Volume 1
Capítulo 9: Meu... Melhor Amigo? (3)
Estou aqui mais uma vez. O vento parece estar ainda mais frio que ontem e o ar úmido quase que faz minha rinite atacar. Yuji provavelmente chegará logo e isso faz com que eu me mantenha nervoso todo tempo. Buscando me acalmar, busco refúgio ao olhar o céu azul. Bem, ao que antes era um céu azul pelo menos. Só estou aqui há cinco minutos e mesmo assim não consigo acreditar numa mudança tão repentina. As nuvens cinzas já se estabelecem acima de minha cabeça.
"Acho que deveríamos deixar isso para outro dia..."
O plano era simples: Yuji iria fazer Rina vir até aqui, com algum pretexto. Ele então iria nos trancar aqui (Eu fingiria que a porta apenas emperrou). Eu teria todo o tempo do intervalo possível para conseguir conversar e fazer as pazes com ela.
Talvez, seja apenas um sentimento covarde de minha parte. Porém, não acredito que Rina subirá até aqui com o céu dessa maneira. A não ser que ela não perceba, mas creio que isso seja dificil. Afinal, faz algum tempo que não chove e a luz solar está começando a ser encoberta pelas nuvens carregadas.
Entretanto, quando cogitei mover meus ossos em direção a saída do terraço, me deparei com um barulho conhecido.
*TLEC*
O barulho da porta do terraço se abriu e uma figura conhecida entrou em minha visão. Seu corpo pareceu se mover institivamente para o meio do terraço, antes mesmo que ela notasse a minha presença. Sua face estava diferente do qual eu enxergava normalmente — estava carregada de incomôdo e frustação — talvez, por isso, ela não tenha me percebido ali. Estaria ela preocupada com alguma coisa?
— Rina-san...?
— [!!!]
Os olhos antes preocupados e irritados de Rina mudaram totalmente. Suas sombrancelhas se ergueram e seus cabelos pareceram se arrepiar como a de um gato assustado. Seus tenros joelhos quase que pareceram ceder, mas em um movimento rápido a garota se moveu em direção a saída.
*BAM!*
No entanto, assim como já estava programado... a porta bateu. Yuji parece ter feito bem o seu trabalho. Rina desesperadamente começou a tentar abrir a porta, mas sem sucesso. Afinal, a porta não estava emperrada de verdade. Yuji está apenas segurando a porta para que Rina não consiga abri-la. Realmente, um excelente trabalho.
A garota fez mais ainda algumas tentativas vagas, antes de finalmente desistir. Era difícil de enxergar totalmente seu rosto que era escondido por parte de seus ombros e cabelo. No entanto, era perceptível a frustração e medo dela. Ela pareceu cerrar seus dentes um contra o outro, como se amaldiçoasse o seu azar. Era uma cena dolorosa até para mim.
— Rina-san...
— [...]
*Plic* *Plic*
Antes que minhas palavras pudessem chegar a garota, as primeiras gotas de chuva enfim caíram do céu.
*Chuááá!!!*
E os pingos rapidamente se tornaram uma chuva intensa e angustiante
***
Estava chovendo cada vez mais forte. O plano podia ficar pra depois, estava mais preocupado conosco ali. Batemos várias vezes na porta, no entanto, ela não se abria. Eu também não podia chamar por Yuji, porque Rina poderia desconfiar e acabar entendendo tudo. Eu apenas bati na porta mais algumas vezes antes de finalmente desistir.
Já Rina está apenas parada e agachada sob seus joelhos. Parece que ela desistiu bem antes de mim. Ela parece se aproveitar da cobertura que o tanque de água faz para se proteger da chuva intensa. No entanto, não parece muito efetivo já que a cobertura é muito pequena. Acabou que nós ficamos bem molhados.
— Que droga!
*CHUÁÁÁÁÁAÁ!!!*
— [...]
Junto com a chuva pesada, vem o frio intenso e os ventos fortes. Talvez eu tenha subestimado a ideia de Rina. Desistindo de continuar batendo na porta e chamar por alguém, acabei apenas me junto a ela. Porém, ela sequer olhou para mim.
A força da chuva só aumenta. Os pingos gelados acabam se tornando cada vez mais dolorosos e revoltantes para mim. E provavelmente ficarei resfriado. Tenho que me lembrar de dar um soco no Yuji mais tarde.
*CHUÁÁÁÁÁAÁ!!!*
Meus olhos então se voltaram a garota ao meu lado. Seu cabelo laranja parece ter ficado ainda mais bonito sob a chuva. Seus fios brilhantes se destacam com um brilho esplendoroso. Seu cabelo está todo molhado, no entanto, mas ela parece não se importar.
Seu rosto é fino e delicado. Seu nariz é tão perfeito que parece que foi desenhado a mão. Seus grandes olhos que combinam com a cor de seus cabelos, não brilham no entanto. Eles estão visivelmente desanimados como se apenas esperassem alguma salvação.
Meus olhos se voltam ao corpo da garota. Sua roupa está toda encharcada, inclusive, sua saia. Deve ser um incomôdo para ela. Institivamente acabei olhando suas pernas... são lindas e algumas pequenas gotas escorrem por suas cox...
"O-o que é que eu estou pensando numa situação dessa?! Foco, foco!"
Yuji disse que Rina é bem popular entre os garotos. E eu consigo entender o motivo. Ela é realmente muito bonita. Eu mesmo não consigo tirar os olhos dela. Eu sempre me pego olhando para ela, como se houvesse algum tipo de encantamento natural envolta dessa garota. Seria seus olhos? Seus cabelos? Não sei. Mas eu não consigo deixar de olhar para ela.
No entanto, algo em sua atitude não me agrada. Não consigo entendê-la e ela não me fala nada. Eu também não sei linguagens de sinais ou coisas do tipo, então, não consigo me comunicar com ela. Por isso, sinto que vivemos em órbitas diferentes e isso não me agrada. Afinal, se vivermos em órbitas tão distantes como poderei pedir desculpas adequadamente?
Eu sempre ouvi dizer que os extraterrestres fazem sinais na terra para se comunicarem conosco. Eu poderia escrever em um caderno e me comunicar com ela. Mas, eu não tenho nenhum papel comigo... muito menos uma caneta. Além disso, se eu conversar com Rina muitas e muitas vezes terei que gastar um absurdo de papel e de tinta. Não que dinheiro seja um problema claro. Mas, isso seria meio ridículo e provavelmente meio cansativo.
*CHUÁÁÁÁÁAÁ!!!*
Rina pareceu espirar mesmo que no entanto eu não pude escutá-lo devido a chuva intensa.
— [...]
"Rina vai acabar pegando um resfriado..."
Ela acabou tirando o seu terno. Ele estava realmente encharcado. Apesar que sua camisa não estava muito melhor. Além disso, seu corpo ficou ainda mais visível depois disso. Mesmo estando ao lado dela, eu consigo ver claramente o seu sutiã verde. Rina parece perceber meus olhares, no entanto, mesmo envergonhada ela ainda não olha para mim.
— [...]
— Rina, eu queria pedir desculpas...
Entendi que aquele era o momento para isso. Mesmo que estivessemos em uma situação não tão favorável, ainda sim, eu poderia não ter outra oportunidade de estar sozinho com ela. Teria que ser agora. E eu teria que ser o mais honesto sobre meus sentimentos possível
Afinal, mesmo que ela não possa falar nada. Eu posso! Ela vai conseguir me ouvir e me entender.
—...Eu fui realmente um babaca naquele dia. Eu nunca pensei que poderia falar algo tão horrível assim. Mas, saiba que não é o que eu verdadeiramente penso de você ou algo assim... na verdade...
— [...]
Foi quando eu percebi.
A
Chuva
Não
Deixava
Ela
Escutar
Nada
Nenhuma palavra sequer chegou a seus ouvidos. Meus verdadeiros sentimentos escorreram junto da água da chuva.
"Então... é assim... que ela se sente... todos os dias..."
Mesmo que ela queira dizer algo, ela não pode.
Mesmo que ela queira transmitir seus sentimentos, ela não pode.
Mesmo que ela queira falar sobre o que deseja, ela não pode.
Mesmo que queira apenas ser escutada, ela não pode.
Ela não pode.
Ela não pode.
Ela não pode.
Como se uma chuva intensa e infinita caísse todos os dias sobre sua cabeça. Ninguém pode escutá-la, mesmo que queira. Então, do que adianta ela gritar por socorro se ninguém vai escutá-la? É melhor que ela apenas desista sobre seus joelhos e permaneça agachada, com seus braços e pernas tremendo de frio.
Pois nada é permitido a ela.
É tão doloroso para mim. Mesmo sendo apenas por um instante... imagino, então, como é para a pobre garota que está ao meu lado.
"Droga... você é tão forte, Rina. E eu nunca percebi isso..."
"Você é muito mais incrível que eu!"
Um pequeno desejo de desabar recai sobre mim. Porque tenho pena da garota. No entanto, sei que esse sentimento é errado. Pois agora sei que ela não é digna de pena alguma. Porém, ainda é certo que minhas palavras não chegam a ela, e as dela também não chegam a mim. Então, o que devo fazer?
"Eu..."
As gotas de chuva caíam.
*CHUÁÁÁÁÁAÁ!!!*
Caíam como se fossem infinitas do céu escuro
*CHUÁÁÁÁÁAÁ!!!*
A chuva que caía impedia minhas palavras de chegarem a garota
*CHUÁÁÁÁÁAÁ!!!*
Mesmo assim...
*CHUÁÁÁÁÁAÁ!!!*
...ela não me impediu de agir.
Rapidamente, coloquei o meu terno sobre a garota. Ele não estava totalmente seco, mas ainda estava muito melhor que o dela. Provavelmente, era inútil. Afinal, a garota já estava toda encharcada e ela ainda estava usando sua roupa molhada. Mesmo assim, aquela ação foi a única coisa que veio em minha mente.
Se minhas palavras não chegam a ti, que chegue meus sentimentos.
Eu estava praticamente abraçado com Rina. Pensei que ela poderia acabar me afastando. No entanto, ela não a fez. Mas, não é como se ela tivesse me ignorado. Ela apenas se recostou no meu corpo. Eu não podia ver o seu rosto, mas ela não deixava no entanto. Porém, entendi que aquela foi a primeira vez que Rina pareceu me entender verdadeiramente.
Nenhuma palavra foi dita ali. E também não foi preciso. A chuva que caiu do céu não impediu que eu me desculpar com ela e com que ela me perdoasse. Talvez, eu tenha sido um pouco idiota e apressado. Pelo jeito, existem outras formas de eu me comunicar com a garota. Na verdade, creio que essa tenha sido a melhor forma, afinal, não acho que nenhuma palavra traria o mesmo resultado.
Eu particulamente não gosto de chuva. E Rina convive com uma desagradável todos os dias de sua vida. No entanto, talvez pela primeira vez aquela tenha sido uma chuva agradável para ambos ali. Não dizemos nenhuma única palavra, apenas decidimos ficar ali abraçados até que a chuva enfim parasse. E ela não demorou a parar depois disso.
Notas do Autor: Todas as Ilustrações dessa novel são feitas por IA. Comentem e façam teorias, leio e respondo todos os comentários
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