Yuji pareceu finalmente colocar seus pensamentos em palavras. 

 

— Você está pensando demais. Na verdade, você sempre pensa demais. — Disse, Yuji. — Você precisa de mim, não? E ficar falando sozinho enquanto fica olhando para Rina-chan não vai resolver nada. 

 

— O-o q-quê?! Eu estava agindo estranho assim?! 

 

— Você sempre age estranho, hahahaha! 

 

— Khh... 

 

— Mas, você sabe que eu não estou errado não é? Então vamos! — Em um único salto, Yuji pegou o meu braço e começou a correr em direção a saida da classe. 

 

— E-ei! Aonde você pensa que está me levando? — Perguntei desesperadamente. — M-meu almoço! — Devido a ação inesperada de Yuji, meu bento acabou ficando em cima da minha mesa. 

 

— Hahaha! Não precisa dele. Eu trouxe comida suficiente para nós dois! — Exclamou, Yuji. Com um grande sorriso em seu rosto. — Eu também sei de um lugar perfeito para formular o nosso plano! 

 

Aquele garoto era estranho e sendo bem sincero não parecia ser digno de minha confiança. No entanto, era estranho como suas palavras pareciam ser realmente genuínas. Era esquisito como era afetado pelas suas ações. 

 

Sendo agarrado pela suas motivações. Subimos em direção ao nosso destino. 

 

***

 

— Você tem certeza que isso é uma boa ideia?

 

— Confia em mim. Esse é o lugar perfeito para isso. — Respondeu Yuji, com dificuldade. Mesmo me dando a sacola com as compras, ele parecia ter dificuldades para puxar a maçaneta emperrada. — Não é força... é jeito... 

 

*CLAM!*

 

O barulho da velha porta abrindo, de repente, tomou conta de nossos ouvidos. Agora, nada estava mais em nosso caminho. Yuji parecia ainda respirar com dificuldade no entanto. Eu não sabia se apenas o ignorava ou se ao menos deveria dar os parabéns pelo seu esforço. 

 

Como não cheguei em um consenso, apenas optei por devolver a sacola de plástico para ele. 

 

— Ufa... ah, obrigado! — Agradeçeu, Yuji. Mesmo ofegante ele parecia satisfeito, já que havia vencido o seu tão temido oponente. No caso, a porta. — Bem, não devemos ficar aqui para sempre... vamos... — Completou ainda ofegante. 

 

— Ok... 

 

Eu já escutei sobre esse lugar, mesmo nunca estando aqui de fato. Assim como o quinto andar, esse lugar é envolto em mistérios e lendas colegiais. Alguns dizem que quem pisa nesse lugar é abduzido, já outros dizem que você é amaldiçoado para todo sempre. Apesar de não acreditar nessas histórias absurdas, o sentimentos de estar aqui faz o meu coração palpitar mais forte. 

 

O vento forte que vem do leste balança meus cabelos castanhos. É um pouco irritante, mas tento ajeitá-lo denovo. Não há ninguém aqui além de nós. Na verdade, parece que esse lugar não tem um visitante há algum tempo. Mesmo assim, as grades de seguranças parecem estar em bom estado. Tenho que resistir a vontade de enxergá-las mais de perto, já que Yuji continua a andar mais a frente. 

 

Aqui deveria estar mais quente, no entanto, o vento parece evitar que isso aconteça. Tornando aquele momento resfrescante. O barulho do saco plástico sendo balançando traz a minha atenção de volta a Yuji. 

— Acho que aqui está bom. Você não acha? — Perguntou, Yuji. Junto de seu sorriso costumeiro.

 

— Para mim tanto faz. Mas, por que aqui? 

 

— Porque aqui parece bom. 

 

— Isso não é uma resposta adequada. — Suspirei. Yuji parece ser do tipo teimoso, então, apenas evitei de me cansar ao debater com ele. 

 

Yuji então se sentou no chão e começou a mexer na sacola de plástico. Ele tirou uma lata verde e arremesou para mim. Eu a segurei em reflexo e assim como ele, também me sentei. 

 

"Suco de melão..." 

 

— Onde você comprou isso? 

 

— No mercadinho... toma aqui também — em seguida, ele arremesou o que parecia ser um pão envolto em plástico. Ao olhar com mais cuidado, notei que havia yakissoba dentro. Já havia escutado sobre esse lanche, mesmo nunca tendo o provado — isso aqui é gostoso, acho que você vai gostar também. — Depois disso, ele tirou a sua própria refeição. No caso, as mesmas coisas que havia tirado pra mim. 

 

Mesmo sendo um amante de comida simples, achei que eu era o único. Não sabia que outra pessoa compartilhava dos mesmos gostos que eu. Além disso, os estudantes dessa escola costumam ter uma condição financeira melhor. Escutar que o primogênito e herdeiro de uma empresa pesqueira está comprando comida na mercadinho é no mínimo intrigante. 

 

Isso me fez ter ainda mais algumas dúvidas sobre ele. Sem contar, ele ter me trazido ao terraço da escola. Ninguém vem aqui, afinal, para passar por aqui você tem que passar pelo andar dos — alunos especiais — isso torna tudo ainda mais estranho. Afinal, ele parece não ter se importado nem um pouco de ter vindo para aqui. "Afinal, quem é esse cara?" Me perguntei. 

 

— Você faz suas compras naquele lugar? Que estranho vindo de um herdeiro. 

 

— Comida é comida. Seja custando 100 ou 1000 ienes. Desde que seja gostosa para mim tanto faz. — Explicou, Yuji. — Além disso, acho que para apreciarmos nossa refeição aqui, uma comida simples e fácil de comer é mais adequada. — Yuji provavelmente se referia ao vento forte. Fazia sentido, afinal comer um bento aqui poderia ser mais complicado. 

 

— Faz sentido. Mas, sua família não reclama? 

 

— Não. Eles não se importam com o que eu faço. 

 

— Entendi. De qualquer forma, obrigado.

 

— Hehe! Itadakimasu! — Exclamou, Yuji. Ele parecia contente por finalmente rasgar o plástico do seu lanche. E com uma grande mordida começou o seu trabalho. — Huuuuuuuuummmm! É tão booooommm! Come logo, Ryoichi-kun! Você vai amar! 

 

Não esperava por aquela resposta brusca, e sendo bem sincero, acho que eu exagerei ao perguntar demais. Na verdade, quem estava agindo estranho era eu. Movido pela minha fome e pelas palavras de Yuji, arranquei o plástico que envolvia o pão de yakissoba e deu uma pequena mordida. 

 

— Hum?! Que delícia! — Não esperava que fosse tão bom! O pão macio envolvendo os fios de massa suavemente temperados com pimentão é tão prazeroso. A carne cortada em pequenos cortes deixando seu sabor forte e caracterísco ainda melhor. A sinergia entre os dois sabores completamente diferentes mais que combinam com uma harmonia clara entre o comum e o diferente. É perfeito, não consigo mais parar! 

 

— Hahaha! Eu disse que é bom! 

 

— Humhum... — Um pouco corado, não queria ter que concordar com as palavras de Yuji. Mas, era verdade. Toda tensão que sentia se foi ao morder aquele pão macio. 

 

Yuji, de repente, abriu a lata do seu suco e começou a beber. O suco parecia descer suavemente pela sua garganta a cada pequeno gole que ele tomava. 

 

— Ahhhh... refrescante! 

 

Movido pela curiosidade, fiz a mesma coisa que ele. Abri a lata e ao beber do suco, entendi do que ele estava falando. O doce sabor do melão e seu sabor marcante descem pela minha garganta facilmente. Não está tão gelado, mas ainda está numa temperatura agradável. 

 

O líquido envolve minhas papílas gustativas como que realçando o sabor do alimento. Como se um nascesse um para o outro. O doce do melão e o contraste do amargo do pimentão se complemetam como em uma dança harmônica. 

 

Assim, como Yuji minha reação foi a mesma. 

 

— Ahhhh... refrescante! 

 

— Ehh! Pelo jeito está bom né? — Perguntou, Yuji. Sua voz está cheia de provocação. 

 

— Ugh! É... até que tá bom... — Murmurei, ainda envergonhado. Não podia concordar com aquilo nem se me matassem. 

 

— Ahahaha! Você é engraçado demais, Ryoichi-kun! 

 

"Tsc, estou sendo feito de trouxa..." 

 

Minha mente apenas pensava nisso. Mas, Yuji parecia tranquilo. Ele parecia genuinamente contente e voltava a aproveitar sua refeição. Como se aquele fosse um momento feliz para ele. Como se ele estivesse feliz em aproveitar aquele tempo comigo. 

 

"Talvez, eu esteja pensando demais..."

 

— Mesmo não sendo café, parece que você gostou mesmo desse suco. 

 

Eu fiquei um pouco curioso sobre isso. Como ele sabe do meu amor por café? Entretanto, eu já havia perguntado demais sobre ele, por isso, eu deixei isso para lá e apenas foquei no eu deveria falar desde o início.

 

— Dá pra beber. Mas, deixando isso de lado... você disse que poderia me ajudar...

 

— Ah, é mesmo! Havia me esquecido! 

 

Aquelas palavras não me animaram muito, porém, tudo isso mudou quando ele começou a falar. 

 

— Sim, eu sei como você pode se aproximar dela. 

 

— Sério? O que eu devo fazer? 

 

— Não é tão difícil, no entanto. Eu conheço Rina-chan, mas isso é algo que você deveria saber. 

 

— Do que você está falando? Seja direto, por favor. 

 

— Você queria chamar ela para comer junto com você, não é? Mas, isso não é uma boa ideia. Afinal, Rina-chan é vice-presidente do conselho estudantil. E pelo que eu sei, ela realiza sua refeição lá. — Finalizou, Yuji. 

 

— Espera... o quê?! Ela é membro do conselho estudantil?! 

 

— Não me diga que você não sabe... Ahahahahaha! Eu deveria ter desconfiado! Você realmente vive no mundo da lua, não é Ryoichi-kun? 

 

— C-cale a boca! Como eu iria saber? 

 

— Bem, acho que todo mundo sabe. Ela vive andando com o Presidente de um lado para o outro. 

 

"Espera... aquele garoto que eu vi do lado dela naquele dia... eu sabia que eu já tinha visto em algum lugar... agora tudo faz sentido." 

 

— Af.... e agora? O que eu faço? 

 

— Você deve estar realmente bem apaixonado não é? 

 

— A-apaixon-

 

— Mas, não se preoucupe. Como eu disse, eu sou amigo de Rina-chan. Se eu falar com ela, eu posso conseguir fazer com que você e ela consigam conversar. 

 

— O quão você é amigo dela? 

 

— Podemos dizer que somos como... amigos de infância. Sim, acho que esse é o termo adequado. 

 

Aquilo me surpreendeu. Yuji ser amigo de infância de Rina é algo que eu não esperava nunca. Mas aquilo era perfeito. Com a ajuda de Yuji eu poderia agora ter uma chance de conversar com Rina em particular. Talvez, seja até coisa do destino.

 

— Então, o plano é... amanhã eu vou chamar Rina-chan para conversar aqui. Como sou eu que estou pedindo, ela não deve recusar. Mas, ao invés de se encontrar comigo...

 

— Ela vai acabar me encontrando aqui. Ao invés de você, correto?

 

— Nice, Ryoichi-kun! Mil pontos para você! É por isso que eu gosto de você! 

 

— Tá, tá... 

 

Ignorando as palhaçadas de Yuji, aquele parecia ser um plano muito bom. Se der certo, eu posso finalmente resolver minhas questões com Rina. Ainda sim, eu teria que me esforçar para que tudo ocorresse perfeitamente. Yuji só faria o passe para mim, afinal quem teria que marcar o gol decisivo... sou eu. 

 

Para isso, eu tenho que dar o melhor de mim. E me desculpar sinceramente. Mesmo que não seja fácil.

 

Olhando o vasto céu azul, ele se estende até onde eu não posso enxergar. Me perguntava como ele estaria amanhã. Torcendo para que assim como hoje, os ventos fortes do destino me trouxessem a sorte que precisava

 

Notas do Autor: Todas as Ilustrações dessa novel são feitas por IA. Comentem e façam teorias, leio e respondo todos os comentários

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